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2.5 A tomada de decisão aplicada à administração da inovação

2.5.1 O risco e a incerteza na decisão

2.5.1.1 O constructo de risco

Yates & Stone (1994) reconhecem a existência de diversas medidas e definições operacionais para risco, normalmente, com enfoque em apenas um dos elementos que o compõe e consideram a definição de risco como uma possibilidade de perda, a mais geral. Mas esta definição não deixa claro como se relacionam a possibilidade e a perda, isto é, não explicita quais são os elementos de risco. Segundo os autores, estritamente falando, o risco não é um aspecto da alternativa de decisão por si mesmo. De fato, ele representa uma interação entre a alternativa e o agente que assume o risco; em outras palavras, o risco é um constructo inerentemente subjetivo . Isso, porque aquilo que é considerado uma perda é uma preocupação peculiar de cada pessoa, bem como a significância dessa perda e sua possibilidade de ocorrência.

O constructo de risco proposto por Yates & Stone (1994) é composto de três elementos críticos: 1) perdas potenciais; 2) a significância das perdas; 3) a incerteza das perdas.

1) Perdas potenciais

Uma perda ocorre, quando alguém está privado de um resultado que já possuía ou que poderia conseguir; e mais, este alguém ficou com o resultado que é menos interessante do que aquele que foi deixado de lado ou impedido de ser alcançado. Logo, segundo Kahneman & Tversky (1979), citado por Yates & Stone (1994), fica implícito no conceito de perda a noção de um resultado de referência. Qualquer resultado que é preferido em relação à referência é um ganho, ao passo que se for menos preferido será uma perda.

Desta forma, a perda depende do referencial que o tomador de decisão escolhe e pode ser baseado no status quo ou não. Esse referencial pode ser escolhido de acordo com diversos critérios, tais como: média pessoal, referente a uma situação, expectativa social, alvo, arrependimento e outros.

Para Maccrimmon & Wehrung (1986), existem duas formas principais de perda potencial que devem ser consideradas: 1) um resultado que tornará o indivíduo pior do que uma posição referente ao status quo; 2) um resultado que não é tão bom quanto algum outro resultado que poderia ter sido obtido.

A primeira forma é facilmente percebida como uma perda, mas a segunda, chamada de perda de oportunidade, pode não ser tão evidente. Segundo os autores, a perda de oportunidade pode, algumas vezes, transformar uma situação aparentemente isenta de risco em uma nova situação com risco, caso ocorram eventos desconhecidos.

Neste sentido, Moore (1997), afirma que quando termos como “alto risco” ou “baixo risco” são usados, o significado normalmente depende do elemento que serviu de base inicial e das conseqüências que a ocorrência do risco pode ter para esse elemento. Uma forma simples de representar o nível de perda é admitindo-o como sendo expresso em múltiplos do elemento referencial.

A figura 2.12 ilustra esquematicamente as combinações de probabilidades de perda contra níveis de perda que definem a chamada situação de alto risco e a dualidade implicada pelo uso do termo risco em duas dimensões. As curvas limites são indicativas dos tipos de situações rotuladas com os vários graus de risco.

Figura 2.12 Níveis de risco

Nível de perda / referência

Baixo Alto zero

Certeza

Fonte: Moore, 1997, p.2

Segundo Yates & Stone (1994), diversas áreas da pesquisa do risco reconhecem a existência de uma multiplicidade de categorias de resultados e suas conseqüentes classes de perdas que são possíveis em situações de se assumir risco. A taxionomia de risco desenvolvida por Jacoby & Kaplan (1972), citado por Yates & Stone (1994), na área de comportamento do consumidor, é uma das que são mais freqüentemente mencionadas. De acordo com esse sistema, as perdas que uma compra pode produzir são das seguintes categorias: financeira, de desempenho, psicológica, física, social e de tempo.

2) Significância das perdas

Segundo Yates & Stone (1994), os pesquisadores assumem que quanto mais significante a perda potencial, maior é o risco. A significância da perda pode ser distinta de pessoa para pessoa. Em se tratando de perda monetária para pessoas que preferem ter mais dinheiro do que menos, pode-se ter três diferentes função valor, conforme ilustrado na figura 2.13.

Figura 2.13 Alternativas da função valor para perdas

Pessoa C Côncavo Pessoa A Linear Pessoa B Convexo x x x -$40 -$20 0.0 -$40 -$20 0.0 -$40 -$20 0.0 V(x) V(x) V(x) D D DM Dm DM Dm

Fonte: Yates & Stone, 1994, p.10

Na figura 2.13, a função valor linear da pessoa A indica que o grau de mudança na significância de perda monetária é constante. De fato, uma perda adicional de $10 reduz a satisfação da pessoa A, sempre da mesma quantidade, denominada D. A função valor convexa da pessoa B indica uma diminuição da significância marginal, à medida que a magnitude da perda aumenta. Isso implica, como sugerido na figura, que a perda adicional de $10 tem menos importância para a pessoa B quando ela já tiver perdido quantidades maiores do que quando perdeu quantidades menores, DM versus Dm. A função valor côncava da pessoa C descreve o caminho oposto de respostas das perdas.

