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Identificação das estruturas do imaginário, pelo AT-9

4.6 Arquétipo Teste de Nove Elementos (AT-9), de YVES DURAND

4.6.1 Identificação das estruturas do imaginário, pelo AT-9

Com o teste AT-9, torna-se possível a identificação da estrutura do imaginário, o levantamento dos microuniversos míticos individuais e do universo mítico de um grupo, conforme a Teoria do Imaginário. A partir da representação imagética, motivada pelos estímulos arquetípicos – elementos - registrada no protocolo, é possível verificar a estrutura do imaginário, que pode ser heróica/esquizomorfa, mística/antifrásica, sintética/disseminatória, ou ainda pode se apresentar como não-estruturada. (DURAND, 1988).

A estrutura heróica ou esquizomorfa é caracterizada pela ação heróica do personagem, personagem que é o elemento central na dramatização imaginada no conjunto dos demais; é o protagonista da história imaginada. A estrutura heróica se organiza em torno dos elementos essenciais – personagem, espada e monstro. O monstro representa, nessa estrutura, perigo existencial, uma ameaça ao personagem, obstáculo, perigo ou morte. O personagem utiliza a espada para se defender ou atacar o monstro (DURAND, 1988, p.75). O agrupamento simbólico monstro-espada-personagem é “suscetível de variações segundo as modalidades de relação de antagonismo do monstro ao personagem” (DURAND, 1988, p.77). O personagem tem vantagem no combate, vence o monstro: universo mítico com estrutura heróica, de forma positiva; ou o herói não vence o monstro e por vezes morre: heróico de forma negativa. Yves Durand apresenta subdivisões em cada uma destas estruturas: a estrutura heróica pode se apresentar como super-heróica, heróica integrada, heróica impura, heróica descontraída (LOUREIRO, 2004).

A estrutura mística ou antifrásica é caracterizada pela não-luta, pela aceitação do pré- estabelecido, pela paz, descanso, equilíbrio, aconchego, harmonia, dentro da qual se desenrola a vida do personagem. Yves Durand (1988) ressalta que “a existência do personagem não é sempre calma, pois o refúgio pode perder sua função de proteção podendo tornar-se um espaço de insegurança devido aos perigos múltiplos”. Assim como na estrutura heróica Yves Durand (1988) apresenta subdivisões na estrutura mística: super-mística, mística integrada, mística impura ou mística lúdica (LOUREIRO, 2004). No protocolo nº 4 da pesquisa

realizada, o monstro e a espada existem, mas não chegam a se atualizar em luta heróica, sendo a estrutura deste protocolo caracterizada como mística impura.

A estrutura disseminatória ou sintética (LOUREIRO, 2004) é uma extensão dos universos heróicos e místicos. Nesta estrutura, o personagem participa de um duplo universo (heróico e místico). Enquanto um se potencializa, o outro fica atenuado. (DURAND, 1988). Ainda de acordo com este autor, esta estrutura pode se apresentar de formas diferentes:

- quando as polaridades heróicas e místicas são atualizadas simultaneamente dá-se o nome de “duplo universo existencial sincrônico”. (DURAND, 1988). Este apareceu no protocolo nº. 3 da pesquisa, em que ao mesmo tempo os elementos arquetípicos estimulam reações heróicas e místicas ante o medo da morte e a angústia do passar do tempo;

- quando existem polaridades heróicas e místicas atualizadas sucessivamente, dá-se o nome de “duplo universo existencial diacrônico” (DURAND, 1988), tal qual apareceu nos protocolos nº s 1 e 5 desta pesquisa. No protocolo nº 1, dois nós aglutinam as imagens representacionais em tempos diferentes, em uma síntese/disseminatória: primeiro confessa o medo do diabo, quer dizer a presença do medo da morte/monstro; depois sonha com a paz e a tranqüilidade mística interrompida pela reação de luta contra o ataque do monstro que ataca uma mocinha que ele salva heroicamente. Emerge do protocolo nº 5 também o “duplo universo existencial diacrônico”, pois as imagens representacionais se registram de maneira alternada: primeiro significando antifrasicamente a paz, seguida logo pela luta heróica travada com a morte do monstro, voltando, outra vez, ao desejo de paz. Os dois nós aglutinadores das imagens exercem seus papéis na dramatização imaginada: tanto a energia psíquica heróica aparece como a energia mística, se faz presente.

