• Nenhum resultado encontrado

A teoria dos custos de transação e o co-manejo

No documento Acordos de pesca (páginas 38-42)

1. INTRODUÇÃO

1.2 Base Teórica

1.3.3 A teoria dos custos de transação e o co-manejo

projetos de co-manejo. Os indivíduos aderem ao co-manejo de acordo com a percepção que eles têm dos benefícios, os quais devem ser maiores que os custos. Os benefícios são calculados em termos de incremento da renda familiar, mas também quanto à segurança alimentar, diminuição do esforço para exercer a atividade e, consequentemente, maior disponibilidade de tempo às demais atividades e de aumento do prestígio entre os pares. Em geral, os benefícios do co-manejo não são palpáveis nas fases iniciais e os custos são maiores.

Se os indivíduos não apostam que a longo prazo os benefícios podem superar os custos atuais do manejo dificilmente irão cooperar numa ação coletiva. Para tal, os indivíduos precisam ter plena compreensão da “tragédia” que pode ocorrer caso estratégias de manejo não sejam estabelecidas (POMEROY; KATON; HARKES, 2001).

Além disso, a estrutura econômica individual pode ser determinante na percepção do impacto das regras do manejo na economia familiar. Caso a redução dos ganhos econômicos seja significativa é bastante provável que algumas famílias, de menor poder aquisitivo, não se engajem na ação coletiva. Sendo assim, os sistemas de co-manejo devem prever alternativas econômicas às famílias que terão maior impacto na redução dos seus ganhos (MCGRATH;

ALMEIDA; MERRY, 2007).

Estas condições de implementação dos sistemas de co-manejo não operam de forma isolada. As instâncias dos sistemas de co-manejo, do Estado, agente externo, da comunidade ao indivíduo precisam atuar de maneira integrada para que se possa garantir o uso sustentável do recurso, conservar o ecossistema e melhorar a qualidade de vida dos parceiros (OSTROM, 2009).

coordene o uso dos fatores produtivos de forma eficiente? O que delimita o tamanho da firma? Para a teoria econômica ortodoxa, a firma surge em função da organização da produção, não como uma estrutura de governança. No entanto, qual a necessidade de organizar algo que o mercado efetivamente regula?

Para Coase (1937), esse é ponto de contradição da “velha” teoria. Para o autor, o planejamento da produção é algo que engloba outros fatores para além dos mecanismos de preço. As transações entre fornecedores e produtores podem variar entre uma relação regulada pelo mercado ou podem necessitar de negociação e estabelecimento de acordos em busca de eficiência na alocação dos fatores produtivos. Considerando o último caso, pode-se dizer que esse é o elemento relevante para a emergência da firma.

As transações ocorrem, na prática, em um sistema econômico de distribuição desproporcional dos bens (concorrência imperfeita). A firma, portanto, surge como um fator de direção da produção, avaliando os custos de aquisição de bens no mercado e/ou de negociação de acordos para transação com outros agentes econômicos. Esses custos não dizem respeito somente aos custos de produção óbvios, mas principalmente os custos oriundos dos riscos da transação, em outras palavras, os custos de transação (BUENO, 2004).

Toda transação é arriscada, o que diz respeito ao processo de falha da transação, transação ineficiente, portanto, que não atende às demandas dos agentes econômicos. Quanto maior o risco de uma transação maior é o seu custo. Portanto, a avaliação dos riscos pelo mercado pode levar a firma a estabelecer acordos com demais agentes econômicos. O acordo pretende garantir a transação de modo que ambas as partes são favorecidas, evitando o oportunismo do mercado. Para firmar o acordo, os atores precisam dispender tempo negociando, após isso, precisam monitorá-lo. Dependendo do grau de oportunismo e o nível de confiança, que é resultado da precisão das informações, os custos de transação podem ser muito altos e o estabelecimento de um acordo tornar-se inviável.

Os riscos, isto é, os custos de transação do contrato podem ser tão altos a ponto dos agentes econômicos optarem por aglutinar os processos produtivos ao invés de negociá-los por meio de acordo. Coase (1937) afirma que o tamanho das firmas está ligado ao nível dos custos de transação oriundos de contratos estabelecidos com fornecedores para aquisição dos insumos para a atividade do primeiro. Os fornecedores, mesmo sobre contrato, podem agir de forma oportunista e não cumprir com as cláusulas do contrato. Levando-se em consideração que as tomadas de decisões são realizadas em um cenário de racionalidade limitada não é possível prever de forma acertada os efeitos da interação entre as partes, gerando incertezas

sobre o sucesso dos investimentos, portanto deserções do contrato, mesmo que tenha que pagar pelas multas contratuais.

Em resumo, racionalidade limitada e o grau de oportunismo podem elevar o nível dos custos de transação (trocas) a um limiar máximo que a firma decida por incorporar os demais fatores produtivos em substituição à aquisição dos mesmos no mercado ou, então, a partir de contrato. Se não há confiança e cooperação suficiente entre as partes para o cumprimento do acordo, sobretudo dentro de uma matriz institucional que incentivem condutas oportunistas, a firma preferirá ela própria investir na aquisição das funções produtivas ao invés de adquiri-las no mercado ou por meio de contrato (BUENO, 2004).

North (1990) aponta que os custos de transação são minimizados em ambientes que incentivem a cooperação entre os sujeitos. Instituições e regras formais e informais, que coíbem o oportunismo geram confiança entre os atores, portanto, maior facilidade de cooperação, resultando em baixos custos de transação. Nessa situação, o maior intercâmbio entre os atores reforça a confiança e a cooperação, gerando um círculo virtuoso.

