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1.6 Organização do trabalho

2.1.2 A teoria evolucionária da mudança econômica

Tomando emprestadas as idéias básicas da biologia, Richard R. Nelson e Sidney G. Winter, elaboraram uma teoria para a mudança econômica, que foi publicada em 1982, no livro “An evolutionary theory of economic change” (Nelson & Winter, 1996)

A teoria evolucionária adota duas premissas básicas: 1) a mudança econômica é importante e interessante; 2) as empresas são tratadas como motivadas por lucro e engajadas na busca de meios para aumentá-lo, mas suas ações não são assumidas como a escolha maximizante do lucro sobre um dado conjunto de alternativas. A primeira premissa é a motivação do estudo, enquanto a segunda é uma das críticas que os autores fazem à teoria econômica ortodoxa8.

No modelo econômico ortodoxo, as empresas são vistas como operando com um conjunto de regras de decisão que determinam suas ações em função das condições externas (mercado) e internas (como o estoque de capital disponível). Essas regras refletem o comportamento maximizante das empresas, que pode ser separado em três componentes:

1)

Há uma especificação do que as empresas, dentro de um setor, estão procurando maximizar; em geral, é lucro ou valor presente, mas em alguns casos é algo diferente;

2)

Há uma especificação de um conjunto de coisas que as empresas sabem como fazer;

3)

Há uma presunção que a ação da empresa pode ser vista como o resultado da escolha que maximiza o grau no qual o seu objetivo é alcançado, uma vez dado seu conjunto de alternativas, as restrições do mercado e talvez outras restrições internas.

Outro pilar estrutural dos modelos econômicos ortodoxos é o conceito de equilíbrio, onde o exemplo mais básico são as curvas da oferta e demanda de um mercado. Essas curvas são as simples agregações das regras de comportamento dos vendedores e compradores individuais. A teoria econômica ortodoxa aborda a questão da mudança da demanda de um produto ou do preço de um fator de operação, assumindo que os ajustes de comportamento são instantâneos e que essas mudanças nas condições de mercado e o resultante equilíbrio de preços são perfeita e antecipadamente previstos por todos. Na observação dos autores, não é isso que ocorre, as empresas levam algum tempo para responder às condições do mercado e não podem ser vistas como agentes 8

maximizantes. Nesse sentido, os autores acreditam que a teoria ortodoxa econômica tende a tratar a questão da mudança de forma forçada e praticamente ignorando a inovação. Como uma teoria da empresa e do comportamento da indústria, deveria estar preocupada com o fenômeno da mudança e com a inovação e suas conseqüências.

A idéia central na teoria evolucionária da mudança econômica, que foi emprestada da biologia, é a da seleção natural econômica. De acordo com tal conceito, o ambiente de mercado provê uma definição de sucesso ou fracasso para as empresas, baseado na sua habilidade de sobreviver e crescer. Existe uma “genética organizacional” responsável pelo processo no qual as características das organizações, incluindo aquelas que explicam a habilidade em produzir resultados e realizar lucros, são transmitidas através do tempo.

A conotação mais ampla do termo “evolucionária” inclui a preocupação com processos de longo prazo e mudança progressiva. As regularidades observadas na realidade presente não são interpretadas como uma solução para um problema estático, mas como o resultado de processos dinâmicos ocorridos no passado. Em outras palavras, a condição da indústria em cada período de tempo fornece a semente da sua condição no período seguinte. É exatamente na caracterização da transição de um período para o próximo que o principal compromisso teórico da teoria evolucionária tem aplicação direta. Esse compromisso inclui a idéia de que o processo não é determinístico, ao contrário, a condição da indústria em um período determina a distribuição de probabilidade da sua condição no período seguinte.

Tanto na teoria econômica ortodoxa como na evolucionária, as regras de decisão formam o conceito operacional básico, entretanto, enquanto a teoria ortodoxa adota a noção de comportamento maximizante para explicar o porquê das regras de decisão serem o que são, a teoria evolucionária utiliza o conceito de rotina.

Como uma primeira aproximação, pode-se esperar que o comportamento das empresas no futuro estará de acordo com as rotinas que elas utilizaram no passado. Isso não implica uma identidade literal de comportamento ao longo do tempo, uma vez que as rotinas podem responder de forma complexa aos sinais do ambiente. Isso implica que é um tanto inadequado conceber o comportamento de uma empresa em termos de escolha deliberada a partir de um extenso cardápio de alternativas, que algum observador externo considere como oportunidades disponíveis para a organização. O cardápio não é extenso, é estreito e idiossincrático; ele é construído com as rotinas da empresa, e a maior parte das “escolhas” também é realizada automaticamente por essas rotinas. Isso não significa que uma empresa não possa ser um sucesso por um curto ou longo período: sucesso e fracasso dependem do estado do ambiente. (Nelson & Winter, 1996, p. 134)

A realidade do funcionamento das organizações e no centro dela a rotina, formam a fundação da teoria econômica evolucionária. Rotina é o termo geral utilizado para exprimir todo comportamento regular e previsível das empresas. Tal termo é usado para caracterizar

as atividades da empresa, que vão desde as bem especificadas rotinas técnicas para produzir coisas, até as políticas para investimento, pesquisa e desenvolvimento. Na teoria evolucionária, as rotinas desempenham o mesmo papel que os genes têm na teoria evolucionária biológica, como um traço persistente do organismo que determina suas possíveis características.