- quando ocorre “uma ordem mítica articulada em torno do ciclo sazonal da vida e do renascimento simbólico do homem. Todos os elementos definidos no texto do discurso concorrem para a dramatização simbólica”, dá-se o nome de “universo sintético simbólico” (LOUREIRO, 1998), tal qual aparece no protocolo nº. 2 desta pesquisa. O dia e a noite, "sol e lua", "movimento", "coisa cíclica" são representações, função e simbolismo que induzem a percepção de um universo mítico pleno de contradições, mas contradições complementares.

Alguns micro-universos registrados nos protocolos de teste também são considerados como desestruturados: não estruturados verdadeiros, pseudoestruturado. (LOUREIRO, 2004). Conforme Loureiro (2004, p. 28) as estruturas defeituosas são quatro, a saber:

Desestruturados reais (onde os elementos são desenhados e enumerados ou descritos por eles mesmos, sem nenhuma ligação); subgrupos não estruturados (não ligados entre si, mas podendo ser estruturados como subgrupos); pseudodestruturados (os elementos parecem espalhados, mas a história os junta, na sua maioria, ou mesmo todos, numa síntese, em que cada elemento comporta um valor simbólico, senão alegórico). Quando não se desenvolve um mecanismo de defesa, apesar da angústia se expressar, a categoria será: unificada, mas de estrutura temática não formulada.

Nos protocolos de teste desta pesquisa considerados desestruturados, o desenho se apresenta “explodido, cada elemento está desenhado separadamente e por um discurso analítico, não exprimindo nenhum cenário, nenhum agrupamento entre os elementos” (DURAND, 1988 p.132). Apareceram prenúncios de desestrutura no imaginário do protocolo nº 1. Alguns elementos estão desenhados soltos sem ligação, mas na narrativa eles assumiram seus lugares. A desestrutura rondou também o imaginário do sujeito-autor do protocolo nº 2, o que se constatou na numeração desordenada dos elementos no desenho, apesar da coerência mítica emergir no protocolo. A tendência à desestrutura também apareceu no protocolo nº 4 uma vez que os elementos desenhados não guardavam ligação entre si, desenhos realizados apenas na ordem solicitada. Percebeu-se uma pseudodesestrutura, pois apesar da explosão dos elementos no desenho, eles são imaginados e registrados com coerência no quadro e no pequeno questionário do teste.

Para melhor compreensão das imagens que compõem os regimes e as estruturas do imaginário, será apresentado o quadro com a classificação isotópica das imagens de Gilbert Durand (1989, p.305).

QUADRO 1 – Quadro dos Regimes Diurno e Noturno - Classificação isotópica de imagens de Gilbert Durand (1989)

5 IMAGINÁRIO DOS ALUNOS ESTAGIÁRIOS E O ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO

Observou-se e registrou-se nas atividades, ações e posturas dos estagiários, a presença da estrutura do imaginário levantada por meio do Arquétipo Teste dos Nove elementos (teste AT-9). Esteve sempre presente a intenção da melhoria da qualidade de vida dos asilados, bem como oferecer subsídios para a revisão, se necessária e consentida, do currículo do curso de graduação em Fisioterapia da IES em questão, notadamente no que se refere às atividades do “estágio curricular supervisionado em geriatria”, subárea alocada na disciplina “estágio supervisionado”.

Os protocolos do Arquétipo Teste dos Nove Elementos – AT-9, realizados pelos alunos estagiários de Fisioterapia Geriátrica são apresentados em anexo e identificados por números. No primeiro momento estão apresentados os dados dos protocolos do teste AT-9, com suas respectivas análises - estrutural, funcional e elemencial. Para melhor visualização e interpretação do universo mítico do grupo de estágio, bem como a interpretação dos resultados, estes são apresentados em quadros sínteses. No segundo momento será apresentada a estrutura do imaginário detectada pelo AT-9 e confirmada nas atitudes observadas, nas atividades fisioterapêuticas do aluno no estágio curricular supervisionado em geriatria, em associação também com a escuta interpretada e as anotações na escrituração escolar da turma na IES.

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