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2.1 A E MERGÊNCIA DA E CONOMIA DO C ONHECIMENTO NA TRANSIÇÃO PARA O PARADIGMA PÓS F ORDISTA

2.1.3 A territorialização das economias externas do conhecimento

É pouco provável que a difusão do conhecimento novo e a sua concretização em inovação siga um padrão homogéneo no espaço, nomeadamente à escala nacional (como se demonstrou na Figura 2.2). Com efeito, dados os argumentos e evidências explanados na secção anterior (os quais favorecerem a hipótese teórica de polarização geográfica da inovação) oferece-se como empiricamente consistente a ideia alimentada por vários investigadores acerca de uma génese territorial subjacente à inovação, tendo como referências pioneiras as contribuições “territorialistas”/”localistas” de autores como Friedmann e Weaver (1981) e Stöhr (1981) – contribuições que serão analisadas na subsecção 2.2.2.1 no âmbito das designadas teorias do desenvolvimento regional. A partir de então viriam a multiplicar-se segundo várias linhas de investigação os autores interessados no estudo de um hipotético nexo de causalidade entre as externalidades espaciais do conhecimento e os atributos específicos dos territórios propiciadores ou inibidores de tais efeitos; conforme, aliás, se pode constatar nos trabalhos de sistematização da literatura relevante levados a cabo por Méndez (2002), Moulaert e Sekia (2003) e Simmie (2005).

A sua filiação em diferentes universidades norte-americanas e europeias vem a refletir-se numa miríade de conceitos de natureza socioeconómica, institucional, histórica e política (desenvolvimento endógeno, ancoragem local, capital relacional/social, governança territorial, proximidade, etc.) que, para lá das suas diferenças mais ou menos substantivas, têm como traço comum a valorização do espaço enquanto território. Fazendo uso das palavras do professor Raul Lopes, estas diversas correntes de pensamento “passam a encarar a região não como suporte passivo de recursos, mas como uma entidade geradora de novos recursos através de complexas formas organizacionais de génese local propiciadoras de múltiplas interacções entre os actores locais, bem como entre estes e outros actores situados noutros pontos (…)” (Lopes, 2001: 103).

Nesta linha de investigação os diversos estudos publicados por estes autores têm vindo a propor conceptualizações de modelos de Desenvolvimento Regional alternativos aos tradicionais “pólos industriais”. Destacam-se, a título exemplificativo, as abordagens dos Distritos Industriais Italianos (Bagnasco, 1977 e Becattini, 1979), dos Sistemas Produtivos Localizados (Maillat, 1998), dos Clusters Industriais (Porter, 1990 e 1998), do Meio Inovador

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35 (Aydalot, 1986 e Camagni, 1991 e 1995a), da Região Inteligente/Aprendiz (Florida, 1995; Ferrão, 1996 e Morgan, 1997) e dos Sistemas de Inovação (Lundvall, 1992, Edquist, 1997 e 2005, Cooke et al., 2004). Mais recentemente, esse debate tem sido animado pelas Regiões do Conhecimento e os 'Clusters' Criativos, que têm tido acolhimento nas “estratégias regionais de inovação” da União Europeia – desde as prioridades inscritas na Estratégia de Lisboa renovada (Rodrigues, 2006: 14-15) – e nos estudos de governança e competitividade regionais da OCDE (referências várias)26.

Para lá das diferenças mais ou menos acentuadas entre as diversas escolas de pensamento que dominam na atualidade o panorama da discussão académica em matéria de desenvolvimento regional, existe um princípio teórico unificador e consensual: a “natureza do meio” em que uma empresa esteja inserida condicionará a capacidade inovadora desta e a atratividade que o território de implantação possa exercer na captação de fluxos de investimento directo privado, uma condição ‘sine qua non’ para o crescimento económico regional de longo prazo e para o bem-estar social das respetivas populações; sendo estes dois pilares fundamentais para o desenvolvimento sustentável (OCDE, 2008a: 27).

Quando se afirma que o território é um sujeito ativo do desenvolvimento local e regional (Veltz, 1995; Lopes, 2001) tal sugere que no cerne do crescimento económico estará uma dialética entre duas esferas de competitividade (territorial e empresarial), reforçada pela globalização e pelo realce consensualmente conferido aos fatores complexos e dinâmicos de competitividade. Com a globalização, a competitividade empresarial entrecruza-se com a competitividade entre regiões e cidades de diferentes países, sendo que sairão vencedoras aquelas que possuírem ativos territoriais mais fortes, neles residindo as vantagens competitivas territoriais (OCDE, 2001: 18)27.

