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A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

CAPÍTULO 3 − AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DANÇA EM AULAS DE

3.2 A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A Teoria do Núcleo Central se configura como uma teoria menor, que

aponta grandes contribuições ao refinamento conceitual e metodológico das RS, sem desqualificar ou substituir a grande teoria defendida por Moscovici (2007). Ela apenas proporciona um corpo de proposições que contribui para que a “teoria das representações sociais se torne mais heurística para a prática social e para a pesquisa” (FLAMENT, 1989 apud SÁ, 1996, p. 51).

Defendida pela primeira vez na pesquisa experimental26 de Jean Claude Abric, A Teoria do Núcleo Central considera a hipótese de existir uma organização interna das RS dirigida para as análises e descobertas de características principais de RS.

A organização de uma representação apresenta uma característica particular: não apenas os elementos de uma representação são hierarquizados, mas, além disso, toda representação é organizada em torno de um núcleo central, um ou de alguns elementos que dão à representação o seu significado (ABRIC,1994 apud SÁ, 1996, p. 62).

Com este estudo, Abric (1994, apud SÁ, 1996, p. 63) ressalta que é possível extrair um componente central da representação estudada, que envolve uma característica comportamental − a reatividade: “[...] é a presença ou ausência deste elemento que constitui para os elementos um estado de coisas onde a cooperação é antevista e admitida (a reatividade estando presente) ou não admitida (a reatividade estando ausente).”

O elemento de reatividade é certamente o núcleo da representação na medida em que ele torna a interação significativa, estrutura como a situação é representada e sem conseqüência determina o comportamento dos sujeitos. Então, novamente, nossos resultados confirmam o fato de que é este elemento mais estável na representação resultante, ou seja, aquele que não muda mesmo que a informação recebida contradiga. A resistência a mudança do núcleo é equivalente nos sujeitos ao processo de reinterpretação da informação que recebem: a mesma informação é interpretada em coerência com o núcleo (ABRIC,1994 apud SÁ, 1996, p. 63).

26 Tese de Doctoral d’ État de Jean Claude Abric – Jeux, conflits et représentations sociales –

Em face disso, o autor defende que toda representação é organizada acerca de um núcleo central que caracteriza e determina a representação; é um subconjunto que organiza um ou mais elementos, que estrutura e dá significados à representação estudada. É importante também enfatizar que elementos complementares, chamados de elementos periféricos, que integram a representação, também são destacados a fim de dar significado ao núcleo central (SÁ, 1996, p. 67).

A formulação básica da teoria se dá pela caracterização e com o cumprimento de duas funções, sendo a

[...] função geradora: ele é o elemento pelo qual se cria, ou se transforma, a significação dos outros elementos constitutivos da representação. É por ele que estes elementos tomam um sentido, um valor; função organizadora: é o núcleo central que determina a natureza dos laços que unem entre si os elementos da representação. Ele é o elemento unificador e estabilizador da representação (ABRIC, 1994 apud SÁ, 1996, p. 70).

A condição de estabilidade é que define o núcleo central como uma propriedade responsável pela identificação de diferenças básicas entre as representações, ou seja, o núcleo central é importante para definir , afinal, o próprio objeto que está sendo representado, podendo assumir duas dimensões diferentes:

Dimensão funcional, como por exemplo, em situações com finalidade operatória; serão então privilegiados na representação e constituindo o seu núcleo central os elementos mais importantes para a realização da tarefa [...] Dimensão normativa, em todas as situações onde intervém diretamente dimensões sócio- afetivas, sociais ou ideológicas. Nesse tipo de situações, pode-se pensar que uma norma, um estereotipo, uma atitude fortemente marcada estarão no centro da representação. (ABRIC, 1994 apud SÁ, 1996, p. 71).

