• Nenhum resultado encontrado

A transição democrática no Brasil e a questão dos direitos humanos

Capitulo 2 – Contexto histórico da tortura no Brasil

2.7. A transição democrática no Brasil e a questão dos direitos humanos

Em 1985, Tancredo Neves foi eleito indiretamente presidente do Brasil, mas morreu antes de tomar posse. Quem assumiu a presidência foi o vice José Sarney, o mesmo que em 1984 havia se colocado contra a emenda das diretas. O período de transição para o governo civil foi marcado por uma agenda tímida de mudanças das estruturas anteriores.

Em 1987, os membros do Senado Federal e da Câmara dos Deputados reuniram-se formando uma Assembléia Nacional Constituinte, cuja missão foi a de elaborar uma nova Constituição para o Brasil. A nova Constituição brasileira foi promulgada em 5 de outubro de 1988, revogando assim, a Constituição de 1967, outorgada pelo governo militar.

Apesar da promulgação de uma Constituição que abarca os direitos humanos como base para a democracia, o autoritarismo social e as heranças dos regimes autoritários, enraizadas principalmente nas agências encarregadas do controle repressivo da ordem pública, dificultarão os avanços desses direitos no Brasil (Adorno, 1999).

De acordo com Adorno, por cerca de duas décadas:

[...] o processo de centralização de controles e de militarização da segurança pública acabou por produzir ao menos três conseqüências institucionais: primeiramente, transformou o controle da criminalidade comum em problema de segurança interna, estimulando - intencionalmente ou não – uma sorte de confusão entre o controle civil da ordem pública e o controle da segurança nacional; em segundo lugar, os problemas relacionados com a repressão do crime comum transfiguraram-se cada vez mais em problemas afetos à órbita das agências policiais, em especial das polícias militares [...]. Em terceiro lugar [...] os governos estaduais recém-eleitos após a abertura do regime tiveram de enfrentar delicadíssimo problema político, até hoje mal equacionado: o de

reenquadrar suas polícias militares e reconquistar o controle civil sobre a segurança pública (Adorno, 2002, p.133).

Mais uma vez tem-se que os direitos civis, apesar de contemplados na nova Constituição Federal, estão constantemente ameaçados. Conforme Carvalho a “falta de garantia dos direitos civis se verifica, sobretudo no que se refere à segurança individual, à integridade física, ao acesso à justiça” (2005, p.211). Ainda conforme Carvalho:

A constituição de 88 apenas tirou do Exército o controle direto das policias militares, transferindo-o para os governadores dos estados. [...] Essa organização militarizada tem-se revelado inadequada para garantir a segurança dos cidadãos. O soldado da policia militar é treinado dentro o espírito militar e com métodos militares. Ele é preparado para combater e destruir inimigos e não para proteger cidadãos. [...] mesmo a policia civil, que não tem treinamento militarizado, se vem mostrando incapaz de agir dentro das normas de uma sociedade democrática. Continuam a surgir denúncias de prática de tortura de suspeitos dentro das delegacias, apesar das promessas de mudança feitas pelos governos estaduais. São também abundantes as denúncias de extorsão, corrupção, abuso de autoridade feitas contra policiais civis [...] O Judiciário também não cumpre seu papel. O acesso à justiça é limitado e pequeno para a parcela da população. A maioria desconhece seus direitos, ou, se os conhece, não tem condições de os fazer valer. Os poucos que dão queixa à polícia têm que enfrentar depois os custos e a demora do processo judicial. Os custos dos serviços de um bom advogado estão além da capacidade de grande maioria da população [...] A população desacredita na justiça e apresenta um sentimento de que ela funciona apenas para os ricos, ou antes, de que ela não funciona, pois os ricos não são punidos e os pobres não são protegidos (Carvalho, 2005, p.213-215).

Apesar das promessas trazidas pela redemocratização, o aumento da violência, a proliferação do medo e da insegurança se refletia em discursos que acabavam por colocar em risco a consagração do Estado Democrático no Brasil.

