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A VALORIZAÇÃO ESTRATÉGICA DAS “PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS” E A DEFESA DA

CAPÍTULO I – DAS CONFERÊNCIAS DE DEFESA AFRICANA AO CONFLITO EM ANGOLA

3. A VALORIZAÇÃO ESTRATÉGICA DAS “PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS” E A DEFESA DA

Uma das constantes na argumentação política do Governo Português para relevar importância de Portugal no Mundo era a aludida importância estratégica no controlo das mais importantes rotas marítimas no Atlântico Médio e Atlântico Sul e a ligação entre o Índico e o Atlântico. Se a Europa fosse ocupada pela União Soviética, argumentavam as autoridades portuguesas, era a “profundidade estratégica” concedida pelos territórios controlados pelos europeus em África que permitiria as condições para uma contraofensiva. Era aqui que residia a importância estratégica das “províncias” e

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que poderia colocar Portugal no centro da defesa do Ocidente. Por essa razão, como se referiu anteriormente, tinham sido dadas instruções claras para que se valorizassem as posições em África, um fator de extrema importância na aproximação às potências do Atlântico, um catalisador para a sua inclusão no âmbito do Tratado de Washington e um reforço perante os EUA.

Em 1950, o Governo Norte-Americano considerava a importância de África em várias dimensões no âmbito da Guerra Fria. Embora fosse reconhecido que o continente tivesse mais ligações ao Ocidente do que à União Soviética, existiam fatores que favoreciam a “agitação comunista”. Esses fatores estavam ligados essencialmente à falta de condições de vida dos indígenas e à supremacia racial branca, colocando em perigo as relações favoráveis que os EUA tinham com a África do Sul, com as Rodésias e com Portugal239. A “África negra” era uma importante fonte de minerais estratégicos, especialmente em tempo de guerra, por causa das suas fontes de manganês, cobalto, columbite, diamantes, crómio, asbestos, grafite, vanádio, mica e cobre, entre outros. Estes minerais não só eram fundamentais para a indústria norte-americana como também “deveriam ser negados ao inimigo”.Além de ser uma importante fonte desses minerais, os territórios ao sul do Sahara, que controlavam a rota aérea que ligava o Atlântico ao Médio Oriente através da África Central, eram uma excelente alternativa ao Norte de África. Assim, podiam constituir-se como base de apoio a operações navais no Atlântico e no Índico, o que já tinha sido evidenciado durante a 2ª Guerra Mundial 240.

Três anos depois, a revista norte-americana Foreign Affairs publicou um artigo da autoria da jornalista correspondente em Lisboa da Associated Press, Jose Shercliff, intitulado “Territórios Estratégicos de Portugal”. A jornalista acentuava, de uma forma muito explícita, a importância que Portugal podia desempenhar “na defesa comum do Ocidente”. Para além do interesse que as ilhas dos Açores tinham para a OTAN, “o vasto Império Ultramarino português [assumia] relevante importância em face da ameaça de guerra vinda de Leste”. O arquipélago de Cabo Verde assumia igual importância que os Açores, porque aquele detinha “a chave da parte sul do Atlântico”, onde o aeroporto da Ilha do Sal podia vir a constituir-se “uma base estratégica em tempo de guerra”. A Guiné

239 Sobre as relações das administrações Truman e Eisenhower, Cf. Thomas Noer (1985), Ob. Cit.; Borstelmann, Thomas (2001), The Cold War and the Color Line. American race relations in the global arena, Cambridge, MA, Harvard University Press, p. 104;

240 FRUS, 1950, Vol. V: The Near East, South Asia and Africa, p. 1200-1202. Cf. Ministério dos Negócios Estrangeiros (1960), Dez Anos de Política Externa (1936-1947): A Nação Portuguesa e a Segunda Guerra

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e Angola deveriam ser consideradas “como parte integrante da defesa atlântica”, oferecendo também uma importante saída aos territórios do interior de África241.