Na medida em que a competitividade territorial se traduz na atratividade do território (área ou região), torna-se inevitável reconhecer a importância determinante que sobre ela terão as

26 A atual literatura sobre ciência e política regionais é fértil em designações que, em geral, valorizam o conhecimento, a criatividade e a inovação enquanto ativos intangíveis vinculados aos territórios. É o caso das “Regiões do Conhecimento” destinadas a “promover o envolvimento activo dos intervenientes locais na

elaboração de estratégias de conhecimento regionais” (Comissão Europeia, 2007a: 158).

27 Segundo o texto original: “Areas, in fact, have characteristics (their territorial capital) that can influence the

location decision of enterprises. In an increasingly global and competitive world, areas are becoming a key variable for the competitiveness of entreprises. They play an essential role as a catalyst. The regions and cities that win are those that have the strongest assets, so it is possible to speak of the competitive advantages of areas.”.

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economias externas de aglomeração, particularmente na forma de “economias de proximidade”, face a um novo modelo de organização industrial que tende a rivalizar nas economias industrializadas com o paradigma Fordista de produção em massa - designado por “especialização flexível” (ou “acumulação flexível”):

Especialização flexível é uma estratégia de permanente inovação: acomodação a permanente mudança, mais do que a controlar. Esta estratégia é baseada em equipamento flexível (multi- uso); trabalhadores qualificados; e na criação, através de políticas, de uma comunidade industrial que restringe as formas de competição àquelas que favorecem a inovação. (Piore e Sabel, 1984: 17)

Para que se esclareça a filosofia subjacente a este modelo importa notar que com a globalização se tem vindo a assistir a uma pressão crescente nos mercados internacionais (incluindo bens transacionáveis e não transacionáveis) para uma inovação sistemática, fruto da procura cada vez mais sofisticada e da concorrência decorrente da integração económica mundial que tornam a procura volátil e, ao mesmo tempo, reduzem o ciclo de vida do produto.

Daí que nas indústrias de alta tecnologia28 muitas empresas optem por uma descentralização espacial das suas unidades funcionais (particularmente, as multinacionais): preferem conservar nos principais centros urbanos (o “centro”, segundo a literatura) aquelas unidades que requerem competências em I&D, gestão, finanças e marketing e optam por deslocalizar para a “periferia” as unidades de produção (quando já estão criadas rotinas a nível dos novos processos de fabrico ou quando o novo produto já passou o teste de mercado). Em matéria de organização industrial a uma escala global assistiu-se, por conseguinte, desde meados da década de 1980 a uma evidente fragmentação espacial das fileiras produtivas (Amin e Thrift, 1992 e 1994; Tödtling, 1994).

Esta estratégia de fragmentação espacial resulta, por um lado, de tais centros (sendo compostos maioritariamente pelas metrópoles de projeção mundial) se afigurarem como espaços privilegiados em matéria de dotação em capital humano e criatividade (fatores/’inputs’ determinantes para a busca de novas soluções tecnológicas, organizacionais, financeiras e de comunicação com o cliente); por outro, são centros de consumo, cuja elevada dimensão permitirá avaliar a recetividade ao novo produto num curto espaço de tempo quer

28 Esta categoria surge no contexto de uma taxonomia estabelecida pela OCDE para distinguir os vários tipos de

indústrias, concebidas no sentido abrangente que a literatura anglosaxónica lhe atribui (comparável a ramos de atividade, numa leitura mais conservadora) esclarecida na secção 2.1.2, nota de rodapé 16.

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37 pela sua elevada densidade populacional (que facilita o contacto com a potencial clientela), quer pela facilidade em contratar agências especializadas em estudos de mercado. Em conjunto, tais atributos ajudam a reforçar a capacidade inovadora das empresas e a responderem prontamente às recentes tendências do mercado onde se inserem, melhorando o seu posicionamento competitivo no mercado regional, nacional e global.

A gestão estratégica das empresas com integração vertical, à luz da referida dialética empresa – território (sobretudo quando este se perspetiva como “meio inovador”) sumariamente consistirá em otimizar a localização das diversas unidades funcionais consoante os requisitos em termos de recursos associados a cada uma delas e as respetivas dotações existentes em cada região.

Paralelamente, para a grande empresa é importante estabelecer parcerias estratégicas com pequenas e médias empresas (PME) locais cujo ‘know-how’ poderá potenciar inovações de processo (de carácter incremental), para além de proporcionarem uma redução de custos operacionais – nomeadamente na área de aprovisionamento (pelo sistema de ‘Just-in-Time’) − recorrendo à externalização de secções/atividades consideradas não centrais no seu negócio principal. As grandes empresas poderão, assim, alcançar ganhos de eficiência em face desta desintegração vertical e fragmentação espacial; ao mesmo tempo que se libertam recursos financeiros próprios vitais para o financiamento de projetos inovadores.

