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A utilização das novas tecnologias como facilitadoras do processo de

4 O TELETRABALHO COMO MECANISMO DE INCLUSÃO SOCIAL

4.2 A utilização das novas tecnologias como facilitadoras do processo de

Consoante já mencionado no presente trabalho, desde a Primeira Revolução Industrial o modo de produção capitalista vem sofrendo modificações, tendo em vista que novas tecnologias são criadas com vistas a facilitar e acelerar os processos.

Por consequência, tem-se que as relações de trabalho também mudaram. É possível dizer que muitos serviços que antes eram executados por várias pessoas hoje são realizados por uma única máquina. A profissão de telefonista, por exemplo, era indispensável àqueles que desejavam fazer uma ligação telefônica. Com o avanço das telecomunicações e o advento dos códigos de área, DDD e DDI essa profissão entrou em extinção. (online, 2015).

A partir dessas mudanças muito se questiona a respeito do impacto da utilização dos inventos tecnológicos nas relações de emprego, ou seja, se poderá essa substituição do homem pelas máquinas provocar a extinção de milhares de postos de trabalho, causando um desemprego em massa na sociedade contemporânea.

Ocorre que, por trás da criação de novas tecnologias há seres humanos que idealizaram, pesquisaram e tornaram possível a realização de determinado invento. Assim, ao passo em que o uso da tecnologia acarreta a dispensa do trabalho humano em algumas funções ela também necessita do esforço intelectual das pessoas para existir e dessa forma acaba por gerar novas profissões e novas formas de trabalho. Quando questionado se considerava regressiva a fase da história humana caracterizada pela rejeição da tecnologia, Domenico de Masi (2000, p.40) respondeu: “a tecnologia não é um fim em si mesma. Serve para que se viva melhor. Do ponto de vista da saúde, por exemplo, da gestão da dor e do prolongamento da vida, rejeitar o aporte tecnológico equivale a regredir”.

Por outro aspecto, agora sob a perspectiva das pessoas com deficiência, a tecnologia mostra-se imprescindível no pertinente aos avanços na área da saúde, com a descoberta de tratamentos e equipamentos capazes de proporcionar melhor qualidade de vida a elas, bem como no que se refere aos meios capazes de promover maior acessibilidade e consequente inserção social. Desta forma, é possível dizer que a utilização da tecnologia vem se mostrando como uma aliada daqueles que possuem certas limitações físicas, psíquicas ou intelectuais se comparadas às demais pessoas.

4.2.1 A inclusão social promovida pela expansão da acessibilidade

A Convenção de Nova Iorque dedicou o artigo 9º de seu texto apenas para tratar das questões referentes à promoção da acessibilidade para as pessoas com deficiência. No prefácio da cartilha de apresentação da Convenção há uma referência expressa sobre o intuito maior de ratificar à aludida convenção: fazer do Brasil um país acessível às pessoas com deficiência, ressaltando que essa acessibilidade deve ser considerada em seu sentido mais amplo, abrangendo tanto a eliminação das barreiras físicas quanto aquelas existentes na informação, na comunicação e nos serviços. Vital e Queiroz (2008, p. 45) informam:

A Convenção se refere à acessibilidade como ferramenta para que as pessoas com deficiência atinjam sua autonomia em todos os aspectos da vida, o que demonstra uma visão atualizada das especificidades destas pessoas, que buscam participar dos meios mais usuais que a sociedade em geral utiliza para funcionar plenamente nos dias de hoje, não se reduzindo apenas à acessibilidade ao meio físico.

É de extrema relevância destacar que, para que seja possível desenvolver meios capazes de promover à plena acessibilidade da pessoa com deficiência em todos os espaços sociais, se mostra necessária inicialmente a eliminação das barreiras existentes. Maria Ivone Fortunato Laraia (2008, p. 132) define quais são as aludidas barreiras:

As barreiras são classificadas na doutrina em físicas, sistêmicas ou de atitudinais. As barreiras físicas são os degraus, bancos, obstáculos nas ruas, como por exemplo, lixeiras que impedem ou dificultam que o usuário com deficiência visual ou cadeirante consiga transitar livremente. As barreiras sistêmicas são as relacionadas a políticas, como ocorre nas alterações das políticas de ensino, que não oferecem serviços destinados especificamente às necessidades daquele grupo. As barreiras atitudinais dizem respeito à própria sociedade que ainda carrega preconceitos, não sabe como conviver com ela e não criou ainda uma política de inclusão social.

Há no ordenamento jurídico brasileiro normas anteriores à própria Convenção que dispõem sobre a questão da acessibilidade. O Decreto nº 5296 de 2004 regulamentou a Lei nº 10.048 de 2000, bem como a Lei nº 10.098 de 2000, as quais estabelecem normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

O mencionado decreto estabeleceu os procedimentos a serem adotados pelas entidades públicas e privadas no sentido de proporcionar a acessibilidade da pessoa com deficiência sob todos os aspectos: arquitetônicos, urbanísticos, relativos aos meios de transporte e relativos aos meios de comunicação e informação. Importante destacar que o aludido decreto sofreu alterações recentes, no ano de 2018 acerca do acesso aos espaços culturais (cinemas, teatros e casas de espetáculo).