Somente no final de 1989 elegeu-se, por via direta, o presidente da república, Fernando Collor de Mello, depois de um intervalo de 30 anos de eleições indiretas. Porém, a mudança de regime político e a volta das eleições não alteraram as práticas arbitrárias dos agentes dos órgãos repressivos do Estado em relação aos grupos mais vulneráveis da população. Sobre a democracia, prevaleceu um sistema autoritário, incrustado especialmente nas instituições de controle da violência e do crime (Pinheiro, 1991).

Ao longo da década de 80, a violência policial permaneceu quase que inalterada, principalmente pela atuação dos grupos de extermínio e esquadrões da morte, das torturas praticadas em instituições fechadas, das execuções arbitrárias e dos desaparecimentos demonstrou claramente que o sistema de violações ainda era existente.

Essas violações não foram objeto de atenção do governo, da imprensa ou da sociedade, já que os torturados eram “presos comuns”. A tortura, que era prática rotineira nas delegacias de todo o país passou a ser visível à sociedade, principalmente no momento em que atingiu diferentes grupos sociais, em especial os grupos da classe média (Pinheiro, 1982). É dessa tomada de consciência que surgem entidades como as Comissões de Justiça e Paz, a Comissão Teotônio Vilela, Grupo Tortura Nunca Mais e Centro Santo Dias, etc (Oliveira, 1994, p.22).

É importante destacar o papel da igreja, tanto nos movimentos sociais - com a organização popular, baseada principalmente na “teologia da libertação” e na formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) - como nos movimentos de defesa dos direitos humanos- com a organização de centros de direitos humanos.Esta reivindicação emergiu dos movimentos de direitos humanos do período de abertura política da década de 80. A noção de direitos foi central no debate político durante o processo de democratização da sociedade brasileira e apresentou diversos significados em determinados momentos históricos. A defesa dos direitos humanos associou-se à campanha da anistia política, ao fim da censura, ao fim das torturas aos presos políticos e à campanha das diretas. A defesa dos direitos humanos significou uma reivindicação democrática central no processo da abertura política, defendida por amplos setores da sociedade.

Segundo Pinheiro e Sader (1985) o processo de democratização colocou em questão o problema do lugar dos direitos humanos, do controle da polícia e do conjunto dos órgãos repressivos, que fundamentaram as ações ditatoriais. As entidades de direitos humanos protestavam contra a violência policial, a tortura e os maus tratos cometidos por agentes do Estado contra pessoas privadas de liberdade (Caldeira, 1991, p. 164).

O desdobramento do que se reivindicava para os prisioneiros políticos no período da ditadura originou o argumento segundo o qual direitos humanos apenas protegiam bandidos e prisioneiros comuns. Entretanto, os resultados da defesa dos direitos humanitários do preso comum foram totalmente diferentes. Se a denúncia de tortura e prisões ilegais dos

prisioneiros políticos em nome dos direitos humanos ajudou a derrubar o regime militar, a denúncia das mesmas irregularidades e a defesa dos direitos humanos dos presos comuns serviu para abalar as instituições e pessoas que haviam articulado as duas campanhas (Caldeira, 1991).

Diferente dos presos políticos, os “prisioneiros comuns” eram pessoas pobres, vítimas de toda uma série de preconceitos e discriminações na sociedade brasileira, que tinham cometido algum tipo de crime. Os presos não tinham meios de se mobilizarem ou se organizarem para reivindicar seus direitos, dada a condição de restrita cidadania em que se encontravam. Foi preciso, conforme Caldeira (1991), que outros grupos com legitimidade social (religiosos e juristas, por exemplo) emprestassem o seu prestígio e reivindicassem pelos prisioneiros.

