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Atuar em serviços do campo da saúde mental, conviver com questões referentes ao sofrimento mental, pode ocasionar, de início, a necessidade de reorganização e adaptação do profissional, o que pode constituir-se em um momento para reconstrução de saberes e práticas quanto ao objeto de atenção.

Eu acho assim, antes de mais nada, quando a gente fala em saúde mental, como a gente trabalha com a reforma psiquiátrica, a primeira coisa que vem a cabeça é o que era antes, pelo menos o que vem à minha cabeça é o que era antes, de início era chamado doença mental (com ênfase), a gente trabalhava a doença da pessoa, hoje em dia a gente trabalha na perspectiva da saúde. Acho que assim, em termos, a terminologia já foi um grande avanço. Daí as outras inúmeras mudanças que houve, do hospital para os serviços comunitários, da forma de encarar a pessoa com problema mental, problema psíquico. Todas as mudanças que a gente acompanha da própria reforma psiquiátrica. (TSM1)

Sobre a reconstrução apresentada, concordamos com Guimaraes e Medeiros (2001) quando mostram a necessidade de, primeiro, desconstruir o modelo tradicional e dominante da psiquiatria para, em seguida, reconstruir a prática em saúde mental incluindo os diversos saberes, entre os quais a psiquiatria, com vista a ampliar a intercessão e o diálogo sobre o objeto de atuação.

Frente ao desafio da prática em saúde mental, enquanto movimento para reconstrução da vida, ao colocar a doença entre parênteses, os profissionais necessitam continuar abertos ao diálogo. A esse respeito, Terra et al (2006) apontam que o enfermeiro, como integrante da equipe, é desafiado a rever posicionamentos, conceitos, práticas de atenção na área, o que lhe requer reflexão quanto à própria atuação, sensibilidade e criatividade para atuar frente à complexidade do sujeito com suas relações de vida.

Mângia (2002) ao discutir acerca da articulação entre a Terapia ocupacional em saúde mental e os pressupostos da Politica de Saúde Mental, verifica a existência da congruência na orientação da atenção que, entre outros aspectos, guia a atuação pelo foco na singularidade e reconstrução de vida dos indivíduos, a partir das inúmeras dimensões, sejam familiares, emocionais, materiais e/ou sociais que ocasionam perdas e resultam na busca por assistência como último recurso.

Assim, a transição na qual a saúde mental se encontra, pode ser favorável para a redefinição e análise da prática na área. No modelo de atenção proposto pela Reforma Psiquiátrica, o cuidado abrange ações de promoção e construção de cultura, que remetem a formas diversas de entender, conviver com a diversidade (PRANDONI; PADILHA; SPRICIGO, 2006).

Essa mudança que a gente está vivendo, e vivendo na prática, trabalhando é tão grande, tão importante que, às vezes, a gente não se da conta. (TSM5 concorda) Que não é só a mudança de modo de tratar, não é só a mudança de hospital para CAPS, é uma mudança cultural. É muito gigantesco, a gente às vezes não imagina quão grandioso é o que a gente esta vivendo. (TSM1)

A saúde mental, entendo como um movimento para acolher a diversidade. Não só a questão da doença, mas que se entenda essas patologias, esses transtornos, como mais um modo de viver do sujeito, como mais uma das possibilidades do sujeito, que a loucura não seja vista só como uma loucura, mas como uma possibilidade de se viver. E no sentido também que se faça um trabalho social, para que a sociedade ela possa estar sabendo acolher essa diversidade, que não é a questão da loucura pela loucura, mas que o sujeito viva conforme ele pode viver, mas que saiba acolher isso. (TSM7)

Para a efetiva implementação dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica, a comunidade necessita implicar-se e participar ativamente do processo, realizando mobilizações populares e, principalmente, a desmitificação da loucura no cotidiano, sendo colaboradora das ações em saúde mental e assim, fortalecendo os direitos e implementando as politicas nos contextos locais (PRANDONI; PADILHA; SPRICIGO, 2006).

Os TSMs, ao abordarem sobre a reconstrução do sujeito, buscam termos sustentados por uma prática multiprofissional que é desenvolvida em um projeto terapêutico formado por novas abordagens, que podem aumentar as ações, para que o indivíduo possa deter os elementos que propiciem o entendimento e a autonomia da vida no cotidiano.