A Lei nº 13.146 de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) além de tratar das questões relacionadas à acessibilidade em todo o seu conteúdo, destinou a ela um título específico, bastante similar e fundamentado no Decreto nº 5296/2004. A referida lei também sujeita o poder público e as empresas privadas ao cumprimento das disposições atinentes a ela, observadas as normas técnicas de execução definidas pela ABNT.

Os documentos legislativos supracitados abordam um relevante aspecto pertinente à acessibilidade da pessoa com deficiência, denominado “desenho universal”. Este conceito se refere a produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.

Dessa forma, a orientação dada pelo legislador é a de que no momento da produção de determinado objeto, da construção de alguma edificação, bem como no oferecimento de dado serviço seja observado o público como um todo, para que posteriormente não surja a necessidade de adaptação para a pessoa com deficiência. A leitura do §3º do artigo 55 da Lei nº 13.146/2015 reforça essa concepção ao determinar que o poder público promova a inclusão de temáticas referentes ao desenho universal nas diretrizes

curriculares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior e nas carreiras do Estado.

No que se refere à acessibilidade aos meios de comunicação e informação esta se mostra essencial, tendo em vista que conforme já foi exposto no presente trabalho as pessoas estão constantemente expostas às novas tecnologias e às mudanças que elas repercutem em sociedade. Sobre tal aspecto, discorrem Vital e Queiroz (2008, p. 47):

Hoje em dia, existe tecnologia para se comunicar por telefone com uma pessoa surda, apesar desse meio de comunicação ser prioritariamente auditivo; a pessoa cega ou com limitação física severa pode se comunicar via internet, escrever, ler e navegar por suas páginas. Já é possível assistir televisão, filmes e noticiários, sem que alguém tenha que ajudar a descrever as cenas mudas para um assistente cego ou narrar, por meio de sinais, os diálogos televisivos para uma pessoa surda [...] A internet, por exemplo, oferece serviços de utilidade pública, comerciais e de entretenimento, que ajudam a todos. Parece ser natural que as pessoas que tenham mais dificuldades de mobilidade para irem a um banco, supermercado, lojas de compras, de verificarem andamento de processos, lerem jornais e outros serviços que demandariam locomoção ou ajuda de outras pessoas para serem realizados, sejam nela incluídas, proporcionando-lhes liberdade de ação, comunicação e obtenção de informações.

O Decreto nº 5296/1996 determina a adaptação dos sítios eletrônicos da Administração Pública e outros de grande porte realizem as modificações técnicas necessárias ao acesso por pessoas com deficiência visual. Quanto aos serviços de telecomunicações, determina o legislador que as empresas que exploram o referido serviço possibilitem a utilização por pessoas com deficiência auditiva. Todavia, não há no aludido decreto previsão de acessibilidade para os demais tipos de deficiência, como aquelas em que as pessoas têm a mobilidade motora reduzida, por exemplo.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência também estabelece diretrizes a serem seguidas pelos setores públicos e privados da sociedade no atinente à acessibilidade de informação. De forma mais abrangente, tratou o legislador de dispor também sobre o instituto da tecnologia assistiva, cuja definição se encontra presente no inciso III do artigo 3º da mencionada lei.

Art. 3º - Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:

[...] III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

favor da pessoa com deficiência. Determina que seja facilitado o acesso dessas pessoas às inovações tecnológicas, oferecendo até mesmo linhas de crédito para a compra, bem como a facilitação do processo de importação se for o caso. Prevê também o incentivo à pesquisa e a produção nacional de novas tecnologias. Scramin e Machado (2008, p. 91) explicam o alcance da tecnologia assistiva:

Assim, a tecnologia assistiva refere-se a qualquer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, adquirido comercialmente ou desenvolvido artesanalmente, produzido em série, modificado ou feito sob medida, que é usado para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações funcionais, sejam físicas ou sensoriais.

A implementação e utilização da tecnologia assistiva deve ser observada também nos ambientes de trabalho. O artigo 37 do Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê como forma de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a utilização de tecnologia assistiva e a adaptação razoável do ambiente, como forma de promover a acessibilidade e consequentemente o tratamento isonômico entre este tipo de trabalhador em comparação com os demais.

Diante do exposto, se mostra evidenciado o papel da tecnologia como um dos fatores primordiais para a inclusão da pessoa com deficiência em sociedade, contudo, a expressa previsão legal não significa que as medidas de acessibilidade ocorram na prática. Muitas vezes ocorre das empresas estarem preparadas para receber trabalhadores com deficiência, implantar todas as adaptações necessárias, mas os impedimentos relativos à locomoção impedirem uma maior ocupação das vagas oferecidas a essas pessoas. Nesses casos, uma modalidade de prestação laboral como o teletrabalho mostra-se como alternativa à contratação das pessoas com deficiência.

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