O próprio Oliveira Salazar acentuava publicamente esta perspetiva, salientando que a importância estratégica de Portugal tinha como base a divulgação do valor que o seu governo pretendia imprimir ao Atlântico como fator de união entre a Europa e a América. De acordo com as suas palavras, nem só o Atlântico Norte era importante na aproximação dos dois continentes, sendo necessário também valorizar o “Mar Lusitano”, referindo-se ao Atlântico Sul, “que pertencia ao Ocidente” e que desempenharia um papel central no caso de um conflito com a União Soviética, “porque se aí fossem instaladas bases controladas por si, o Oceano Atlântico passaria de estrada a barreira entre os dois continentes”. À primeira vista, embora a América e a Europa pudessem estar afastadas do perigo da instalação soviética em África, Salazar considerava que “não poderia haver segurança no Atlântico se África não fosse segura”, sendo razão suficiente para que o Ocidente se fixasse no continente. Além do mais, “a Crise do Suez tinha mostrado a importância para o Ocidente do controlo da rota do Cabo, que lhe permitiu, de forma segura e tranquila, continuar a receber o petróleo do Iraque e da Arábia Saudita” depois do encerramento do Canal do Suez 242.

Também para os soviéticos a importância dos territórios portugueses em África era objeto de análise atenta, em especial na sua relação com a estratégia norte-americana e com a OTAN, numa tentativa de alienar os países africanos e os movimentos de libertação de uma aproximação aos norte- americanos243. Uma notícia do Pravda expunha que as colónias portuguesas tinham a maior importância para a OTAN, porque, no caso de o Mediterrâneo ficar bloqueado, serviriam para instalar bases militares terrestres, aéreas e navais, funcionando como uma plataforma de apoio ao lançamento de operações em África e Médio Oriente. Segundo aquele jornal, essa possibilidade parecia ter sido o motivo para a visita de Eisenhower a Lisboa em maio de 1957244.

241 AHDMNE – PAA, Proc. 341, Maço 109: Tradução do Artigo da revista Foreign Affairs, Vol. 31 (2), janeiro de 1953.

242 NASA/DFA – BTS, Box 1/14/1 Vol. 1: Tradução da entrevista de Salazar a Serge Goussard, do jornal Le

Figaro (s.a.).

243 Sobre a influência soviética na África Austral Cf. Shubin, Vladimir (2008), The Hot “Cold War”: The USSR

in Southern Africa, London: Pluto Press; Cf. Idem (2007), “Unsung Heroes: The Soviet Military and the

Liberation of Southern Africa”, Cold War History, (7), pp. 251-262.

244 IANTT – AOS/CO/NE-25, Pasta 10 – Tradução do artigo do jornal Pravda intitulado “Os Colonizadores portugueses, os Maiores Inimigos dos Povos de África” (20/11/1960).

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Nem só os movimentos por linhas exteriores ao continente eram influenciados pelas possessões portuguesas. Também o movimento por linhas interiores, aéreas e terrestres, poderia aumentar a importância das “províncias”. A necessidade de criar um sistema ferroviário que ligasse a África Meridional ao Norte de África e que permitisse a ligação entre o Atlântico e o Índico, eram fatores de extrema importância para a estratégia ocidental contra a influência que se começava a fazer sentir por parte da União Soviética em África na primeira metade dos anos 1950. Além disso, também os interesses económicos e financeiros britânicos e norte-americanos tinham muito a ganhar com a ligação ao interior africano.

De acordo com uma informação de serviço do MNE, os meios industriais e comerciais americanos, que já tinham recebido com interesse a conferência de transportes da África Central e África Austral que se tinha realizado em Lisboa em abril de 1950, relembravam a importância estratégica de um grande projeto ferroviário destinado a preencher a lacuna existente no sistema de transportes africanos. A linha projetada, que atravessava o Congo Belga, na província do Catanga, e o Tanganica, permitia a ligação ao Quénia e ao Norte de África. Este facto tinha uma importância acrescida para Lisboa porque estava também projetada a ligação do Congo para o Lobito, um ponto determinante na importância estratégica de Angola em todo aquele sistema de transportes africano245.

Foi com a ideia do que Portugal podia representar na defesa do Ocidente que Lisboa estabeleceu uma manobra diplomática que teria de passar pelo estreitamento de relações com Pretória, mas que obrigatoriamente teria de ter o apoio das potências coloniais europeias e dos EUA. Além do mais, como já foi referido, Pretória tentava aproximar-se de Washington para formar um arranjo de defesa no sul de África ou que fosse aceite no seio da OTAN, motivo que havia levado os sul-africanos a solicitar a Washington a contribuição no desenvolvimento de forças convencionais. Depois da inutilidade de Nairobi e de Dacar, e apesar da desconfiança, a aproximação de Lisboa podia compensar o risco da subalternização em relação a Pretória.

