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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.5. COLETA DOS DADOS

Na fase de coleta de dados foram realizadas entrevistas, observação não participante e análise documental durante o período de maio de 2015 à maio de 2016. As observações foram empreendidas nos momentos de espera pelos gestores para realização das entrevistas e ao caminhar pelas fábricas da São Braz e da ShoesShop até chegar ao local onde a entrevista seria realizada. Foi possível observar as atividades desempenhadas pelos funcionários em seu ambiente de trabalho, permitindo compreender melhor as explicações fornecidas durante as entrevistas. As informações coletadas deram origem às notas de campo que puderam ser revistas e aprofundadas nos momentos de análise.

Os documentos analisados foram aqueles ligados ao desenvolvimento da capacidade dinâmica, no caso desenvolvimento de produto, que puderam ser disponibilizados para a pesquisa, tais como, no caso da São Braz, o livro de comemoração aos 60 anos da empresa, e a apresentação de Power Point utilizada pela gerente de treinamento e desenvolvimento de pessoal durante a recepção aos novos funcionários, e, no caso da ShoesShop, além de uma apresentação em Power Point acerca do processo de desenvolvimento de produto da empresa fornecida pelo gerente de inovação de produto da área de produtos esportivos, foi possível analisar alguns relatórios anuais da empresa, folhetos informativos, um fluxo de desenvolvimento de produto, procedimento de acompanhamento de produtos e o checklist de documentação e ferramentas da validação do produto. Além desses documentos, em ambos os casos, dados também foram coletados por meio da pesquisa em jornal e/ou revista, de informações provenientes da internet e de dissertações e monografias.

Entretanto, as entrevistas constituíram a estratégia fundamental na captação de informações potenciais que implicaram na resposta da pergunta de pesquisa desta investigação. De acordo com Merriam (1998, p. 72), as entrevistas são necessárias e fundamentais quando não é possível observar o comportamento e a interpretação das pessoas acerca do seu ambiente, dado a subjetividade da percepção individual do respondente sobre o mundo ao seu redor.

Tendo em vista que “não há experiência humana que não possa ser expressa na forma de uma narrativa” (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 91) e devido ao fato de ser

considerada uma alternativa adequada aos estudos que utilizam a abordagem da ECP (RESE ET AL., 2010; ALBINO ET AL., 2010; ROULEAU, 2011), na presente pesquisa, optou-se pela entrevista narrativa (EN) como principal técnica de coleta de dados. A este respeito, estudos (MENEZES, 2008) já foram realizados utilizando a EN para investigar práticas envolvidas no processo de strategizing.

A narração segue um esquema autogerador com três principais características (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002):

Textura detalhada: refere-se à necessidade de fornecer informação detalhada com

o intuito de tornar a transição entre um acontecimento e outro plausível. No caso da presente pesquisa, essa textura detalhada é sobre o processo de desenvolvimento de produto da empresa.

Fixação da relevância: o narrador relata os fatos que são relevantes, de acordo com

sua perspectiva de mundo, sendo, portanto, seletiva.

Fechamento da Gestalt: o fato central narrado tem que ser relatado em sua totalidade, com começo, meio e fim. Portanto, o praticante relatará todo processo de desenvolvimento de produto, seguindo essa estrutura tríplice para que a história flua.

Apesar da EN apresentar uma estrutura parecida com a entrevista em profundidade proposta por Seidman (1997), já que ambas apresentam uma estrutura em etapas, ela se diferencia, na medida em que não tem o cunho fenomenológico defendido por este autor. Além disso, a EN vai mais além do que qualquer outro método, já que evita uma pré-estruturação da entrevista, superando o tipo de entrevista baseado em pergunta-resposta. Ela emprega um tipo específico de comunicação cotidiana, o contar e escutar história, para conseguir este objetivo (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002).

A EN foca uma situação que encoraje e motive o entrevistado a relatar a história acerca de um fato importante. No caso da presente pesquisa, essa situação corresponde ao processo de desenvolvimento de produto das empresas, devendo o entrevistado relatar sobre o processo de aprendizagem subjacente ao desenvolvimento de produtos, os mecanismos de aprendizagem utilizados, bem como acerca do papel dos elementos de strategizing (práticas, práxis e praticantes) e do isomorfismo no processo de desenvolvimento de produto.

A EN foi processada por meio de quatro fases (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002):

Iniciação: eliciou-se o tópico inicial sobre o qual o narrador deveria falar, ou seja,

participação/função nesse processo. Foi pedida a permissão do entrevistado para que as entrevistadas fossem gravadas, já que a gravação é fundamental para análise posterior.

É importante destacar que antes da fase de iniciação a entrevistadora passou por um momento de preparação, durante o qual ela se familiarizou com o campo de estudo. Isso foi feito por meio da leitura de notícias publicadas na internet, bem como da anotação de relato informal realizada, no caso da São Braz, durante uma conversa inicial como Diretor Adjunto, e, no caso da ShoesShop, com a analista de qualidade, acerca da possibilidade de realização da pesquisa.

