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Mapa 04 – Imagem de satélite da localização das escolas

4.4 A visão dos professores sobre o conceito de paisagem

Durante as entrevistas e analisando-as posteriormente um fato nos chamou atenção: a semelhança das respostas que os entrevistados deram. No que concerne à noção de paisagem, todos os professores, de maneira geral, responderam que as paisagens eram os aspectos visíveis da realidade, o que se pode ver.

“A paisagem pode ser entendida como a parte visível, enquanto aspectos naturais e sociais, de um determinado local. A paisagem pode ser percebida, não apenas pela visão, mas também, por outros sentidos, isto é, podemos perceber a paisagem pelas cores, pelos movimentos, pelos odores, pelos sons etc. Contudo, o conceito de paisagem sofre diversos tipos de interpretações devido à forma como cada pessoa percebe os objetos que estão ao seu redor de modo distinto”.

Segundo a professora P1,

“Entendo por paisagem tudo aquilo que está no plano da nossa visão e que pode conter tanto elementos naturais quanto elementos culturais, sejam eles do presente ou do passado, e que representa um instante, o momento em que o observador captou aquela imagem. Isso pode ser uma paisagem”.

De acordo com o professor P3, paisagem:

“É o conjunto de elementos naturais e sociais de um determinado lugar. Para Geografia, o termo paisagem pode ser de domínio natural, humano, social, cultural ou econômico”.

Já o professor P4, afirmou que:

“Paisagem é tudo que a nossa visão alcança, ou seja, tudo que podemos enxergar. É tudo que ouvimos ou sentimos”.

A professora P2 afirmou que:

“A paisagem pode ser entendida como a parte visível, enquanto aspectos naturais e sociais, de um determinado local”.

Esses depoimentos demostram que a maior parte dos professores entrevistados, de certa forma, conceituam a paisagem baseados nos conceitos e definições trazidas pela maioria dos livros didáticos. Esse entendimento refere-se à noção de que a paisagem é a aparência dos objetos espaciais e que, de acordo com a dinâmica das relações entre sociedade e natureza, essas aparências são modificadas ao longo do tempo.

As noções de paisagem trazidas pelos entrevistados também permitem inferir que, felizmente, os professores de Geografia não pautam seu entendimento em explicações baseadas no senso comum. Outro ponto observado na entrevista e que vale ser ressaltado, é que, mesmo havendo limitações e certas imprecisões na conceituação de um professor, a maioria dos professores que responderam às questões disseram não possuir dúvidas a respeito desse conceito. Os professores também foram unânimes em dizer que consideram importante o estudo da paisagem no ensino de Geografia.

Alguns professores ao conceituarem paisagem, descreveram alguma paisagem que conhecem e que por ela possuem afetividade, citando uma paisagem que faz ou fez parte de

sua vivência. Isso nos leva a considerar que a afetividade advém dos vínculos que se estabelece com certos lugares de vivência. Nesse sentido, a ideia de afetividade, de maneira explícita ou não, permeia os lugares de vivência e onde se constrói e se fortalecem as relações pessoais. Se tomada nessa perspectiva, a afetividade estaria na paisagem onde se vive e, desse modo, seu estudo se configuraria na abordagem Humanista.

Observou-se que as respostas dos professores foram muito parecidas, mesmo diante da diversidade de significados que o conceito de paisagem assumiu entre as correntes do pensamento geográfico ao longo dos tempos. Assim, considera-se importante que os professores estejam abertos a novas possibilidades que contribuam efetivamente para o desenvolvimento do raciocínio geográfico na construção do conceito de paisagem, uma vez que o professor desempenha um papel de mediador na construção de conhecimentos.

No mesmo sentido foram as respostas dadas às questões com o objetivo de conhecer se eles utilizavam algum autor, referência teórica ou livro para trabalharem o conteúdo paisagem. Todos responderam que utilizam apenas o livro didático, afirmando que é o mais adequado para a idade dos alunos e o suficiente do ponto de vista teórico para trabalhar esse assunto. Segundo o professor P4:

“O único livro que utilizo é o livro didático mesmo, ele é o mais adequado para o nível dos alunos. Mesmo assim, ainda é difícil pois muitos alunos não sabem nem ler”.

A professora P1 afirmou que:

“Os alunos chegam no 6º ano com grande dificuldade para ler e escrever, que mesmo a leitura simples do livro didático ainda é um desafio”.

Nas palavras do professor P5:

“O ensino do conceito de paisagem para ele é muito interessante, pois as paisagens expressam, carregam todo o espaço geográfico que é ensinado em sala. Que as paisagens servem de exemplo para todos os assuntos de Geografia, pois tudo está expresso na paisagem e que essa linguagem visual é mais fácil para o alunos entenderem”.

Nessa mesma linha, o professor P3 considera que:

“O pouco tempo que temos em sala de aula só dá para trabalhar o livro didático. Ele já vem com todos conteúdos exigidos pelo MEC e traz exercícios sobre o assunto que estamos trabalhando”.

