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A Velhice na ótica dos freqüentadores da UnATI-UNIFAL

No documento MESTRADO EM GERONTOLOGIA SÃO PAULO 2009 (páginas 61-94)

CAPÍTULO 3 A UnATI-UNIFAL: REPRESENTAÇÕES DA VELHICE

3.6 A Velhice na ótica dos freqüentadores da UnATI-UNIFAL

Se, na análise do material dos entrevistados idealizadores, estive atenta para o modo como as representações mobilizadas nos discursos científicos sobre a velhice se constituíram pontos de ancoragem para criação de UnATI-UNIFAL, agora volto o foco para representações da velhice que foram movimentadas nos discursos de seus freqüentadores. Esse passo, do ponto de vista teórico-

metodológico, diz do efeito sobre mim das pertinentes palavras proferidas por Beauvoir:

consideramos o homem idoso enquanto objeto da ciência, da História, da sociedade: descrevemo-lo em exterioridade. Ele é, também, um sujeito que interioriza sua situação e que reage a ela. Tentemos entender como ele vive sua velhice [...]. A velhice é o que acontece às pessoas que ficam velhas; impossível encerrar essa pluralidade de experiências num conceito, ou mesmo numa noção [...] [mas] as informações que eles nos fornecem têm, geralmente, um alcance que ultrapassa cada caso (BEAUVOIR, 1970, p. 345).

Tenho interesse especial, então, em identificar se as representações da velhice manifestas nas falas dos freqüentadores da UnATI-UNIFAL são erigidas a partir de um conhecimento que deriva da própria experiência de ser velho e como (e se) elas guardam marcas dos discursos científicos veiculados nas ações que caracterizam esse programa de atenção ao idoso. Afinal, se os lugares sociais a partir dos quais representações são construídas determinam sua configuração, também, como já assinalei, posições subjetivas estão em jogo aí. Essa é a dinâmica que procurarei apreender aqui.

À primeira indagação que lhes fiz – “o que o levou a procurar uma universidade aberta à terceira idade (UnATI)?”- obtive, como resposta, um DSC, apoiado na seguinte idéia central:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo Acrescentar atividades e ampliar

habilidades (aprender)

“Eu tinha vontade de estudar mais ... [...] entrei para aperfeiçoar [...] foi a falta de opção mesmo. Porque eu estava me sentido sem o que fazer. É um meio de que eu tenho alguma coisa para fazer, aprender um tanto de coisa diferente [...] aí eu pensei: tenho que pôr atividades na minha vida.

O DSC nos coloca frente a uma representação que, sem dúvida, está sob efeito do conceito de “terceira idade”, explicitada no Capítulo 1 desta dissertação. Nessa perspectiva, se faz notar que "atividade" é o significante que também insiste nessa fala aglutinada. Interessante, ainda, observar que o ideário de uma velhice ativa implica, nesse discurso coletivo, uma relação com o "aprender" e com o "acrescentar": 44% das respostas dadas pelos entrevistados (anexo IV, resultado II) encontram-se na categorização da idéia central explicitada acima, quando o “aprender” aparece como desejo atrelado à vontade de freqüentar o programa em questão. Para além de tal constatação, vale colocar em relevo o fato de que o DSC está em acordo com o reconhecimento dos idealizadores de que “havia uma demanda reprimida” e de que era preciso “integrar o idoso [...]. Oferecer uma proposta alternativa que pudesse trazer o idoso para o desempenho de atividades mais intelectualizadas, mais informativa.”

Se, de um lado, a relação estabelecida entre esses termos nos remete imediatamente ao espaço da universidade - lugar privilegiado de formação/ensino -, de outro, nos coloca frente a uma dimensão de "falta" que, do meu ponto de vista, vem recoberta pelo uso do termo "atividade". Isso se explicita ainda mais quando levamos em conta a fala de uma das entrevistas, EF1, que afirmou que “tinha vontade de estudar mais, que eu tinha vergonha, por modo da minha idade”. Note-se, aí, a marca do estigma do discurso científico que traduz a velhice como uma etapa negativa, marcada por perda, falta. É isso que está em causa quando “vergonha” e “idade” se associam nessa fala. Entretanto, “vergonha” também está em relação com "falta" de estudo (“estudar mais”). Resta indagar se essa última “falta” foi imposta socialmente (fruto, portanto, de marginalização social) ou decorrente de opção subjetiva? De todo modo, se na fala dessa senhora há uma porção de significado que coincide com aquela do DSC (o desejo de aprender), há, também, explicitado, o obstáculo que é preciso enfrentar para fazer valer o desejo de estudar/aprender: a vergonha de ser velho, o que implica subversão de uma representação estigmatizante da velhice.

