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CAPÍTULO 3 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COMO QUESTÃO

4.3 PELAS MUITAS MÃOS: EM BUCA DO ELO PARA A ASSISTÊNCIA AO IDOSO

4.3.6 A visão dos usuários sobre a política de Assistência

Para identificar a visão dos usuários sobre a política de Assistência, foi realizado um grupo focal com 08 idosos, usuários de alguns serviços e benefícios da Assistência, por entender que são os maiores interessados no desenvolvimento da política de Assistência. A opção pelo grupo focal é baseada na importância do sujeito coletivo no debate das mais diversas temáticas e a intencionalidade do pesquisador que é dar voz a um grupo seguindo alguns critérios para a escolha dos sujeitos.

A escolha partiu do critério que foi residir no município de Vitória. Em seguida, idosos que já participavam de um Grupo de convivência para garantir a acessibilidade de todos os sujeitos. O referido grupo é o da Universidade Aberta à Terceira Idade – UnATI/Ufes, que também foi escolhido por ser uma realidade já conhecida pela pesquisadora.

Além da participação no Programa UnATI, fizeram parte do grupo idosos que utilizavam algum serviço da política de Assistência, participantes de Centros ou Grupos de Convivência no município de Vitória, ou que recebiam o BPC ou ainda que fosse referenciado em algum Cras do município.

Trata-se de um grupo heterogêneo, que reside nas regiões do Centro e Jardim da Penha. O que se percebe é que os idosos de ambas as regiões possuem pouca informação a respeito da política, o que numa primeira análise mostra que em se tratando de idosos, a falta de informação independe da classe social a que pertence. O que aparece, neste sentido, é que os motivos para tal desconhecimento podem ser os mais diversos.

Embora aparentemente de forma inconsciente, o grupo apontou para a questão da intersetorialidade, ao falar de serviços que são responsabilidade de outras políticas, sendo que os idosos citam os serviços da saúde, educação, esportes e lazer, por exemplo, sem os diferenciar e relacionar com as políticas públicas específicas. Outra questão que marcou a compreensão do grupo foi a respeito da discriminação que ocorre ao segmento idoso. Essa questão foi apontada sem grandes problematizações pelo próprio grupo, mas denuncia que, embora se tenham alguns serviços de atenção ao idoso, há muita discriminação e desrespeito ao cidadão

idoso que já dedicou seus melhores dias trabalhando para contribuir com a sociedade atual.

Conhecimento sobre a PNAS

Foi perguntado ao grupo se conhecem ou sabem da existência da política de Assistência. Um dos idosos inicia sua fala relatando a existência do Estatuto do Idoso e a política, referindo-se à PNI. Outro afirma que existe, mas precisa circular melhor, pois falta divulgação. “É preciso divulgar para nós ficarmos mais a parte e cobrarmos do Estado que não está preparado. Tem alguma coisa pronta que eles (Estado) fazem, mas não dá a devida atenção e divulgam muito pouco”.

Acompanhamento do processo de implantação dos equipamentos sociais para o idoso pela Prefeitura de Vitória

Nesta questão foi necessário citar alguns exemplos, como os Cras e os Creas, academias na comunidade e Centros de convivência. Os idosos afirmaram que as academias não são usadas somente pelos idosos e que a comunidade como um todo utiliza os aparelhos, sugerem que é necessário alguém para tomar conta e ter um professor para orientar e acompanhar os idosos.

Ações da política que o grupo conhece

Foi citado como exemplo o BPC para elucidar a questão e problematizar, mas o debate segue em direção aos grupos/centro de convivência. Um dos entrevistados afirma que no seu bairro os professores, referindo-se ao centro de convivência, tem muito boa vontade, mas não recebe da prefeitura todo o apoio e outro relata, “[...], por exemplo, estão faltando professores, muitas promessas não são cumpridas em relação a varias coisas, há boa vontade para execução das ações, mas falta apoio do poder público”, e isto na avaliação de um dos entrevistados “se deve, talvez porque a prefeitura, na última eleição, está devendo muito.”

