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IV. Os proprietários

4.3. A Igreja

4.3.1. As ordens monásticas

Nas Inquirições em análise encontram-se menções a duas instituições monásticas implantadas no território, especificamente o mosteiro de Fonte Arcada, que possuía o respectivo couto no julgado de Lanhoso, ao qual se juntavam quatro casais, uma herdade e metade de uma villa localizados nas paróquias circundantes de São Martinho de Louredo, Santo Emilião, São Pedro de Ajude, São Pedro de Cerzedelo e São Bartolomeu de Esperança, no julgado de Lanhoso, e o mosteiro de Vieira, implantado na paróquia de São João de Vieira, onde também possuía seis casais, detendo ainda metade de uma villa em São Bartolomeu de Esperança.

Para além dos mosteiros de Fonte Arcada e de Vieira são mencionados os de Santa Maria do Bouro, proprietário de nove casais e uma herdade nos dois julgados, São Miguel de Refojos de Basto, possuidor de quatro casais, Santa Maria de Adaúfe, detentor de três casais, Santo André de Rendufe, que tinha em sua posse dois casais511. Proceder-se-á, de seguida, à análise e subsequente contextualização da propriedade de cada um dos mosteiros mencionados na documentação.

509

Nesta contabilização não se contaram os dezassete casais referidos na paróquia de Brunhais (vd. notas 507 e 508).

510 Inq., p. 1498.

84 37,21% 18,60% 18,60% 13,95% 9,30% 2,33%

Gráfico 5 - Distribuição de referências a

casais de mosteiros no julgado de Lanhoso Mosteiro de Bouro Mosteiro de Fonte Arcada Mosteiro de Refojos Mosteiro de Adaúfe Mosteiro de Rendufe 14,29% 85,71%

Gráfico 6 - Distribuição das referências a

casais de mosteiros no julgado de Vieira

Mosteiro de Bouro Mosteiro de Vieira

Mapa 21 – Distribuição geográficas dos casais e villas pertencentes a

mosteiros512

512

Para além de não se terem contabilizado, neste mapa, os casais na paróquia de Brunhais (vd. nota 507), também não se consideraram os da paróquia de Cerzedelo, pois apesar de terem mencionado que nesta freguesia existiam onze casais dos mosteiros de Fonte Arcada, Bouro e Adaúfe, os inquiridores não especificaram quantos casais ao certo detinha cada uma destas instituições (Inq., p. 1497).

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4.3.1.1. O Mosteiro de Fonte Arcada

O mosteiro de São Salvador de Fonte Arcada, localizado no respectivo couto, no centro do julgado de Lanhoso, é mencionado nas Inquirições, sendo referido não apenas o seu couto, implantado no centro do julgado de Lanhoso, mas também as suas propriedades.

As Inquirições revelam que, como seria de esperar, a maior parte da propriedade do mosteiro estava imune aos encargos fiscais cobrados pelos oficiais régios. Entre esta propriedade registam-se, a Noroeste do mosteiro, em São Pedro de Ajude, três casais513; a Nordeste, em São Pedro de Cerzedelo, parte de um grupo de onze casais, em conjunto com os mosteiros de Bouro e Adaúfe, não sendo mencionado quantos pertenciam a cada mosteiro514, e a Sudeste, na paróquia de Esperança, metade de uma villa515. Além disso, a Sul do seu couto, o cenóbio possuía uma herdade em Santo Emilião, pela qual pagava uma vara e meia de bragal de fossadeira ao Rei516, e um casal em São Martinho de Louredo, do qual entregava cinco almudes de pão para a exacção da direitura517. Regista-se ainda que os lugares de Paredes e Calvos, integrados na paróquia de Calvos, pertenciam ao couto do mosteiro, e que numa zona mais oriental, em São Paio de Vieira, o mosteiro usurpou um foro proveniente de um souto do qual o Rei detinha metade518.

Assinala-se ainda uma alusão, na fonte histórica em análise, ao abade do mosteiro, designado pelos inquiridores como “Dom Ermígio”, o mesmo que José Mattoso identificou como estando presente durante a renovação do edifício do mosteiro em 1257519. Segundo os inquiridores, o clérigo tinha comprado uma herdade na paróquia de Travaços, não pagando, devido a esta aquisição, uma quantia de três varas de bragal ao Rei520.

513 Inq., p. 1497.

514 Inq., p. 1497 (como já foi referido na nota 512).

515 A outra metade pertencia ao mosteiro de São João de Vieira. Os inquiridores especificaram ainda que

quando as testemunhas ouvidas foram interrogadas sobre com é que os mosteiros adquiriram esta villa, “respondit quod de Sarrazinis militibus” (Inq., p. 1498).

516 Inq., p. 1489. 517

Inq., p. 1488.

518

Inq., p. 1509.

519 Cf. MATTOSO, José, op. cit., p. 887 520 Inq., p. 1497.

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Salienta-se, por fim, a estreita ligação desta instituição monástica com a linhagem dos senhores de Lanhoso, originários desta Terra, quer por ter sido fundada por Godinho Fafes de Lanhoso II521, quer por ter recebido doações de alguns membros desta família nas décadas posteriores, como as protagonizadas por Maria Fafes, Egas Fafes, Fafila Luz e Godinho Fafes II522.