Eu me arriscaria a dizer que se pode detectar aí uma dimensão de conflito subjetivo que explicita a tese de Mucida, segundo quem “a velhice é, também, efeito de discurso” (2004, p. 28). Parece possível afirmar que uma não-coincidência entre o

discurso social que dá vida à universidade aberta à terceira idade (uma representação positiva da velhice) e a experiência de viver a própria velhice marca a fala dessa senhora. Faz mesmo sentido a idéia de que o "eu" é um "feixe de representações", ou seja, "um lugar onde ocorre um certo encontro entre as muitas representações construídas sobre ele" (ENDO, 2002, p. 41). Acrescento que nesse “feixe” representações contraditórias podem coexistir. É isso que o enunciado de EF1 põe a descoberto.

Chamou minha atenção, ainda, o fato de que a mobilização dessa senhora para fazer valer seu desejo, de aprender, talvez tenha sido deflagrado pela existência de um programa em cuja base de sustentação está, como vimos, a ruptura com o discurso estigmatizante da velhice. Vejo aí a importância de programas como esse – que podem se configurar como espaço de resgate subjetivo – e constato a força – para o “bem” e para o “mal” - das representações da velhice veiculadas nos discursos científicos que se projetam para o imaginário do senso comum.

Uma outra entrevistada, em resposta à mesma questão, traz à tona um outro ponto que não pôde ser condensado no DSC. Segundo EF2, sua procura pelo programa da UnATI-UNIFAL se deu “por causa da depressão”. Embora o termo “depressão” tenha, atualmente, se desgastado muito do ponto de vista semântico, não se pode deixar de tomá-lo como referência a um sofrimento subjetivo, ou seja, uma expressão de mal-estar que excede o orgânico. Note-se que é por essa via que se introduz uma articulação entre velhice e mal-estar ou, mais precisamente, estar mal na velhice. Vale, entretanto, assinalar que, também para esse sujeito, a UnATI- UNIFAL se constituiu como espaço de enfrentamento desse mal-estar.

Exploremos, agora, a segunda questão dirigida aos freqüentadores da UnATI- UNIFAL, qual seja: ”em que medida as suas expectativas foram (ou não) satisfeitas?” . As respostas levaram à seguinte idéia central e o respectivo DSC:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo

Acrescentou aprendizagem e vida Estou bem satisfeito. Eu aprendi em alguns cursos, depois eu comecei a querer ensinar. Agora, eu faço e eu

ensino. O teu ego vai lá em cima! Porque ajudou a vontade mais de viver. Porque a gente preenche a cabeça. Eu gosto de lá!

O DSC indica que o compromisso do programa, explícito na voz de seus idealizadores, de acrescentar vida com qualidade à velhice, parece ter se concretizado: 44% das respostas obtidas dizem respeito à idéia central explicitada acima (anexo IV, resultado II).A experiência de freqüentar a UnATI-UNIFAL traz isso à tona e é preciso considerar que “vida” aqui, como se pode notar, não é apenas uma referência à passagem cronológica do tempo: é uma “outra” vida dentro da vida que já se vivia. Isso porque mudança de posição é proporcionada pelas atividades desenvolvidas. A título de exemplo, trago aquela referida por EF2 que, aluna, se tornou professora da UnATI-UNIFAL. Se nessa mudança não está em causa a assunção de uma posição de investigador (pesquisador científico), ela é resultado de uma abertura de posições ligadas à área de educação. Abertura que acrescenta qualidade à vida vivida na velhice.

Cabe enfatizar que “qualidade de vida” não refere imediatamente e propriamente, aqui, os cuidados com o corpo enquanto matéria orgânica, mas, sim, exercício mais pleno de potencialidades que podem, inclusive, se desdobrar em mudanças de posição social/subjetiva. O velho entra no programa para aprender (como vimos no DSC como resposta à primeira questão) e pode passar a ensinar. Mais que ensinar uma atividade, sua mudança de posição nos ensina que essas posições são intercambiáveis, a despeito da idade.

