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6. ABORDAGEM METODOLÓGICA

6.2 ABORDAGEM DA PESQUISA

A construção do conhecimento científico ocorre quando há articulação entre teoria e realidade empírica, tendo o método como fio condutor dessa articulação. Assim sendo, o estudo qualitativo pode gerar dados quantificáveis e vice-versa. Logo, nesta tese, optou-se pela abordagem quali-quantitativa, para que se aproveite as vantagens existentes nos dois modelos, ou seja, a interação e dialeticidade entre as análises qualitativas com sua pluralidade e flexibilidade e os dados quantificáveis, que poderão surgir na fase da aplicação do museu virtual ao público mais amplo.

Nessa perspectiva, concorda-se com os autores Minayo e Sanches (1993), quando inferem que as abordagens particularizadas não satisfazem uma análise que abarque a realidade em determinadas circunstâncias, assim, defendem que para esses casos elas deverão ser complementares, afinal, “nenhuma é mais científica que a outra” (MINAYO E SANCHES, 1993. P. 247), de maneira que elas podem dialogar e integrar num mesmo projeto de pesquisa.

6.3 MÉTODO DO DESIGN BASED RESEARCH (DBR) E SUA CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS

O método do Design Based Research (DBR) ou Pesquisa Baseada em Design (PBD), é uma linha de investigação cujos princípios são a práxis, a interdisciplinaridade e a resolução de problemas de contextos reais, pautada no esforço coletivo, portanto, pode ser adotada pelas variadas áreas do conhecimento. Esse método, ainda que recente, já é amplamente disseminado em estudos voltados para educação e sua articulação aos ambientes mediados pelas TICS, além de, ultimamente, estar sendo utilizado nas pesquisas aplicadas em outros estudos do âmbito das ciências humanas.

Nesta tese, a DBR dialogará com o campo da história e com os métodos históricos de investigação e interpretação. Todavia, considera-se desafiador adotar o DBR em uma proposta de desenvolvimento de solução para mediar e difundir o conhecimento histórico sobre o antigo “quilombo” do Cabula. Destarte, é imprescindível conhecer as principais características da abordagem em DBR, apresentadas no quadro que segue.

Quadro 14 - Síntese das características presentes no método DBR

CARACTERÍSTICAS EXPLICAÇÃO

- Praxiologia

Faz-se necessário o desenvolvimento do contexto histórico para situar o foco de pesquisa. Nesse caso, a DBR considera a práxis, ou seja, articulação entre teoria e prática; reflexão-ação. Nesse sentido, prevalecerá o diálogo entre as bases teóricas do pesquisador e a prática da comunidade. (MARTINS, 2009).

- Responsiva

A proposta de desenvolvimento de uma solução/produto, é pensada para uma efetiva ação, que visa intervir e investigar novas formas de construções para aprendizagens demandadas concretamente por um sujeito ou conjunto de sujeitos. Na DBR, o sujeito e a busca da solução de problemas passam a ser o foco da pesquisa.

- Aplicada

Busca-se a resolução de problemas reais e para tal, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas relevantes, em que a investigação é direcionada a contextos reais, e aplicada ao desenvolvimento de "atores reais, melhorias resolvendo problemas reais"

(RAMOS et all, 2009), logo a relevância da pesquisa é para a vida prática.

- Interativa e colaborativa

Na DBR o desenvolvimento da pesquisa não é realizado apenas pelo pesquisador, como se este fosse o único detentor do conhecimento. O trabalho pretendido é de autoria e coautoria, de completo engajamento do pesquisador com seus grupos de estudos e outros partícipes. Segundo Santos (2014), para a DBR tanto o aporte teórico do pesquisador quanto o embasamento de vivência da comunidade estão no mesmo patamar.

- Integradora

O pesquisador pode utilizar variados métodos e técnicas de pesquisa, dependendo da fase do planejamento, desenvolvimento ou implantação, mas segundo Cobb (2003), com coerência, consistência e disciplina.

- Flexibilidade

O projeto, seu desenvolvimento, as soluções/produtos da intervenção estão sujeitas, em todo processo, a alterações. Como na DBR a proposta de construção é coletiva, a pesquisa nunca está acabada, podendo sofrer redesign constantes. Cada etapa da pesquisa é uma preparação para a próxima, não sendo uma concepção linear, uma vez que o processo desta próxima pode ocasionar a necessidade de alterações na anterior. (LOBO DA COSTA e POLONI, 2011)

- Contextual

Complementando a lógica da flexibilidade, entende-se que os resultados da pesquisa presentes em cada etapa, contribuem para informar e atualizar o seu desenvolvimento e implantação, segundo Ramos (2009), essa dinâmica possibilita descobertas que transcendem o contexto imediato da investigação, e que podem potencializar o encaminhamento de novos projetos e investigações.

Fonte: Este quadro síntese foi elaborado pela pesquisadora a partir dos estudos realizados por: COBB (2003), Lobo da Costa e Poloni (2011), Martins (2009), Matta (2012) e Ramos et. all (2009) e Santos (2014).

De acordo com as características apresentadas, verifica-se que não é uma tarefa fácil adotar a metodologia DBR no campo dos estudos históricos, uma vez que por tradição, e conforme foi explicitado neste capítulo, essa área do conhecimento adota forte caráter de pesquisa teórica. Entretanto, nota-se que mudanças estão ocorrendo e as demandas da contemporaneidade têm exigido

constantemente a difusão, integração e democratização do conhecimento para a esfera social. Seguindo a proposta do DBR, a pesquisa histórica adquire coautorias, que são traduzidas em dois tipos de validação, a interna e externa.

A validação interna pertence à pesquisadora, e consiste na legitimidade desta como um agente participante do processo de construção do conhecimento. Trata-se de uma postura gramsciana, na qual não se concebe um distanciamento entre sujeito e foco de estudo, esses encontram-se implicados. Os resultados da validação interna são os capítulos de contexto e a parte específica da temática, porque a partir disso o pesquisador começa a fazer parte da interlocução. A segunda parte dessa validação são os princípios de modelagem que foram utilizados, compondo assim os elementos iniciais como propostas de interação e acervos para nutrir o MVQC.

A validação externa poderá ocorrer em variados momentos do desenvolvimento do museu virtual. Refere-se a apropriação da proposta deste estudo pela comunidade a quem o museu atenderá no âmbito imediato. Se a comunidade aceita ser participante, não somente no fornecimento de dados, mas prioritariamente contribuindo com a autoria do processo, estes tornam-se coautores. Logo, o modelo do museu virtual a ser gerado é de produção coletiva, portanto, domínio público. Para o desenvolvimento de uma modelagem ou solução que possa mediar os conhecimentos adquiridos por meio das pesquisas históricas, agregado aos conhecimentos advindos das comunidades e embasada por uma abordagem socioconstrutivista, foi essencial o desenvolvimento do design cognitivo.

6.4 A DIALOGICIDADE DAS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA