• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

2.4. ABORDAGEM INSTITUCIONAL

2.4.2. Abordagem Interna da Abordagem Institucional

Os trabalhos acerca da abordagem interna (micro) da Abordagem institucional receberam destaque a partir do momento em que foi destacado o papel dos atores (indivíduos e organizações) e de seus interesses tanto na conceituação quanto na configuração e nas respostas dadas ao ambiente (AUGUSTO, 2007).

Antes disso, as pressões isomórficas demonstravam intensificar o papel da estrutura, limitando o estudo dos acontecimentos relacionados à agência estratégica das pessoas e dos sistemas sociais em que elas estavam inseridas. Esses acontecimentos eram explicados de maneira generalizada como representação da ideologia gerencialista em administração e em teoria organizacional (CRUBELLATE; GRAVE; MENDES, 2004; VASCONCELOS; QUEIROZ, GOLDZSMIDT, 2006).

Esse entendimento de que os atores possuíam um comportamento passivo fazia com que as organizações não tivessem abertura para explicar como poderiam influenciar diretamente o ambiente institucional. Existia, portanto, uma visão determinística das organizações, as quais

Proposição 3: os mecanismos isomórficos explicam o processo de desenvolvimento de produto.

se encontravam paralisadas, sem outra opção a não ser se adequarem às regras e normas institucionais (AUGUSTO, 2007).

Com os estudos de Meyer e Rowan (1977), por exemplo, que evidenciaram o comportamento cerimonial, percebeu-se a possibilidade de escolha dos agentes (indivíduos e organizações) (VASCONCELOS; QUEIROZ, GOLDZSMIDT, 2006). Assim, o papel dos atores em relação ao ambiente institucional é destacado na abordagem interna da Abordagem institucional, já que os indivíduos e as organizações passam a ter um papel ativo na criação, interpretação, manutenção e alteração das regras e normas institucionais. Merece destacar o fato de que a resposta das organizações às regras e normas institucionais pode variar, já que elas podem ter interesses divergentes ao reagir ao ambiente, conforme Crubellate, Grave e Mendes (2004) explicam:

Nessa vertente, busca-se explicitar os mecanismos pelos quais não somente os padrões institucionalizados afetam a configuração das estratégias, mas também os mecanismos pelos quais agentes organizacionais, por intermédio de uma série de fatores – como interesses, em Beckert (1999), diferentes percepções, em Roberts e Greenwood (1997) e Westphal e Zajac (2001) ou mesmo condições organizacionais, como em Meyerson (1994) e em Lounsbury (2001) – elaboram diferentes formas de responder àqueles padrões (CRUBELLATE; GRAVE; MENDES, 2004, p. 54).

De acordo com o Quadro 6, Oliver (1991) ressalta cinco maneiras pelas quais as organizações em um campo organizacional podem responder às pressões institucionais:

Quadro 6 – Respostas Estratégicas aos Processos Institucionais

Estratégia Tática Exemplo

Aquiescência Hábito Imitação Obediência

Seguir normas invisíveis, taken-for-granted Imitar modelos institucionais

Obedecer às regras e aceitar as normas Acordo Equilíbrio

Pacificação Barganha

Equilibrar as expectativas de constituintes múltiplos Amansar e acomodar elementos institucionais Negociar com stakeholders institucionais

Evasão Omissão

Buffer /Tampão/amortecedor Escapar

Disfarçar a não conformidade Afrouxar conexões institucionais

Modificar objetivos, atividades e domínios Desafio Destituir

Desafio Ataque

Ignorar normas e valores explícitos Contestar regras e requisitos

Atacar as fontes de pressão institucional Manipulação Cooptar

Influência Controle

Importar constituintes influenciadores Moldar valores e critérios

Dominar constituintes e processos institucionais Fonte: Oliver (1991, p. 152)

Percebe-se, portanto, que aquiescência (aceitação passiva), acordo, evasão, desafio e manipulação equivalem às possíveis reações organizacionais às pressões institucionais e que

elas variam da conformidade passiva à resistência ativa, dependendo da natureza e contexto das pressões (OLIVER, 1991; AUGUSTO, 2007).

