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CAPÍTULO 1 – TRAJETÓRIA INTELECTUAL DE THURMAN ARNOLD: DA

1.1 Formação inicial: do Wyoming ao Leste dos Estados Unidos (1891-1918)

1.1.1 A volta para Laramie e a entrada na vida pública (1918-1926)

Ao retornar para sua cidade natal, Arnold passou a trabalhar no escritório de advocacia do seu pai, resolvendo pequenos casos locais. Foi nesse momento que se viu compelido, segundo afirmava, a entrar para a política, uma situação que julgava relevante para aumentar seu prestígio e reputação – o que, segundo ele, poderia também contribuir para seu crescimento profissional.

Antes de completar dois anos do seu retorno da França, ele se lançou como candidato para a Câmara do Wyoming, o único a concorrer pelo Partido Democrata. Sua candidatura pelo partido teve relação com o fato de os Arnolds pertencerem a um grupo de famílias tradicionais da região, que conviviam em esferas intelectualizadas, ainda que interioranas, e possuíam laços ativos com o Partido Democrata. Seu pai, inclusive, concorreu a um cargo político sob o apoio do ex-candidato à presidência William Jennings Bryan.41

Durante a vida pública, Thurman se considerava um “ardente proibicionista” – a lei que proibia a comercialização de bebidas alcoólicas – e estava fortemente vinculado aos ideais do movimento progressista norte-americano.42 O progressismo abrangia enorme agenda política que contava entre outras questões com o controle dos grandes negócios, particularmente os trustes, diminuição da pobreza dos trabalhadores, “purificação da política” com o intuito de abranger relações de gênero, incluindo um novo papel para as mulheres na sociedade, lutar pela regeneração do lar (ambiente familiar), disciplinar o prazer e o lazer, e finalmente a defesa da segregação racial.

40 Ibid. p.13-14.

41 William Jennings Bryan foi candidato a presidência dos Estados Unidos pelo Partido

Democrata nas eleições de 1896 e 1900, se notabilizando por uma plataforma de caráter “populista”, conforme veremos posteriormente. Foi derrotado pelo republicano McKinley em ambos os pleitos. Ver: HOFSTADTER, Richard. op. cit., 1955. ARNOLD, Thurman. op. cit., 1965, p.16-32; AYER, Douglas. op. cit., 1971, p.1052-1053.

42 A Proibição (1920-1933) compreendeu um esforço por parte dos progressistas em proibir a

produção e venda de bebidas alcóolicas. Essa ideia surgiu da necessidade de eliminar os vícios da sociedade norte-americana, como forma de preservação do lar e da unidade familiar. Ela foi ratificada em todo o território através da 18ª emenda.

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Os progressistas viam a necessidade de reformar a nação após o estabelecimento de uma sociedade altamente industrializada, em busca de restabelecer uma visão de harmonia entre diversos setores sociais, mas que também objetivava determinar um “mundo seguro” para as novas gerações de norte-americanos, almejando a criação de um “paraíso da classe-média”.43

Para o historiador Michael McGerr, o progressismo surgiu através de uma mudança na sociedade estadunidense do século XIX impulsionada por um ideal modificador:

"Essa transformação ideológica não somente levou pessoas de classe- média a mudarem elas mesmas e criar novos lares; isso também demandou que mudassem o mundo ao seu redor. Progressismo liberou uma poderosa dinâmica reformista através da América, quando fazendeiros, trabalhadores, e toda a classe alta estavam todos fracos ou divididos para comandar a nação. Aproveitando a oportunidade, a classe-média progressista ofereceu um radicalismo ao centro da sociedade americana, um programa ambicioso para frear a fricção e os conflitos da nação industrializante".44

Arnold compartilhou de características comuns à parte dos progressistas: “uma origem de classe-média alta, infância em uma cidade pequena, educação superior, faculdade de direito, advocacia em cidade grande, carreira política centrada na questão do ‘bom governo’ e a sensibilidade ao sofrimento da classe trabalhadora”.45 Esse

argumento pode ser corroborado pela afinidade de Arnold com “cruzadas puritanas” contra bebidas, pornografia, prostituição e jogos de apostas, algo que na maior parte de sua vida pública no Wyoming ele não somente defendeu como procurou aplicar.

Prova disso estava em uma lei que ele apoiava que aplicava duras penalidades para indivíduos cuja propriedade fosse usada para prostituição, apostas e produção de bebidas. Seu alinhamento com essas questões tinha também relação com Laramie, cidade altamente pautada por ideais morais e na qual ele focou sua atenção durante o período na Câmara do Wyoming.46

A popularidade de Arnold com os cidadãos locais se materializou em uma posterior eleição para o cargo de prefeito de Laramie em 1922, derrotando o republicano Frank Blair, que trabalhava para uma refinaria local da Standard Oil. Ele foi bem- 43 LIMONCIC, Flávio. Liberalismo e Contratação do trabalho nos Estados Unidos da Era Progressista. In: LIMONCIC, Flávio; MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes (org.). Intelectuais do antiliberalismo: alternativas à modernidade capitalista. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2010, p.505; MCGERR, Michael. A Fierce Discontent: The Rise and Fall

of the Progressive Movement in America, 1870-1920. New York: Free Press, 2005. Prefácio. 44 Ibid. p.42.

45 AYER, Douglas. op. cit., 1971, p. 1051.

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sucedido em razão da cruzada moral que promovia, mas também pelo jogo político que realizou ao acusar Blair de estar a serviço da “exploração [pelas grandes corporações] do Leste” no Wyoming. Durante esse período, se notabilizou por um programa que traduziu bem o progressismo, atacando o “colonialismo” das grandes corporações no Meio-Oeste e entrando em conflito com o IWW (Industrial Workers of the World) por conta de um estabelecimento por eles ocupado, onde supostamente se produziam e se tomavam bebidas alcóolicas, resultando em distúrbios locais.47

Entretanto, o programa progressista de Arnold como prefeito não foi unânime para a população, ocasionando em derrota inesperada. Em 1924, ele anunciou a decisão de concorrer ao cargo de promotor de justiça do condado, ficando em último nas eleições primárias. Essa primeira derrota política foi muito dura para Arnold, que optou por abandonar momentaneamente a carreira política e, presumivelmente, uma das razões pelas quais optou por sair de Laramie. Essa frustração foi inclusive omitida em sua autobiografia.48