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A Teoria do Imaginário foi criada por Gilbert Durand, tendo como base as idéias e afirmações de pesquisadores como “Bachelard, Betcherev, Dumezil, Piganiol, Freud, Bérgson, Piaget, Jung e Przyluski” (LOUREIRO, 2004, p. 15).

O imaginário “consiste no conjunto de imagens e representações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens” (DURAND, 1989, p. 14). A teoria considera as “pulsões internas” e as “pressões externas” e o dinamismo circular desenvolvido entre as mesmas, ao que Gilbert Durand denomina “trajeto antropológico” (1989, p. 29), preocupando- se com a temporalidade, o enfrentamento da angústia do passar do tempo e o medo da morte (LOUREIRO, 2004).

O desejo essencial buscado pelo homem, por meio da imaginação, é de reduzir a angústia existencial do passar do tempo e o medo da morte, simbolizando e representando o tempo e a morte, para assim controlá-los (LOUREIRO, 2004). Diante da impossibilidade desse controle, e a realidade de ter que encarar a inexorabilidade da morte e os perigos representados por ela e, pelo também inexorável, passar do tempo, o ser humano cria imagens- “o que se percebe nos modos de carregar a vida e se posicionar no mundo, na sociedade e diante de si mesmo” (LOUREIRO, 2008, p.855) - imagens estas que consteladas, relacionadas entre si, formam o imaginário. “O imaginário é, portanto, o conjunto relacional de imagens [...], a arma dada ao homem para vencer o tempo e a morte” (LOUREIRO, 2004, p.16).

A imaginação, segundo Bachelard (apud DURAND, 1989, p.30) é “dinamismo organizador, [...] é potência dinâmica que deforma as cópias trazidas pela percepção [...]. Esse dinamismo organizador é fator de homogeneidade na representação”. De acordo com Gilbert Durand (1989, p.22), “a imagem – por mais degradada que possa ser concebida - é ela mesma portadora de um sentido que não deve ser procurado fora da significação imaginária” e descreve o “sentido figurado” como o “único que é significativo, o chamado sentido próprio”.

O dinamismo circular desenvolvido e formado por uma constante mistura entre as pulsões interiores (íntimas) e exteriores (do “meio cósmico-social”) no nível do imaginário é o que forma o “trajeto antropológico” (DURAND, 1989, p.29; LOUREIRO, 2004, p16). Este dinamismo, esta trajetividade, reagrupa as imagens em constelações, em “nós aglutinadores”- energia psíquica - por suas similitudes.

Bachelard (apud DURAND, 1989, p.23) registra que o símbolo “possui algo mais que um sentido artificialmente dado” e que também “detém um essencial e espontâneo poder de repercussão”.

Segundo Gilbert Durand (1989, p.63), o processo de convergência evidencia o isomorfismo dos esquemas, dos arquétipos e dos símbolos, levando à criação de “protocolos normativos das representações imaginárias, bem definidas e relativamente estáveis, agrupamentos em torno dos esquemas originais, ao que chama estrutura”.

A estrutura então, por definição, é um “protocolo motivador” para o agrupamento de imagens; esta estrutura também é capaz de se agrupar numa estrutura maior, denominada Regime.

Durand identifica as estruturas antropológicas do imaginário embasado na reflexologia de Betchrev (com “a noção de gestos dominantes”: dominantes postural e digestiva, observadas em recém nascidos) e pela dominante copulativa, estudada por Oufland, em rãs adultas (LOUREIRO, 2004, p. 17). A reflexologia do recém nascido demonstra “a maneira como a experiência de vida, os traumas fisiológicos e a adaptação ao meio (negativa ou positiva) levam a formas pulsional e/ou social na infância” (CARDOSO, 2005, p. 11). Esses achados de Betcherev e de Oufland são “fios condutores” para a investigação das estruturas do imaginário. Conforme Betcherev, as dominantes reflexas “correspondem aos mais primitivos conjuntos sensório-motores que constituem os sistemas de acomodações mais originários na ontogênese” (DURAND, 1989, p.32).

De acordo com a reflexologia betchereviana, Gilbert Durand (1989, p.34) identifica as estruturas do imaginário com estes “gestos dominantes e retira o fundamento para a explicitação das estruturas antropológicas do imaginário”.

A partir do estudo destas dominantes com conseqüente identificação das estruturas antropológicas do imaginário, apresenta-se assim uma organização simbólica do imaginário, ocorrendo uma localização das estruturas de imagens, que podem se apresentar de forma positiva ou negativa, em dois regimes: o regime Diurno - no qual se localiza a estrutura heróica; e o regime noturno, no qual se localizam as estruturas mística e sintética.

O regime diurno se caracteriza pela luta, antítese e luz, claridade, e se compõe de conjuntos de imagens opostas que se opõem ao “pré-estabelecido” (DURAND, 1989, p. 67); é

um regime, predominantemente, masculino composto pelas estruturas heróicas relacionado com o reflexo dominante "postural" dos símbolos teriomorfos (da animalidade agressiva), catamorfos (da queda assustadora), nictomorfos, da escuridão, diairéticos, ascencionais e espetaculares.

No regime noturno aparecem a estrutura mística, da antífrase, predominantemente feminina, e nela ocorre a eufemização do perigo; é a estrutura que agrupa imagens de “acomodação, de aconchego, de côncavo [...] e a estrutura sintética, que concilia intenções de luta e de aconchego” (LOUREIRO, 2004, p.17).

A estrutura heróica está relacionada com a dominante postural; a estrutura mística está relacionada com a dominante de nutrição ou digestiva (constitutivas de símbolos de inversão de sentido e intimidade); e a estrutura sintética (ou disseminatória) – relacionada com a dominante copulativa (constitutiva de símbolos de conciliação entre os opostos e busca do diálogo) (DURAND, 1989).

4.5.1 Os regimes de imagens e as estruturas

No regime diurno, com a estrutura heróica, as imagens remetem idéias de luta, limpeza e purificação, batalhas e julgamentos, despertando simbolismos heróicos como armas, flechas, espadas, com vitória (positiva) ou com derrota (negativo) diante do monstro, do medo, do perigo (LOUREIRO, 2004).

“O regime noturno das imagens”, para Gilbert Durand (1989), apresentam duas formações ou agrupamentos de imagens que remetem à presença das estruturas mística que eufemiza a morte e o perigo, desconsiderando-os; e a estrutura sintética ou disseminatória “que concilia os opostos” (LOUREIRO, 2004 p.17-19), “simultânea ou diacronicamente” (LOUREIRO, 2008, p.855). O imaginário no regime noturno pode assim, ser representado em duas estruturas: a estrutura mística, com idéias de acomodação, de aconchego e envolvimento (dominante digestiva); e a estrutura sintética/disseminatória, caracterizada pela dualidade de intenções de luta e aconchego (dominante copulativa) (LOUREIRO, 2004).

Conforme Terra (2007) os regimes diurno e noturno agrupam três estruturas pela qual o homem ou os grupos lidam com o medo da morte, com a angústia do passar do tempo. Para Yves Durand (1988), há três formas de lidar com essa angústia: enfrentar e destruir o monstro usando armas; se esconder num universo onde não exista morte nem angústia; e renascer para uma vida nova.

Existe ainda, conforme (DURAND, 1988, p.129) o agrupamento de imagens que aparecem de maneira defeituosa, denominado “universo da não estruturação” ou desestrutura.

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