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ALTERAÇÕES AOS MODELOS DE I&D

5. INOVAÇÃO E I&D NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

6.1. ALTERAÇÕES AOS MODELOS DE I&D

Ao contrário do modelo tradicional de investigação farmacêutica, as empresas farmacêuticas têm procurado cada vez mais parcerias externas para a I&D, tais como, com empresas de biotecnologia intensivas em investigação, universidades e institutos médicos de investigação.

O crescimento da tecnologia baseado na genómica tem sido um condutor desta tendência e prevê-se que estas tecnologias e estes pequenos players sejam uma importante fonte das novas moléculas farmacêuticas (Biotecnologia). Dependendo da estratégia da empresa, as empresas grandes fazem alianças com outras empresas (tais como acordos in-licensing) ou adquirem-nas.

As empresas farmacêuticas disponibilizam os fundos e o conhecimento técnico, sem os quais as pequenas empresas não seriam capazes de preparar um novo medicamento. Por um lado, as empresas farmacêuticas estão a aumentar as parcerias de inovação externas, mas por outro lado, irão continuar a manter a sua investigação dentro de portas. Estima-se que o rácio de investigação interna / externa passará de 90/10 como se observava nos anos 90 para um rácio de 70/30 em 201017.

Na fase de desenvolvimento do medicamento, há uma tendência crescente para a subcontratação da fase clínica (Ensaios clínicos). Dado que o número de centros de investigação necessário é elevado e se espera que os pacientes sejam difíceis de identificar, as empresas farmacêuticas tendem a contratar este trabalho a uma organização que possa completar este trabalho de uma forma mais eficiente.

Um outro factor que pode afectar o desenvolvimento da Indústria Farmacêutica é o facto de existir uma certa concorrência entre governos de vários países para atrair o investimento. Países como os Estados Unidos, a Irlanda e Singapura, têm oferecido um conjunto de incentivos para atrair as empresas capital-intensivas em investigação. Estes incentivos têm tido impacto em algumas decisões de investimento, nomeadamente em investimento de produção ou decisões de reinvestimento.

As mudanças na indústria resultantes do declínio do modelo de negócio de blockbusters têm-se reflectido em alterações dos padrões de investimento: os investimentos em produção e em ensaios clínicos passam a ser aplicados em várias localizações a nível global; há uma contínua consolidação dos investimentos em I&D maioritariamente nos Estados Unidos, em paralelo com crescentes oportunidades de colaboração das grandes empresas com terceiras organizações, numa parte da Investigação.

Desde 1990 até 1996, todas as alianças entre as grandes empresas farmacêuticas e as empresas de biotecnologia e universidades cresceu a uma taxa de 22,7% ao ano. No entanto, esta tendência abrandou para 3,1% ao ano entre 1996 e 2001. Apesar do in- licensing continuar a ser uma tendência actual na I&D das empresas farmacêuticas, as empresas farmacêuticas irão continuar a colocar o seu focus na sua própria investigação interna. Este facto explica-se por várias razões: assim têm um maior controlo sobre a investigação; as empresas grandes conseguem mais facilmente recrutar os melhores talentos; e o conhecimento intrínseco dos seus registos e experiências em áreas de especialização tornam a competição dos parceiros externos contra o pipeline interno muito difícil.

De acordo com um estudo feito em 2001 às 10 maiores empresas farmacêuticas com filial na Austrália18, sobre as escolhas nas decisões de investimento em I&D, conclui-se que os factores mais importantes nesta decisão são os recursos humanos e as infraestruturas e o factor menos importante é a localização geográfica.

Estas conclusões vêm confirmar a noção de que as decisões de I&D se baseiam na procura de ideias (quando se considera que 72% do investimento é dispendido em fracassos). Torna-se claro que o primeiro critério é a capacidade dos investigadores em identificar eficientemente medicamentos alvo ou candidatos, de elevado valor. Isto leva a que as regiões de elevada performance sejam as mais propensas a continuar a atrair a maioria do capital investido no curto e médio prazo. Neste sentido, o resultado deste estudo explica os actuais padrões de investimento, dado que a maioria do investimento continua a seguir para

18 The Lewin Group, 2001, Analysis of Investment Decisions by the International Pharmaceutical Industry

and the Competitive Position of Australia, presented to the Pharmaceuticals Industry Action Agenda Working Group 2 ‘Strategic Factors and Decision Making for Investment’, December.

a investigação interna dos grandes laboratórios situados nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.