Em última análise, dir-se-ia que é uma dupla perspetiva de proximidade que está implícita nestas vantagens económicas externas às empresas:

i) Do mercado consumidor e dos parceiros estratégicos (centros de I&D e serviços avançados de apoio às empresas – incluindo consultoria financeira e de propriedade intelectual), a favorecer a redução dos custos de transação e a inovação de produto; ii) Dos fornecedores e concorrentes (potenciadores da inovação de processo). Esta visão

contraria o paradigma da grande empresa alicerçado na ideia de exploração das economias internas de escala e de gama, que nortearam o “paradigma Fordista” de competitividade empresarial predominante até meados dos anos 1980 na generalidade das fileiras industriais (siderurgia, petroquímica, farmacêutica, automóvel, etc.), e por conseguinte sujeitas a uma integração vertical e produção em massa.

O protagonismo que as microempresas e pequenas empresas passam, assim, a ter na literatura sobre economia da inovação e do território enquanto agentes potencialmente inovadores encontra razões de fundo no facto de estarem fortemente ancoradas ao local de vivência

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sociocultural dos respetivos empresários fruto de uma complexa teia de ativos intangíveis, intrínsecos à região, não transferíveis ou dificilmente reprodutíveis noutras regiões. Eis uma proposta de síntese, sem a pretensão de cobrir todo o leque de contributos teóricos em torno da relação funcional entre inovação e território:

i) A tradição industrial local, sinónimo de que a região será um reservatório de conhecimento tácito, fértil em mão de obra especializada, reduzindo custos na contratação e formação profissional às empresas interessadas (‘economias de distrito’ de acordo com Amin e Thrift, 1992 e Camagni, 1995a);

ii) A receptividade à inovação por parte do tecido empresarial da região, de importância estratégica perante a necessidade de diferenciação de produto e especialização em nichos de mercado (Piore e Sabel, 1984; Veltz, 2000; Rallet e Torre, 2004);

iii) O envolvimento das empresas em redes locais de transferência de conhecimento dificilmente codificável, propiciadoras de ‘spillovers tecnológicos’ entre empresas de uma mesma indústria por via das trocas formais (do tipo ‘input-output’, como tipicamente ocorre numa fileira produtiva) bem como de interdependências não mercantis na aceção empregue por Storper (1997), incluindo o mercado de trabalho, instituições públicas e regras de ação, costumes, compreensões e valores espacialmente contextualizados a uma escala local ou nacional, inspirado na Teoria Evolucionista (Nelson e Winter, 1982 e Dosi, 1988a).

iv) O clima de tolerância da comunidade local face ao eventual insucesso empresarial de um seu membro, aliado ao sentimento de pertença individual a essa mesma comunidade, resultantes de uma identidade cultural construída a partir da comunhão histórica de um código de conduta, tradições e laços familiares e de camaradagem entre os seus membros, que asseguram uma “cidadania virtuosa” (Piore e Sabel, 1984, Putman, 1993) traduzida em reforço do capital social;

v) O nível de capital social de uma comunidade local (Putman, 1993 e 2000) necessário à partilha de informação estratégica para a inovação incremental dentro da região, servindo como canal a elevada mobilidade dos indivíduos detentores de “saber fazer” entre empresas locais, genuinamente motivados para a criação do seu próprio negócio depois de reunirem a adequada experiência, ativando o empreendedorismo local;

vi) A existência de espessura/densidade institucional local (Amin e Thrift, 1994; Torre e Gilly, 2000), i.e. uma massa crítica de instituições (organizadas em torno de um sistema regional de inovação) a par de um quadro normativo-legal e de valores socioculturais partilhado pelos agentes públicos e privados, eficiente na regulação das transações (Storper e Scott, 1995) a ponto de incutir a confiança vital entre os agentes para a cooperação em redes sociais de empreendedorismo local;

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vii) A capacidade de governança territorial tendo por base a hibridação de proximidades local-global e geográfica-organizacional (Torre, 2000; Torre e Gilly, 2000; Rallet e Torre, 2004), apelando a mecanismos de coordenação local que visam mediar conflitos latentes na exploração dos recursos naturais e na ambivalência dos territórios predominantemente rurais, eventualmente aliada à existência de um certo grau de autonomia política a nível local (Vázquez-Barquero, 2000);

viii) A presença de amenidades turísticas e residenciais na região, ativos importantes para a promoção do turismo cultural e de negócios. A estas amenidades intrinsecamente territoriais se associam as amenidades rurais (OCDE, 2006)29.

