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3 USUÁRIOS E OS ESTUDOS DE USUÁRIOS

3.3 NECESSIDADE INFORMACIONAL,BUSCA E USO DA INFORMAÇÃO

3.4.2 Abordagem Alternativa

Por outro lado, no final da década de 70 e início dos anos 80 uma mudança de paradigma direcionou as pesquisas para uma abordagem alternativa. Essa nova abordagem teve como objetivo principal concentrar todas as atenções numa perspectiva voltada para usuário da informação. Segundo Dervin; Nilan (1986 apud MIRANDA, 2006, p. 100) “era necessário mudar o paradigma tradicional e desenvolver uma forma alternativa para os estudos de necessidades e usos da informação”, onde os usuários passariam de meros coadjuvantes para objeto de estudo. Nesse sentido, o usuário passaria a ser o foco dos serviços de informação. Segundo afirma Costa; Silva; Ramalho (2009, p.9) “nos estudos, tradicionais,

os usuários são apenas informantes, não sendo, em nenhum momento, objeto de estudo, ao contrário dos estudos modernos que os consideram construtores ativos de sua própria informação”. Nesse contexto, Ferreira (1997, p.13) afirma que “estudos tradicionais examinam os sistemas apenas através das características grupais e demográficas de seus usuários, os alternativos estudam as características e perspectivas individuais dos usuários”.

As diferenças entre a pesquisa tradicional e a pesquisa alternativa podem ser observadas no quadro 2.

QUADRO 2 - Diferença entre as Abordagens Tradicional e Alternativa PESQUISA TRADICIONAL PESQUISA ALTERNATIVA INFORMAÇÃO: propriedade da matéria,

mensagem, documento ou recurso informacional, qualquer material simbólico publicamente disponível.

INFORMAÇÃO: o que é capaz de transformar estruturas de imagem, estímulo que altera a estrutura cognitiva do receptor.

NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO: estado de necessidade de algo que o pesquisador chama de informação, focada no que o sistema possui, e não no que o usuário precisa.

NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO: quando a pessoa reconhece que existe algo errado em seu estado de conhecimento e deseja resolver essa anomalia, estado de conhecimento abaixo do necessário, estado de conhecimento insuficiente para lidar com incerteza, conflito e lacunas em uma área de estudo ou trabalho.

Fonte: Dervin; Nilan (1986, p.17 apud MIRANDA, 2006, p. 100)

A partir desse momento, o foco das pesquisas se concentrou em conhecer as reais necessidades de informação e o efetivo uso dela. Segundo Araújo (2009) o cerne do desenvolvimento dessa abordagem aconteceu em 1977 na Conferência de Copenhague onde vários trabalhos foram apresentados. Diversas teorias partindo de uma perspectiva cognitiva surgiram no intuito de entender as necessidades informacionais dos usuários a partir de um estado de conhecimento incompleto. De acordo com Araújo (2009, p.200):

Todas apresentam uma perspectiva cognitivista: busca-se entender o que é informação do ponto de vista das estruturas mentais dos usuários que se relacionam (que necessitam, que buscam e que usam) a informação. Os usuários são estudados enquanto seres dotados de determinado „universo‟ de informações em suas mentes, utilizando essas informações para pautar e dirigir suas atividades cotidianas. Uma vez que se verifica uma falta, uma ausência de determinada informação, inicia-se o processo de busca de

informação – aí entra a informação, como aquilo capaz de preencher uma lacuna, satisfazer uma ausência.

É interessante destacar que nessa perspectiva o acumulo de conhecimento na mente de cada indivíduo o conduzirá para a compreensão da necessidade de uma nova informação para prosseguir na resolução de problemas que possam vir a surgir em decorrência do tipo de atividade que cada um executa em determinado momento. Em outras palavras, o conhecimento adquirido por cada usuário servirá como um aporte para perceber um hiato existente. Ainda nesse contexto, Araújo (2009, p. 200) considera que:

Esse modelo enfatiza as percepções dos usuários em relação à sua própria ausência de conhecimento, os passos trilhados para solucionar essa ausência (em direção à informação) e o uso da informação para a execução de determinada tarefa ou problema. No lugar de características sociodemográficas, tais estudos identificam como elemento determinante do processo as percepções dos usuários acerca de sua situação e da informação. [...]. A informação passa a ser vista como algo na perspectiva de um sujeito.

