• Nenhum resultado encontrado

A UTO R EGULAÇÃO DAS C RENÇAS L EIGAS DA D OENÇA

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. MODELOS DE SIGNIFICAÇÕES DA DOENÇA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE

3.2 A UTO R EGULAÇÃO DAS C RENÇAS L EIGAS DA D OENÇA

A psicologia da doença que assenta essencialmente em significações do doente comum, também adjectivadas como leigas para as distinguir das significações dos profissionais de saúde, foi definida como o “conjunto de teorizações e estudos sobre as

representações das doenças, crenças ou significações das pessoas, sem formação médica ou paramédica, a cerca da doença e dos processos de doença” (Joyce-Moniz &

Barros, 2005).

Um dos primeiros autores a evidenciar a importância das significações leigas sobre a saúde e doença e a importar para a psicologia da saúde e da doença uma explicação estruturalista dessas significações ou teorias foi Leventhal (1975, 1982); Leventhal e Diffenbach, (1991) e Levanthal et al, (1980, 1984, 2001). O seu modelo de auto- regulação das representações leigas da doença baseia-se nas duas seguintes asserções: As significações das doenças e do seu confronto podem ser pensadas em termos de estruturas com autonomia funcional, também designadas por esquemas; estes esquemas têm uma base epistemológica diferenciada e podem ser organizadas em hierarquias que vão do mais concreto ou superficial ao mais abrangente ou profundo.

Leventhal e colaboradores (idem) têm investigado não só a influência das estruturas e dos esquemas nas representações mais superficiais da doença mas também as suas interacções que podem levar a comportamentos inadequados. Para estes autores, os sentimentos de vulnerabilidade às doenças mais graves também se constituem em esquemas centrais, que são orientadores de outras significações de ameaça e determinantes para iniciar e manter os comportamentos consequentes. As significações sobre a eficiência do tratamento e a adaptação da pessoa ao tratamento assumem igualmente esta centralidade estrutural e o autor utiliza o conceito de auto-eficácia para as enquadrar. A estrutura mais abstracta do modelo é denominada pelo autor por esquema corporal. Esta será a representação mais abstracta do self físico, que afecta todas as significações de atribuição de sintomas e doenças e do seu eventual confronto. A construção deste meta-esquema corporal depende da idade, do género, dos papéis sociais e mesmo das questões institucionais ligadas aos cuidados de saúde.

Neste modelo o autor defende ainda, que as crenças que o doente tem acerca dos sinais e sintomas, bem como a sua interpretação medeiam as respostas comportamentais perante a ameaça à sua saúde. Os conceitos teóricos de cognição de doença são

associados às técnicas de resolução de problemas de modo a explicar as estratégias de

coping perante a doença. De acordo com Leventhal, a identificação de um problema de

saúde motiva o indivíduo para resolver o problema e restabelecer o seu estado de normalidade ou equilíbrio.

A resolução de problemas é descrita pelos modelos tradicionais como sendo baseada em três etapas de resposta à doença: interpretação do problema; coping, onde lida com o problema de forma a voltar ao estado de equilíbrio e avaliação/ponderação em que avalia o sucesso das estratégias de coping. Leventhal e colaboradores defendem que estes três estádios ocorrem paralelamente a nível cognitivo e emocional e continuam até que as estratégias de coping sejam eficientes para restabelecer o estado de equilíbrio. Isto é, a resposta cognitiva aos sintomas ocorre em paralelo com a resposta emocional, auto-influenciando-se (Levanthal & Diffenbach, 1991; Llor, Abad, Garcia, & Nieto, 1995; Petrie, Moss-Morris & Weinman, 1997; Levanthal & Crouch, 1997; Ogden, 1999).

Este processo é considerado auto-regulador porque as três componentes do modelo (interpretação, coping e ponderação) se inter-relacionam de modo dinâmico e contínuo no sentido de restabelecimento da normalidade.

Leventhal salientou ainda que para além dos factores psicológicos também deverão ser tidos em conta, os factores sociais e culturais. Estes influenciam os processos de avaliação assim como os comportamentos escolhidos para o confronto da situação. Alguns estudos descritos por Bishop (1994) referem que os factores socioculturais têm um importante papel no modo como os doentes percepcionam os seus sintomas e interpretam o seu estado de saúde. Outros aspectos como a opinião de pessoas significativas, a imagem ou estereótipo que a doença possa ter no ambiente social em que este se insere, para além da informação que possua sobre a patologia, podem interferir na representação criada em torno da mesma (Figueiras, 1999).

O tratamento da obesidade implica a modificação de comportamentos alimentares e de exercício físico sendo que à imagem destes modelos, a adesão aos programas de perda de peso dependem dos processos adaptados e/ou inadaptados que levam as pessoas a comportarem-se de acordo com as suas convicções. Embora se saiba que o excesso de peso ou a obesidade estão relacionadas com doenças graves como as cardiovasculares ou cancro nem sempre essa associação é percepcionada pelo indivíduo, pelo que essa mensagem de “medo” não é por vezes suficiente para motivar a alteração dos

comportamentos, tornando-se necessário ajudar o doente a implementar planos de acção, isto é, fornecer instruções claras para acções de sucesso ajudando o indivíduo a incorporá-las nos seus hábitos diários (idem).

O modelo de Levanthal foi testado no tratamento de doenças crónicas como o enfarte de miocárdio, cancro da mama, esclerose múltipla, artrite reumatoide, entre outras. Os resultados destes estudos indicaram que crenças positivas na controlabilidade e cura da sua doença estavam positivamente associadas com o bem-estar (Tong, Hong, Lee, & Chiu, 2009).

Também no âmbito do tratamento da obesidade foram realizadas intervenções baseadas no modelo de auto-regulação e os resultados foram promissores para a perda e manutenção de peso (Wing, Tate, Gorin, Raynor & Fava, 2006; Johnson, Pratt & Wardle, 2011). No entanto, estes autores sugerem que mais estudos devem ser realizados para identificar a melhor forma de promover a auto-regulação de forma a suportar um controlo efectivo do peso.