Os territórios portugueses em África tinham especial relevância estratégica na ligação entre o Oceano Índico e o Atlântico Sul através do Cabo e no controlo das rotas marítimas que circundavam o continente. Todavia, aquela ligação gravitava em torno da posição geográfica que a África do Sul ocupava no controlo dessas rotas marítimas. Por esse motivo, as conferências de Nairobi e Dacar parecem ter deixado na diplomacia portuguesa a ideia de que, para defender África, seria necessário

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estreitar as relações com a África do Sul, por muito que Lisboa desconfiasse das suas pretensões à hegemonia política e militar. Um dos primeiros passos no estreitamento formal de relações foi a elevação das legações em Lisboa e em Pretória ao estatuto de embaixadas no início de março de 1954, “considerando a importância dos interesses recíprocos e das estreitas relações de vizinhança existentes entre os dois países”246. Este era um passo importante para o estabelecimento da confiança nos laços políticos entre os dois países.

O Governo Sul-Africano mantinha a ideia de levar por diante a participação ativa na defesa ao sul do Sahara, o que fez com que tentasse levar a cabo um arranjo de defesa para a África Austral a partir de meados dos anos 1950247. Em Dacar tinha ficado evidente que Pretória pretendia assumir a liderança dos esforços de defesa no sul de África e que os países presentes não conseguiram chegar a nenhum acordo. No início de março de 1955, F. Erasmus, num discurso ao Senado Sul-Africano, apresentou a necessidade de defesa da África Austral por não ter ficado satisfeito com o que se tinha alcançado em Nairobi e em Dacar. O seu objetivo era convencer o Governo Sul-Africano e os senadores de que a África Austral necessitava de um arranjo de defesa regional que tivesse o mesmo significado da OTAN e da Southeast Asia Treaty Organization (SEATO), a fim de evitar uma “grave lacuna no dispositivo anticomunista das potências ocidentais”. Erasmus pretendia defender os recursos petrolíferos do Médio Oriente e a “Rota do Cabo da Boa Esperança”, os quais deviam “a todo custo conservar-se abertos aos ocidentais.” O ministro sul-africano achava vital “defender a África do Sul contra uma possível agressão comunista” e mantê-la “tão longe quanto possível das [suas] fronteiras”248. Por esse motivo, o Governo Português poderia aproveitar a determinação de Pretória para encontrar um novo apoio que lhe começava a faltar da parte dos EUA e da Grã-Bretanha desde os acontecimentos na Índia em 1954 e que podia conduzir a um reforço de Portugal no sistema de defesa ocidental.

Para Abranches Pinto, o embaixador português em Pretória, o discurso refletia a preocupação da África do Sul “se encontrar isolada nos conceitos e nos preparativos de defesa internacionais”, uma

246 AHDMNE – PAA, Proc. 341, Maço 109: Notícia do jornal Século intitulada “Portugal e a África do Sul elevam a embaixadas as suas legações em Lisboa e Pretória”, citando um comunicado do MNE (22/3/1954). 247 Birkby (1978), Ob. Cit., p. 50

248 AHDMNE – PAA, Proc. 950.18, Maço 56: Discurso pronunciado pelo Ministro da Defesa da África do Sul no Senado Sul-Africano (7/3/1955).

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vez que começava a ser cada vez mais pressionada à medida que fortalecia a sua política de apartheid249.

Pretória começa a perceber que a criação de um pacto regional seria muito difícil, motivo pelo qual, baseada na renovação dos acordos de Simonstown, iniciou uma aproximação a Londres para renovar a sua Marinha. A Marinha Sul-Africana tinha sido formada em 1946 com base em navios cedidos pela Grã-Bretanha e, a partir do acordo de 1955, começaria a operar em cooperação com a Marinha Real e, indiretamente, com a OTAN250. Por esse motivo, negociaria em Londres um programa de modernização a oito anos em cooperação com a Inglaterra.

