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II. Lanhoso, São João de Rei e Vieira: caracterização do território

2.2. Entre a “Ribeira” e a “Montanha

2.2.5. A Vegetação

A cobertura vegetal do Baixo-Minho também será analisada com base em estudos já realizados119 concernentes a esta região no contexto medieval, apoiados

106 Localizado em São Paio de Vieira (Inq., p. 1509).

107Termo indicador do encaminhamento da água para os locais desejados “mediante um canal principal

aberto na própria terra, a partir do qual era possível romper canais secundários capazes de assegurarem o abastecimento de água a um significativo número de parcelas agrícolas” (ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, op. cit., p. 194). O topónimo situa-se na paróquia de Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490).

108 Cf. ANDRADE, Amélia Aguiar, op. cit, p. 193. 109

Localizado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490).

110 Localizado em São Salvador de Roças (Inq., p. 1495). 111 Localizado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490). 112

ANDRADE, Amélia Aguiar, op. cit., p. 193.

113 Encontram-se dois lugares denominados de Fonte: um localizado em São Salvador de Roças (Inq., p.

1496) e outro em São João de Rei (Inq., p. 1500). Encontram-se ainda os topónimos Fonte de Rei, em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490), Fonte Chã, em São Julião de Sinde (Inq., p. 1494), Fonte Arcada, no local onde se instalou o Mosteiro de São Salvador de Fonte Arcada (Inq., p. 1498), além da menção a uma “Fonte Fisgam” em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1489).

114 Localizado em São Salvador de Roças (Inq., p. 1496).

115 Localizado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490). Verifica-se também a existência do topónimo

Fontelo de Corvo em Santa Tecla (Inq., p. 1493).

116 Localizado em São Martinho de Travaços (Inq., p. 1497).

117 Inq., p. 1508.

118Cf. GIL, Maria Olímpia, “Engenhos de Moagem no século, XVI”, Do Tempo e da História, vol. I, Lisboa,

Centro de Estudos Históricos, 1965, p. 161.

119

Destaca-se o estudo da autoria de Iria Gonçalves (GONÇALVES, Iria, “A Árvore na paisagem rural do

Entre Douro e Minho: o Testemunho das Inquirições de 1258”, Actas do 2º Congresso histórico de

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pelos numerosos topónimos e pelas referências específicas no texto das Inquirições a algumas espécies arbóreas individualizadas ou em conjunto.

Situados principalmente em zonas de maior altitude, os bosques da região em análise caracterizavam-se por uma grande variedade de espécies, destacando-se entre elas, pela sua quantidade e utilidade, o castanheiro, que subsistia mesmo no cimo das serras. Este, agrupado em soutos ou soutelos, fornecia aos camponeses a rama para o gado, galhos secos para as lareiras, madeira de qualidade e frutos nutritivos120, que durante quatro ou cinco meses, supriam a falta de cereais121. A sua existência encontra-se frequentemente mencionada pelos inquiridores, em topónimos como Soutelo122, Souto123 e Castinaria124.

Sobressaía igualmente o carvalho, nas suas variantes de carvalho alvarinho, seguido do carvalho português e do negral125. A presença desta árvore reflecte-se em topónimos como Carvalhal126e Cerzedelo127.

O sobreiro crescia igualmente em abundância, mesmo em zonas de maior altitude, sendo aproveitado pelas suas landes, que se destinavam a engordar o gado suíno128. Está presente na toponímia nas formas de Sobradelo129, Sobreira130 e Landeiras131.

De assinalar também a existência do salgueiro, geralmente situado à beira dos cursos de água132, comprovada pelo nome de lugares como Salgario133 e plano de

Guimarães/Universidade do Minho, 1996, pp. 5-25), bem como o livro de Maria Eugénia Moreira Lopes, dedicado às características da vegetação espontânea e subespontânea (MOREIRA-LOPES, Maria Eugénia S. de A. e colaboradores, op. cit.).

120 Cf. GONÇALVES, Iria, op. cit., p. 9. 121

Cf. RIBEIRO, Orlando, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: esboço de relações geográficas, p. 109.

122 Localizado em Santo Adrião de Soutelo (Inq., p. 1498).

123 Localizado em Santa Maria de Verim (Inq., p. 1500) e São João de Rei (Inq., p. 1501). 124

Localizado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1491).

125 Cf. RIBEIRO, Orlando, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: esboço de relações geográficas, p. 103. 126 Localizado em São Pedro de Cerzedelo (Inq., p. 1496).

127 Palavra proveniente do latim cercetellu, derivada de quercus, significativo de carvalho (Cf.

MACHADO, José Pedro, “Cerzedelo”, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, vol. I, p. 394). São igualmente referidos dois carvalhos, um em São Miguel de Taíde (Inq., p. 1488) e outro em São Salvador de Roças (Inq., p. 1495).