Portanto, a partir da citação acima é possível apreender que a informação faz parte de uma construção que engloba um processo cognitivo. Assim como afirma Choo (2003, p. 68) “A orientação para o usuário, por outro lado, vê a informação como uma construção subjetiva criada dentro da mente dos usuários”. Ao contrário da abordagem tradicional, que vê a informação como externa ao usuário, a abordagem alternativa compreende a informação como algo inerente ao usuário. Segundo Moraes (1994) o objetivo dos estudos orientados ao usuário é determinar quais os documentos são utilizados, compreender os hábitos dos usuários para a obtenção da informação, descobrir o uso em relação a essa informação e estudar o acesso aos documentos. Diante do contexto, Figueiredo (1979, p.79) define que:

Estudos de usuários são investigações que se fazem para saber o que os indivíduos precisam em matéria de informação, ou então, para saber se as necessidades de informação por parte dos usuários de uma biblioteca ou de um centro de informação estão sendo satisfeitas de maneira adequada.

A partir do momento em que as necessidades informacionais são apreendidas fica mais fácil satisfazê-las. Com os estudos de usuários é possível responder a questões, como por exemplo, por que motivo, como e para que os usuários usam a informação, e quais fatores determinam esse uso. Nesse sentido, convém destacar aqui uma citação sobre o valor da informação na perspectiva da abordagem centrado no usuário, segundo a visão de Choo (2003, p.70) sobre o valor da informação ele diz que “... reside no relacionamento que o

usuário constrói entre si mesmo e determinada informação. Assim, a informação só é útil quando o usuário infunde-lhe significado, e a mesma informação objetiva pode receber diferentes significados subjetivos de diferentes indivíduos”. Então, infere-se que a mesma informação tem valor diferente para usuários diferentes. O que entra consonância com o que já foi dito outrora sobre a questão do indivíduo sentir a necessidade informacional a partir dos estoques mentais de conhecimento que já pertencem a ele.

Diante dos apontamentos, faz-se necessário aprofundar os estudos apresentando a seguir as principais abordagens que trabalham com a perspectiva cognitivista com base na literatura revisada de Costa; Silva; Ramalho (2009); Choo (2003); Miranda (2006); Salazar et al (2007). Dentre elas, as Abordagens de Belkin, Taylor, Krikelas, Wilson, Kuhlthau, Ellis, Cox, Hall, Choo e Dervin. De acordo com as afirmações de Araújo (2012, p.147) sobre essas abordagens:

Apesar de suas várias diferenças, estes autores compartilhavam de um mesmo modelo de comportamento informacional, que pode ser assim resumido: um usuário, diante da ausência de determinado conhecimento para prosseguir com sua linha de ação (lacuna informacional ou “estado anômalo de conhecimento”, na expressão de Belkin), se vê compelido a buscar informação em alguma fonte ou sistema. Várias pesquisas buscaram então estabelecer os diferentes passos deste processo, ou as diferentes formas de se perceber a lacuna informacional, ou as relações entre tipos de percepção de lacuna informacional e as estratégias adotadas para a busca de informação.

Vale salientar que dentre elas está a Abordagem Sense Making desenvolvida por Brenda Dervin que ajudará a compreender como os indivíduos atribuem sentido à informação que necessitam. Iniciando a descrição das abordagens com Belkin e finalizando com Brenda Dervin.

a) Belkin (1980) utiliza a Abordagem do estado do conhecimento anômalo que centra o seu foco nas pessoas em situações que envolvem problemas, situações que a pessoa tem uma visão incompleta ou limitada de alguma forma. Nessa abordagem o usuário é identificado como aquela pessoa que está tendo um estado de conhecimento anômalo, momento em que é difícil reconhecer o que está faltando, enfrenta lacunas, dúvidas, incoerências, sendo incapaz de externalizar o que é preciso para dirimir a anomalia. A tríade a seguir representa bem o entendimento de Belkin sobre o estado anômalo de conhecimento. (situação anômala > lacunas cognitivas > estratégias de busca).