Em 15 de março de 1955, A. Pinto foi convocado por Eric Louw, ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, para uma reunião onde estiveram representantes da Grã-Bretanha, Federação da África Central, França e Bélgica. E. Louw começou por dizer que existia muita pressão por parte de alguns ministros e parlamentares para que iniciassem contactos formais “para obter um entendimento” com os países vizinhos e com aqueles que tivessem “interesses em África”. E. Louw julgava que tinha chegado o “momento de pôr qualquer coisa” concreta em prática com a França, com Portugal, com a Federação da África Central, com a Bélgica e com a Grã-Bretanha, países a quem os “problemas de África interessavam”. Segundo A. Pinto, o que realmente preocupava os sul-africanos era a “demonstração anticolonialista na ONU e as suas pretensões em intervir em assuntos de política [interna] sob a invocação de princípios humanitários e de igualdade social”, que “convinha serem contrariadas” 251. Com a ascensão do Partido Nacional em 1948 e o reforço do apartheid a partir de 1950, o coro de críticas e propostas de resoluções contra Pretória aumentaram de forma significativa, não tendo alcançado o êxito pretendido devido à benevolência das administrações Truman e Eisenhower252. Pretória considerava que se estivesse integrada numa aliança com as principais

249 AHDMNE – PAA, Proc. 950.18, Maço 56: Informação enviada da Embaixada de Portugal em Pretória para MNE em Lisboa (22/3/1955).

250 Leonard (1983), Ob. Cit., p. 103.

251 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Telegrama enviado pelo Embaixador de Portugal em Pretória para o MNE em Lisboa (15/3/1955).

252 Borstelmann, Thomas (1993), Apartheid’s Reluctant Uncle: The United States and Southern Africa in the

Early Cold War, New York: Oxford University Press. Cf. Minter, William e Sylvia Hill (2008), “Anti-Apartheid

solidarity in United States-South African Relations: From the Margins to the Mainstream”, em South African Democracy Education Trust (Ed.) e Gregory F. Houston (Ed.), The Road to Democracy In South Africa.

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potências europeias com interesses em África estaria mais escudada. Por conseguinte, A. Pinto depreendeu a mesma vantagem para Portugal daquela iniciativa sul-africana, informando Lisboa que havia necessidade de que os países com territórios em África trocassem impressões sobre as respetivas políticas para “estabelecerem entre si entendimentos” sobre vários assuntos de interesse comum253.

Na semana seguinte, o ministro E. Louw enviou a A. Pinto um memorando para que o Governo Português se pronunciasse sobre a iniciativa da realização de uma conferência que fosse para “além da CCTA, da defesa e das comunicações” e que representasse o momento a partir do qual se iniciasse “uma consulta mais estreita em assuntos dessa natureza”. Nesse documento, E. Louw enfatizava uma tendência cada vez maior da ONU para intervir “em assuntos africanos que são da competência interna” dos Estados e o “ [seu] novo lema anticolonialista contra as potências africanas”. Para além disso, o documento referia ainda um conjunto de pontos com interesse para Lisboa: a Índia e outras potências asiáticas como uma séria ameaça aos dois países, conforme indicava a projetada Conferência de Bandung; “a propaganda e a infiltração comunista”; a relação entre os brancos e os negros; e a definição de um “sistema de consulta e discussão periódicas” sobre os assuntos de interesse comuns254. Todavia, na perspetiva de A. Pinto, a proposta de E. Louw tinha como objetivo obter internamente uma vantagem política num momento em que o Partido Nacional se pretendia consolidar e o apartheid era alvo das mais ferozes críticas, nomeadamente “por parte da imprensa estrangeira” na Inglaterra e nos EUA. Este ponto era de extrema importância para Lisboa, já que a questão da “relação entre a população branca e os indígenas” era de elevado melindre e afastava a África do Sul dos outros países255.

O Governo Belga respondeu desfavoravelmente à proposta de E. Louw, porque, sendo a União da África do Sul a propor a conferência, podia desencadear “animosidade nos países anticoloniais”, especialmente porque um dos pontos era a “relação entre a população europeia e os indígenas”. Além do mais, Bruxelas continuava a considerar que a África do Sul queria apenas “dar um passo para conseguir ocupar o lugar de nação condutora” em África. Todavia, não pretendia dar uma resposta

253AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Telegrama enviado pelo Embaixador de Portugal em Pretória para o MNE em Lisboa (15/3/1955).