Seguindo essa linha de raciocínio da necessidade de uma abordagem endógena na abordagem institucional para explicar processos de estabilidade e mudança (SUDDABY, 2010), foi desenvolvido o conceito de institutional work (LAWRENCE; SUDDABY; LECA, 2009; LAWRENCE; SUDDABY, 2006) que corresponde à compreensão de como as ações afetam as instituições, focando nos processos em si e não nas estruturas sociais que são o resultado dos processos de institucionalização. Esse movimento é oriundo da teoria prática e dá suporte ao entendimento defendido no presente trabalho de que Estratégia como Prática e Neo Institucionalismo possuem coerência teórica e empírica (JACOMETTI, 2011; SUDDABY, 2013).

Dessa maneira, o institutional work estuda a relação entre prática e práxis inserida em um contexto de imersão social no processo de microconstrução do referido contexto, sendo capaz de explicar processos de desinstitucionalização ou de reinstitucionalização. Isso significa que, sob essa abordagem, é possível identificar a maneira pela qual as práticas podem, ou não, ser legitimadas, incorporando questões de agência, ou seja, do papel dos atores (indivíduos e organizações) tanto na conceituação quanto na configuração e nas respostas dadas ao ambiente (AUGUSTO, 2007). Assim, é possível esclarecer, no nível macro, o processo de estruturação da estratégia, levando em consideração, no nível micro de análise, o papel da agência, por meio do institutional work (JACOMETTI, 2011).

Nesse momento, torna-se interessante ressaltar a relação recursiva entre instituições e ações e, assim, localizar o foco de estudo do institutional work. Ao considerar a recursividade presente na relação entre instituições e ação, percebe-se que as instituições fornecem modelos para ação, assim como um mecanismo regulativo que reforça esses modelos. Por sua vez, a ação afeta esses modelos e mecanismos regulativos. O institutional work se refere, portanto, ao fluxo que decorre da ação na direção das instituições, conforme ilustrado na figura 11 (LAWRENCE; SUDDABY; LECA, 2009).

Figura 11 – A relação recursiva entre instituições e ação

Fonte: Lawrence, Suddaby e Leca (2009, p. 7)

Isso não significa dizer que o efeito das instituições sobre as ações deve ser desconsiderado, inclusive porque esse efeito é imprescindível para compreender a natureza do institutional work, mas que o foco analítico no estudo do institutional work é sobre como ação e atores afetam instituições.

Lawrence e Suddaby (2006, p. 2015) tratam o institutional workcomo sendo “a ação intencional dos indivíduos e organizações que visam a criação, manutenção e interrupção das

instituições”. Assim, com base em um comportamento mais voluntarístico, a abordagem

interna contribui para evidenciar as respostas estratégicas das organizações ao ambiente institucional, sendo considerada uma vertente promissora, já que representa a superação de umas das principais limitações da abordagem institucional em organizações: ausência de estudos sobre o elemento agêntico, revelando o nível de análise micro da Abordagem institucional (BECKERT, 1999).

Dessa forma, o espaço para elaboração e implementação de estratégias é apresentado da seguinte maneira: o ambiente, sob o ponto de vista institucional, exibe pressões que podem reduzir as opções de escolha; o agente, contudo, possui espaço para manobra. Apesar disso, nem sempre o agente está consciente das pressões exercidas ou das alternativas plausíveis, contribuindo, intencionalmente ou não, conscientemente ou não para institucionalização e desinstitucionalização das estruturas sociais nas quais se insere (VASCONCELOS; QUEIROZ, GOLDZSMIDT, 2006).

Tendo apresentado as bases teóricas que fundamentam a realização da presente pesquisa, na subseção a seguir é apresentada a maneira pela qual essas abordagens teóricas estão articuladas entre si e com os objetivos da pesquisa e que conduzem ao argumento de tese.

2.5. ARTICULAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS TEÓRICAS, ARGUMENTO DE TESE