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CAPÍTULO 3 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COMO QUESTÃO

3.1 O BRASIL QUE ESTÁ ENVELHECENDO: DADOS E PROJEÇÕES

O envelhecimento populacional, segundo Camarano (2002), pode ser entendido como um fenômeno social caracterizado pelo crescimento da população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia sua participação no total da população em relação aos outros grupos etários.

Estudos têm sinalizado um rápido aumento do número de idosos no Brasil. Segundo o censo do IBGE em 2000, o país já abrigava 14,5 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), em 2002 mostrou que 16 milhões era o número de cidadãos maiores de 60 anos, com estimativa de que, em 2025, 15% (aproximadamente 34 milhões) da população será constituída por idosos.

Camarano (2002) destaca que a participação da população idosa na sociedade brasileira dobrou nos últimos 50 anos, passando de 4% em 1940 para 9% em 2000. Também, a proporção da população “mais idosa”, ou seja, acima de 80 anos, está aumentando e em ritmo bastante acelerado. Esse tem sido o segmento populacional que mais cresce, embora ainda apresente um contingente pequeno. De 166 mil pessoas em 1940, o contingente “mais idoso” passou para quase 1,5 milhão em 1996. Representava 11,7% da população idosa em 1996 e 0,9% da população total. Isso posto, o fenômeno do envelhecimento brasileiro deve ser analisado tendo em mente as dimensões que o envolvem. Para o IBGE (2004), tal fenômeno deve-se, dentre outros fatores, ao aumento da expectativa de vida, graças ao avanço da ciência, da redução da natalidade e da menor incidência da mortalidade infantil. Além da redução significativa na mortalidade infantil, o crescimento da população idosa está também relacionado à queda da taxa de fecundidade. No Brasil, segundo os dados do IBGE, 44% das mulheres em idade reprodutiva tem cerca de dois filhos, tendendo a decair, segundo as projeções feitas para os anos de 2010 e 2020. Somado a isso, dados do IPEA (2011, p.02) mostram que as “projeções populacionais recentes apontam para uma taxa de crescimento populacional de 0,7% a.a. para a década 2010-2020 e negativa entre 2030-2040”.

É inegável que o envelhecimento da população mundial e em especial da população brasileira é um fenômeno irreversível tal como revela a dinâmica demográfica. O velho ditado que caracteriza o Brasil como “um país de jovens” precisa ser relativizado ou mesmo abolido já que a projeção para as décadas futuras sinalizam para um importante decréscimo da taxa de fecundidade, mudando inclusive o dito popular para “uma nação de cabelos brancos”.

Não é difícil de perceber que o processo da queda de fecundidade e do envelhecimento tem passado por:

[...] transformações acentuadas nos arranjos familiares. Desde os anos 1970, esta sociedade tem assistido a uma queda acelerada na fecundidade e na mortalidade nas idades avançadas, e as mudanças no padrão de nupcialidade, [...] concomitante ao aumento generalizado da escolaridade feminina, a inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho e às modificações nos sistemas de valores (IPEA, 2011, p. 01).

O decréscimo na taxa de mortalidade infantil também é um dado expressivo nessa análise e justifica-se, sobretudo, pelas melhorias no sistema de saúde e infra- estrutura das cidades, resultando em quedas significativas do número de doenças infecto-contagiosas. O avanço da medicina, maior acesso aos serviços de saúde, antibióticos, vacinas, nutrição saudável, dentre outros fatores, viabilizaram o aumento da expectativa de vida e a queda da mortalidade (PAPALEO, 1996).

Portanto, a geração de 1970 foi quem experimentou tais conquistas por um lado, marcando o início de um novo cenário demográfico, dos padrões de qualidade de vida, mas por outro, essa dialética da vida traz inúmeros desafios como, na percepção de Gomes (2008), “um horizonte [...] matizado por um claro-escuro que denota possibilidades, por um lado, mas que ainda se caracteriza por uma imensa vulnerabilidade e um pesado ônus, sobretudo para as classes economicamente menos favorecidas e que por isso mesmo, deve ser entendida a partir dessa dialética.29” (GOMES, 2008, p. 60).

Ser velho numa sociedade de capitalismo tardio, como o Brasil, definitivamente não é o mesmo que ser velho em países centrais, conforme dito em outros momentos.

29 “Guita Debert [...] problematiza o idoso como fonte de recurso, numa alusão à velhice ativa que se traduz por

representações gratificantes na 3ª idade, o que se constitui num elemento ativo para a reprivatização da velhice. Por outro lado, a visibilidade conquistada pelas experiências inovadoras e bem sucedidas fecha o espaço para as situações de abandono e dependência” (GOMES, 2008, p. 60).

Pensar a velhice “matizada por um claro-escuro” é compreendê-la a partir da dinâmica da luta de classes. O capital oferece possibilidades, mas em consequência impõe inúmeras restrições ao trabalhador mais empobrecido: habitar regiões de risco, como as encostas; utilizar dos serviços sociais públicos ou filantrópicos; submeter-se a condições de trabalho sem proteção, e na última fase da vida vê-se sem perspectivas, quando muito, se encontra dependente de um cuidador, membro ou não da família.

O gráfico a seguir mostra, numa primeira análise, uma parte dessa realidade objetiva da população brasileira, por meio da distribuição etária e por sexo, fazendo uma justaposição dos dados dos censos de 1950 e 2000.

GRÁFICO I

Distribuição etária e por sexo da população brasileira

FONTE: Censos Demográficos de 1950 e 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). IPEA. Comunicados do Ipea n°93. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110524_comunicadoipea93.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2011.

Concretamente, nos últimos 50 anos a população jovem apresentou um acentuado declínio; a população economicamente ativa experimentou um ligeiro crescimento e a população idosa foi a que mais se destacou em termos proporcionais na pirâmide etária. Somado a isso, as mulheres são numericamente mais representativas, o que coloca a necessidade de uma atenção maior no que se refere à questão de gênero no envelhecimento.

Alguns aspectos determinantes da maior longevidade das mulheres em relação aos homens relacionam-se entre outros fatores, com a maior exposição masculina a doenças cardiovasculares, as taxas de morte por câncer em homens são da ordem de 30 a 50% mais altas do que em mulheres, além do que, uma mulher brasileira de 60 anos pode esperar viver livre de incapacidades por 13,7 anos e o homens por 11,6 anos (OMS, citados por Neri, 2007).

Para fins de levantamentos demográficos e de proteção, a Organização Mundial de Saúde (OMS), definiu que a velhice se inicia aos 60 anos nos países em desenvolvimento, destacando-se, entretanto que a idade sobe para 65 anos nos países desenvolvidos.

Definida a idade cronológica da velhice, mais uma questão se apresenta que é o “envelhecimento na velhice” que eleva a expectativa de vida e também reforça o envelhecimento como questão social para além dos cuidados no âmbito privado da família.

3.2 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: DEMANDA PRIVADA QUE SE