Os sistemas de co-manejo são baseados em acordos que visam a cooperação entre os atores sociais envolvidos em um dilema dos comuns com a finalidade de resolvê-lo. Portanto, aplicando os pressupostos da NEI, firmar e manter acordos funcionando é uma ação onerosa, resultando em custos de transação. Os custos de transação do co-manejo são oriundos do levantamento das possibilidades de cooperação, da negociação entre as partes e dos riscos relacionados ao não cumprimento do acordo (depois de firmado) (TAYLOR; SINGLETON, 1993).

Estabelecer um acordo é difícil, uma vez que as partes nem sempre concordam com os mecanismos de cooperação sugeridos. Algumas medidas podem beneficiar alguns indivíduos mais que outros ou ainda prejudicá-los. Encontrar uma medida que seja favorável a todos depende de negociação entre as partes. Após definida uma solução ótima, o simples estabelecimento de um acordo não garante que ele será cumprido pelas partes. Os atores precisam garantir que os mecanismos adotados estão gerando os resultados esperados, bem como se as partes estão cooperando para o cumprimento do acordo, consequentemente, eles precisarão monitorar a efetividade do acordo e fiscalizar o comportamento dos envolvidos (KUPERAN et al., 2008; TAYLOR; SINGLETON, 1993).

Taylor e Singleton (1993) afirmam que os acordos para solucionar dilemas da ação coletiva englobam três fases: 1) identificação das possibilidades de cooperação entre os atores; 2) negociação das possibilidades de cooperação até o estabelecimento de um acordo;

3) garantir que o acordo estabelecido esteja gerando os resultados esperados e sendo cumprido pelas partes, o que significa, na prática, o monitoramento e a fiscalização do acordo. As duas primeiras fases, em casos raros, são exauridas após o estabelecimento do acordo. Em geral, no decorrer da aplicação do acordo podem ser efetuadas novas sugestões de colaboração geradas a partir de informações obtidas com o monitoramento, bem como pela observação de falhas no acordo, que são renegociadas, consequentemente, precisam ser novamente monitoradas e fiscalizadas.

Considerando as três fases de resolução de dilemas da ação coletiva, os custos de transação podem ser divididos em: custos de pesquisa, custos de negociação, custos de monitoramento e custos de fiscalização (TAYLOR; SINGLETON, 1993). Ou ainda, conforme Abdullah, Kuperan e Pomeroy (1998) podem ser denominados como custos de informação, custos de tomada de decisão e custos operacionais, que incluem o monitoramento e a fiscalização do recurso. Estes custos são gerados pelo dispêndio de recursos de transação entre eles, tempo, energia, materiais e dinheiro. Os custos de pesquisa/informação são relacionados aos recursos gastos com o levantamento das possibilidades cooperativas e dependem do nível de conhecimento sobre o recurso. Quanto mais informação se tem para resolver o problema, menores são os custos de transação no que diz respeito à pesquisa (levantamento).

Os custos de negociação (tomada de decisão) dizem respeito aos recursos de transação gastos na etapa de negociação. Esses custos são mais altos quanto maior a heterogeneidade do grupo, pois tornar-se mais difícil e demorado alcançar um consenso entre os membros do grupo. Na negociação, os membros avaliam suas perdas e ganhos de acordo com cada proposta sugerida para o acordo. Alguns grupos não conseguem avançar na negociação e, consequentemente, não conseguem resolver o dilema coletivo (ABDULLAH; KUPERAN;

POMEROY, 1998; KUPERAN et al., 2008; TAYLOR; SINGLETON, 1993).

Os custos de monitoramento e fiscalização (operacionais) são considerados juntamente na maioria das iniciativas de resolução de problemas da ação coletiva. Os custos de monitoramento dizem respeito aos recursos gastos em atividades que geram informação sobre a efetividade de cumprimento do acordo e os custos de fiscalização dizem respeito aos recursos dispendidos para a vigilância do comportamento dos atores envolvidos e aplicação de sanções, em caso de quebra do acordo (ABDULLAH; KUPERAN; POMEROY, 1998;

TAYLOR; SINGLETON, 1993).

Taylor e Singleton (1993) apontam três alternativas gerais seguidas pelos grupos face aos dilemas coletivos: 1) há grupos que conseguem encontrar soluções endógenas, sem mediação externa; 2) há grupos que necessitam de algum apoio externo para negociação e monitoramento, mas a coerção ainda é por conta do grupo e; 3) há grupos que seguem uma solução híbrida, estabelecem acordos entre si, mas contam com apoio do Estado, sobretudo para a fiscalização.

A alternativa híbrida é comumente adotada em casos de recursos comuns de larga escala (exemplos: bacia hidrográfica, recursos pesqueiros). Em razão de sua amplitude, uma solução baseada somente em iniciativas endógenas é de difícil aplicação, pois os recursos alcançam uma diversidade de usuários que, em geral, estão divididos em sub-grupos. Alguns sub-grupos poderiam conseguir fazer auto regulação, mas outros sub-grupos, não. Como os resultados esperados dependem da cooperação entre os sub-grupos, aqueles com capacidade de auto-regulação não teriam incentivos suficientes para firmar o acordo (TAYLOR;

SINGLETON, 1993).

No modelo híbrido, por outro lado, cada sub-grupo adota um sistema de auto regulação e o Estado opera a fiscalização entre os sub-grupos. No entanto, se o Estado não fizer a sua parte, os grupos tendem a enfrentar o oportunismo de atores de outros sub-grupos, forçando os sub-grupos bem sucedidos na regulação interna a regularem também o comportamento dos atores externos. A regulação exterior produzirá altos custos de fiscalização, que ao final pode inviabilizar a iniciativa local de manejo (GRAFTON, 2000;

TAYLOR; SINGLETON, 1993).

No documento Acordos de pesca (páginas 38-42)