Esta amálgama de atributos territoriais, de composição e qualidade variáveis consoante os territórios em análise, a par da presença das infraestruturas de suporte à atividade produtiva (acessibilidades, conetividade e disponibilidade de serviços intensivos em conhecimento30), configuram uma espécie de atmosfera “industrial” (Marshall, 1890) e “social” (Amin e Thrift, 1992 e 1994) potencialmente geradora de vantagens competitivas gratuitas para as empresas que nela se embrenhem, cuja natureza importa compreender para que se esclareça as diferentes conceptualizações atrás referidas. Ao mesmo tempo, tais atributos favorecem a autonomia em matéria de governança territorial pelo facto de as dinâmicas de inovação empresarial enquanto expressão da tensão local-global (Benko e Lipietz, 1994; Reis, 2003; Rallet e Torre, 2004) induzirem a adaptabilidade das instituições económicas, sociais e culturais à especialização flexível imposta aos sistemas de empresas implantados num dado território - na medida em que se fomente a aprendizagem coletiva na forma de retenção e reprodução de conhecimento inovador (codificado e tácito) por parte dos indivíduos, empresas e instituições.

Para além de induzir um maior grau de atratividade de investimento inovador e criação (líquida) de emprego, nomeadamente por parte de empreendedores naturais da região que estejam emigrados noutros territórios, o fomento da ação coletiva (enquanto forma de coordenação local) em prol das sinergias de aprendizagem favorecerá a inserção do tecido empresarial em redes globais de inovação e contribuirá para a conceção descentralizada de uma política industrial coerente com as políticas de educação e de ciência e tecnologia, em

29 Segundo esta fonte os ativos rurais como a qualidade de vida e ambiente, o património natural e outras

amenidades são atualmente mais procurados e, a par do progresso nas infraestruturas de transporte e comunicações, constituem verdadeiros atributos para atraírem investimento e trabalhadores (Idem: 13). Para uma abordagem de estudo de caso acerca da importância das amenidades rurais vide, por exemplo, Ruivo (2007).

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ordem a orientar eficazmente os recursos e as competências regionais à luz do paradigma da economia do conhecimento (Freeman e Soete, 2007)31.

Pode-se, em última análise, concluir que a inovação é um produto do território graças às externalidades espaciais positivas na forma de economias de organização específicas à indústria (através da desintegração vertical) e às economias de aglomeração (na forma de economias de proximidade) quando este se encontra imbuído daquela “atmosfera”, a qual se vai renovando por via da permanente aprendizagem coletiva local, conferindo-lhe a natureza de meio inovador (Aydalot, 1986; Maillat, 1997) – a debater na secção 2.2.3.

É neste quadro teórico que a presente secção remete no seu título para a territorialização dos benefícios inerentes à difusão do conhecimento, a partir de múltiplas interações entre diversos atores, não estritamente vinculados à produção do conhecimento no sentido formal. Num sentido mais amplo, o termo assinalado tem subjacente “contextualizações do funcionamento económico e social em que a proximidade é especialmente valorizada” graças aos benefícios que dela resultam sob a forma de economias externas fruto das relações intensas proporcionadas pelas aglomerações espaciais, que ajudam a entender porque determinados espaços (territórios) se exibem como locais especialmente aptos para a produção do conhecimento (Reis, 2007: 138-139).

Mas se existem regiões insuficientemente dotadas dos atributos/ativos cruciais para gerar inovação então, numa interpretação a contrario do que é postulado pela teoria subjacente ao paradigma da economia do conhecimento, permite-se questionar quais serão as ameaças e as oportunidades que se oferecerão a estas. Por isso, na secção seguinte será contemplada a sua sistematização tendo como objeto geográfico de análise os diversos territórios à escala infranacional espalhados pelo globo com referência a conceituados autores ligados à conceção dualista do desenvolvimento regional.

31 Os autores afirmam que as políticas de inovação na Europa têm falhado na criação de incentivos suficientes

para fazer emergir um processo de inovação com o perfil de ‘Schumpeter Mark I’ (secção 2.1.1), o que em seu entender está na origem do “paradoxo europeu da investigação” (Soete, 2000): “Enquanto a Europa investia na

investigação intra-europeia, na colaboração e no intercâmbio de conhecimentos científicos entre cientistas europeus e no fortalecimento tecnológico do potencial competitivo das empresas europeias, as vantagens de uma tal colaboração geograficamente ‘circunscrita’ foram-se tornando mínimas, dado o crescimento muito significativo das oportunidades para o intercâmbio rápido, à escala internacional, de informações e cooperação.” (Idem: 26).

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