Apesar das atividades das organizações de defesa dos direitos humanos abrangerem a defesa dos direitos das minorias socialmente marginalizadas, os defensores eram classificados como “defensores de criminosos”, ficando próximo da acusação de que eram defensores do crime (Dallari, 1998). Numa sociedade em que a cidadania não é plena, em que os direitos não são igualmente distribuídos para toda a população, defender direitos de pessoas presas soou como defesa de privilégios para uma população que não mereceria (Caldeira, 2000; Carvalho, 2005). O imaginário popular, influenciado pelo discurso da direita e dos representantes das forças conservadoras, passou a associar a defesa dos direitos humanos de prisioneiros comuns à defesa de “privilégios de bandidos”. Gozando de posições privilegiadas no interior dos aparelhos de Estado e de prestígio junto a alguns segmentos da mídia, esses grupos conservadores conseguiram “reascender o autoritarismo social que, não raro, caracteriza certos traços da cultura política brasileira” (Adorno, 1999, p.134). Utilizando-se desses mecanismos, divulgaram fortemente que a defesa dos os direitos humanos, na verdade, levava à impunidade de bandidos e que ela privilegiava criminosos e não os cidadãos de bem. Paralelamente a esse discurso, disseminou-se a idéia de que o combate ao crime exigia uma intervenção autoritária no controle da ordem pública, estimulando percepções coletivas populares de que a única forma de conter a violência do delinqüente era por meio do uso da violência policial sem impedimentos legais ou morais.

Programas de televisão e de rádio, acompanhados por milhares de pessoas, disseminavam ainda mais o discurso de que os defensores de direitos humanos eram defensores de “bandidos”. Num desses programas de rádio, numa linguagem grosseira, o apresentador chega a igualar os defensores aos delinqüentes (Oliveira, 1994, p.24). Radialistas frisavam uma aparente relação entre o respeito aos direitos humanos do preso e o aumento dos crimes violentos, como se uma tivesse ligação com a outra.

Naquele momento, a população acolheu muito desses discursos, inclusive segmentos da sociedade que são vítimas da própria ação violenta e arbitraria policial. Conforme Oliveira (1987, p.40-42), em 1986 foi realizada uma pesquisa de opinião em que constou que 53,7% das pessoas entrevistadas eram favoráveis à eliminação dos “marginais” pela polícia, enquanto 43,8% eram a favor de aplicação de castigos corporais aos presos.

Isso mostra que, durante a transição democrática, muitos segmentos da sociedade ainda aprovavam a atuação ostensiva e repressiva da polícia, dentro de uma lógica de que essa violência teria como resultado a diminuição da criminalidade o que, de fato, não ocorreu. Mas, o crescimento da criminalidade nos anos 80 indicou que, muito pelo contrário, a atuação violenta da polícia em nada havia influenciado no controle do crime (Pinheiro, 1991; Mingardi ,1992; Caldeira, 2000; Barcellos, 2008).

Segundo Oliveira (1994, p.27) a população, acuada pelo medo, rende-se à idéia de que o combate à criminalidade tem que ser realizado por métodos igualmente criminosos: espancamentos, prisões arbitrárias, torturas, castigos corporais aos presos, enfim, “todo o rol de horrores que historicamente configuram a repressão policial no Brasil”. Não raro, surgiram na década de 80 movimentos a favor da pena de morte (Mingardi, 1992; Benevides,1983; Caldeira, 2000).

Desse modo, o aumento da violência pode ser considerado o resultado de um ciclo complexo que envolve a ação violenta da polícia, a descrença no sistema judiciário como mediador público e legítimo de conflitos, respostas violentas e privadas ao crime, resistência à democratização, a pouca percepção dos direitos civis e o apoio a maneiras violentas de punir por parte da população. O que parece existir no Brasil é uma “democracia disjuntiva”, que significa dizer que embora o Brasil seja uma democracia política e embora os direitos sociais sejam socialmente legitimados, os aspectos civis da cidadania são continuamente violados. (Caldeira, 2000, p. 101).