Esta tendência dos maiores investimentos em I&D estarem nos Estados Unidos e na Europa Ocidental perto da sede destas companhias, resultado do tradicional modelo de negócio, deve-se ao facto de que estes centros desenvolveram recordes em termos de produtividade da I&D, relacionados com a capacidade de reciclar continuamente os seus departamentos com investigadores talentosos e estarem construídos sobre infraestruturas eficientes que suportam o processo de inovação.

No entanto, existe um aumento do trabalho partilhado com fontes externas, relacionado com o elevado número de candidatos a medicamentos no pipeline, originários de pequenas empresas de biotecnologia (67%)19. Também aqui o que importa às empresas é a procura de inovações com qualidade. O investimento externo também depende da capacidade e competências disponíveis. E a concorrência vai ocorrer entre I&D interna ou externa às empresas. Devido aos tempos necessários no desenvolvimento de um medicamento, os cientistas externos vão querer colaborar com os investigadores das grandes empresas, e por isso os fundos serão repartidos pelas várias partes envolvidas.

O ambiente regulamentar é outro dos factores apontados como influente na decisão de investimento em I&D. A incerteza nas leis e na sua aplicação ao processo de inovação é um factor de afastamento da I&D.

Países como a Índia e a China, introduziram legislação sobre o processo de inovação para atrair o investimento em I&D. No entanto, a Índia depois da introdução desta legislação em Janeiro de 2005, é uma localização potencial de I&D, enquanto a China é vista como uma localização a não seguir.

O sistema de impostos relativo aos investimentos em I&D e o apoio governamental para a I&D também influenciam o fluxo de capitais e tornam-se significativos no investimento a longo prazo.

Concluindo, a disponibilidade de competências e infraestruturas para a investigação, com uma base de investigação de elevada qualidade, são os factores de influência mais importantes para este tipo de decisões de investimento. No entanto outras questões tais como os incentivos financeiros ou um ambiente de impostos baixos e a atractividade do mercado local será decisivo na escolha entre duas localizações com a mesma base científica. 20

Os contratos de Outsourcing para a contratação de empresas de investigação têm aumentado. Constitui cerca de 20% da investigação de medicamentos no mercado e aumentou 18% entre 1990 e 2003.21 A expectativa de crescimento continua, tendo sido previsto 29% do investimento em ensaios clínicos no ano de 2005 (Aoris Nova, 2003).

As empresas farmacêuticas procuram formas mais eficientes de gestão de informação e de melhorar a colaboração entre grupos de investigação.

Actualmente, algumas das grandes empresas da indústria farmacêutica procuram resolver o problema da baixa produtividade da Investigação e Desenvolvimento através de aquisições de empresas concorrentes com medicamentos em fase final de desenvolvimento. Esta é, contudo, uma solução temporária, pois o que interessa é aumentar a eficiência do processo de Investigação e Desenvolvimento, reduzir o tempo até ao lançamento do produto no mercado e aumentar o número de lançamentos de novos medicamentos no mercado por ano (de um para três) (Achilladelis & Antonakis, 2001; Quere, 2003).

As empresas da indústria farmacêutica devem encontrar o justo equilíbrio entre a I&D feita internamente, em cooperação22 ou externamente (sendo que neste último caso podem optar por escolher parceiros internacionais, caso em que se diz que a I&D foi internacionalizada). Devem identificar as actividades de I&D interna que trazem valor acrescentado ou que tem importância estratégica e sub-contratar as restantes actividades e

20 The British Pharma Group, 2005, The British Pharma Group (BPG) on Competitiveness and Investment

Criteria, prepared by GSK and AstraZeneca.

21 Aoris Nova, 2003, Advance Consulting and Evaluation and BioAccent, 2003, Australia’s Preclinical and

Scale-up Manufacturing Capabilities — A Comparative Analysis, prepared for the Department of Industry, Tourism and Resources, Canberra.

22 Quere (2003) realça que a cooperação pode estimular a inovação, por causa das oportunidades que podem

surgir na combinação de conhecimento organizacional distinto. Quanto maior for a diferença entre as bases de conhecimento organizacional, maior o potencial da descoberta (Saur, 2005).

processos relacionados com Investigação e Desenvolvimento, inclusive I&D em curso23 (Cooke, 2006; O. Gassmann, Reepmeyer, & Zedwitz, 2004).