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Capítulo 3. Enquadramento metodológico e desenho do estudo

1. Desenho metodológico do estudo

1.2 Abordagem qualitativa

Neste estudo, adotámos uma abordagem qualitativa, por procurarmos compreender a forma como os sujeitos interpretam e dão sentido às suas experiências e ao mundo em que vivem (Vilelas, 2009). Em oposição a uma visão objetiva e numérica da realidade, que caracteriza a abordagem quantitativa, optámos por uma abordagem que nos permite compreender o comportamento dos seus intervenientes, considerando a complexidade dos seus percursos individuais e singulares.

Este tipo de abordagem teve origem na filosofia e nas ciências humanas, mais concretamente na história e antropologia. Como método de investigação, a abordagem qualitativa surge desde o início do século XX na antropologia social, com os investigadores Malinowski (1922) e Mead (1935) e os sociólogos da Escola de Chicago, como Park e Burgess (1925). Ainda que de forma pouco sistematizada, esta parece ter sido a origem desta abordagem que viria a ganhar notoriedade no século XIX, na Alemanha, por parte de

123 alguns académicos que, insatisfeitos com o uso de métodos naturalistas nas ciências sociais, propuseram uma abordagem holística para o estudo de fenómenos sociais (Vilelas, 2009, p. 116).

Assim, surge uma abordagem que se centra no modo como os seres humanos interpretam e atribuem sentido à sua realidade. Nesta ótica, “os cientistas sociais não abordam as pessoas como individualidades que existem no vazio. Em vez disso, exploram os mundos das pessoas na globalidade do seu contexto de vida” (Vilela, 2009, p.106).

Trata-se, por isso, de uma abordagem caracterizada por Bogdan & Biklen (1994) como uma metodologia, na qual a fonte direta dos dados é o ambiente natural. Com efeito, como refere Vilelas (2009), “os estudos qualitativos consideram que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito, que não pode ser traduzido em números. (2009, p.105). Assim, é possível considerar a complexidade dos contextos, uma vez que o ambiente natural é a fonte dos dados e que o investigador os analisa de forma indutiva.

Para compreender esta relação entre o sujeito e a complexidade do contexto onde se insere é necessário adotar uma investigação descritiva onde:

“os dados são recolhidos em situação e complementados pela informação que se obtém através do contacto direto. Além do mais, os materiais registados mecanicamente são revistos na sua totalidade pelo investigador, sendo o entendimento que este tem deles o instrumento-chave da análise” (Bogdan & Biklen, 1994, p.48).

Assim, a investigação qualitativa é descritivo-interpretativa, sendo os dados recolhidos em forma de palavras ou imagens, em oposição ao registo numérico e estatístico, característico da investigação quantitativa. A análise dos dados é feita de modo indutivo, na tentativa de se compreender a forma como os intervenientes dão significado aos fenómenos. Desta forma, “a abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 49).

124 Considerando a natureza complexa do objeto de estudo na abordagem qualitativa, os estudos pressupõem uma flexibilidade e adaptabilidade que o investigador deve adotar ao longo do percurso de investigação. Como referem Bogdan & Biklen (1994),

“os desenhos dos estudos qualitativos são flexíveis e respeitantes ao objecto de estudo. Evoluem ao longo da investigação, e é esta flexibilidade que permite um aprofundamento e pormenor dos dados. O investigador observa as pessoas e as interacções entre elas, participa nas actividades, entrevista as pessoas/chave, conduz histórias de vida ou estudos de casos e/ ou analisa documentos já existentes.” (p. 107).

No que se refere ao investigador, este desempenha um papel fundamental na recolha de dados na abordagem qualitativa, uma vez que tem em conta a singularidade e complexidade dos contextos, estando presente, na maioria dos casos, no local do estudo. Como referem Bogdan & Biklen (1994), “os investigadores qualitativos assumem que o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que ocorre, deslocando-se, sempre que possível, ao local de estudo.” (1994, p.48). Para além disso, há uma maior preocupação pelo processo do que pelos resultados.

Segundo a abordagem qualitativa, o objetivo desta investigação não se confina à verificação (confirmação ou refutação) de hipóteses previamente formuladas. As abstrações são construídas à medida que os dados se agrupam em núcleos de sentido. É a partir de padrões encontrados nos dados que o investigador desenvolve conceitos, ideias e teorias. Nesta abordagem, os investigadores interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos, permitindo uma visão holística dos fenómenos.

Em suma, pode afirmar-se que esta perspetiva de investigação se centra “no modo como os seres humanos interpretam e atribuem sentido à sua realidade. Os cientistas sociais não abordam as pessoas como individualidades que existem no vazio. Em vez disso, exploram os mundos das pessoas na globalidade do seu contexto de vida” (Bogdan & Biklen, 1994, p.106).

Com efeito, neste estudo, os dados foram recolhidos no contexto de sala de aula, no decorrer da implementação de um plano de intervenção didática. Neste sentido, foi tido em linha de conta a natureza complexa do contexto educativo, onde diferentes variáveis

125 se entrecruzam e influenciam mutuamente. Respeitando a natureza descritiva deste tipo de investigação, os dados recolhidos pretenderam evidenciar a opinião dos intervenientes ao longo do estudo. Neste sentido, procurou-se perceber o significado que os intervenientes deram às experiências vivenciadas ao longo do ano letivo.

Após a apresentação da abordagem qualitativa adotada neste estudo, apresentamos, na secção que se segue, o modelo de investigação escolhido, o estudo de caso. No nosso caso, o fenómeno em análise é o desenvolvimento da competência plurilingue dos alunos de uma turma do 10.º ano de uma escola da cidade de Aveiro.

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