8 FATORES QUE INFLUENCIAM A SATISFAÇÃO PROFISSIONAL

“Então, eu venho trabalhar feliz. Às vezes eu fico triste, porque eu não posso fazer mais por eles." (TSM3)

Esta categoria compõe-se de 85 discursos que abordam acerca da satisfação profissional, por entender-se que esta influencia diretamente o desempenho do profissional e sua implicação com o serviço. Tendo em vista que, na área de saúde mental, especificamente nos novos serviços, o comprometimento do profissional é fundamental para que a prática esteja pautada nos pressupostos da Reforma Psiquiátrica.

Frente às diretrizes da Reforma Psiquiátrica, quanto aos objetivos dos serviços de saúde mental na busca pela autonomia e reinserção social, tem-se questionado a estruturação da atenção, uma vez que se recomenda a existência de equipe multidisciplinar que possa atuar em uma perspectiva ampliada e articulada com os demais serviços. Assim, em busca de elevar a qualidade da assistência a OMS vem incentivando pesquisas sobre a avaliação desses serviços, em que estão incluídos usuários, familiares, profissionais (DE MARCO et al, 2008).

Além disso, a satisfação com o trabalho irá desencadear inúmeras consequências de ordem comportamental, social podendo intervir, inclusive, na própria saúde mental do profissional. A este respeito, a literatura é vasta e o interesse acerca das suas influências vem orientando estudos sobre qualidade de vida, impacto, transtornos psiquiátricos em profissionais de serviços de saúde mental (REBOUÇAS; LEGAY; ABELHA, 2007; DE MARCO et al, 2008).

Em estudo conduzido por Gigantesco et al (2003) com profissionais dos serviços de saúde mental, na Itália, sobre a satisfação no trabalho, foi verificada maior satisfação com o aumento da idade, nenhuma diferença considerável entre o índice de satisfação e a profissão. Em comparação entre a satisfação dos profissionais que atuam em hospitais e aqueles dos serviços abertos de saúde mental, estes apresentam índices consideravelmente mais elevados, pois neste país a permanência máxima nos asilos psiquiátricos citada no artigo é de 12 dias. Tendo em vista os resultados encontrados, os autores recomendam aumentar o apoio entre

a equipe profissional e promover estratégias de participação em atividades educacionais.

Nesse âmbito, a Síndrome de Burnout vem sendo objeto de pesquisas por ser considerada um relevante problema social, por se relacionar com índices de absenteísmo, rotatividade de pessoal, problemas quanto à eficiência e produtividade, além de disfunções psicológicas e físicas nos trabalhadores. Decorre de uma exaustão emocional e mental, esgotamento de energias e recursos para buscar solucionar as situações e frustração frente à não obtenção dos resultados; despersonalização, insensibilidade emocional aos casos expostos e reduzida realização com o trabalho (CARLOTTO; CAMARA, 2008).

A baixa satisfação no trabalho está diretamente relacionada com mudanças na equipe e altos índices de faltas, ações que podem afetar a eficiência dos serviços de saúde (GIGANTESCO et al, 2003).

Fatores como a exposição às dificuldades dos usuários, quanto à qualidade de vida, condições de vida, apatia para realização das atividades, ausência de autonomia com relação à prática e aos recursos existentes, além do envolvimento com o outro influenciam diretamente a satisfação profissional da equipe dos serviços de saúde mental (DE MARCO et al, 2008).

A questão da satisfação com o trabalho é um tema complexo, devido aos múltiplos aspectos que atuam no comportamento do indivíduo e aos fatores relacionados ao próprio ambiente de trabalho. Não nos cabe, nesse estudo, aprofundar a questão sobre esse tema, que vem sendo amplamente discutido em pesquisas com abordagens quantitativas, mas conhecer as representações sociais dos TSMs que estão relacionadas à temática e discuti-las na perspectiva da prática profissional.

Dentro da categoria, estão elencadas as representações quanto aos Parâmetros reguladores da satisfação profissional em seis subcategorias (Figura 4) que abordam fatores relacionados à satisfação.

Figura 4: Fatores que influenciam a satisfação profissional.