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A Teoria das Transições e a Pessoa Idosa

No documento RELATÓRIO Final 2d 325p (páginas 34-37)

A ida de uma pessoa idosa ao hospital implica, na maioria das vezes, para o utente e para a família o início de uma fase de mudança, uma transição para uma nova etapa da vida.

Transição está relacionada com mudança e desenvolvimento, podendo-se definir como a passagem de uma fase da vida, condição ou status para outro, e referir- se tanto ao processo em si como ao resultado complexo das interações entre a pessoa e o ambiente (Chick & Meleis, 1986). Transição refere-se não só à mudança em si como ao processo necessário para se integrar a mudança na vida quotidiana (Kralik, Visentin, van Loon, 2006).

Elegida como referencial teórico deste trabalho a teoria das transições de Meleis porque, de acordo com Meleis (2012) resumindo um trabalho anterior de Chick & Meleis (1986), os enfermeiros interagem com a pessoa que é parte integrante do contexto socio cultural onde se insere, que experiencia uma situação de saúde/doença e que por isso se encontra numa situação de transição ou a antecipá-la, sendo as interações enfermeiro-utente organizadas de acordo com um plano em que o enfermeiro atua no sentido de promover, melhorar ou facilitar a saúde.

Num meio menos favorável, como o é o SU, como pode o enfermeiro desenvolver estratégias tendo como foco da sua atuação a pessoa idosa?

O conhecimento das pessoas a quem os cuidados se destinam é fundamental, considerando-se que o cliente de enfermagem é o ser humano com necessidades, que se encontra em constante interação com o ambiente e que tem a capacidade de se adaptar a esse mesmo ambiente mas que devido a doença, situações de risco ou vulnerabilidade a potenciais doenças, experiencia ou está em risco de experienciar desequilíbrio, manifestando-se esta situação por necessidades não satisfeitas, incapacidade para cuidar de si ou ainda por respostas não adaptadas (Meleis, 2012).

A “arte de enfermagem tem sido utilizada como sinónimo de cuidar” (Meleis, 2012, p.92). Cuidar, de acordo com Watson (2002), requer conhecimento e compreensão das necessidades individuais e conhecimento do comportamento humano e das respostas humanas a potenciais ou atuais problemas de saúde.

Pela situação de fragilidade, cuidar de uma pessoa idosa no SU é mais do que limitar a ação do enfermeiro à satisfação das necessidades físicas mais evidentes. Implica um olhar atento e uma visão abrangente. Pelo tempo de permanência junto do

utente e proximidade que desenvolvem com este, e sendo a sua formação no sentido de olhar a pessoa de uma perspetiva holística enquadrando a família nas intervenções que desenvolve (Rosted, Wagner, Hendriksen & Poulsen, 2012), os enfermeiros têm um papel crucial perante este desafio.

Como os utentes e famílias vivenciam estes processos, quais as suas respostas, quais as consequências no seu bem-estar, e de que forma podem os enfermeiros atuar para cuidar e apoiar, sendo a saúde e a perceção do bem-estar os resultados esperados, são preocupações centrais de enfermagem (Meleis, 2010).

Reconhecer a ida de uma pessoa idosa ao SU como um fenómeno de transição vai permitir ao enfermeiro enquadrar e fundamentar as suas ações, antecipando situações que podem condicionar a aquisição e transição para novos papeis. As transições indiciam uma mudança no estado de saúde, no desempenho de funções, de expetativas ou capacidades, exigindo que a pessoa adquira novos conhecimentos no sentido de alterar comportamentos, o que implica uma mudança do “eu” no contexto social (Meleis, 2012).

Compreender o fenómeno da transição capacita os enfermeiros para uma abordagem mais holística dos cuidados de enfermagem (Kralik et al., 2006). O enfermeiro necessita de ter uma visão global dos fatores/condições que podem influenciar e contribuir para determinado processo de transição. Para que possa ser bem-sucedido na sua atuação torna-se indispensável atender às características, expetativas, desejos e experiências dos intervenientes. Não pode limitar a sua ação ao utente mas necessita englobar a família, porque a transição que se segue à hospitalização é um período de risco para a saúde das pessoas idosas e seus cuidadores familiares (Shyu, 2000).

Quanto à natureza do fenómeno de transição temos de referir o tipo, o modelo e as propriedades. Meleis menciona diversos tipos de transição: desenvolvimento, situacional, saúde/doença e organizacional dos quais podem estar presentes, os três primeiros, aquando da ida de uma pessoa idosa ao SU.

A ida ao SU pode ser o início da consciencialização de um processo de envelhecimento, até então não percecionado como uma situação problemática. A existência de uma doença súbita, ou agudização de uma doença cronica, e a hospitalização trazem inúmeras consequências para o utente e família, representando uma mudança súbita no modo de vida de ambos.

Para o utente, por vezes, a incapacidade de continuar a representar o mesmo papel na estrutura familiar devido à situação da doença, nalguns casos associado a uma situação de reforma recente. Para o familiar a necessidade de assumir o papel de cuidador. O risco de declínio funcional resultante da hospitalização pode conduzir à perda de independência e autoestima do idoso (Sager & Rudberg, 1998). E ainda, e não menos importante, a transição para o domicílio tão problemática em diversas situações, devido a situações familiares várias, suporte social escasso ou outros.

Mais complexo ainda do que categorizar o tipo de transição que a pessoa idosa e família podem experienciar, é considerar o modelo de transição. A pessoa idosa e família podem vivenciar vários processos de transição em simultâneo. O processo de envelhecimento, o diagnóstico de doença e sua evolução, a instalação ou agravamento de um défice motor, alterações no processo de auto cuidado, a alteração da estrutura familiar, a alta hospitalar, o cuidado domiciliário, a necessidade de aquisição de novos conhecimentos e competências com alteração de comportamentos, são exemplos, que podem justificar a ”multiplicidade e complexidade das transições” (Meleis, Sawyer, Im, Messias, Schumacher, 2000, p. 56), que podem ocorrer simultaneamente num determinado período de tempo (Schumacher & Meleis, 1994). Este é um aspeto importante na atuação dos enfermeiros, exigindo que estes se debrucem sobre os padrões das diversas transições que a pessoa idosa e família possam estar a experienciar (Meleis et al., 2000).

Identificar as propriedades inerentes aos processos de transição e encontrar padrões de comportamentos permite antecipar situações e desenvolver estratégias terapêuticas no sentido de aumentar o bem-estar e a saúde. O enfermeiro necessita de determinar as necessidades da díade utente /família, ou do utente (nas situações em que este se encontra completamente isolado) para uma transição saudável em que os indicadores de uma transição saudável são o bem-estar subjetivo, refletido nas reações de coping do indivíduo, e o domínio do papel, com aquisição de competências que o tornam confortável no seu novo papel e bem-estar nas relações interpessoais com restabelecimento do equilíbrio na família (Meleis, 2010).

Capacitar as pessoas idosas e família para uma transição saudável vai permitir obter ganhos em saúde, que se podem resumir na satisfação relativamente aos cuidados prestados e a na qualidade de vida das pessoas idosas e seus cuidadores.

1.6. Competências de Mestre e Enfermeiro Especialista no Cuidado à Pessoa

No documento RELATÓRIO Final 2d 325p (páginas 34-37)