Essas diferentes funções valor para perdas implicam em correspondentes diferenças na forma que as pessoas A, B e C avaliariam o risco de alternativas que pudessem resultar em perdas financeiras.

3) Incerteza das perdas

Segundo Yates & Stone (1994), na concepção de risco está implícito a existência de incerteza sobre o resultado de ações prospectivas; caso contrário, se os resultados são garantidos, não existe risco. Para os autores, existem pelo menos quatro aspectos distintos da incerteza que são comumente discutidos: a) o risco como incerteza; b) incerteza sobre as categorias de perda; c) incerteza sobre qual perda ocorrerá; d) níveis de incerteza.

a) O risco como incerteza

Algumas vezes se diz que existe risco se os resultados de uma ação não são certos ou garantidos. Neste caso, o risco é efetivamente incerteza. Isso ocorre, por exemplo, quando um economista se refere a qualquer perspectiva com retorno não garantido como risco. “O termo risco é usado alternativamente com incerteza, ao referir-se à variabilidade de retornos associada a um dado ativo” (Gitman, 1997, p. 202).

Na análise de decisão, a concepção de risco, implícita em várias discussões sobre o comportamento de quem assume risco, também é a de risco como incerteza. Os conceitos de “valor esperado” e “equivalente certo” empregados na análise de decisão para determinar a tolerância ao risco do decisor não consideram a atratividade que pode existir na alternativa de maior risco.

b) Incerteza sobre as categorias de perda

Tomando-se como exemplo a situação onde uma pessoa deve decidir se aceita ou não a proposta de um novo emprego é possível imaginar que existem diversas categorias de perdas potenciais. A localização, o ambiente, o salário e o crescimento profissional são categorias de perda potenciais, mas muito provavelmente existem outras tantas. As situações diferem na extensão das categorias de resultados potenciais e conseqüentemente nas possíveis perdas. O risco destas situações aumenta com a incerteza sobre quais as categorias de perda que realmente estão presentes.

c) Incerteza sobre qual perda ocorrerá

Ainda que seja reconhecido que perdas de uma certa categoria podem ocorrer, existe a dúvida se esta perda irá ocorrer. Quanto maior a chance de uma perda ocorrer, maior é o risco.

Possibilidade de perda é a forma padrão de caracterização do risco em medicina e epidemiologia, por exemplo, com índices de mortalidade por doença.

d) Níveis de incerteza

O nível de incerteza tem importância para a caracterização do risco e está relacionado com a firmeza da base na qual as possibilidades de perdas são designadas. Os pesquisadores de decisão estabeleceram um contínuo de níveis de incerteza, onde o ponto extremo em que não existe base alguma para fixar as

Stone (1994), de “ignorância”. Quando as possibilidades do resultado são bem estabelecidas pelo consenso (como por exemplo a possibilidade do resultado do lançamento de uma moeda) tem-se o ponto chamado “objetividade”, também descrito como probabilidade objetiva ou probabilidade aleatória. Entre os pontos ignorância e objetividade estão vários estados descritos como ambigüidade por Ellsberg (1961), citado por Yates & Stone (1994).

A figura 2.14 ilustra o contínuo do nível de incerteza.

Figura 2.14 Níveis de incerteza

Segundo March & Shapira (1987), citado por Yates & Stone (1994), as pesquisas indicam que os executivos fazem uma distinção profunda entre assumir risco e jogar. Estes executivos argumentam que embora assumir risco seja uma parte essencial de suas responsabilidades, jogar é alguma coisa que eles evitam. Esta concepção dos executivos sobre a situação de jogo parece envolver duas questões: primeiro, nos jogos as probabilidades de perda são inaceitáveis, de tão grandes; em segundo lugar, além de um certo ponto é impossível aprender alguma coisa para reduzir a incerteza em um jogo. Assim, uma grande parte do tratamento dispensado pelos executivos em relação ao risco envolve a descoberta do resultado que ocorrerá caso seja tomada uma determinada ação. Se a situação não permite este tipo de descoberta, o executivo a evitará se assim for possível. Aparentemente, com esse comportamento, o executivo está buscando ultrapassar o ponto de objetividade no contínuo de incerteza e se aproximar da presciência.

AMBIGÜIDADE

Ignorância Objetividade Presciência

RISCO

Fonte: modificado de Yates & Stone, 1994, p. 14

Segundo Yates & Stone (1994), em diversas situações práticas e de pesquisa, é comum os especialistas em risco indexar o risco com apenas um dos elementos. Isso não significa que esses especialistas acreditem que tal medida consiga capturar o constructo de

risco; na maior parte das vezes, o mesmo se deve aos propósitos limitados da situação, onde esse tipo de medida é suficiente.