Vejamos, com mais detalhes, a problemática configurada acima, no modo como se explicita a idéia central, a partir da qual se obteve o DSC para a questão “que mudanças você seria capaz de identificar em sua vida entre o antes e depois da UnATI-UNIFAL?”:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo

círculo social e do bem-estar tinha perspectiva de vida. Hoje me sinto valorizado e meu mundo cresceu. Cresceu as amizades. Eu fiquei mais descontraído ...

Chama a atenção, novamente, que sob as palavras do sujeito coletivo, esteja a oposição bem/mal-estar e que, também, ela não esteja vinculada explicitamente à condição físico-fisiológica e, sim, à posição subjetivo-social. Bem- estar tem a ver com “valorização”, com ampliação de horizontes e com ações que favoreçam o convívio social. Afinal, como afirma Singer, “o sentido perdido pode ser ressignificado no encontro com os outros” (2002: 97). É, no mínimo, interessante reconhecer que o significante que insiste nesse DSC seja “crescimento”. Afinal, “crescer” é termo que refere mais diretamente, tanto no imaginário popular quanto no campo da ciência, outras faixas etárias. Crescer para além, e a despeito de perdas. Esse parece ser um dos sentidos que se constroem em programas, tais como o da universidade aberta. Afinal, 44% das respostas encaixaram-se na idéia central, acima explicitada (anexo IV, resultado II). Uma questão que, como se vê, não pode ser marginalizada nos estudos sobre o processo de envelhecimento e a velhice. Afinal, “se a saúde permanece boa [...], o sujeito consegue compensar as capacidades perdidas até uma idade avançada” (BEAUVOIR, 1970, p. 41).

Nessa mesma perspectiva, vale assinalar, entretanto, uma pontuação singular feita por EF9, que diz: “deixei as tensões ... coisa que eu não conseguia até me aposentar”. No caso desta senhora, a aposentadoria é marco da conquista de uma vida mais tranqüila na qual se tornou possível investir em atividades que, até então, não eram possíveis de serem realizadas. O estigma da “inatividade”, impregnado na configuração do imaginário da aposentadoria, é revertido, neste caso, em função da oportunidade de ampliar horizontes e, mesmo em meio a um convívio social mais intenso, viver de modo positivo a quietude que a velhice também coloca em causa.

Esse cenário, bastante positivo, que parece se configurar no espaço intersubjetivo da UnATI-UNIFAL, no mínimo, nos faz indagar sobre as críticas que os programas das universidades abertas têm gerado. Especialmente aquelas relativas à segregação ... O que recolhi desta investigação vai, como se vê, em outra direção: a importância do apoio coletivo na superação de mal-estar relacionado à velhice.

Nessa medida é que se deve entender a surpreendente porcentagem de coincidência (100%) (anexo IV, resultado II) de respostas à quarta questão – “essas mudanças são positivas ou negativas?”. A idéia central é, na verdade, a condensação de uma unanimidade. Veja, abaixo, o DSC que a refere:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo

Positivas Positivas! A gente faz amizades,

conhece pessoas. A gente adquire auto-confiança e auto-estima. Você vê que você tá crescendo, você tá agradando. É gostoso!

Como se vê, esse grupo social que se forma no âmbito da UnATI-UNIFAL põe em movimento ações e representações que ressignificam modos de transitar pela vida: 88% das respostas dos entrevistados encaixaram-se na idéia central (anexo IV, resultado II) que subjaz o DSC. Se, de um lado, o que está em questão nesse movimento são as relações intersubjetivas, de outro, como indica a presença do enunciado “você tá agradando”, são as relações que se estabelecem com um ideal (outro!) de velho, veiculado nos discursos que servem de sustentação a esse programa de atenção ao idoso. Mas, de fato, que sentido tem “agradar” no enunciado que coloquei em destaque? Difícil arriscar uma resposta ...

