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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

NOTA INTRODUTÓRIA

2. O BJECTIVO ESPECÍFICO 2 E STUDO DA RELAÇÃO ENTRE A FREQUÊNCIA E A PROGRAMAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE CONTROLO DE ESTÍMULOS E A PERDA DE PESO

2.1 Súmula de resultados

Neste estudo, a aplicação de um inventário de estratégias comportamentais de tratamento da obesidade teve dois objectivos: avaliar se no início do programa, as participantes já possuíam este recurso; e promover a utilização destas estratégias nas participantes que ainda não as utilizavam. Este processo tinha por base a estimulação do controlo de estímulos contemplando as duas primeiras etapas propostas por Fester (1962) para o tratamento da obesidade. Esta intervenção teve subjacente a ideia de que a alteração do comportamento alimentar na obesidade é resultado de aprendizagens contingenciais e como objectivo inverter estes processos, alterando as contingências entre os comportamentos do individuo e os reforços do meio.

Observou-se que embora as estratégias avaliadas/aconselhadas estivessem associadas a comportamentos saudáveis, alimentares ou de exercício, nenhuma das participantes as utilizava de forma muitíssimo frequente (excepto, a participante 1 que referiu na avaliação correspondente ao fim do programa, recorrer a “Como sempre no mesmo sítio

da casa” com muitíssima frequência).

As estratégias que apresentaram um aumento maior de utilização entre o início e o fim do programa foram as de modificação de sequências de comportamento como por exemplo: “Tento comer mais devagar”; “Faço intervalos maiores entre as garfadas” e

“ Durante a refeição estou atenta à sensação de fome e paro de comer assim que me sinto saciada”. Pelo contrário, a estratégia assertiva “ Tento ser afirmativo(a) a recusar os alimentos que não devo comer” foi aquela a que estas participantes menos

recorreram tendo havido apenas um aumento de 10% da primeira avaliação, no início do programa, para a segunda avaliação, correspondente ao fim do programa.

Quanto a outros comportamentos, consensualmente considerados na literatura como promotores de perda de peso, como por exemplo a realização de exercício físico, foi referido pela grande maioria das participantes, um aumento da frequência da sua realização, quando comparadas as frequências de realização no inicio e no fim do programa.

Neste estudo foram encontradas correlações fortes e positivas entre a perda de peso e os valores da moda, correspondentes à frequência de utilização das estratégias avaliadas,

no fim do programa. Isto é, as participantes que apresentavam valores da moda mais elevados no fim do programa perdiam mais peso. Assim, como também tinham tendência para perder mais peso, aquelas cuja diferença da moda entre o início e o fim do programa era mais elevada.

Das participantes que perderam mais de 5% do seu peso inicial, a grande maioria utilizava muito frequentemente as estratégias contingenciais estudadas enquanto das que perderam menos de 5% do seu peso, a maioria as utilizava de forma moderada ou pouco frequente.

O recurso a estratégias comportamentais de perda de peso quando já utilizadas antes da intervenção parece também ter condicionado a adesão das participantes sendo que das que desistiram, a grande maioria recorria pouco ou raramente à sua utilização.

Para além das correlações fortes já apresentadas também foram encontradas correlações moderadas entre a perda de peso e a “realização de exercício físico” ou a “atenção à sensação de saciedade” o que pode indicar que neste estudo estas contribuíram de forma mais significativa para a perda de peso.

2.2 Discussão dos resultados

Vários autores defenderam ser muito útil o recurso às estratégias comportamentais para o tratamento da obesidade com especial relevo na manutenção a longo prazo da perda de peso (Foreyt, 1998, 2002; Bennet, 1988; Black, 1987). Foreyt em 2002, indicou como estratégias importantes algumas das avaliadas neste estudo e defendeu ainda que novas estratégias podem ser encontradas entre doente e terapeuta. Este estudo veio corroborar os resultados obtidos por estes autores, tendo-se observado que a utilização com mais frequência destas estratégias contingenciais poderá ser indicadora de sucesso na intervenção do tratamento da obesidade.

Os resultados positivos associados a uma maior frequência da realização de exercício físico e da “atenção à sensação de saciedade” podem ser explicados por vários autores. Assim, tal como foi apresentado no enquadramento teórico deste trabalho, não existe dúvida que a realização de exercício físico é fundamental como gasto energético contribuindo frequentemente para a perda de peso (Jeffery, 2004). Este estudo veio corroborar, mais uma vez, esse facto. Por sua vez, a atenção ao estado de saciedade parece induzir uma centração do individuo no acto de comer, evitando assim o consumo

de alimentos de forma automática e descontrolada por isso quanto maior a atenção prestada aos sinais fisiológicos decorrentes da alimentação maior a perda de peso (Gautier et al, 2000).

Os resultados obtidos para o recurso a estratégias contingências podem ser analisados em conjunto com os resultados obtidos para a automonitorização, permitindo assim, a análise integrada destes resultados, identificar eventuais associações de risco ou protecção para o sucesso na perda de peso.

Neste contexto, o estudo de correlações entre as estratégias e os grupos de automonitorização definidos no primeiro objectivo específico, indicou uma tendência para uma associação negativa entre a tentação e o exercício físico, isto é, os indivíduos que apresentavam maior grau de tentação faziam menos exercício ou vice-versa. Este comportamento pode estar relacionado com o facto das participantes que apresentavam maior grau de tentação perdiam menos peso o que pode originar uma percepção de incapacidade para o confronto da doença e como tal, o não investimento em acções de confronto, como seja a realização de exercício físico. Mais ainda, de acordo com o modelo de crenças de saúde, estas participantes podem avaliar os custos envolvidos na realização do exercício e os ganhos e perante um balanço negativo desistem da acção. Em suma, neste estudo, a observação de correlações fortes entre a perda de peso e a utilização mais frequente de estratégias comportamentais e contingenciais vieram corroborar a ideia de que o recurso a estas estratégias, pode ser crucial em intervenções de perda de peso e eventualmente de manutenção da perda de peso.

3. OBJECTIVO ESPECÍFICO 3 - ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE SIGNIFICAÇÃO DA OBESIDADE: CAUSAS/VULNERABILIDADE, CONFRONTO, ADESÃO AO TRATAMENTO, AUTO-CONTROLO, VIVÊNCIA E A PERDA DE PESO