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Utopia Quinto-Imperialista Judaico/Portuguesa de “Lusitanus”

Nos registos bíblicos do Evangelho, a exegese do autor explana que, com a realização das “tribulações” vaticinadas por Cristo, o Quinto Império ou Reino de Deus, surge como uma continuação

212 João, Evangelho segundo, Bíblia, citado por Lusitanus (1924), Sinais dos... pp. 132-133 213 João, Evangelho segundo, Bíblia, citado por Lusitanus (1924), Sinais dos... pp. 135-138 214 João, Evangelho segundo, Bíblia, citado por Lusitanus (1924), Sinais dos... pp. 142-143 215 João, Evangelho segundo, Bíblia, citado por Lusitanus (1924), Sinais dos... pp. 143-144 216 João, Evangelho segundo, Bíblia, citado por Lusitanus (1924), Sinais dos... p. 145 217 Lusitanus (1924), Sinais dos... p. 152

destas calamidades que prosseguem numa via evolutiva. As nações, segundo o mesmo, são punidas e completa-se a missão de Cristo de reinar sobre toda a Humanidade.

Para o escritor “Deus reinará no seio do seu rebanho, cujas ovelhas viverão como um Éden, visto a terra converter-se num céu”, esse reino ou Império Universal terá um Imperador Português, ou seja, «um só pastor».218

O povo português e o povo judeu estão destinados para serem os fundadores do Império Universal porque são considerados “prediletos do céu”. Os judeus como os primeiros evangelizadores, os portugueses como os primeiros a levar a boa nova à maior parte do Mundo.

Thomas Morus em 1516 batizou e singularizou a sua sociedade perfeita com a palavra “Utopia” que também seria o nome da sua obra publicada neste mesmo ano. A partir dessa obra, a palavra "utopia" tornou-se sinónimo de uma sociedade ideal ou ideia quimérica, embora de existência impossível. Neste livro Morus centra-se numa dupla visão; a real da época vivida pelo autor em Inglaterra com injustiça social, criminalidade, perseguições religiosas, abismo entre as classes sociais, poder régio ávido de riquezas, sempre pronto para a guerra e, por outro lado, a visão da “Republica da Utopia” narrada e interpretada na personagem de Rafael Hitlodeu, que descreve a sua viagem à Utopia num lugar em que não se prejudicava ninguém em nome da religião. A intolerância e o fanatismo eram punidos com a servidão, o povo escolhia as suas crenças e cultos vivendo em harmonia.219

A Utopia Quinto-Imperialista, segundo José Eduardo Franco, é embebida no ideal que exprime o esforço “de pensar o Homem e a História na perspetiva de salvação individual e coletiva proposta pelo Evangelho”.220

O Padre António Vieira é, nesta linha de reflexão, o grande pioneiro utópico português e reformador do ideal Quinto-Imperialista, a sua fé absoluta na realização do Quinto Império, levam-no a acreditar na regeneração da sociedade portuguesa em particular e da comunidade humana em geral.221

Com uma certa paixão e certeza no ideal como António Vieira, ou partilhando o ideal quimérico de sociedade ideal de Thomas More, “Lusitanus” acredita nos trajetos passados da história judaica e portuguesa, com a principal razão destes povos serem “eleitos do céu” e estarem destinados a concretizar a fundação do Quinto Império ou Reino de Deus, de acordo com o anunciado pelo Evangelho. Estes dois pequenos povos, segundo o autor, estão destinados a causas que orientam a humanidade, através das predições divinas, a estabeleceram o Reino de Deus ou Quinto Império, pois são os mesmos que foram os principais obreiros da iniciação e evangelização de Deus e do seu reino na terra.222

Na Judeia surgiram os apóstolos precursores, enquanto que, de Portugal o Evangelho chegou às regiões mais remotas através dos «argonautas evangélicos». O autor encontra diversas analogias entre as

218 Lusitanus (1924), Sinais dos... p. 161

219 Morus, Tomás (1994), A Utopia, Guimarães Editores, trad. José Marinho, Lisboa

220 Franco, José Eduardo (1999), “Teologia e Utopia em António Vieira”, Lusitania Sacra, 2ºsérie, Tomo XI 221 Franco, José Eduardo (1999), “Teologia...”, p. 157

histórias destes dois povos, para reforçar o patamar de exceção que ocupam nos destinos futuros do mundo.

Geograficamente os territórios têm uma forma retangular, e latitudes aproximadas, e são banhados ocidentalmente pelo Mediterrâneo e pelo Atlântico, Portugal é intitulado a “finis terrae”, e a Judeia “o umbigo do mundo”.223

Historicamente, ambos os povos foram perseguidos pelos romanos que dominavam o ocidente e oriente. Aquando do surgimento da boa nova cristã, Portugal conservou sempre firme e sólida a sua fé face às investidas do Luteranismo e Calvinismo. O povo judeu foi o único da antiguidade que foi monoteísta adorando o verdadeiro Deus, sendo que ambos foram punidos por perseguições e opressões.224

O povo judeu esteve 400 anos no Egito sob o jugo de Faraós, os Lusitanos pelo mesmo período de 400 anos sob a tirania dos Romanos. Estes últimos faziam de tudo para banir o Cristianismo. Retalhado o Império Romano pelo «flagelo de Deus» perderam o domínio nesta zona que passou para os Alanos, Vândalos, Suevos, Visigodos e mais tarde para os Árabes, até o surgir do libertador Afonso I que os expulsou.225

Estes povos voltaram a ter em comum um novo período de 60 anos em que estiveram sob o arbítrio de outros, no caso do povo judeu teve a autoridade da Babilónia e só viria a ser libertado por Ciro, rei da Pérsia que surpreendeu Baltasar rei da Babilónia. No caso português a subjugação foi perante os castelhanos que cometeram as maiores barbaridades com uma Inquisição avassaladora que chacinou inúmeros cristãos novos.226

Em suma estas considerações históricas, não só estabeleceram o confronto entre muitos pontos análogos, como também salientam a predileção divina por ambos os povos. Sendo que, para o escritor, não é de admirar que os dois venham a ser “instrumentos de providência por parte dos céus para a execução de estender o seu reino a todos os povos do Mundo”. Por fim, a utopia do Quinto Império em “Lusitanus”, encontra na sua explanação a eleição divina como guia dos destinos do Mundo. Judeus e Portugueses definem na terra a vontade expressa dessa força transcendente que abraça o pensamento do escritor para a realização próxima dos destinos da Humanidade.