A continuidade das violações de direitos humanos ainda hoje pode ser atestada pelos inúmeros casos ocorridos durantes os anos 90 até os dias atuais108, denunciados em Relatórios de entidades internacionais como a Anistia Internacional e a Humans Rights Watch, e entidades nacionais como o Movimento Nacional de Direitos Humanos, Grupo Tortura Nunca Mais, Comissão Teotônio Vilela, etc. e de organismos como as Nações Unidas, como o Relatório do Comitê das Nações Unidas sobre Tortura, de 2007, declarou que a tortura no Brasil é sistemática, principalmente nos presídios brasileiros. 109.

Conforme Sérgio Adorno (2002):

[...] tudo parece indicar que as taxas de impunidade sejam mais elevadas para crimes que constituem graves violações de direitos humanos, tais como: homicídios praticados pela polícia, por grupos de patrulha privada, por esquadrões da morte e/ou grupos de extermínio, ou ainda homicídios consumados durante linchamentos e naqueles casos que envolvem trabalhadores rurais e lideranças sindicais. Do mesmo modo, parecem altas as taxas de impunidade para crimes do colarinho branco cometidos por cidadãos procedentes das classes médias e altas da sociedade. (Adorno, 2002, p.104).

Dentre os casos de violações de direitos humanos, a tortura continua umas das práticas mais denunciadas pelos órgãos de defesa dos direitos humanos. Ainda são bastante incipientes os casos de tortura que chegam a se converter em processos no âmbito judiciário, especialmente os casos envolvendo agentes do Estado como acusados.

Conforme o Relatório do SOS Tortura (2004), foram registradas 2.046 denúncias de tortura entre novembro de 2002 e julho de 2003. Desses casos, 78% haviam sido cometidos por agentes do Estado, 23% com a finalidade de obter confissão e 37% como aplicação de castigo em estabelecimentos prisionais. Dos casos denunciados, 31% haviam ocorrido em delegacias e 19% em instituições prisionais, dos quais 33% haviam sido cometidos por policiais militares e 30% por policiais civis (Relatório Sos Tortura, 2004).

108Atuação de grupos de extermínio, execução sumária e chacinas cometidos por policiais, tortura praticada por policiais, agentes penitenciários ou monitores de centros de internação de adolescentes, discriminação racial e social, etc. Podemos citar aqui, por exemplo, o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, o massacre de Corumbiara, ocorrido em 1995, e o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, assim como casos mais recentes como as execuções no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, em 2008, promovida por soldados do exército, ou a descoberta de policiais que executavam jovem na região de Capão Redondo e cujos corpos eram decapitados e jogados em Itapecerica da Serra, descoberto em 2009. Ver mais informações no site <http://www.ctvdh.org>, <http://www.global.org.br> e <http://www.nevusp.org>

109Ver relatório na página do Comitê Contra Tortura da ONU:

Após a visita do Relator Especial sobre Tortura da ONU ao Brasil em 2000 e a posterior publicação do seu relatório em 2001, o governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Combate à Tortura, em julho de 2001, com objetivo de combater essa prática do país. Dentre as iniciativas do plano estava a realização da Campanha Nacional contra a Tortura e a criação de uma central de denúncias (SOS Tortura), cujas denuncias eram recebidas pela central e encaminhadas para as autoridades estaduais competentes.110

Apesar de políticas de combate e prevenção da tortura, principalmente partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso, que viabilizou a vinda do Relator Especial da ONU sobre tortura, e de Luiz Inácio Lula da Silva, que ratificou o Protocolo Facultativo da Convenção Contra Tortura e outros Tratamentos Cruéis e Degradantes da ONU,111 a impunidade com relação aos casos denunciados foi umas das dificuldades apontadas pelo Relatório para a eliminação da prática da tortura. Dentre as possíveis causas foram apontadas: o corporativismo institucional da polícia (tanto a militar quanto a civil), que realizam uma investigação precária no sentido de descaracterizar o crime de tortura praticado por seus colegas; a morosidade com relação às providências de apuração das denúncias, retomando a questão do corporativismo; o medo das vítimas em denunciar em decorrência de possíveis represálias; e a dificuldade de comprovar a tortura, tanto no que diz respeito à perícia, que muitas vezes é realizada dias após a tortura, quanto pela falta de testemunhas, visto que a tortura ocorre em locais de pouca visibilidade.