Outro entrevistado falou da importância das campanhas de vacinação e da necessidade de acompanhamento de saúde nas atividades físicas (academia comunitária), pois o idoso faz ginástica sem saber o que realmente deve fazer. Esse é um indicativo do debate que se aflora entre os usuários dos serviços sobre a intersetorialidade. Os sujeitos podem a princípio não compreender o conceito e o

que está estabelecido na política, mas compreendem na prática, dizendo exatamente onde e em que sentido as políticas devem se articular.

Atividades consideradas importantes para os idosos em Vitória

Um entrevistado citou como importante na sua vida, aulas de italiano e informática, prestados pelo poder público. Enfatizou ainda que existem ações municipais e pelo governo do Estado que podem se configurar em uma demanda de atendimentos diferentes daqueles existentes nos Centros de convivência atualmente. Em outras palavras, o idoso busca na atualidade se inserir em espaços ocupados, em sua maioria por jovens e adultos em busca da profissionalização, mesmo que o seu intuito seja outro. O que parece é que atividades de integração e grupo como são oferecidas nos equipamentos da proteção básica pode não interessar a uma parcela do segmento idoso. Portanto, concorda-se que a primeira ação a ser desenvolvida pelos técnicos da política é realizar um diagnostico sobre as reais demandas e promover ações a partir desse diagnóstico, tornando a política de fato construída participativamente pelo Estado e pela Sociedade.

Ações que faltam na avaliação do grupo

Um dos entrevistados citou a valorização do ser humano, no sentido de que faltam ações para melhorar a auto estima, ações que coloquem o idoso em sintonia com o mundo moderno, informatizar, ficar atualizado para conversar com o “netinho”. São situações para que a pessoa se sinta valorizada.

Outra questão apontada foi em relação ao transporte público, que na avaliação do grupo ainda é deficiente e a Prefeitura de Vitória tem uma dívida com a população para melhorar a mobilidade na cidade. Relatam que falta também mais sensibilidade da juventude no trato com o idoso, particularmente em ambientes públicos, como nos transportes públicos, nos assentos ocupados por outras pessoas. “Quantas vezes, as pessoas sentam, aí vê que está entrando um idoso e logo vira a cabeça para o lado. Outros lugares já melhoraram muito, já temos lugar em supermercado, banco”.

Outro aspecto que compareceu foi a respeito dos critérios de elegibilidade do Benefício de Prestação Continuada, e após ser feita uma explanação sobre o

benefício garantido pela Loas, a fala de um idoso foi no sentido de que é muito descaso com o idoso e reflete:

A gente trabalhou a vida toda. Tem gente hoje que não tem nenhuma renda, o companheiro ou marido ganha pouco será que não podia dar uma renda extra para o idoso que já trabalhou tanto, mesmo que não seja fora, mas em casa? Deveria ser uma aposentadoria digna”.

Avaliação das ações emergenciais da política de Assistência

O grupo rapidamente identificou a questão das chuvas e enchentes na Grande Vitória no final do ano de 2010 e questiona: “Estas chuvas que estão acontecendo na região de Viana, não existe lá algum apoio? A gente só vê a Defesa Civil. A Assistência Social não aparece em nenhum momento?

Essa questão levantada pelo grupo pode estar relacionada a vários fatores. A primeira impressão que se tem é de que a população, em geral, ao ver noticiadas situações de desastres climáticos, como a citada pelo grupo, não consegue perceber o conjunto de ações empregadas cotidianamente pelo poder público e geralmente não são colocadas na mídia. Isto não quer dizer que estas ações sejam suficientemente satisfatórias. Ainda numa visão mais crítica, o que retorna ao debate é a falta de divulgação das ações previstas na política também já relatada pelo grupo, anteriormente.