No que se refere à questão dos procedimentos utilizados para se trabalhar o conteúdo paisagem, os professores também deram respostas parecidas, afirmando que trabalham esse conteúdo através de aulas expositivas fazendo uso das imagens trazidas pelos livros didáticos.

paisagens de São Paulo do Potengi no ensino do conteúdo paisagem, os professores afirmaram que tentam relacionar o conteúdo e as imagens das paisagens trazidas pelos livros didáticos com as paisagens locais, citando exemplos de paisagens locais em sala para os alunos terem mais compreensão do que seja paisagem. Ao serem questionados sobre aulas de campo, os professores responderam que têm dificuldades em realizar aulas externas por falta de recursos e pela indisciplina dos alunos. O professor P5 também afirmou:

“Eu não faço aula de campo, pois tenho medo de sair com os alunos devido à responsabilidade necessária para a realização de uma atividade como essa. A cidade está muito perigosa e se alguma coisa acontecer com os alunos será culpa minha”.

Durante a entrevista e análise posterior, nos chamou atenção às respostas dos professores entrevistados quanto à preocupação deles em relação aos conteúdos em detrimento aos recursos didáticos para ensinar, dando a impressão de que os professores estão mais preocupados, sobretudo com os conteúdos escolares, ou seja, o que ensinar e não como ensinar. Alguns afirmaram que a falta de tempo termina dificultando o desenvolvimento de metodologias que venham diversificar a maneira de ensinar Geografia e eles terminam seguindo o índice do livro através, em sua maioria, de aulas expositivas.

Todos os entrevistados afirmaram que a paisagem é sempre um dos primeiros conteúdos a serem desenvolvidos, já que ele normalmente está no início do livro didático.

Durante as entrevistas, também percebemos que os professores entendem a natureza como algo externo ao homem, que existe sem a intencionalidade humana. Aquilo que foi modificado, que teve a interferência humana deixa de ser natureza.

Ao analisar as respostas dos professores, percebemos uma dicotomia entre o homem e a natureza, o entendimento da paisagem por eles parte de uma sobreposição dos elementos, não de uma integração deles. Pelo que podemos constatar, segundo os professores, na paisagem natural, não existe a presença humana; já na paisagem modificada o homem estaria presente.

Tradicionalmente, os geógrafos diferenciavam a paisagem natural e a paisagem modificada ou cultural. Diziam que a paisagem natural se referia aos elementos combinados como terreno, vegetação, solo, rios; enquanto a paisagem cultural inclui todas as modificações feitas pelo homem, inclusive os espaços urbanos e rurais.

Essa concepção de paisagem pode ser observada na fala do professor P4, quando ele afirma que:

“Paisagem é tudo aquilo que nós descortinamos a nossa frente, pode ser paisagem natural ou modificada pelo homem. É tudo aquilo que os nossos olhos alcançam. Tudo é paisagem,

mas elas se diferenciam, por isso esta separação entre paisagem natural e modificada. Paisagens naturais são as florestas, as montanhas, os riachos e a paisagens modificadas são as cidades, vilas, povoados”.

Assim como também, no depoimento do Professor P5, quando ele afirma que:

“A paisagem pode ser natural, ou modificada. Está presente naquilo que não enxergamos também. Por exemplo: enxergamos uma casa, não o trabalhador, a pessoa que mora ali, todas as ações que envolvem a família, amizade, valores. O ser humano está presente apesar de não o enxergarmos”.

Através dos depoimentos, percebe-se a compartimentação que alguns professores fazem da paisagem, como se a paisagem natural que descrevem não fizessem parte, ao mesmo tempo, da paisagem humanizada. É como se o espaço não fosse interligado, mas sim partes isoladas sem relação entre si. Esse entendimento desconsidera a complexidade da paisagem no sentido de concebê-la de forma sistêmica, onde os vários elementos que as forma atuam indissociavelmente.

Entretanto, também verificamos nas respostas algumas concepções em que se considera a paisagem como resultado das dinâmicas dos elementos naturais e humanos, sem separá-los. Isso foi observado quando a professora P2 afirmou que a “paisagem é tudo aquilo que nos rodeia” ou quando o professor P3 conceitua a paisagem em “tudo aquilo que a gente vê e aquilo que não vemos, mas que está materializado, tudo isso vai constituindo a paisagem. É neste sentido que tento trabalhar com os alunos. Enfim, paisagem é tudo que eu vejo, mas também aquilo que não vejo, que de certa forma se materializa no espaço, através das relações”.

Pode-se perceber que a professora P2 e o professor P3 caracterizaram a paisagem de uma forma mais integrada, ao menos não separaram nas suas conceituações a paisagem natural e cultural como se elas existissem separadamente no espaço geográfico. O professor P3 aborda ainda a subjetividade presente nas paisagens, já que cada um, de acordo com a sua trajetória e experiência, percebe a paisagem de forma diferente.

Dito de outra forma, entende-se que essa compreensão da paisagem e seu ensino pelos professores entrevistados é uma construção contínua social e ao mesmo tempo particular, onde se sobrepõem a identidade, os conhecimentos, a memória e os sentimentos de cada deles, associados ao processo cultural que remete à organização coletiva em que estamos inseridos, com toda sua carga simbólica.