b) Taylor (1986) utiliza a abordagem do Valor agregado (User-values ou Value- added), tem como foco a percepção da utilidade e do valor que o usuário traz para o sistema. Coloca oproblema do usuário no foco central, possibilitando assim identificar diferentes classes de problemas e ligá-los aos diferentes traços que os usuários estão dispostos a valorizar quando enfrentam problemas. Constitui um trabalho de orientação cognitiva em processamento da informação. A tríade a seguir expõe o cerne da Abordagem de Taylor. (problema> valores cognitivos> soluções).

c) Krikelas (1983) utiliza o modelo de comportamento da busca por informação centrada nas atividades do indivíduo, o qual corresponde às tendências do ambiente. A partir daí surge à necessidade de definir os estímulos de entrada que representam necessidades de informação, tanto as que podem esperar um pouco mais para serem solucionadas como as que exigem imediata solução; respostas equivalentes às ações que o indivíduo deve realizar para a busca por informação. A maneira como o indivíduo se comporta diante das alterações ambientais, considerando-se o modo pelo qual um indivíduo aprende a produzir respostas que lhe permitem adaptar-se ao seu ambiente configura o modelo de análise de Krikelas.

d) Wilson (1981)trabalha com um modelo que tem como base as seguintes premissas: as necessidades de informação têm sua gênese nas necessidades básicas do sujeito, sendo elas de caráter fisiológico, cognitivo e afetivo, logo não é uma necessidade primária, mas sim, secundária; e, diante da busca por informação para satisfazer sua necessidade, o sujeito pode deparar-se com barreiras individuais, pessoais, interpessoais e ambientais. A partir de teorias de diversas áreas como a Ciência da Informação, a Psicologia, a Comunicação Wilson propõe um novo modelo a partir do seu modelo anterior para analisar o comportamento da busca por informação.

e) Kuhlthau (1994) modelo denominado de Information Search Process (ISP) e se baseia no conceito de estado anômalo do conhecimento de Belkin (1982). Segundo Kuhlthau (1994), o Information Search Process é um modelo potencializado pela Teoria do construtivismo em que a aprendizagem de um novo conhecimento se realiza por uma construção individual e ativa e não pela transmissão. O processo se desenvolve em seis estágios: Iniciação. Seleção, Exploração, Formulação Coleta e Apresentação. Cada estágio se caracteriza pelo comportamento do usuário em três campos de experiência: o emocional, o cognitivo e o físico.

f) Ellis (1989) e Ellis, Cox e Hall, (1993) utilizam o modelo de comportamento de busca de informação que tem início a partir do pressuposto de que o processo de busca se desenvolve por meio de aspectos cognitivos, constituído por etapas que não acontecem de

forma sequencial, características gerais que não são vistas como etapas de um processo. Inicialmente se baseia em seis categorias de análise: Iniciar, Encadear, Vasculhar, Diferenciar, Monitorar, Extrair. Em um segundo momento, esse modelo foi lapidado pelo próprio Ellis em conjunto com Cox e Hall (1993) que acrescentaram mais duas categorias ao modelo original que são: Verificar e Finalizar. Dessa forma, o modelo possui oito categorias.

g) Choo ressalta em seu modelo três propriedades da busca e do uso da informação. Sendo elas: o uso da informação é estabelecido a partir do significado que o indivíduo lhe impõe, à luz de suas estruturas emocionais e cognitivas; o uso da informação é situacional, nesse sentido o indivíduo faz parte de um meio, profissional ou social, que afeta, diretamente, suas escolhas para o uso da informação e por fim, o uso da informação é dinâmico, interagindo com os elementos cognitivos, emocionais e situacionais do ambiente, que impulsionam o processo de busca da informação, modificando a percepção do indivíduo em relação ao papel de informação e os critérios pelos quais a informação é julgada, sob um dado assunto. Nesse contexto, a busca por informação caracteriza-se por um processo implementado pelo indivíduo para modificar o estágio anterior.

h) Dervin (1983) desenvolveu o modelo que procura compreender o processo de relacionamento entre o usuário e a informação através de um conjunto de premissas conceituais e teóricas pretendendo analisar como pessoas constroem sentido nos seus mundos e como elas usam a informação e outros recursos nesse processo de necessidade, busca e uso da informação. Rastreia lacunas cognitivas e de sentido expressas em forma de questões que podem ser codificadas e generalizadas a partir de dados diretamente úteis para a prática da comunicação e informação. De acordo com Dervin et al (2011, p.3, tradução nossa) “ Sense Making é uma metodologia destinada a orientar a pesquisa (por exemplo, a formação de pergunta, coleta de dados, análise de dados”. A tríade que configura esse modelo é representada da seguinte maneira: situação> lacuna > uso.