Proteção social especial de alta complexidade: asilamento

Na medida em que a população está envelhecendo, o Brasil dentro dos próximos 15 anos será um país completamente mudado em relação à realidade etária. A entrevistadora relata que a população está vivendo mais, porém Vitória tem uma única Instituição de Longa Permanência, conhecida como Asilo dos Velhos, que é uma entidade filantrópica e o município tem responsabilidades nesse debate, porque alguns idosos, por diversos fatores da sociedade contemporânea, não vão permanecer na sua família, ou os filhos se foram, ou esses idosos não construíram laços suficientes para permanecerem dentro de casa. Então o que existe hoje no município de Vitória são entidades privadas e uma filantrópica e a “prefeitura” fala que a família, a comunidade que tem que se responsabilizar. Nesse sentido, o que o grupo pensa sobre a questão?

Para o grupo, esse é mais um descaso do poder público com o cidadão idoso já discriminado e prossegue:

Então quer dizer e se (o idoso) não tem dinheiro para colocar no abrigo particular de idoso e nem receber o benefício da assistência para onde que vai? Como é que vai ser isso? Então eles (poder público) deveriam pensar um pouquinho mais nos idosos, principalmente os idosos carentes que precisam dessas coisas. Vamos aguardar o que eles vão fazer, ‘né’. Estamos esperando, o que vai sair eu não sei.

O problema é que essas coisas nunca são de hoje para amanhã e dependem do poder público. Um idoso afirmou nunca nem ter ouvido falar que existem essas casas de referência para idoso. Só tem mesmo o Asilo dos Velhos.

Outra fala foi em relação à família que tem a obrigação de cuidar, mas se questiona sobre os ínfimos valores de aposentadoria e benefícios insuficientes para as grandes demandas do envelhecimento. Outro relata que visitou o asilo uma vez e saiu de lá muito triste.

“É uma coisa terrível, tem a ala dos homens que ficam olhando para o tempo, esperando o tempo passar. A impressão é que não tem atividade nenhuma. Natal e dia do idoso a televisão vai lá. Esse é um movimento que a sociedade também tem que fazer, vocês sabem que a gente tem que reivindicar”?

Proteção social básica: Centros e Grupos de convivência

O grupo é unâmine em relatar a boa vontade dos professores e a falta de estrutura pública para os trabalhos. “Agora a desculpa é que a prefeitura está quebrada, aqueles aparelhos foram colocados antes da eleição, da noite para o dia para a gente ver. A gente se questiona se é preocupação real deles (prefeitura), mas dos Centros de convivência, todo mundo fala maravilhas”.

Uma questão que foi colocada em relação à necessidade de reivindicar mais e ainda somos muito tímidos nesse processo. Um dos idosos inicia sua fala de que a própria família intimida e desestimula os idosos a serem eles mesmos. Para ele:

“não nos deixam ter vida própria” e sobre a questão da violência com idosos denuncia que, “além de tomarem o que eles (idosos) têm,

para se apropriar das coisas dos idosos, e às vezes até maus tratos também e quando o idoso conta para alguém que está sofrendo isso corre risco de perder a família, e ai como fica”?

A esse respeito, outro idoso destacou as múltiplas formas de violência contra o idoso que a mídia tem destacado e ressaltou um problema recorrente na atualidade que é a gravidez precoce sem planejamento e o envolvimento de toda a estrutura familiar e salienta que “ao invés das avós virem aqui para a UnATI ou para Centros de convivência, ficam em casa cuidando dos netos”. Citaram ainda vários tipos de problemas enfrentados, como a violência financeira; ter que cuidar dos netos; volta dos filhos para casa e a violência física e intelectual quando o idoso é privado de sair de casa. Ressaltaram que são muitos os fatores que impedem o idoso de ter uma vida normal, de gozar da liberdade que deveria ser conquista após tantos anos de vida dedicados aos filhos, marido, afazeres domésticos.

Além dessas questões que comparecem no cotidiano dos idosos, existem outras formas de abuso contra idosos e talvez a forma mais insidiosa resida nas atitudes negativas e estereótipos, em relação aos idosos e ao próprio processo de envelhecimento, atitudes que refletem no freqüente culto à juventude. Enquanto os idosos forem desvalorizados e marginalizados pela sociedade, eles sofrerão de perda de identidade e permanecerão extremamente suscetíveis à discriminação e todas as formas de abuso (CADERNO DE VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA IDOSA, 2007).