Em todo caso, acho que vale a pena pensar em, pelo menos, duas possibilidades de sentido, quais sejam: (a) ser agradável a; causar satisfação a; contentar, satisfazer; (b) sentir prazer, satisfação; comprazer-se20. No primeiro caso, está em foco uma ação dirigida ao outro, mas também, pelo outro, na medida em que ela pode se conformar às expectativas de um imaginário construído fora-de- si-mesmo (por exemplo, a representação social da “terceira idade”). Nessa acepção, agradar é realizar algo que se espera de você. No segundo caso, a ação diz do próprio sujeito, de sua relação consigo mesmo. É verdade que ela não está apartada daquela socialmente partilhada, mas se sustenta na singular diferença que o “agradar a si mesmo” comporta. Vale dizer que, se a relação entre elas não é,

necessariamente, de mútua exclusão, também não é de identidade. Digo isso, levando em conta as palavras de Singer (2002, p. 93), segundo quem “a subjetividade se constrói pelo discurso social, no qual o outro significativo, desde os primeiros momentos, se apresenta como porta-voz [...] do conjunto ao qual pertence”. É nessa relação tensa entre o singular e o coletivo que velhices são vividas e, muitas vezes, como se vê, com prazer.

Em relação às respostas à quinta questão – ”você percebe mudanças em outros participantes da UnATI? Exemplifique.” – configurou-se a seguinte idéia central e o respectivo DSC:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo Mobilização positiva: maior abertura

para si e para o outro.

Muita coisa! A gente percebe. Igual eu tô sentindo, outras pessoas estão sentindo também. Vai se abrindo mais, fica mais participativo. Todos que participam lá, eu acho que muda um pouco por que aprende coisas. Eu sinto a diferença.

No DSC aqui colocado, esclarece-se os benefícios de ingresso no referido programa, condensados na idéia de que propicia-se uma abertura para o novo, tendo como solo a interação social e a experiência concreta de aprender com o outro. O que se recolhe daí? Mudanças que se projetam para a vida cotidiana: 44% das respostas a esta pergunta referem-se à idéia central de mobilização positiva (anexo IV, resultado II). Sobre isso, diz EF6: “digo por mim. Meu marido elogia meus quadros, as coisas que eu faço. E isso é muito bom pra gente”. Como se vê, o olhar do outro joga sempre um papel na constituição de uma imagem do eu – mesmo quando se está velho. O que testemunhamos aqui é o fato de que “para um homem que está satisfeito consigo mesmo e com sua condição, e que tem boas relações com os que o cercam, a idade permanece abstrata” (BEAUVOIR, 1970, p. 360).

Tendo em vista o que já foi analisado, não é de se surpreender que, em resposta à questão “o que você mudaria (matérias, atividades) na UnATI?”, compareçam como idéia central e respectivo DSC o que se encontra explicitado abaixo:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo

Maior oferta de atividades Eu queria é que tivesse mais gente pra ensinar mais coisa. Os cursos e professores são excelentes.

Essa idéia central aglutinou 55% das respostas dos entrevistados (anexo IV, resultado II), mostrando satisfação com o programa. O DSC manifesta o que, na opinião dos freqüentadores, poderia se constituir como uma “falta” relativa ao programa: mais professores e mais disciplinas. Embora o tom, aqui, seja elogioso, sob as palavras do DSC pode-se ler uma crítica. Note-se que esse discurso encontra eco no DSC dos idealizadores da UnATI-UNIFAL, segundo quem, como vimos: “o modelo é bom [...]. Falta investimento. Ninguém é voluntário eterno”. A preocupação com a questão dos professores, que aparece em ambos DSC, revela a necessidade de mais investimentos tanto em infra-estrutura, quanto em professores. Não descarto, entretanto, a possibilidade de ler esse DSC como reflexo de um desejo de ter sempre mais atividades disponíveis (em quantidade e variedade) dentro da UnATI-UNIFAL, pois isso implicaria em mais oportunidades de convívio social e aprendizagem. É bom lembrar que 33% das respostas a esta pergunta referiram-se à inclusão social como ponto forte da Universidade Aberta à Terceira Idade (anexo IV, resultado II). Por outro lado, tanto a extensão universitária no Brasil como a abertura desta à terceira idade, são acontecimentos recentes. Isso nos mostra que, embora as conquistas sejam inquestionáveis nessa área, é necessário um olhar mais atento das Instituições de Ensino Superior, no que diz respeito à questão da extensão e sua relação com a comunidade na qual está inserida.

