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A VANTAGEM COMPETITIVA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NACIONAL

5. INOVAÇÃO E I&D NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

5.5. A VANTAGEM COMPETITIVA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NACIONAL

As tecnologias desde o século XVIII são na sua maioria dos países da Europa Ocidental, dos EUA e do Japão e o avanço tecnológico foi liderado com sucesso pelo Reino Unido, Alemanha, EUA e Japão. No caso da indústria farmacêutica, os EUA, a Suiça, Alemanha, o Reino Unido e a França contribuíram com mais de 80% de todas as inovações. As suas exportações excederam 60% o comércio mundial e eram os países originários de quase todas as empresas de inovação.

A vantagem competitiva das indústrias nacionais tem sido estudada em várias áreas (Bernal, 1954; Servan-Schreiber, 1968; Landes, 1970; Mokyr, 1990; Porter, 1990), e foi atribuída a vários factores incluindo: um sistema de ensino superior mais forte, força de trabalho abundante e bem preparada, presença de empresas intensivas em investigação e indústrias de suporte, uma forte procura de mercado interna e o preço relativo dos factores de produção.

A geografia do avanço tecnológico e a vantagem competitiva das indústrias nacionais foram determinadas em considerável extensão pelas intensidades e sinergias das forças condutoras da IT, que à parte das suas flutuações ao longo do tempo, são fortemente influenciadas pelas envolventes nacionais.

As forças condutoras poderão ser agrupadas da seguinte forma:

- Avanço científico: a indústria farmacêutica depende do avanço das disciplinas de medicina, fisiologia, química orgânica, farmacologia, bacterologia, biologia, enzimologia, biologia molecular, e por esta dependência as empresas inovadoras estão estabelecidas em países com sistemas académicos robustos, escolas de investigação (Geison, 1981) e outras instituições que detiveram a sua atenção nestas disciplinas.

- Legislação governamental – a indústria farmacêutica é a mais regulada de entre a produção devido à importância do medicamento para a saúde pública, sistemas de seguro de saúde públicos. As regulamentações de práticas de gestão da empresa,

preços estabelecidos pelo Estado, medidas de protecção internas, legislação de patentes, regulamentos de provação e testes de novos produtos, e o Welfare State, positiva ou negativamente contribuem para o crescimento e competitividade da Indústria Farmacêutica nacional.

- Necessidades sociais.

- Procura de mercado – um forte mercado interno pode criar vantagens competitivas para a indústria nacional (Porter, 1990), mas no caso da indústria farmacêutica, isto apenas aconteceu nos EUA.

- Matérias primas – o acesso a plantas medicinais (no séc. XIX) e químicos orgânicos derivados do alcatrão criaram vantagens competitivas à indústria francesa, britânica, e alemã.

- Concorrência, empresas intensivas em I&D e CTTs – as inovações passam as fronteiras nacionais antes de terminar a patente através do licenciamento ou da intervenção governamental (que aconteceu com a penicilina). Quando muitas das empresas pelas suas CTTs cobrem a quase totalidade das classes terapêuticas de um país geram-se fortes sinergias (caso da Alemanha e dos EUA).

A partir deste capítulo pudemos concluir que a I&D tem um peso particularmente importante na Indústria Farmacêutica, que foi de todos os sectores o que mais investiu em I&D (com 19,3% de quota de I&D no global dos sectores). Da mesma forma, a intensidade de I&D foi muito superior na Indústria Farmacêutica do que em qualquer outro sector (15,9%). A Indústria Farmacêutica é única em inovações, em 200 anos de história conseguiu 1736 novos medicamentos, que originaram trajectórias tecnológicas. As empresas que fazem I&D seguem as suas tradições tecnológicas nas decisões de Investimento em I&D.

No próximo capítulo veremos a tendência da I&D e da Inovação, onde se localiza, quem lidera este investimento e as principais alterações.

6. TENDÊNCIAS DA INOVAÇÃO E I&D NA INDÚSTRIA

FARMACÊUTICA MUNDIAL

Neste capítulo estudaremos as tendências da inovação e I&D na Indústria Farmacêutica mundial, nomeadamente as alterações aos modelos de I&D, o investimento realizado e a sua repartição a nível mundial, os novos mediamentos e as empresas líderes em I&D.