Proteção social especial de média complexidade: Violência contra o idoso

A violência contra o idoso, para o grupo, começa na família. E nesse sentido, foi questionado se o grupo conhece algum tipo de ação da prefeitura no combate à violência. Os idosos afirmaram não conhecer nenhum tipo de ação por parte da prefeitura, mas conhecem a denúncia nas delegacias (polícia).

O grupo retoma a origem da violência, dizendo que muitas vezes parte do cuidador, da família, mas sabem que é difícil alguém denunciar e um idoso conclui: “parece que esse assunto é escondido”. Simone de Beauvoir, em seu clássico livro, A Velhice (1990), afirma que há uma "conspiração do silêncio" contra a velhice, manifestada por alguns grupos sociais que perpetuam uma imagem de velhice como fase temida e apavorante da vida. A violência contra a pessoa idosa é parte dessa conspiração.

É preciso romper o véu do silêncio que cobre o assunto. Pesquisas informam que a violência à pessoa idosa ocorre na sua grande maioria no contexto familiar, praticada por um membro da família da pessoa idosa. Muitas vezes, em defesa do agressor (filho, filha, neto, neta...) o idoso se cala, omite e, muitas vezes, somente a morte cessará a cadeia dos abusos e maus tratos sofridos. É muito difícil penetrar na intimidade da família. Se para mulheres em situação de violência, em muitas situações, é difícil denunciar o marido agressor, para as pessoas idosas a dificuldade acentua-se muito mais em denunciar ou declarar que seus filhos são os agressores. Muitas pessoas idosas se culpabilizam pela violência sofrida ou então ou acham que é normal da idade sofrer a violência (CADERNO DE VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA IDOSA, 2007).

A pesquisadora retoma o assunto sobre os serviços públicos e informa que a prefeitura tem estabelecido os Centros de Referência Especializados para a Assistência Social (Creas) para cuidar desses problemas de violência, portanto a maioria dos idosos afirmou não conhecer esse serviço e o antigo Nucavi já haviam ouvido falar, mas não conheciam seu funcionamento. Isso deveria ser divulgado pela mídia. Consideram então que a divulgação dos serviços pela prefeitura não é satisfatória, que pagam muito caro pelos impostos e não tem retorno e só tem retorno quando é de interesse político. Portanto, a estruturação dos serviços para a população idosa no município de Vitória, segundo o grupo entrevistado, deixa a desejar.

Entrevista com um idoso usuário do BPC

Dentre os entrevistados, havia um idoso usuário do BPC. Perguntou-se ao idoso sobre o que ele conhece em relação a esse benefício. A resposta foi no sentido de que ele se considera ao mesmo tempo aposentado e não aposentado. “Ainda tenho dúvida, não tenho segurança de nada. Trabalho desde os 10 anos na roça, depois na cidade e ainda continuo trabalhando, mas ainda não aposentei. Tenho direito só ao benefício e, mais nada, é só aquele troco mesmo”.

O entrevistado não conhece nenhum outro serviço ou benefício da política e sobre o que seria necessário para melhorar o BPC, fala sobre ter os direitos garantidos como os demais trabalhadores aposentados, a exemplo do 13° salário e poder fazer empréstimos.

Eu chego ao banco, perguntam se sou aposentado, eu recebo benefício e o documento não consta. Não tenho direito nenhum não, é só aquilo mesmo e pronto. Tenho somente 12 anos de contribuição, eles fizeram as contas lá, tem 12 anos, mas tem mais. Eu perdi alguns documentos que trabalhei no Rio, em São Paulo. Trabalhei em uma porção de lugares, mas não consigo comprovar e não sei se os patrões pagaram os impostos.

Sobre o que poderia melhorar em relação à atenção pública ao idoso, o entrevistado afirma que a maior questão é a saúde e declara que “a saúde não é boa, a consulta a gente tem que correr atrás e comprar até o remédio e “não tem condições de viver com esse valor de 545 reais, bom, a gente tem que se consolar”.

O que poderia mudar neste benefício, o entrevistado não soube responder, mas retomou a questão dos direitos que não são iguais àqueles que são aposentados.