128 Cf. GONÇALVES, Iria, op. cit., p. 10.

129 Localizado em Santa Maria de Rendufinho (Inq., p. 1492). Tal como com o carvalho, encontram-se

quatro topónimos relacionados com a presença desta árvore nas Inquirições em estudo.

130

Em São Miguel de Ferreiros (Inq., p. 1492) e São Martinho de Travaços (Inq., p. 1497).

131 Localizado em São Estêvão de Geraz (Inq., p. 14949).

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Salgueiros134, do pinheiros e do loureiro, presentes nos topónimos Pinheiro135, Louredo136 e Loureiro137, além de outras árvores como o amieiro, os freixo e o medronheiro que, no seu conjunto, compunham as matas naturais do Entre Douro e Minho138.

As Inquirições testemunham igualmente a presença de vegetação não espontânea, ou seja, resultante da acção humana, constituída por árvores de fruto, existente principalmente nas terras chãs139. Estas fruteiras podiam constituir conjuntos, como é possível verificar através de topónimos como Pomar140, Pomedelo141, Pomarino142 e Pomarelio143, registando-se igualmente referências a espécies individualizadas. Destas, a predominante na área em análise era a figueira, disseminada tanto pela Ribeira como pela Montanha, que fornecia frutos nutritivos e facilmente conserváveis. Registam-se cinco tipos de referências distintas na toponímia: Figueira144, Figueira Longa145, Figueiró146, Ficulneis e Ficulneia147. As nogueiras, que aparecem mencionadas sob a forma de dois lugares, denominados Nogueira148, apresentavam uma madeira de excelente qualidade e os seus frutos, a par das castanhas e dos figos, completavam a alimentação dos camponeses minhotos149

133

Situado em São Martinho de Travaços (Inq., p. 1499).

134 Referido na documentação da ermida de São Simão de Real (Inq., p. 1506). 135 Localizado em Santa Maria do Pinheiro (Inq., p. 1509).

136

Dando o nome às paróquias de São Martinho de Louredo e Santa Maria de Louredo (Inq., p. 1488).

137 Localizado em São Julião de Tabuaças (Inq., p. 1507) e São Paio de Vieira (Inq., p. 1509).

138 Não estando referidas expressamente nas Inquirições, a sua presença encontra-se atestada para a

região em análise por Iria Gonçalves (cf. GONÇALVES, Iria, op. cit., p. 11).

139 Cf. GONÇALVES, Iria, op. cit., p. 11.

140 Localizados em São Salvador de Roças (Inq., p. 1495) e Santa Maria de Pinheiro (Inq., p. 1509).

Observa-se ainda a existência dos topónimos Pomar Grande em Santa Maria de Ladrões (Inq., p. 1490),

Pomares em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1489) e uma referência ao “pomar de Mayno” (Inq., p. 1489).

141 Localizado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1490). 142 Localizado em São Adrião de Pepim (Inq., p. 1506). 143 Situado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1489). 144 Localizado em Vilar Plano (Inq., p. 1506). 145 Situado em Santiago de Lanhoso (Inq., p. 1489). 146 Localizado em São João de Vieira (Inq., p. 1508).

147Termos significativos de figueira (MACHADO, José Pedro, “Figueira”, Dicionário Etimológico da Língua

Portuguesa, vol. II, p. 640). Ficulnea situa-se em Travaços (Inq., p. 1497) e Ficulneis em Santiago de

Lanhoso, (Inq., p. 1510).

148 Localizados em São Martinho de Louredo (Inq., p. 1488) e São João de Vieira (Inq., p. 1508). 149 Cf. GONÇALVES, Iria, op. cit., p. 12.

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Quanto às restantes árvores de fruto, verificam-se duas menções a pereira (Pereira150), uma a pessegueiro (Pesagario151) e uma a cerejeira (Cerdeira152). A oliveira, geralmente pouco representada na região153, à semelhança de outras árvores que só apareciam a espaços, como as aveleiras, nespereiras, amoreiras e ameixeiras, dá mesmo o nome à paróquia de Oliveira154.

Tal como foi mencionado, o espaço onde se inserem os julgados de Lanhoso, São João de Rei e Vieira caracteriza-se por uma diversidade de especificidades geográficas que determinam a fertilidade agrícola e consequentemente o dinamismo demográfico da zona em estudo, de entre as quais sobressaem o relevo, o clima, a pluviosidade, a proximidade de cursos de água, a disseminação de áreas de vegetação e a composição dos solos. Esta diversidade propicia a existência de espaços mais ou menos favoráveis à subsistência dos camponeses, que vivem dependentes, por um lado, da produtividade das terras e, por outro, dos recursos naturais complementares, como os que propiciavam a recolecção. Em suma, a geografia surge como um dos elementos mais determinantes para as estratégias de povoamento dos habitantes dos julgados.