A indústria farmacêutica é uma das maiores contribuintes privadas para fundos de I&D a nível mundial. O investimento farmacêutico das empresas alcançou os 56 biliões de dólares em 2005. Este valor tem crescido cerca de 6% anualmente desde 1995 e prevê-se que continue a crescer nos próximos anos (The Economist, 2005)12.

A I&D na Indústria Farmacêutica está focada no desenvolvimento de novas formas de tratar a doença, através do desenvolvimento de medicamentos, que podem ser da categoria das entidades químicas ou biológicas. Ao falarmos de entidades biológicas estamos a falar de entidades que surgem da investigação através da biotecnologia, enquanto as Novas Entidades Químicas (NEQs) surgem da Investigação farmacêutica tradicional.

No entanto, apesar do aumento dos investimentos em I&D, o número de NEQs tem diminuído (European Commission, 2007; EFPIA, 2007).

Durante os anos 90, entraram no mercado um grande número de moléculas blockbuster13, que foram responsáveis pelo crescimento de cerca de 80% das receitas das vendas nas décadas seguintes. No entanto, à medida que as patentes destes blockbusters expiraram, ou se aproximam da data de expirar, estes passam a ser concorrentes dos genéricos e das variantes me-too14. Por isso, as vendas começam a diminuir levando as empresas a procurar novos medicamentos para reforçar a pipeline. As mudanças a nível tecnológico e de outros níveis levaram a que os medicamentos em desenvolvimento apontem cada vez mais para um segmento muito pequeno da população. Com cada vez menos blockbusters a

12 The Economist, 2005, 'Pharmaceutical Industry Survey', The Economist, 16 June 2005.

13 Produtos que conseguem obter em vendas anuais mais de mil milhões de dólares. Normalmente são

produtos inovadores e protegidos por patentes.

14 Produtos que seguem as inovações radicais e ajudam a melhorar certos componentes, como a forma de

administração ou a posologia. São muitas vezes associados à inovação incremental e a trajectórias de inovação existentes.

surgir na pipeline farmacêutica nos próximos anos, apesar do investimento em I&D estar a aumentar, prevê-se que as receitas e lucros na Indústria Farmacêutica venham a diminuir.15

Descoberta de Medicamentos Versus Investimento em I&D Farmacêutico Actual e Previsto

0 10 20 30 40 50 60 70 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Novas Moléculas no 1º ano de

lançamento

Despesa Global de I&D da Indústrica Farmacêutica ( Biliões de Dólares)

Figura 12 – Evolução do Investimento em I&D e Novos Medicamentos

Fonte: CMR International and the Economist, 2005, Pharmaceutical Industry Survey, The Economist, 16 June 2005

Enquanto o investimento em I&D quase duplicou entre 1996 e 2003, o número de novos medicamentos aprovados caiu de 62 em 1996 para 35 por ano em 2003. (Rasmussen, 200416)

Por um lado, a descoberta do mapa do genoma humano não provocou a rapidez na inovação que se esperava, dada a complexidade do genoma. Por outro lado, o tamanho da população para os candidatos a medicamentos está a diminuir à medida que a tecnologia melhora, e há cada vez mais fast followers a entrar no mercado. Tudo isto levou à queda gradual do modelo de blockbusters. O abrandamento no desenvolvimento dos produtos, atenuando os seus ciclos de vida e esmagando o tamanho do mercado, tem mantido todas

15 The Boston Consulting Group, (2004), “Rising to the Productivity Challenge: A Strategic Framework for

Biopharma”, May.

as companhias farmacêuticas sob intensa pressão para optimizar a eficiência e a produtividade do total do investimento em I&D. O resultado disto tem sido o estreitamento da linha de produtos em desenvolvimento, assim como um crescente grau de acordos in- licensing e de alianças de I&D. Neste sentido as empresas farmacêuticas têm vindo cada vez mais a subcontratar serviços de I&D.