CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
3. MODELOS DE SIGNIFICAÇÕES DA DOENÇA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE
3.4 M ETODOLOGIAS NO C ONTROLO DAS S IGNIFICAÇÕES E A CÇÕES DE O BESIDADE
3.4.2 F ORNECIMENTO DE INFORMAÇÃO
O Modelo da Hipótese Cognitiva da Adesão de Ley (1988, cit. por Ogden, 1999) defende que a adesão é previsível, combinando o factor da satisfação do doente em relação à consulta, com os factores compreensão da informação dada na consulta e memorização dessa informação.
A falta de compreensão do doente acerca do conteúdo da consulta poderá afectar a adesão às indicações médicas. Ley salientou ainda a associação existente entre a capacidade de recordar a informação sobre o aconselhado na consulta e a adesão. Segundo este, alguns aspectos como a ansiedade, o nível intelectual, os conhecimentos médicos, a importância da afirmação feita pelo médico, assim como o número de afirmações, aumentavam a capacidade de recordação pelo doente. Ainda de acordo com o autor, a idade parece não ter influência na capacidade de recordar o conteúdo da consulta (Sousa, 2003).
Por esta razão, Davis (1997) defendeu que o fornecimento de informação deve ser o mais completo possível, simples e adequado de forma a prevenir ou contradizer as significações e atitudes de não adesão. Também Joyce-Moniz afirmou que se o indivíduo entende o processo de forma clara e consistente fica mais predisposto para aderir ao tratamento (Joyce-Moniz, 1995, p.195).
A procura de informação sobre sintomas de doenças é o método mais generalizado para responder à inquirição socrática sobre a possibilidade de contracção da doença ou da realidade da sua presença. Neste caso o conhecimento pretendido é principalmente de natureza biomédica mas esta procura de informação pode ter um enquadramento cultural e popular (idem p.172).
A procura de informação é interdependente da do fornecimento de informação. Se existe um propósito didáctico, o cuidador toma a iniciativa de promover a informação ou de facilitar o seu acesso e a didáctica sobrepõe-se à da organização da procura pela pessoa. Normalmente é comum que a iniciativa seja do doente e que este procure o cuidador como uma fonte possível da informação desejada.
Se a comunicação da informação inerente ao diagnóstico de uma doença primar pela clareza e relevância para o doente e for repetida nos seus aspectos mais importantes, o doente fica não só mais predisposto a aceitar a realidade da afecção, como integra a
Em relação à adesão ao tratamento, o fornecimento de informação deve ser completa e concisa sobretudo em relação às dificuldades na adesão às indicações do profissional de saúde para evitar significações e atitudes de não-adesão.
De acordo com o modelo de Lazarus e Folkman (1974), o confronto da pessoa centrado na emoção que compreende estratégias de evitamento e de distracção do problema, está conotado com pouca adesão às prescrições médicas. E são precisamente os doentes crónicos que mais se servem deste tipo de confronto (Shelbourne, Hays, Ordway, DiMatteo & Kravitz, 1992). É assim provável que estes pacientes prestem menos atenção à informação sobre o tratamento ou estejam menos motivados para a analisar do que os doentes de processos agudos (Joyce-Moniz, 2005, p.203).
A procura de informação e a correlativa de fornecimento de informação constituem o recurso mais utilizado pelos pacientes crónicos para melhorarem a qualidade de vida, incluindo o confronto com os sintomas (Billings & Moos, 1981; Friedman & DiMatteo, 1989). A obtenção de informação é a via mais directa para o doente adquirir ou readquirir confiança em si próprio e nos cuidadores, por meio de atribuições positivas de auto-controlo e controlo externo de rotinas e dos imprevistos do processo. O doente poderá assim aprender o que poderá fazer por si próprio adquirindo autonomia na gestão do processo.
O sucesso das metodologias de fornecimento de informação está associado ao das metodologias de comunicação entre doente e cuidador. O equilíbrio entre aquilo que o doente quer razoavelmente saber e aquilo que o cuidador deve razoavelmente informar é dialecticamente instável e a informação tanto pode ser benéfica como contraproducente. Um modo de precaver este problema é associar as metodologias de obtenção de informação a outras, como a de programação de contingências de reforço. Esta metodologia é importante para os doentes que necessitam de informação para implementar estratégias de confronto e processos de adaptação (Joyce-Moniz, 2005, p.342).
Tendo por base o modelo desenvolvimentista de intervenção, os profissionais de saúde que utilizam a metodologia correlativa de fornecimento de informação devem adaptar ou afirmar as suas significações de resposta às significações de procura dos seus interlocutores (idem, p.177).
No tratamento da obesidade esta metodologia é primordial sendo que frequentemente a não adesão ocorre por falta de conhecimentos relativamente aos processos biológicos associados aos aspectos nutricionais e de gastos energéticos potenciadores de perda de peso. São exemplo questões como: “Se estiver muitas horas sem comer vou emagrecer
mais?”; “Devo fazer exercício em jejum?”; “Porquê que há dias que peso mais e não foi porque estraguei a dieta?”; “Só vale a pena fazer exercício se poder fazer durante uma hora seguida?; “Qual a melhor maneira de perder muito peso rapidamente?”.
Se responder às questões de forma clara e concisa é importante, também a informação com carácter didáctico tem um papel fundamental na maior parte dos obesos com intenções de perder peso.
Esta metodologia permite aumentar ou discutir os conhecimentos pré-existentes relativamente aos processos bioquímicos, genéticos, nutricionais e psicológicos frequentemente envolvidos nesta doença. Para além disso, a informação clara sobre as estratégias comportamentais a utilizar permite a sua compreensão e aumenta a adesão. Assim, a aquisição de conhecimentos no contexto desta doença, poderá contribuir para o aumento de competências de confronto e como tal para a percepção de uma maior auto- eficácia e auto-controlo por parte dos doentes.
Este contexto, de procura/fornecimento de informação facilita a associação desta metodologia com outras metodologias tais como: programação de contingências e resolução de problemas, que poderão contribuir para o aumento da motivação para adesão ao tratamento pela percepção de uma maior auto-eficácia e auto-controlo.