A Abordagem desenvolvida por Brenda Dervin é intitulada de Sense Making Approach, ela passou a ser disseminada em 1983 e até hoje é utilizada na área da Ciência da Informação como aporte para os estudos de necessidades e uso da informação. De acordo com um artigo publicado em 2009 no periódico Encontros Bibli de autoria de Araújo; Pereira; Fernandes várias análises evidenciaram a importância de Dervin para a pesquisa brasileira em informação, principalmente na área dos Estudo de usuários. Sendo assim, eles destacam que:

Sua contribuição mais importante é a distinção que ela promoveu, em 1986, num trabalho em parceria com Michael Nilan, entre a “abordagem

tradicional” e a “abordagem alternativa” nos estudos sobre necessidade e uso da informação. [...] Brenda Dervin tem apresentado considerável influência junto aos pesquisadores brasileiros [...].

Diante das considerações sobre Brenda Dervin é possível apreender que sua Abordagem tem caráter relevante para a Ciência da Informação e para os Estudos de uso e usuários da informação. Principalmente porque segundo os autores ela “é acionada, nos estudos, como fonte de definição do que é abordagem alternativa de estudos de usuários, o que é a teoria sense making, quais são as características dessa teoria ou para a definição dos dois paradigmas da área”. O conceito de informação dentro da abordagem, para Dervin (2003, p. 255, tradução nossa) “Sense-Making assume que a informação não é uma coisa que existe independente e externa aos seres humanos, mas sim é um produto da observação humana. Assume-se que toda a informação é subjetiva [...]”. Nessa abordagem, a informação é vista como algo subjetivo que tem seu grau de significação variando de acordo com o contexto no qual ela está inserida. Sendo a informação uma construção que o sujeito produz a partir de experiências anteriores, sejam elas de caráter social, cultural, econômico ou político. Segundo Ferreira (1995, p. 8) “Dervin apresenta um método bastante elucidativo para mapear necessidades de informação sob a ótica do usuário”. Por esse motivo o método escolhido para tentar compreender as necessidades informacionais dos docentes da Pós-graduação em CI na Região Nordeste, porque de acordo com Ferreira (1995, p.6):

Compreendendo os comportamentos de busca de informação mais profundamente, poderemos capacitar às organizações provedoras de informação a melhor servir às necessidades de seus clientes, aumentando, assim, a eficiência específica dos indivíduos nos meios pessoais, sociais e profissionais.

A abordagem centrada no usuário tem como base uma perspectiva cognitiva, busca interpretar necessidades de informação de caráter intelectual como também sociológico. A informação por si só não é capaz de representar algo concreto, é necessário que ela seja associada a um determinado contexto para que ela possa produzir o sentido da sua mensagem em relação ao receptor. De acordo com Ferreira (1995, p. 5) “Ela é um dado incompleto, ao qual o indivíduo atribui um sentido a partir da intervenção de seus esquemas anteriores”. Nessa modelo, as experiências vivenciadas anteriormente pelo usuário servem de aporte para o momento que ele identifica que lhe falta alguma informação para seguir a diante. Essa falta é chamada de lacuna, vazio, hiato. Nesse sentido, pressupõe-se que os indivíduos/usuários são seres dotados de uma inteligência capaz de compreender o sentido das coisas, e que ao se

encontrarem com determinada dúvida partirão para a construção de uma ponte que transportará as lacunas de conhecimento na tentativa de solucionar respostas ambíguas na busca e uso da informação no momento em que ele precisar dirimir problemas (FERREIRA, 1997). É possível compreender de maneira mais clara a afirmação da autora com a figura 1, abaixo, sobre a metáfora do Sense-Making. E visualizar de uma maneira mais completa com a figura 2.

FIGURA 1- Metáfora do Sense-Making

Fonte: DERVIN, 1992.

A metáfora mostra o indivíduo em um determinado momento (situação) onde ele percebe que existe um vazio cognitivo (lacuna) e utilizada de estratégias para construir uma ponte para chegar até a informação que ele necessita para efetivamente utilizá-la (uso).