É pertinente destacar que, na Teoria do Núcleo Central das RS, a descrição e explicação dos fenômenos estudados são de grande importância, visto que são necessárias a compreensão e a significação das representações para os indivíduos; para tanto, a identificação do núcleo central de uma representação se faz por intermédio de uma metodologia que possa vir a confirmar a identificação dos elementos centrais e sua validade. Portanto, a teoria “revela que é possível distinguir o duplo aspecto quantitativo e qualitativo da noção de centralidade” (MOLINER, 1994 apud SÁ, 1996, p. 112).

Com base na distinção qualitativa e quantitativa, Moliner (apud SÁ, 1996, p. 114) aponta uma classificação dos métodos de pesquisa do núcleo central em dois principais grupos:

1) Métodos de levantamento dos possíveis elementos do núcleo central que envolvem a colocação em evidência da saliência e das conexidades e cujos resultados só permitem a formulação inicial de hipóteses quanto a constituição do núcleo;

2) Métodos de identificação, a partir das cognições inicialmente levantadas, daqueles elementos que inicialmente compõe o núcleo central, mercê de seu valor simbólico e/ou de seu poder de associativo.

Segundo Moliner (1994), o método de levantamento do núcleo central de uma RS envolve propriedades quantitativas que permitem a percepção e a formulação de hipóteses da centralidade que integram a representação, e trata-se de uma etapa fundamental e determinante para o acesso ao núcleo central (apud SÁ, 1996 p. 115).

Três principais métodos são selecionados por Sá (1996) para conduzir as pesquisas dentro do quadro referencial da teoria do núcleo central: a evocação ou associação livre; a hierarquização de itens; a indução por cenário ambíguo.

O critério metodológico utilizado neste estudo, para representar o núcleo central das representações sociais para os alunos da 4ª série do Ensino Fundamental, será o da evocação ou associação livre, e o mesmo será explicitado no tópico que se refere à metodologia deste estudo.

Sabe-se que a dança se distingue de outras artes pela utilização do corpo em movimento voluntário e expressivo; o corpo em atividade é o instrumento primordial para quem dança, e também se diferencia do esporte (que trabalha com o movimento corporal), pelas questões da expressividade, do ritmo e da movimentação individualizada em vários aspectos. No entanto, a dança (com todas as suas diferenças) é componente da cultura corporal de movimento e deve ser desenvolvida enquanto conhecimento nas aulas de Educação Física escolar.

A procura de formas práticas de interpretação da dança é que transforma em movimento idéias suscetíveis de serem abstraídas e de se inserirem na realidade criativa e dinâmica da sociedade, promovendo uma ação educativa. A dança é veículo de comunicação e expressão, codificador de mensagens, idéias e concepções, fazendo parte, portanto, da construção social (FUHRMANN, 2009, p. 98).

Pelos estudos empreendidos e os conhecimentos adquiridos até então, acredita-se que a dança constitui um fenômeno de representação social, pois está presente na sociedade desde os primórdios; é um saber efetivamente praticado e detectado em comportamentos e comunicações que, de fato, ocorrem sistematicamente.

As propostas de dança dentro da cultura corporal de movimento ambicionam contribuir na formação integral do aluno, possibilitando o conhecimento corporal, a educação do senso-rítmico, aprimorando capacidades e habilidades físicas, comunicação e expressão não verbal, além de integrá-lo com o grupo social. Assim, a dança nas aulas de EF (ou fora do contexto escolar) estabelece relações sociais, portanto as RS influenciam nas escolhas, preferências, resistências, afinidades e gostos de professores e alunos para com a dança.

Levando-se em consideração a análise dos dados, o quadro teórico, o contexto da EFE, os sujeitos e suas identidades sociais, assim como suas maneiras de interpretar e revelar suas crenças, convicções, experiências, gostos, escolhas e conhecimentos sobre dança, a intenção maior neste estudo é verificar e analisar as RS que professores e alunos têm sobre dança, com o intuito de projetar um olhar ressignificado deste conteúdo na prática pedagógica da Educação Física no contexto escolar.