4.3.1.2. O Mosteiro de Vieira

Na documentação em análise, o único património referido é metade da villa de Anissó, da qual faziam parte seis casais, doados por um grupo de cavaleiros, na paróquia de São João de Vieira523, e metade de outra villa na paróquia de Esperança, no julgado de Lanhoso524.

4.3.1.3. O Mosteiro de Santa Maria de Bouro

O mosteiro cisterciense525 de Santa Maria de Bouro, localizado na margem direita do Cávado, a norte de Lanhoso, é a instituição religiosa mais vezes referida na documentação em estudo relativamente à posse de unidades de exploração agrícola, possuindo um património que se disseminava pelos três julgados. Em Lanhoso, o seu património incluía parte de um grupo de dezassete casais, distribuídos por vários proprietários, situado em São Paio de Brunhais526 e uma porção do já referido grupo de onze casais em São Pedro de Cerzedelo527. Assinalam-se também, em São Pedro de Ajude, seis casais528, em São Miguel de Ferreiros529, um casal, e, na paróquia de Águas Santas, um casal e uma herdade doada pelo arcebispo de Braga, mencionado na documentação como “Domnus Silvester” 530

, provavelmente Dom Silvestre Godinho, o

521 Cf. MATTOSO, José, “Fonte Arcada”, Dictionnaire d'histoire et de géographie ecclésiastiques, dir.

Roger Aubert, Paris, Letouzey et Ané, 1964, p. 887.

522 Cf. Ibidem, p. 884. 523 Inq., p. 1508. 524 Inq., p. 1498.

525 Cf. COCHERIL, Dom Maur, Routier des abbayes cisterciennes du Portugal, Paris, Centro Cultural

Português, 1978, p. 53. 526 Vd. nota 507. 527 Vd. nota 512. 528 Inq., p. 1497. 529 Inq., p. 1492. 530 Inq., p. 1493.

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detentor deste cargo entre 1228 e 1244531. Nos outros julgados a propriedade do mosteiro não é tão numerosa, contando-se apenas um casal na paróquia de São Paio de Vieira532 e outro, na de São João de Rei, doado por “Rex Vermudus” 533, sendo possível que os inquiridores se estejam a referir ao rei leonês D. Bermudo III, tendo em conta que a presença do monarca nesta paróquia se encontra registada num documento de 1053, segundo o qual “foi discutida a posse de Beiriz”534.

A existência e dimensão deste património nos julgados em estudo deve relacionar-se com a prosperidade que o cenóbio conheceu no século XIII535, beneficiando, quer da sua localização numa região particularmente fértil, quer do apoio concedido pela realeza, que permitiu a sua expansão para sul do Cávado536.

4.3.1.4. O Mosteiro de Santa Maria de Adaúfe

O mosteiro beneditino de Santa Maria de Adaúfe, situado no couto de Braga, onde possuía um vasto património537, também detinha algumas unidades de exploração agrícola no julgado de Lanhoso, dispersas por três paróquias, contando-se dois casais na paróquia de Moure, um em Santa Tecla e parte dos referidos onze casais situados em São Pedro de Cerzedelo538.

4.3.1.5. O Mosteiro de Santo André de Rendufe

Este mosteiro beneditino é referido nas Inquirições em estudo, no julgado de Lanhoso, devido aos dois casais que possuía em São Pedro de Ajude e a uma parte de

531

Cf. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed. preparada e dirigida por Damião Peres, vol. I, Porto, Portucalense Editora, 1967, p. 267.

532 Inq., p. 1510. 533 Inq., p. 1501.

534 COSTA, P. Avelino de Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da Diocese de Braga, vol. I, p. 155. 535 Cf. Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento: guia histórico, dir. Bernardo Vasconcelos e

Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2006, p. 112.

536 Cf. MATTOSO, José, Ricos-homens, infanções e cavaleiros: a nobreza medieval portuguesa nos séculos

XI e XII, in Obras Completas, vol. 5, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, p.

537

Nas Inquirições de 1220 contam-se referências a cento e setenta e dois casais pertencentes a este mosteiro (Cf. ARAÚJO, António Sousa, “Adaúfe, as paróquias e o mosteiro”, Bracara Augusta, nº 41, Braga, Câmara Municipal de Braga, 1991, p. 90).

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dezassete casais existentes em São Paio de Brunhais539. Estes casais integram o reduzido conjunto de propriedades que o cenóbio detinha a sul do Cávado, uma vez que o grosso do seu património se situava em torno do seu couto, a norte deste rio540. O mosteiro foi beneficiado, desde a sua fundação541, pelas autoridades civis e senhores poderosos, entre os quais se destacavam alguns benfeitores pertencentes à linhagem Lanhoso-Altero, como Egas Fafes, neto de Godinho Fafes, fundador de Fonte Arcada e filho de Fafes Luz, governador do castelo de Lanhoso no início do século XII542, famílias implantadas na área em estudo.

4.3.1.6. Mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto

Fundado, provavelmente, no final do século XI543, encontra-se mencionado no texto referente ao julgado de Lanhoso, devido à posse de quatro casais na paróquia de São Martinho de Louredo544. A posse destas unidades de exploração agrícola não é de estranhar, tendo em conta a proximidade deste cenóbio, situado no julgado de Cabeceiras de Basto, a sudeste de Vieira, em cujo couto os inquiridores contabilizaram cento e dezasseis casais545.