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Capítulo 2. QUADRO TEÓRICO METODÓLOGICO

2.2 A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL

Uma grande contribuição à Teoria das Representações Sociais foi desenvolvida por Abric, em 1976, que levantou a hipótese da existência de uma organização interna das representações sociais em torno de um núcleo central. Toda representação se organiza em torno desse núcleo, o qual se constitui como elemento

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fundamental da representação, pois determina, ao mesmo tempo, sua significação e sua organização (SÁ, 2002).

O núcleo central (Figura 8) assegura duas funções essenciais: uma função geradora - é o elemento pelo qual se cria ou se transforma a significação dos outros elementos constitutivos da representação. É aquilo por meio do qual esses elementos ganham um sentido; e uma função organizadora - é o núcleo central que determina a natureza dos vínculos que unem os elementos da representação. É, nesse sentido, o elemento unificador e estabilizador da representação (ABRIC, 2001, p. 163).

Figura 8. Núcleo central das representações sociais.

O núcleo central é um subconjunto da representação, composto de um ou alguns elementos, cuja ausência desestruturaria ou daria uma significação radicalmente diferente à representação em seu conjunto. Por outro lado, é o elemento mais estável da representação, o que mais resiste à mudança. Uma representação é suscetível a evoluir e se transformar superficialmente devido a uma mudança do sentido ou da natureza de seus elementos periféricos. Mas, ela só se transforma radicalmente (muda de significação) quando o próprio núcleo central é posto em questão. Flament completa esta teoria mostrando como os elementos periféricos podem ser considerados como esquemas que desempenham um papel decisivo no funcionamento do sistema de representação (FLAMENT, 1987 apud JODELET, 2001).

Como a representação social é uma construção do sujeito sobre o objeto e não sua reprodução, essa reconstrução se dá a partir de informações que ele recebe do e sobre o objeto (SANTOS, 2005), o que sugere a importância de refletir sobre os planejamentos pedagógicos e atividades educacionais.

Concordamos com Almeida (2005) que uma contribuição importante da teoria do núcleo central é que ela traz elementos para compreender e explicar o processo de

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transformação das representações sociais, o que, no contexto do presente trabalho possibilita contribuir para a formação dos futuros professores de química.

O núcleo central – ou núcleo estruturante – de uma representação assegura duas funções essenciais:

Uma função geradora: é o elemento pelo qual se cria ou se transforma a significação dos outros elementos constitutivos da representação. É aquilo por meio do qual esses elementos ganham um sentido, uma valência; e uma função organizadora: é o núcleo central que determina a natureza dos vínculos que unem entre si os elementos da representação. É nesse sentido, o elemento unificador e estabilizador da representação. (ABRIC, 1998)

O quadro 4, montado por Abric (1998) compara núcleo central e sistema periférico das RS.

Quadro 4. Comparação entre núcleo central e sistema periférico. Núcleo central Sistema periférico

- Ligado à memória coletiva e à história do

grupo - Permite a integração de experiências e histórias individuais - Consensual

- Define a homogeneidade do grupo - Tolera a heterogeneidade do grupo - Estável

- Coerente - Rígido

- Flexível

- Tolera as contradições

- Resiste à mudança - Evolutivo

- Pouco sensível ao contexto imediato - Sensível ao contexto imediato - Funções:

gera o significado da representação; determina sua organização.

- Funções:

permite a adaptação à realidade concreta; permite a diferença de conteúdo.

Tratando das transformações das representações, Flament (2001) introduz a noção de reversibilidade da situação em que indivíduos que desempenham determinadas práticas consideram determinadas situações como reversível ou irreversível. Se a situação é percebida como reversível, novas práticas desencadeiam mudanças por meio de novos elementos periféricos, ocorrendo uma mudança superficial, já que o núcleo central se mantém estável. Porém se a situação é percebida como irreversível, novas práticas, contraditórias com a situação anterior, desencadearão uma mudança significativa nas representações.

Segundo Souza e Moreira (2005), Abric (1994) aponta três grandes tipos de transformações possíveis, sendo:

Transformações resistentes: ocorrem quando novas práticas contraditórias podem ainda ser geradas pelo sistema periférico e pelos mecanismos clássicos de defesa como interpretação e justificativas ad hoc, racionalizações, referências às normas externas

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da representação, etc. Aparecem então, no sistema periférico da representação, os esquemas estranhos, compostos por indicativo do normal, designação do elemento estranho, afirmação de uma contradição. Estes esquemas estranhos evitam colocar em questão o núcleo central e, consequentemente, a transformação da representação se dá apenas no nível do sistema periférico, pelo menos por certo tempo, por que a multiplicação de esquemas estranhos acabaria resultando na transformação do núcleo central e, portanto, da representação como um todo.

Transformação progressiva da representação: ocorre quando as práticas novas não são totalmente contraditórias com o núcleo central. Os esquemas ativados pelas novas práticas vão, progressivamente, integrando-se àqueles do núcleo central, se fundindo com eles, para constituir um novo núcleo e, portanto, uma nova representação.

Transformação brutal: ocorre quando a significação central da representação é colocada diretamente em questão pelas novas práticas, sem possibilidade de recorrer aos mecanismos defensivos do sistema periférico. A partir daí, a importância dessas novas práticas, sua permanência e seu caráter irreversível desencadeiam uma transformação direta e completa do núcleo central e, portanto, da representação (p. 106-107).

Assim, a partir da ideia de que as vivências sociais estruturam e reestruturam as RS, e simultaneamente são por elas estruturadas e reestruturadas, acreditamos que o referencial das RS tem uma contribuição importante no entendimento de trabalhar a DA na formação dos futuros professores de química.

Segundo Dotta (2006), as representações sociais dos professores são construídas com base na apropriação da prática, das suas relações e dos saberes históricos e sociais, estudá-las possibilita a organização e a ampliação dos conhecimentos educacionais, em especial quanto à construção da identidade deles, produzindo subsídios para entender as suas necessidades profissionais, especialmente no que se refere à formação inicial.

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