FIGURA 2- Metáfora Sense-Making

Diante da metáfora do Sense-Making infere-se que o indivíduo encontra-se em um estado cognitivo do qual é necessário considerar a sua situação atual, porque ela pode variar de acordo com o tempo e o espaço. É importante observar também que as estratégias utilizadas para construir a ponte estão sinalizadas na figura, elas permitem que o indivíduo transporte-se para encontrar a informação desejada e por fim utilizá-la. Corroborando com esse pensamento Dervin (1998) destaca que a metáfora pode representar o indivíduo que passa por inúmeras situações e que sua posição atual será sempre analisada em relação a sua vivência, o lugar onde está e aonde ele quer chegar. Nesse contexto, as necessidades de informação do indivíduo podem ser alteradas de acordo com desenvolvimento do seu processo de busca e uso da informação. O indivíduo aparece como agente ativo nesse processo, exatamente como pensam Dervin e Nilan (1986) quando enfocam a abordagem alternativa como sendo caracterizada por observar o ser humano como sendo construtivo e ativo; considerar o indivíduo como sendo orientado situacionalmente; visualizar holisticamente as experiências do indivíduo; focalizar os aspectos cognitivos envolvidos; analisar sistematicamente a individualidade das pessoas e empregar maior orientação qualitativa. Portanto, a abordagem alternativa atribui ao indivíduo à participação ativa no processo de construção de sentido da informação, posto que a informação passe a ter determinada relevância de acordo com o contexto no qual ela é pensada. Essa abordagem objetiva entender as necessidades cognitivas dos usuários, e através dela, segundo Albuquerque (2010, p.68) é possível identificar “a presença de indicadores potenciais do comportamento humano, tanto a nível interno (relacionado ao aspecto cognitivo) como no nível externo (ligado ás atitudes, reações e os aspectos situacionais), o que possibilita o entendimento das necessidades e uso de informação dos indivíduos”.

Reforçando o referencial, Venâncio e Nassif (2008, p.97) afirmam sobre o Sense Making que:

Um pressuposto básico da teoria reside na ideia de descontinuidade. Segundo Dervin (1992), a descontinuidade é um aspecto central da realidade, presente em todas as situações vivenciadas pelo ser humano. O indivíduo cria sentido para transpor os gaps cognitivos que lhes são apresentados em decorrência da descontinuidade sempre presente na realidade, incompleta e inconstante. O estado cognitivo do indivíduo é representado metaforicamente como um movimento contínuo, no tempo e no espaço, no qual o próprio indivíduo cria sentido para suas ações e para o ambiente. Contudo, a todo momento, ele se depara com situações problemáticas (barreiras, confusões, dilemas e desordens) que o impedem de prosseguir devido à percepção de um vazio cognitivo. Ele, então, tenta compreender tal vazio, e, baseado na interpretação resultante, determina as

estratégias para superá-lo. Assim, a teoria enfatiza: (a) as situações experienciadas pelos indivíduos em um contexto temporal e espacial no qual surgem as necessidades de informação, influenciadas pela experiência e pelas histórias de vida do indivíduo; (b) os gaps cognitivos enfrentados (necessidades de informação, questões que as pessoas têm quando constroem sentido e movem-se através do tempo-espaço) que são representados pelas angústias, desordens e confusões; (c) o uso da informação, ou seja, as pontes ou estratégias construídas (ideias, pensamentos, atitudes) para superação dos gaps.

Percebe-se que a questão da descontinuidade está relacionada ao fato de que o indivíduo não permanece estático no processo de busca da informação, suas necessidades estão sempre em constante mudança, a variar em relação ao contexto em que o indivíduo se encontre. Ao passo que o seu estado cognitivo configura-se como um movimento contínuo de criar sentido para as inúmeras situações vivenciadas.

Dando continuidade à reflexão sobre a abordagem, Costa (2008, p.57) considera que:

O foco da abordagem é denominado por Dervin de fenômeno do sense- making2, compreendido como atividade humana de observação, interpretação e compreensão do mundo externo, atribuindo-lhe sentidos lógicos, provenientes do uso de esquemas interiores. Esta atividade abrange tanto um comportamento interno (cognitivo), como externo (atitudes, reações face ao meio social) que possibilita ao indivíduo construir e planejar seus movimentos, suas ações através do tempo e espaço. Assim, o cerne

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