254 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Aide-Mémoire do MNE da União da África do Sul sobre os tópicos apresentados por Louw em 15 de março de 1955 (21/3/1955).

255 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Telegrama enviado pelo Embaixador de Portugal em Pretória para o MNE em Lisboa (15/3/1955).

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negativa a Pretória, porque em relação à questão da “defesa contra atividades comunistas” era conveniente manter os contactos256.

Do lado do Governo Português havia especial atenção à tentativa da África do Sul em tentar obter a hegemonia política em África. De acordo com um relatório produzido pela Embaixada de Portugal em Pretória, o governo de D. Malan (1948-1954), apesar de ter reforçado a política segregacionista, pretendia alinhar com a Inglaterra os interesses da África do Sul na defesa ao sul do Sahara. Contudo, após a resignação de D. Malan, o governo de Johannes G. Strijdom insistiu em demonstrar a mais completa independência” em relação à coroa britânica, o que aumentava as desconfianças de Lisboa quanto a qualquer iniciativa sul-africana257.

Em resposta ao pedido de E. Louw, o ministro da Defesa emitiu um parecer a desaconselhar a “realização [da conferência] nos termos propostos” por Pretória, embora não se devesse alhear de assuntos que, “de uma maneira geral”, tinham muito interesse. Sugeria que os contactos deveriam existir, mas não era necessária a realização de uma conferência258. Porém, a informação transmitida a Pretória foi substancialmente diferente, sendo informada de que Portugal desejava “concertar uma política comum”, embora o assunto devesse ser mantido em “segredo” e “cuidadosamente estudado” antes de se pensar em realizar uma conferência. Paralelamente, as reuniões da CCTA poderiam ser aproveitadas para a “preparação diplomática” da conferência, nomeadamente no que respeitava à constituição de “uma frente anticomunista” e de fazer convergir esforços para resistir ao “movimento anticolonialista” 259.

De acordo com informações recolhidas pelo embaixador Du Toit junto das Necessidades, aquele assunto estava a ser estudado em Portugal pelos ministérios do ultramar e da defesa, embora pudesse adiantar que ambos os ministérios “não favoreciam a realização de uma conferência ministerial” por “não se querer publicidade”, continuando a “aprofundar a cooperação sem dar conhecimento ao

256 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Telegrama enviado da Embaixada de Portugal em Bruxelas para MNE em Lisboa (5/4/1955).

257 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Ofício da Embaixada de Portugal em Pretória para MNE em Lisboa (7/4/1955).

258 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Ofício da Secretaria Geral da Defesa Nacional para o Diretor Geral dos Negócios Políticos e de Administração Interna do MNE (21/4/1955).

259 AHDMNE – PAA, Proc. 927.100, Maço 368: Telegrama da Embaixada em Pretória para MNE em Lisboa (13/5/1955).

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inimigo comum”260. Não se pode esquecer que a Conferência de Bandung, que decorria de 18 a 24 de abril, prometia ser um acontecimento de extrema importância na política internacional com sérias implicações nos poderes europeus em África. O simples facto de se ter conhecimento da realização de uma conferência com as potências com interesses em África, logo a seguir à Conferência de Bandung, “chamava de imediato a atenção de todo o mundo”. Por esse motivo, o Governo Português informou o embaixador Du Toit que era necessário haver uma profunda preparação para se convencer todos os participantes da necessidade de se atingir “uma política conjunta comum”261.

Porém, o Governo Sul-Africano admitia que se deveria noticiar a realização da conferência ao mesmo tempo que decorria a Conferência de Bandung, porque “não reagir era um encorajamento à campanha dos países não-brancos (sic.) e ao bloco soviético”, sugerindo que se emitisse um comunicado logo a seguir ao conhecimento das resoluções de Bandung262. Todavia, o Governo Português mantinha muitas reservas à ideia sul-africana, sendo preferível continuar os contactos através dos canais diplomáticos para “não dar a ideia de que era uma conferência anti-Bandung”263. Portanto, naquele momento crítico em que Portugal se preparava para a entrada na ONU, não poderia arriscar ser identificado com um país que reforçava o regime de apartheid. A entrada de Portugal na