• Nenhum resultado encontrado

Notas sobre a inclusão social da pessoa com deficiência por meio do

4 O TELETRABALHO COMO MECANISMO DE INCLUSÃO SOCIAL

4.3 Notas sobre a inclusão social da pessoa com deficiência por meio do

Se, conforme explanado no presente estudo, o teletrabalho consiste em uma forma de relação empregatícia na qual o serviço é prestado em espaço distinto ao estabelecimento do empregador, utilizando meios telemáticos para supervisão e controle do empregado, resta aqui um questionamento: seria o teletrabalho capaz de promover a inclusão social da pessoa com deficiência?

Em primeiro lugar, cumpre assinalar que para alguns doutrinadores como Alice Monteiro de Barros (2016, p. 215) essa modalidade de prestação de serviços é capaz de se estender a alguns grupos de pessoas que enfrentam dificuldades em encontrar emprego formal

e nestes se enquadram as pessoas com deficiência. O maior atrativo desse tipo de relação de trabalho seria a possibilidade de flexibilização da jornada, podendo o trabalhador adequar o horário de exercer suas atividades laborais aos demais afazeres do cotidiano.

Especialmente para as pessoas com deficiência, a prestação de serviços no próprio domicílio ou em centros de informação mais próximos às suas residências implica em um menor ônus e aparenta uma grande vantagem àquela prestação realizada no estabelecimento empresarial. As dificuldades de deslocamento encontradas em trajetos casa-trabalho-casa especialmente nos transportes urbanos e nos projetos arquitetônicos das cidades (ruas, calçadas, praças, edificações) tendem a desestimular as pessoas que possuem alguma debilidade física. Em muitos dos casos, a utilização dos meios facilitadores de locomoção como cadeira de rodas, muletas e bengalas não atendem às necessidades dessas pessoas, as quais precisam do auxílio de um terceiro, retirando toda a sua autonomia.

Em detrimento ao que foi ora exposto, há posições contrárias ao exercício do teletrabalho pela pessoa com deficiência. Maria Ivone Fortunato Laraia (2008, p. 178) aduz:

Todavia, essa modalidade de trabalho à distância apresenta uma grande desvantagem, a deterioração das condições de trabalho, eis que o trabalhador tem dificuldade em separar o tempo livre do tempo de trabalho e se isola, devido ao fato do trabalho ser realizado sem contato com outros trabalhadores, empregador e o ambiente empresarial de trabalho.

Como desvantagens do teletrabalho, podem-se elencar: a dificuldade de controle da jornada, ensejando possíveis violações ao limite de horas de labor previstas na Constituição Federal, bem como a imposição, por parte do empregador, de metas inviáveis, ou seja, uma carga de atividades impossível de ser realizada, a qual não seria cumprida pelo empregado em uma jornada de trabalho legalmente estabelecida. Como em muitos casos a medida deste tipo de trabalho se dá pelos resultados que o trabalhador apresenta, a imposição dessas metas absurdamente altas pode acarretar sérios prejuízos ao empregado, aumentando a possibilidade de stress, ansiedade e outros transtornos decorrentes do trabalho excessivo. Para Rodrigues (2011, p. 73) com os possíveis horários indefinidos de trabalho, decorrentes da flexibilidade de horário, deve-se ter atenção com a possibilidade dos teletrabalhadores não se disciplinarem, tornando-se workaholics.

Outro fator a ser observado com relação à contratação da pessoa com deficiência na modalidade de teletrabalho diz respeito aos fatores relativos à higiene e segurança do trabalho, bem como as questões atinentes a prevenção de doenças ocupacionais. A legislação

trabalhista brasileira determina que o empregador deve instruir o teletrabalhador quantos às precauções a serem tomadas a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho. No entanto, não disciplinou sobre a necessidade de fiscalização do meio ambiente laboral.

Rodrigues (2011, p. 74) atenta para os prejuízos decorrentes da exposição excessiva a computadores e outros meios de comunicação típicos do teletrabalho:

Outra importante preocupação decorre dos problemas ergonômicos, devidos à exposição do trabalhador, em condições inadequadas, a logos períodos à frente da tela do computador, agilizando o processo de desencadeamento de lesões por esforços repetitivos.

A lacuna deixada pelo legislador acerca das obrigações referentes à higiene e segurança do trabalho pode causar transtornos ergonômicos de caráter permanente nos teletrabalhadores de um modo geral, que geralmente são evitadas quando o serviço é prestado no estabelecimento empresarial, devido à maior fiscalização pelos órgãos competentes. No caso do trabalhador com deficiência, a contração de uma doença ocupacional é capaz até mesmo de agravar a debilidade que este já possui.

Um dos mais relevantes fatores a serem observados acerca dos benefícios do regime de teletrabalho à pessoa com deficiência, objeto central do presente estudo diz respeito ao questionamento se essa modalidade de prestação laboral possibilita a inclusão social dessas pessoas.

Laraia (2008, p. 178) afirma que no teletrabalho não há a interação do trabalhador com os demais funcionários da empresa. Rodrigues (2011, p. 73) aduz que o teletrabalho pode ocasionar o isolamento social do trabalhador, decorrente da perda do contato direito com os colegas de trabalho e superiores. Para ambas, a ausência física do empregado na empresa acaba suscitando uma possível estagnação na função, sem possibilidade de promoção e avanço na carreira.

Sob esse viés, de fato o teletrabalho retira do trabalhador com deficiência o direito de convivência e interação diárias com os demais colegas de trabalho. Laraia (2008, p. 180) ressalta inclusive que pode essa modalidade de prestação laboral ser utilizada por muitas empresas com o intuito de cumprir o percentual de vagas destinados à pessoa com deficiência, o que pode caracterizar ou não, dependendo da análise do caso concreto, prática discriminatória por parte do empregador.

Por outro lado, se analisado sob a perspectiva do valor social do trabalho, pelo qual o indivíduo busca a melhoria de sua condição social por meio do labor, a ocupação de vagas de teletrabalho por pessoas com deficiência dá sinais positivos no sentido de conferir a

essas pessoas o reconhecimento social pelo trabalho, retirando o estigma caritativo e assistencialista que historicamente lhes foi dado.

Documentos relacionados