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Abel Tiago de Sousa e Vasconcelos (1865-1937)

Abel Tiago de Sousa e Vasconcelos nasce a 26 de junho de 1865, sendo natural do concelho de Machico na ilha da Madeira. É registado através da cerimónia do batismo quase dois meses depois a 20 de agosto na Igreja Colegiada de Nossa Senhora da Conceição deste mesmo concelho. O seu pai é João de Sousa Júnior que exercia a profissão de taberneiro, e sua mãe Maria da Conceição, também naturais de Machico, residentes no sítio da Banda d´Além. No seu registo de batismo estão identificados como padrinhos Manuel Correia de Aguiar e Maria Cândida Fernandes moradores na Rua da Queimada de Baixo freguesia da Sé no Funchal. O seu falecimento ocorre a 28 de Agosto de 1937 em Lisboa.184

Nos 72 anos que balizam o nascimento e morte de Abel Tiago existem variações no seu percurso académico e profissional, bem como particularidades de pensamento que singularizam o trajeto deste ilustre madeirense.

Frequenta o Seminário Diocesano antes de ingressar no Liceu Nacional Central do Funchal (atual Escola Secundária Jaime Moniz) para concluir os estudos secundários. Inicia a carreira universitária matriculando-se na Escola Médico-cirúrgica do Funchal pelo ano de 1891. Realiza vários exames prescritos nesta escola entre os anos de 1891 e 1894, sendo aprovado em todos eles. Em 1894 viajou para França onde estagiou em Paris nos hospitais daquela cidade, especializando-se em obstetrícia.185 Regressa à ilha da Madeira, e no ano de 1899 é aprovada pela comissão da Escola Médico-cirúrgica do Funchal a habilitação para exercer Medicina e cirurgia.186

A nível profissional exerceu durante largos anos a profissão na qual se tinha habilitado, dispondo de um consultório no Funchal que era muito procurado, mantendo muitos pacientes187. No Funchal, como médico, era conhecido pela isenção do seu caráter austero e afabilidade com os mais carenciados que encontravam nele carinho e solicitude.188

Em 1910 com o despontar da epidemia da cólera na Madeira, a cidade do Funchal sob a administração de Gregório Pestana Júnior, decidiu reunir os médicos locais a fim de tomarem as medidas de saneamento necessárias para debelar as doenças infeciosas que se propagavam na cidade. Abel Tiago foi um dos médicos destacados correspondendo-lhe a “Zona 7” ou seja entre a Ribeira João Gomes e a de Santa Luzia, tendo por limite norte a rua do Carmo e Phelps.189 Como médico, e nas circunstâncias difíceis que enfrentou, não só pela dimensão caótica que a epidemia provocou em toda a Ilha da Madeira, como também pelo facto de, como já explicamos na segunda parte deste trabalho, a população ser maioritariamente analfabeta e definitivamente crente, “supersticiosa” (aos olhos das elites) e muitas vezes insurreta face às medidas sanitárias ministradas, Abel Tiago contribui decisiva e

184 ARM, Emissão de certidões, Liv. 2797, fls.52. 185 ARM, Registo de Passaportes, cx. 105, proc.183 186 ARM, Escola Médico-cirúrgica do Funchal, v. 46

187 Clode, Luiz Peter (1987), Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses - Séculos XIX e XX, Funchal 188 Cf. Jornal da Madeira, 29/08/1937

diretamente no terreno através do auxilio médico num momento delicado para a “sua” comunidade madeirense.

Para além das suas consultas, exercia funções como professor de Inglês no liceu do Funchal e este gosto pelo ensino acabou por levá-lo a ingressar no concurso para a carreira de docente do ensino técnico, tendo sido professor na Escola Industrial e Comercial do Funchal, onde lecionava a disciplina de Inglês. No ano de 1913, contava 48 anos, apresenta-se na administração do governo civil do Funchal com o propósito de requerer o passaporte para se deslocar para Portugal Continental, mais propriamente para a Covilhã.190 Desde este momento Abel Tiago abraçou as letras e deslocou-se para Lisboa onde foi professor efetivo das escolas técnicas Francisco Benevides e António Arroio lecionando as disciplinas de Português, Francês, Inglês, História e Geografia. É também em Lisboa que promove a sua obra literária que corresponde a três publicações: Os Sinais dos Tempos (1924), Confronto dos sinais dos tempos (1927), e A vida e os números (1935).

A sua vida pessoal é preenchida em 1894 quando casa na paróquia de Santa Luzia com Maria Carlota de Oliveira, residente na freguesia de São Pedro do Funchal.191 Abel Tiago e a esposa não tiveram filhos e acabam por falecer no mesmo ano de 1937, ela com 64 anos, ele com 72 anos.192

Descrito pelo Diário da Madeira como um “marido exemplar”, e também entre colegas e alunos como alguém com um “espírito fino e culto, muito dedicado ao estudo, sendo um cidadão de incorruptível linha de conduta”.193

Tinha uma relação muito próxima com o seu sobrinho e amigo Abel Martinho de Sousa Alves, farmacêutico, cirurgião dentista e político, muito influente na sociedade madeirense, que o recebia na sua residência sempre que Abel Tiago regressava à ilha da Madeira.194

No terceiro volume da coletânea intitulada “Notas e Comentários para a História Literária da Madeira” escrito por Alfredo de Freitas Branco (Visconde do Porto da Cruz), onde se evidencia o contributo literário de vários autores para a história literária do Arquipélago da Madeira, o mesmo descreve Abel Tiago como alguém dotado de uma “magnifica cultura e inteligência brilhante” com as suas obras a serem elogiadas e comentadas “pelas principais individualidades em destaque nos meios intelectuais do País e no estrangeiro”. Conclui classificando o escritor como “fundamentalmente católico e monárquico, mas também um prosador e um filósofo profundo”.195

190 ARM, Registo de Passaportes, cx. 182, proc.177. 191 ARM, Registos de Casamentos, liv.6488 A, fls.7. 192 ARM, Registos de Batismo, liv. 1377, fls, 4 vº4. 193 Cf. Diário da Madeira, 29-08-1937

194 Clode, Luiz Peter (1987), Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses - Séculos XIX e XX, Funchal

195 Porto da Cruz, Visconde do (1953), Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, Período