Nem todo comportamento no mundo dos negócios está dentro do conceito de rotina. Ao contrário, a teoria evolucionária admite que a maior parte das decisões de negócios que são da mais alta importância, tanto do ponto de vista da empresa como da sociedade, em geral, não são do tipo rotinas. O fato de que nem todos os comportamentos em negócios seguem um caminho regular e previsível é acomodado na teoria pelo reconhecimento de que existem elementos estocásticos, tanto na determinação das decisões, como no resultado dessas decisões.

As rotinas de uma empresa definem uma lista de funções, que por sua vez determinam o que a empresa faz, considerando as diversas variáveis externas (principalmente condições do mercado) e variáveis do estado interno.

A teoria evolucionária distingue três classes de rotinas:

a) As rotinas relacionadas com as ações da empresa em qualquer tempo, dado o seu estoque de capital (equipamentos e outros fatores de produção que não podem ser aumentados no curto prazo). Essas rotinas são chamadas de “características de operação”;

b) As que determinam o aumento ou diminuição do estoque de capital;

c) As que operam para modificar, ao longo do tempo, vários aspectos das características de operação.

Para a teoria evolucionária, o comportamento de uma organização é, num sentido limitado mas importante, redutível ao comportamento dos indivíduos que são membros desta organização, o que vai se somar à idéia de que os indivíduos também são organizações complexas. Nesse aspecto, a teoria propõe que as habilidades individuais são análogas às rotinas organizacionais, sendo possível compreender o papel da rotina no funcionamento da organização através da compreensão do papel que a habilidade tem no funcionamento dos indivíduos.

A visão do comportamento organizacional na teoria evolucionária foi moldada a partir das idéias de diversos economistas e teóricos da organização, tais como Schumpeter, Williamson e outros. Enquanto a teoria ortodoxa considera o comportamento organizacional como a escolha ótima de um conjunto de capacidades bem definido, a teoria evolucionária

elege o conceito de rotina como um ponto chave na estrutura teórica aplicada às organizações.

A habilidade individual é definida como a capacidade para uma seqüência regular de comportamentos coordenados, a qual normalmente é eficaz em relação aos seus objetivos, dado o contexto em que ela ocorre. Para se entender melhor o conceito de habilidade, os autores enfatizam que ela tem muitas características em comum com a escolha de comportamento, argumentando: 1) a habilidade é possível de ser programada, uma vez que envolve uma seqüência de etapas, sendo cada etapa sucessiva, passível de ser acionada pela precedente, completando-a; 2) o conhecimento que explica o desempenho de uma pessoa hábil é, em grande parte, um conhecimento tácito, no sentido de que a pessoa não está perfeitamente consciente dos detalhes do desempenho e acha difícil ou impossível articular uma contagem completa desses detalhes; 3) o exercício da habilidade, muitas vezes, envolve a execução de numerosas escolhas, mas em geral, as opções são selecionadas automaticamente e sem a consciência de que uma escolha esteja sendo feita.

A rotina exerce um papel de memória organizacional. Assim, é argumentado que o fato de transformar uma atividade em uma rotina, constitui a mais importante forma de estocagem de um conhecimento operacional específico da organização. A memória nas organizações é ativada através do “fazer”, da mesma forma que uma pessoa lembra a habilidade, exercitando-a. Embora os registros sejam importantes para as organizações, a memória é ativada principalmente pelo exercício e não pode ser garantida totalmente pelos registros escritos ou de qualquer outra forma.

A coordenação das atividades, na teoria evolucionária, é o fator central para o bom desempenho produtivo da organização. Nesse caso, a coordenação será eficaz à medida que seus membros, individualmente, conhecendo seu trabalho, interpretem e respondam corretamente as mensagens recebidas. A informação é armazenada, em primeiro lugar na memória dos membros da organização, na qual reside todo o conhecimento articulável ou tácito, que por sua vez constituem as habilidades individuais e rotinas organizacionais. Desse modo, considerando que a memória dos membros armazena a maior parte das informações necessárias para o desempenho das rotinas organizacionais, existe uma verdade substancial na proposição de que o conhecimento que uma organização possui é redutível ao conhecimento dos seus membros.

Os conceitos de rotina e inovação são vistos na teoria evolucionária como idéias opostas. A inovação implica a mudança de rotina ou novas combinações de rotinas

existentes. Por isso, a teoria evolucionária corrobora a forma como Schumpeter identificava a inovação: “levar adiante novas combinações”.

Na teoria evolucionária, a incerteza fundamental que cerca a atividade inovadora é a incerteza de seu resultado, mas ainda assim, é possível o arranjo de regras e métodos que facilitem a produção de inovações e solução de problemas. Sendo possível afirmar ser a rotina entendida como similar à heurística na tomada de decisão.

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