O Relator especial da ONU, Nigel Rodley, 112 apontou em seu relatório divulgado em 2001 que, no Brasil, os presos mais castigados são aqueles das camadas mais baixas da sociedade e os negros. Acrescentou que as vítimas eram levadas pelos próprios torturadores para a realização da perícia médica, e que no trajeto, ameaçavam os torturados caso denunciassem as violências sofridas. Acrescentou ainda que no país, a tortura era prática sistemática e generalizada, sem que houvesse responsabilização e punição, mesmo daqueles

110 Ver o Relatório Final da Campanha Nacional Permanente de Combate à Tortura e à Impunidade. Movimento Nacional de Direitos Humanos. Brasília, 2004.

111Trataremos das iniciativas políticas mobilizadas durantes os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, no capítulo 4 deste trabalho.

112Entre os dias 20 de agosto e 12 de setembro, o relator esteve em Brasília e em cinco estado do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Pará. Visitou carceragens policiais, centros de detenção pré-julgamento, centros de detenção, centros de internação de adolescentes e penitenciárias. Declarou que a prática da tortura no país é generalizada e sistemática, e produziu um relatório contendo 30 recomendações (disponível no site - http://www.dhnet.org.br/denunciar/tortura/sos/rodley/index.html, acessado no dia 20 de agosto de 2006).

casos que eram denunciados. Podemos citar os casos de tortura que relator das Nações Unidas sobre Tortura identificou durante a visita que realizou em instituições de privação de liberdade brasileiras, em 2000. Dos 348 denúncias de tortura, em 18 estados da federação, nenhum dos responsáveis pelas torturas denunciados foi efetivamente punido e nem tão pouco as recomendações realizadas em seu relatório foram totalmente cumpridas.113

De acordo com a pesquisa jurisprudencial, realizada pelo Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Justiça, em relação ao crime de tortura no período compreendido entre a promulgação da lei 9.455/97 e o ano de 2000, constatou-se que, nesse período, foram realizadas 258 denúncias de tortura, 56 inquéritos policiais e apenas 16 julgamentos, entre os quais 11 terminaram em condenações (Pinheiro, 2002, p. 339-340). Isso indica que, mesmo quando denunciados, nem sempre os casos chegam ao final de toda a trajetória da Justiça Criminal. Podemos dizer que existem diversos obstáculos pelos quais esses casos de crimes de tortura percorrem até chegarem ao Poder Judiciário.

Tendo em vista estes dados, a presente pesquisa analisou um levantamento de cinqüenta e sete (57) processos criminais de crimes de tortura, que tramitaram de 2000 a 2004 em Varas Criminais da Cidade de São Paulo, no Fórum da Barra Funda. O objetivo da pesquisa foi identificar possíveis elementos e fatores, judiciais e extrajudiciais, que influenciaram o desfecho processual de cada um dos processos. Como o Brasil carece de dados quantitativos e qualitativos em relação ao tratamento judiciário dos crimes de tortura, o presente trabalho buscou oferecer maiores informações acerca deste fenômeno ainda tão existente no Brasil.

Certamente que a questão da cidadania, as dificuldades quanto ao reconhecimento dos direitos civis e o apoio de medidas mais ostensivas e repressivas para o enfrentamento ao crime e à criminalidade, fornecem pistas importantes para a compreensão do porquê os casos de tortura dificilmente são colocados como um problema, principalmente por atingir segmentos de pouca visibilidade social.

113Ver Tortura no Brasil: implementação das recomendações do relator da ONU. Rio de Janeiro: CEJIL, 2004.