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IV. Os proprietários

4.1. Os herdadores

Nas Inquirições em análise, registam-se menções à propriedade alodial em vinte paróquias, contando-se referências a cinquenta e oito casais, vinte e seis no julgado de Lanhoso e trinta e dois no de Vieira, a setenta e três herdades - trinta e uma em Lanhoso e quarenta e duas em Vieira – e a uma quintã situada no julgado de Lanhoso. Observa-se também que, das vinte paróquias mencionadas, nenhuma era habitada exclusivamente por herdadores, uma vez que na documentação de todas estas freguesias também se encontram menções à propriedade nobre, eclesiástica e régia.

Apesar de os alódios se disseminarem por uma diversidade de paróquias, verifica-se que eles se concentravam essencialmente no extremo oriental do território, correspondente ao julgado de Vieira e à paróquia de Ladrões do julgado de Lanhoso. De facto, neste espaço localizavam-se trinta e cinco casais e cinquenta e uma herdades alodiais, respectivamente 60,34% dos casais e 69,86% das herdades pertencentes a herdadores referidos na documentação dos três julgados, além de uma quintã na paróquia de Roças, mencionando-se ainda que eram os herdadores que tinham o direito a apresentar o comendatário da ermida de Real498. Calcula-se, assim, uma proporção de quatro casais de herdadores por paróquia no julgado de Vieira, uma

497 Em Paços de Ferreira, a Igreja possuía 50% da propriedade, seguindo-se os nobres, com 26,2%, os

vilãos com 17,3% e por fim o Rei com 6,1% (Cf. MATTOSO, José, KRUS, Luís, ANDRADE, Amélia Aguiar, “Paços de Ferreira na idade Média: uma sociedade e uma economia agrárias”, p. 203). Na Terra de Celorico de Basto também era a Igreja a principal proprietária, possuindo 44,44% dos casais (Cf. LOPES, Eduardo Teixeira, A Terra de Celorico de Basto na Idade Média, Celorico de Bastos, E. T. Lopes, 2008, p.

….), tal como sucedia no espaço compreendido entre os rios Douro e Tâmega (Cf. MAURÍCIO, Maria Fernanda, op. cit., p. 152). Na área entre os rios Ave e Leça destacavam-se as instituições eclesiásticas e os nobres que, no seu conjunto, possuíam 68,5% dos casais (Cf. MARTINS, Alcina Manuela de Oliveira, O

Mosteiro de S. Salvador de Vairão na Idade Média: o percurso de uma comunidade feminina, p. ).

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média superior à que se observou em outras áreas do Entre Douro e Minho como a Terra do Barroso e o espaço entre os rios Ave e Leça, nos quais a média de casais de herdadores por paróquia em 1258 era inferior a três499. Infere-se também que em nenhuma destas áreas a propriedade alodial chegava a igualar a do Rei, ao contrário do que sucede em Vieira. Esta profusão de alódios, porém, não é exclusiva do espaço em estudo, tendo-se observado que os alódios eram especialmente numerosos fora dos limites concelhios no espaço entre os rios Cávado e Minho, chegando a propriedade alodial a atingir valores superiores a 80% em julgados como os de Prado e de Caminha500.

É possível que a abundância da propriedade alodial no julgado de Vieira se deva à sua menor fertilidade e à sua maior altitude, características que terão mantido afastados muitos dos nobres provenientes do Entre Douro e Minho, mais preocupados em ocupar áreas menos acidentadas e mais produtivas. Como tal, é provável que estes herdadores sentissem uma pressão senhorial menos intensa em comparação com os camponeses de outras áreas, levando a que a propriedade alodial tivesse conseguido subsistir até mais tarde nestas paróquias.

Os alódios restantes dispersavam-se por diferentes zonas do julgado de Lanhoso, concentrando-se por vezes em algumas paróquias adjacentes. Assim sucedia em São Martinho de Águas Santas, São Martinho de Ferreiros e São Julião de Sinde, paróquias situadas na área ocidental do julgado, nas quais existiam cinco casais e dezasseis herdades, sabendo-se ainda que na honra de Godinho Fafes de Lanhoso, em Sinde, trabalhavam doze herdadores501. Contam-se também três casais e uma herdade nas paróquias meridionais de São Martinho de Louredo, São Salvador de Louredo e Santo Emilião, oito casais e duas herdades nas freguesias orientais de Taíde, Soutelo e Travaços, registando-se por fim um casal e uma herdade na documentação da ermida

499 Na Terra do Barroso, contabilizaram-se setenta e um casais e meio em trinta freguesias, perfazendo

uma média de 2,83 casais por freguesia (Cf. VICENTE, António Maria Balcão, Povoamento e estrutura

administrativa no espaço transmontano (século XII a 1325), Lisboa, Dissertação de Doutoramento em

História Medieval apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, policop., 2002, p. ). Na zona compreendida entre os rios Ave e Leça contaram-se cento e trinta e dois casais de herdadores em vinte e três freguesias distintas, calculando-se uma média de 2,36 casais por freguesia (Cf. MARTINS, Alcina Manuela de Oliveira, O Mosteiro de S. Salvador de Vairão na Idade Média: o percurso de uma

comunidade feminina, p. ).

500 Cf. RODRIGUES, Cristina Maria Garcia (e colaboradores), op. cit., p. 411. 501 Inq., p. 1494.

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de Calvos. O rácio de casais alodiais por paróquia no julgado de Lanhoso era muito inferior ao que se verificou em Vieira, calculando-se uma média de cerca de 0,9 casais por paróquia, uma proporção diminuta que se explica, por um lado, por uma presença mais relevante do Rei e de membros da nobreza e do clero, e, por outro, pela inexistência de dados sobre o número de herdadores que trabalhavam nas honras e coutos assinalados na documentação. Em São João de Rei, julgado fértil e densamente povoado, os alódios eram inexistentes, predominando ao invés, como se irá analisar, a propriedade reguenga.

Mapa 17 – Distribuição geográfica das referências a casais, herdades e quintãs de

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