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Mapa 04 – Imagem de satélite da localização das escolas

4.6 As observações realizadas na semana pedagógica das escolas

O primeiro momento da observação ocorreu com a nossa participação em dois dias da semana pedagógica das Escolas inseridas na pesquisa, ocorrida entre os dias 05 a 09 de fevereiro de 2018. Nossa participação foi autorizada após termos conversado com os diretores das escolas sobre o trabalho que estávamos realizando e se justificou pelo fato de muitas

17 Saída do professor Felipe Silva, que pediu exoneração da Prefeitura de São Paulo do Potengi após ter passado

práticas pedagógicas estarem condicionadas aos encaminhamentos das ações que a comunidade escolar planeja durante esses dias. A semana pedagógica em uma escola deve ser o momento em que os gestores e toda equipe pedagógica reunem-se para projetar os 200 dias de um ano letivo. Também é o momento para integrar os professores novos, mostrando a eles a cultura da escola, com relação ao modo de trabalhar do grupo. Além disso, é nesse encontro que deve-se apresentar a todos os docentes as informações necessárias sobre as turmas para as quais irão lecionar.

Geralmente a semana pedagógica é planejada pelos gestores, que devem executar o cronograma pré-determinado e, principalmente, acompanhar os resultados ao longo do período letivo.

De maneira geral, a semana pedagógica das Escolas teve como encaminhamentos a recepção de boas-vindas aos professores, seguida das devidas apresentações e um lanche. Posteriormente, as gestões das Escolas explicaram o contexto em que as escolas se situam, relatando a Cidade de São Paulo do Potengi no momento e, inclusive, alterando a rotina das Escolas na medida em que as aulas do turno noturno estão terminando mais cedo em virtude dos alunos não permanecerem ficar até às 22h devido à insegurança no percurso de volta para suas residências. Foram informadas também algumas regras existentes na Escola quanto à utilização das salas de informática, biblioteca, pátio, bebedouros, uso da farda e quanto aos novos materiais adquiridos pela Escola, como: aparelhos de ar condicionados, quadros de lousa e computadores.

Foram apresentados alguns projetos institucionais em que a escola mobiliza a comunidade e as famílias dos alunos. Entre eles, podemos citar o projeto que as duas escolas desenvolvem com aulas preparatórias para o exame de seleção do IFRN – Campus São Paulo do Potengi e o clube da leitura, sendo essa uma parceria com os professores de língua portuguesa do IFRN na Escola Deputado Djalma Marinho.

Apesar da solicitação, não tivemos acesso ao Projeto Político Pedagógico das Escolas (PPP). Quanto ao planejamento por parte dos professores, foi destinado um momento para isso, mas surgiram outras demandas, como a divisão das turmas e das aulas nos turnos matutino e vespertino, o que terminou prejudicando a reunião das equipes.

Por fim, foi reservado um momento para os professores elaborarem sugestões para melhorar o desenvolvimento da Escola, onde as principais sugestões giraram em torno do desinteresse e da insegurança dos alunos.

Pelo que pudemos observar, a semana pedagógica das Escolas se concentrou mais nas questões administrativas, reservando pouco tempo para o planejamento das ações pedagógicas

por parte da comunidade escolar. Mesmo assim, as observações feitas nos levaram a refletir que a Geografia, enquanto disciplina do Ensino básico, continua tendo um papel fundamental na formação das crianças e jovens que estão nas escolas, pois verificamos que o problema da insegurança e do desinteresse dos alunos foram os mais discutidos na semana pedagógica. Quanto à insegurança, ela sempre foi uma característica marcante nos grandes centros urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, mas que nas últimas décadas tem chegado em cidades médias e pequenas. São ações criminosas que se refletem na organização espacial e terminam se materializando nas paisagens. Casas com grades, cercas elétricas e muros altos, ruas desertas em virtude do medo, comércios fechando mais cedo e pessoas que já não ficam conversando nas calçadas com medo dos assaltos. São ações sociais que estão transformando as paisagens das cidades do interior em ―paisagens do medo‖.

Esse medo sentido pela população de São Paulo do Potengi é um sentimento que cresce entre as pessoas, é resultado da construção social e, nesse sentido, consideramos que ele pode e deve ser estudado e trabalhado nas aulas de Geografia como fruto da cultura, como paisagem. Estas paisagens do medo, como Yu-Fu Tuan (2005) considera, são inúmeras, quase infinitas, provenientes das forças do caos, naturais e humanas. Assim, praticamente toda a construção humana, sendo material ou imaterial, é um componente da paisagem do medo, pois deve sua existência à tentativa de conter o caos (TUAN, 2005).

Essas paisagens do medo na cidade de São Paulo do Potengi, as quais também tivemos oportunidade de presenciar, poderiam ser estudadas numa perspectiva histórica, trazendo relatos da população e as imagens do passado e do presente as mudanças na paisagem. Tuan (2005) afirma que seria impossível estudar as paisagens do medo sem o campo da história, pois a temporalidade é necessária para a sua investigação. Para ele, as paisagens do medo não são permanentes e imutáveis. Por isso é necessário abordar as paisagens do medo, tanto da perspectiva do indivíduo quanto do grupo, e colocá-las, ainda que sob a forma de tentativa, em marco histórico.

Essa insegurança observada e trazida pelos professores, a partir das experiências próprias e pelos relatos dos alunos, pode estar relacionada com o desinteresse dos discentes em frequentar a Escola ou a deixá-la no decorrer do ano letivo. Foram questões dessa envergadura que surgiram na semana pedagógica e que podem ser trabalhadas pela Geografia escolar, inseri-las no contexto dos conteúdos trazidos pelos livros didáticos relacionando-as num jogo de escalas espaciais, explicando para os alunos que o aumento da criminalidade em sua Cidade não é algo e isolado e que a paisagem de sua Cidade está se transformando por ações que têm origem externas.

Isto posto, concluímos que a participação na semana pedagógica não foi o que esperávamos quanto à absorção das informações referentes ao planejamento das escolas e dos professores de Geografia para o ano letivo de 2018, mas nos forneceu contextos de discussões riquíssimas no sentido de refletirmos sobre outros problemas que de maneira direta e indireta, interferem no processo de ensino e aprendizagem.

No que diz respeito à observação realizada em sala de aula, foram feitas de acordo com o roteiro (anexo 2). De que maneira os professores introduzem esse conceito em sala de aula, se eles relacionam o conteúdo ou conceito de paisagem com os saberes dos alunos, se relacionam as paisagem locais com as paisagem globais, se os professores trabalham o conceito de paisagem numa perspectiva mais ampla, ou seja, numa abordagem que leve em conta outros aspectos de sua formação e aparência, assim como sua história e os seus significados.

Para efeito de organização didática, traremos os resultados e as considerações das observações diretas e sistemáticas das aulas dos professores seguindo as questões previstas no roteiro (anexo 2).