Narração central: a entrevistadora se restringiu a ouvir à narração sobre o processo

de desenvolvimento de produto vivenciado, sem interromper, a menos quando havia sinais de que o relatou acabou. Nesse momento, os entrevistados narram sobre os seguintes temas:

 O processo de desenvolvimento de produto: cada entrevistado narrou acerca

dos processos de desenvolvimento de produto do qual participou, explicando, com maiores detalhes, a sua principal atividade durante o processo, bem como as diferenças e/ou mudanças ocorridas entre o desenvolvimento de um produto e outro.

 O processo de aprendizagem subjacente ao processo de desenvolvimento de

produto: os entrevistados relataram acerca da experiência vivenciada por eles em termos de aprendizado ocorrido durante o processo de desenvolvimento de produto;

 os mecanismos de aprendizagem utilizados: tendo em vista que a literatura

(ZOLLO; WINTER, 2002) sugere o uso de mecanismos para aprendizagem, a saber: acumulação de experiências, articulação de conhecimento e codificação do conhecimento, os entrevistados narraram acerca das rotinas de trabalho relacionadas ao desenvolvimento de produto, bem como sobre as experiência profissionais e pessoais vivenciadas, da transferência e codificação do conhecimento gerado a partir do desenvolvimento de produto;

 os episódios de práxis, tais como: reuniões, consultorias, writings, apresentações, comunicação etc. (WHITTINGTON, 2006);

 os praticantes envolvidos, tais como: executivos seniores, gerentes de nível

intermediário, analistas, coordenadores e consultores (WHITTINGTON, 2006);

 as práticas estratégicas, as quais foram: administrativas (mecanismos de

planejamento, orçamento, previsão, sistemas de controle, indicadores de desempenho e metas), discursivas (fornecem recursos linguísticos, cognitivos e simbólicos para interagir sobre estratégia) ou episódicas (criam oportunidade e organizam a interação entre praticantes na elaboração de estratégia, tais como encontros, workshops e away days) (JARZABKOWSKI, 2005);

 a atuação do isomorfismo no processo de desenvolvimento de produto, cujo

entendimento envolveu, primeiramente, conhecer as propriedades estruturais do campo organizacional, já que a homogeneização das organizações surge a partir da estruturação do campo. A coleta acerca das propriedades estruturais do campo foi feita por meio da identificação das regras (leis, decretos, instruções normativas, portarias, regulamentos e resoluções, bem como padrões e procedimentos generalizados no campo que interferem nas práticas estratégicas da organização pesquisada) e recursos (crédito, financiamento, equipamentos, matéria-prima, tecnologia, bem como recursos de natureza relacional, enquanto benefícios resultantes do relacionamento com outras organizações, tais como informação, conhecimento, reputação, contatos comerciais, participação em entidades, etc) disponíveis no campo organizacional para a formação das práticas estratégicas da organização.

De posse das regras e recursos disponíveis no campo e que contribuem para a formação de práticas, foi possível analisar como essas práticas são incorporadas pela organização. Para tanto, utilizou-se o conceito de isomorfismo, revelado por meio das narrativas acerca de experiências profissionais anteriores, formação acadêmica, participação em congressos, feiras, entidades de classe, cursos, etc., contratação de consultorias, políticas governamentais que impactam no funcionamento da empresa etc.

Ressalta-se que no caso em que a pesquisadora percebia que o entrevistado não havia fornecido as informações necessárias para realização da pesquisa, ela instigou

a fala do entrevistado fazendo questionamentos do tipo “é tudo o que você gostaria

de contar?”, “Haveria ainda alguma coisa quer você gostaria de dizer?”.

Questionamento: ao final das narrativas, foram feitas perguntas do tipo “o que aconteceu então?”, no intuito de completar lacunas na história do processo de

desenvolvimento de produto;

Fala conclusiva: com o gravador desligado, conforme orientam Jovchelovitch

e Bauer (2002), a entrevistadora fez anotações pertinentes de comentários informais feitos no final da entrevista em forma de discussões interessantes e fez

questões do tipo “por quê?”.

Adicionalmente, destaca-se que, com relação à perspectiva temporal, as entrevistas tiveram um corte seccional, sendo realizadas em um momento específico, porém analisadas de maneira longitudinal, permitindo compreender as mudanças ocorridas em relação ao desenvolvimento de produto ao longo do tempo.

Realizadas as entrevistas, as mesmas foram transcritas na íntegra. Destaca-se que a transcrição foi feita logo após cada entrevista ser realizada para que a pesquisadora, ainda com a lembrança dos relatos em mente, e com a ajuda das anotações feitas em seu caderno de campo, tivesse como verificar se necessitaria, ou não, realizar uma nova entrevista, ou apenas retomar o contato para esclarecer alguma dúvida ou ratificar a transcrição.

A seguir, são apresentadas as definições constitutiva e operacional utilizadas na presente pesquisa.