5. CONCLUSÃO

“De nada valem as idéias sem homens que possam pô- las em prática” (KARL MARX).

Analisar a estrutura da rede de proteção social preconizada pela PNAS para a população idosa no município de Vitória foi uma tarefa desafiadora, e em vários momentos trouxe questionamentos sobre qual direção seguir. A quantidade de leitura, a dinâmica das aulas, os debates, o cumprimento de várias tarefas associadas aos afazeres da vida cotidiana e profissional, marcaram veementemente a construção do conhecimento dia após dia, mês após mês.

Diante de tal dinâmica, percebeu-se um momento ímpar na sociedade atual. Mudanças substanciais em todas as esferas da vida, no âmbito econômico, político e principalmente no social, que ao mesmo tempo em que possibilitam a alguns usufruir do avanço tecnológico, da globalização cultural, do intercâmbio de conhecimentos e de informações, por outro lado coloca grande contingente da população em condição de pobreza.

Na sociedade capitalista, o papel exercido pelo Estado sempre se modificou de acordo com a dinâmica das forças sociais e políticas, sendo possível afirmar que a questão social é um fenômeno inerente às relações sociais no modo de produção capitalista e as políticas sociais estão intimamente relacionadas ao reconhecimento da questão social. Sabe-se que as políticas de proteção social são resultado de lutas de classe, expressando, portanto, as contradições e os antagonismos dessas classes, através da luta para apropriação de riquezas que são coletivamente construídas.

O resultado da pesquisa teórica sobre política social revela que a combinação de políticas sociais efetivas e um crescimento econômico duradouro e sustentável, ainda representam uma esperança, um sonho distante, para a redução do grau de desigualdade e pobreza na sociedade brasileira, uma vez que a política social é idealizada num campo permeado pela relação de interesses contraditórios para apropriação da riqueza social. Na perspectiva de Silva (2004), a política social é concebida como uma arena de confronto de interesses em torno do acesso à riqueza social, na forma de parcela do excedente econômico apropriada pelo

Estado. A política social está em permanente contradição com a política econômica, uma vez que aquela confere primazia às necessidades sociais, enquanto esta tem como objeto fomentar a acumulação e a rentabilidade dos negócios na esfera do mercado.

O predomínio da política neoliberal, em um contexto sócio-político-econômico complexo, marcado pela globalização da economia da informação, da cultura, faz pensar na necessidade de alternativas para as relações entre o Estado e sociedade, capaz de proporcionar bem estar social. A política neoliberal adotada nas últimas décadas não é capaz de conjugar o verbo “distribuir” de forma igualitária para a sociedade e apenas uma pequena parcela tem usufruído da riqueza socialmente produzida, em detrimento da maioria de cidadãos, que vivem à margem desse usufruto.

Quanto à Assistência Social, suas determinações históricas e políticas pautadas no assistencialismo, favor, caridade, ainda são grandes desafios para sua efetivação como política pública ao lado da Saúde e da Previdência. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, é enfim regulamentado no Brasil um sistema de proteção social considerado como um novo padrão de política social: transformou em direito o que sempre fora tratado como favor, reconhecendo os desamparados como titulares ou sujeito de direitos, além de garantir que possam reivindicar tais direitos.

No entanto, a nova concepção de Seguridade Social vai encontrar inúmeras dificuldades na sua efetivação. Desde a superação das práticas clientelistas e autoritárias, ainda fortemente presentes na sociedade brasileira, até a nova configuração capitalista mundial.

Uma das dificuldades diz respeito ao panorama internacional, que se apresentou imerso numa crise – década de 1970 - de grandes proporções e adotando saídas que iam de encontro ao Estado interventor. Como afirma Montaño (2002, p.35)

[...] paradoxalmente, o caráter tardio do novo “pacto social” brasileiro (na inspiração do bem-estar público garantido pelo Estado) vem à tona no momento em que internacionalmente ocorriam processos que punham em questão o próprio Welfare State e o chamado “socialismo real”; quer dizer, esse novo “pacto social” surge, no