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CAPÍTULO 1 – TRAJETÓRIA INTELECTUAL DE THURMAN ARNOLD: DA

1.3 Liberalismo nos Estados Unidos: das origens no séc XIX à Grande Depressão

1.3.1 Os Intelectuais do “Primeiro” New Deal

O New Deal permitiu a convergência de intelectuais oriundos das principais universidades norte-americanas para Washington, de forma que durante o governo Roosevelt, a capital se tornou um lugar atrativo para jovens profissionais e acadêmicos que passaram a trabalhar em conjunto com políticos na ampliação das funções do Estado na economia.

Desde sua campanha em 1932, o presidente contou com o conselho de um grupo de acadêmicos liberais aos quais se referia como seu Brain Trust. Eram nomes ligados à Universidade de Columbia, Nova York, como Raymond Moley, Adolf Berle Jr. e Rexford Tugwell. Eles contribuíram na elaboração de seus discursos e no desenvolvimento de ideias baseadas na “necessidade de um plano racional para a vida econômica americana”. O Brain Trust de Roosevelt foi muito importante na formulação das propostas iniciais do New Deal. Eles se inspiravam na observação de modelos de nações que tinham superado a crise, inclusive algumas autoritárias como a União Soviética, a Itália fascista e a Alemanha nazista. Importante frisarmos que o foco desses sujeitos estava no planejamento nacional que esses países ofereciam e não no ideal antidemocrático que as caracterizava.119

A Itália e a União Soviética serviram como referências por conta de seu enfoque na intervenção econômica por parte do Estado, além de políticas como a carta del lavoro e o stato corporativo que serviram como referência para a NRA. A Itália em particular era bem vista em 1933 por conta de sua postura anticomunista e pela promoção de um corporativismo que, nas palavras de Klaus Patel, “deixava a propriedade privada e outras

119 PATEL, Kiran Klaus. op. cit., 2016, p.249; BRINKLEY, Alan. op. cit., 2000, p.13;

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premissas do capitalismo intactas, enquanto oferecia uma alternativa para o laissez-

faire”.120

Acima de tudo, o interesse de parte desses intelectuais e do próprio Roosevelt com regimes autoritários de direita era resultado da capacidade desses regimes de “criar estabilidade e segurança” em um mundo assolado pela Grande Depressão. Isso se explicava na ausência de fórmulas econômicas já estabelecidas em torno da utilização do Estado como ferramenta de saída da crise. Além do fato de que o fascismo até então era observado por uma perspectiva mais positiva, representando mais um modelo de controle da economia pelo governo.121

O argumento central dos intelectuais do New Deal era de que a Grande Depressão tinha origem nacional, que a estrutura da economia doméstica estava “quebrada” e a grande questão estava relacionada à distribuição de renda e à perda do poder de compra do consumidor norte-americano. A pobreza no campo, a rigidez dos preços na indústria e os baixos salários dos trabalhadores colocavam o país em uma situação em que os bens produzidos não eram plenamente consumidos.122

A primeira solução proposta pelos intelectuais liberais foi o estabelecimento de uma cooperação entre “negócios, trabalho e governo” que se uniriam em torno da estabilização da economia, conforme vimos anteriormente. Homens como Rexford Tugwell pensavam com isso em uma forma mais direta de planejamento econômico por parte do governo.

É importante salientarmos que desde esse primeiro Brain Trust, os intelectuais disputavam a atenção do presidente para as reformas que traçavam. Isso se dava pelo caráter “eclético”, nas palavras de Alan Brinkley, dos formuladores de políticas públicas próximos à Roosevelt, oriundos de diferentes correntes ideológicas. Entre eles estavam adversários das grandes corporações vindos do Sul e do Oeste dos Estados Unidos, mas também banqueiros como o texano Jesse Jones, responsável por uma série de projetos de infraestrutura e posteriormente nomeado para a Secretaria do Comércio.123

De forma geral, os intelectuais dos primeiros anos de New Deal, a despeito de suas diferentes propostas para solucionar a crise, acreditavam na necessidade de se promover políticas que equilibrassem as relações econômicas entre capitalistas e trabalhadores. Para isso, pressupunham ser imprescindível o aumento do salário nas indústrias. Eles

120 PATEL, Kiran Klaus. op. cit., 2016, p.68-70. 121 Ibid.

122 BADGER, Anthony J. op. cit., 2002, p.63. 123 BRINKLEY, Alan. op. cit., 2000, p.13-15.

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acreditavam que o problema não estava no tamanho e no poder das grandes corporações, mas nos abusos cometidos pelos homens de negócios e na falta de estímulo ao consumo.124

Conforme abordamos anteriormente, a necessidade de se encontrar uma rápida solução para a crise fez do New Deal um “laboratório de testes” para diferentes propostas econômicas. Seu caráter de experimentação e as sucessivas falhas em alcançar a almejada recuperação fizeram com que diferentes grupos de intelectuais deixassem sua marca no processo de redefinição do papel estatal na economia estadunidense.

Se o Brain Trust foi influente inicialmente, pelo menos outros três grupos de acadêmicos ganharam a cena durante um segundo momento do New Deal. Os “atomistas”, que defendiam a diminuição do poder das grandes indústrias, os pluralistas industriais e os realistas legais, grupo do qual Thurman Arnold fazia parte.

Os pluralistas e os realistas debatiam de que forma o Estado poderia influenciar nas relações econômicas entre trabalhadores e corporações industriais, que detectavam ser o grande problema que a nação encarava. No entanto, também defendiam o desenvolvimento de políticas que favorecessem a sindicalização desses trabalhadores, como no caso da Lei Norris - La Guardia. Levando o nome de dois políticos progressistas republicanos, a lei garantia a possibilidade da não interferência do patronato na formação de sindicatos, representando o fruto de um esforço colaborativo entre intelectuais pluralistas e realistas legais.125