Para analisar como seria possível combinar os vários elementos de risco para se determinar o risco total, Yates & Stone (1994), consideram duas idéias básicas na combinação de princípios: a) interação e b) independência.

a) Interação

A interação refere-se à forma como a significância e a incerteza, associadas com uma dada perda, juntas, afetam o risco total. Supondo-se que:

• A incerteza associada com uma perda específica (Perda i) seja representada pela sua probabilidade P (Perda i);

• A significância dessa perda possa ser caracterizada pelo índice de importância I (Perda i).

A primeira noção de combinação do risco é capturada pela seguinte equação conceitual: Risco i = P (Perda i) ⊗ I (Perda i).

A probabilidade e a significância estão combinadas por um operador (⊗) que se comporta essencialmente, mas não completamente, como multiplicação. Os especialistas em risco, algumas vezes, relutam em aceitar totalmente o operador multiplicação, porque em alguns casos a intuição contradiz tal operador sobre o comportamento do risco. Por exemplo, Kaplan & Garrick (1981), citado por Yates & Stone (1994), argumentam que é difícil equacionar o risco de um cenário com alto prejuízo e baixa probabilidade, assim como o cenário de baixo prejuízo e alta probabilidade.

b) Independência

A segunda idéia que recorre na combinação dos princípios de risco é aplicada em situações nas quais mais de uma perda pode ocorrer, ou seja, os efeitos dessas perdas são independentemente acumulativos.

Em contraste à combinação interativa da significância e incerteza, a contribuição ao risco total de uma perda potencial é sempre a mesma, independente da outra perda potencial que acompanha. Supondo-se que:

• O risco envolvendo a perda potencial (Perda 1) seja expresso por Risco(Perda 1);

• O risco envolvendo a perda potencial (Perda 2) seja expresso por Risco(Perda 2) e assim por diante.

A segunda noção de combinação do risco é capturada pela seguinte equação conceitual: Risco total = Risco(Perda 1) ⊕ Risco(Perda 2) ⊕ ....

Nesta equação o operador (⊕) é equivalente à adição.

Desta forma, o risco total resultante de uma coleção de perdas potenciais é uma acumulação das contribuições feitas por cada uma delas.

Segundo Yates & Stone (1994), as idéias de interação e independência têm sido operacionais na pesquisa e administração através das seguintes representações do risco total:

1) Perda esperada

A perda esperada é a caracterização do risco total que captura os dois princípios mais diretamente. Considerando-se que:

• L seja a perda advinda de um dado resultado X e referência Rf, então: L = Rf - X

• P(L) seja a probabilidade desta perda

• A perda esperada (PE) é a soma de todas as perdas potenciais ponderadas com suas probabilidades: PE = Σ P(L)L , onde a somatória é tomada sobre todos os resultados considerados piores que a referência.

• Uma variante da perda esperada aplicada a resultados não quantificados toma a seguinte forma: PE = Σ P(L)IR(L) , onde IR(L) é um índice de importância relacionado à perda L, representado pelo resultado X. A somatória é tomada sobre todos os resultados considerados piores que a referência.

A variância é uma medida da dispersão dos resultados em relação à média ou valor esperado, utilizada para medir o risco, principalmente em finanças. Ross & Westerfield & Jaffe (1995), por exemplo, ressaltam que não existe uma definição universalmente aceita de risco, mas que uma das formas de se pensar no risco dos retornos de ações é através do grau de dispersão.

Considerando que:

• O valor esperado (VE) ou média de qualquer distribuição é a soma de todos os valores possíveis (X), cada um ponderado pela sua probabilidade, então:

• A variância (Var) será: Var = Σ P(X)(X - VE)² , onde a somatória é tomada sobre todos os resultados X, e não apenas sobre as perdas.

A variância é vista algumas vezes como uma medida imperfeita do risco, porque é afetada não somente pelas perdas, mas pelos ganhos também. Nesse caso, duas alternativas cujas distribuições de resultados são idênticas em relação às perdas podem entretanto ser consideradas diferentes quanto à quantidade de risco.

2) Semivariância

Pode ser uma medida do risco total quando se acredita que o risco associado a uma perda quantificada aumenta de forma dramática com a magnitude da perda. Considerando a notação utilizada anteriormente:

• SemiVar = Σ P(L)L²

4) Risco total quando existem múltiplas categorias de resultados

As três caracterizações do risco total apresentadas pressupõem que existe apenas uma categoria de resultado, mas é consideravelmente freqüente as situações com mais de uma categoria.

Essa questão tem sido tratada em comportamento do consumidor, onde a abordagem sugerida é uma extensão direta do princípio de acumulação independente. Dessa forma, a perda esperada (PE) será:

• PE = Σ Σ P(L)IR(L) , onde a segunda somatória se estende sobre todas as categorias de resultados pertinentes.

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