Para além disso, indago-me também sobre se essa “falta” não seria correlativa a certas representações da velhice no âmbito do poder público e/ou

privado. Se a UnATI é um passo à frente na subversão de tendências estigmatizantes, a dificuldade de canalizar investimentos para sustentar esse passo certamente não pode estar relacionada exclusivamente com a falta de verba para contratação de pessoal. Afinal, a distribuição da verba está em íntima relação com os valores que uma sociedade atribui à longevidade.

Em relação às respostas à questão – ”o que você mais gosta na UnATI (aulas teóricas, atividades físicas, viagens, trabalhos manuais)?” – configurou- se a seguinte idéia central e o respectivo DSC:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo De aprender e de encontrar com as

pessoas

É o conjunto todo. Do jeito deles ensinar, [...] da turma. Independente do curso, o bom lá são as pessoas.

Como se vê, reiteram-se aqui as idéias de que “aprender” e “conviver” são o foco do programa, segundo a ótica dos freqüentadores, já que 66% das respostas fazem referência à primeira e 22% à segunda (anexo IV, resultado II). Vale dizer que, numa proporcionalidade menor, os alunos também fizeram referência explícita à promoção da saúde física. EF8, por exemplo, diz que: “eu gosto das atividades físicas porque parece que é melhor para a saúde. Me sinto melhor”. Não posso deixar de me surpreender com essa proporcionalidade, se levo em conta minha experiência como professora voluntária desse programa de atenção do idoso. Afinal, testemunhei e compartilhei a preocupação dos alunos com a saúde biológica, presente na grande maioria das falas que me era dirigida. Questões sobre prevenção e tratamento de doenças eram constantes. Mas esse dado da experiência não se refletiu diretamente nos dados obtidos nas respostas a essa questão. Talvez porque o discurso que associa vida saudável e realização de exercícios físicos esteja já tão consolidado que nem se entenda que a referência a ele faça sentido. Lembro que os grupos de atividades físicas da UnATI-UNIFAL são indicados por profissionais da área da saúde como meios de prevenção e tratamento.

Em relação às respostas à questão – ”o que você acha da expressão “terceira idade”? Como ela soa para você?” –, configurou-se a seguinte idéia central e o respectivo DSC:

Idéia Central Discurso do Sujeito Coletivo

Fase normal da vida Eu tinha medo de envelhecer. Depois que eu entrei ali, eu já não tenho medo da velhice. Assim, de entrar nessa fase da terceira idade. É uma fase da vida. Chega pra todo mundo. Não vejo nada de negativo na terceira idade. Triste é quem não chega na terceira idade!

Numa visada inicial, nesse DSC, “terceira idade” e “velhice” são termos intercambiáveis e com um sentido positivo. Nessa medida, a resposta a essa questão exibe a mudança conceitual que a introdução da noção de “terceira idade” produziu, como vimos no capítulo 2 desta dissertação. Afinal, 55% dos entrevistados (anexo IV, resultado II) responderam de acordo com a idéia central explicitada acima. Também, não podemos esquecer que além de viver/experimentar novas posições, como já falamos, esses freqüentadores estão sob efeito de palestras, cursos, em que o ideário de velhice bem-sucedida está em foco. É certo que, sob esse discurso, podem ressignificar e, ao mesmo tempo, viver essa etapa existencial. A terceira idade se apresenta, então, como ganho, conquista.

Outros 44% dos entrevistados associaram explicitamente “terceira idade” e saúde (anexo IV, resultado II). A título de exemplo, trago o que disse EF1: “Envelhecer é idade. Por que existe diferença na saúde.” Note-se que envelhecer não comporta necessariamente “ficar doente”, mas, sim, estar em gozo de uma “nova” saúde. Essa condição “diferente” que se manifesta para o sujeito tem relação com o conceito de “normatividade vital”, de Canguilhem, que explorei no capítulo I, e que Beauvoir denomina um “estado normalmente anormal” (1970, p. 350).

Se o tom do DSC relativamente à representação mobilizada pela expressão “terceira idade” é positivo, EF1 representa uma voz um pouco dissonante, já que, para ela, “tem dia que tá tudo bem, tem dia que tá mais difícil. Mas vai indo!”. Não considero propriamente que EF1 sustente uma representação negativa da velhice porque trouxe à tona o ritmo oscilatório que marca a vida, tanto do ponto de vista biológico, quanto existencial. O “vai indo” parece sinalizar para a complexidade que está em causa no viver e que, do meu ponto de vista, se apaga um tanto nesse

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