• Nenhum resultado encontrado

4 DEFINIÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA: UM

4.1 A abordagem quantitativa

A utilização da abordagem quantitativa em Ciências Humanas se dá através da Estatística. A origem dessa disciplina, segundo Schmidt (2012, p.2), está ligada às pesquisas censitárias empreendidas nas antigas civilizações da Suméria, do Egito, da Mesopotâmia e da China. Depois, a prática do recenseamento também se dá no contexto europeu, especialmente na França no XVII, com intuito de estabelecer um controle administrativo e militar. No século XIX, a estatística ganha mais espaço na Europa. A Alemanha desenvolve uma estatística de cunho literário que se propõe a descrever aspectos do clima e da economia. Já na Inglaterra, passou-se a utilizar a aritmética associada à estatística para fornecer dados quantitativos ao governo. O encontro desses três movimentos relacionados à prática da estatística realizados por França, Alemanha e Inglaterra é que vai delinear a Estatística atual.

De acordo com o professor de estatística Hélio Bittencourt (2007, p.2, grifo do autor), “a Estatística pode ser definida como o conjunto de ferramentas para coleta, organização, análise e interpretação de dados experimentais”.

Para Baquero (2009), as estatísticas trabalham com informações coletadas a partir de variáveis. Conforme o autor40: “todas as características que podem ser medidas, observadas ou mensuradas numa população, em um dado momento e em determinadas condições, são consideradas variáveis”. Tais variáveis podem ser quantitativas ou qualitativas. Há diferença entre ambas, pois na quantitativa os resultados são apresentados em escalas numéricas, já na qualitativa os resultados se referem a atributos ou qualidades.

De acordo com Dancey (2006), devemos compreender que os dados estatísticos podem constituir uma população ou uma amostra, mas só fazem sentido dentro de um contexto. No que se refere à escolha da amostra, devemos compreender que os exemplares terão mais possibilidade de ser representativos dependendo do quão suas características estejam próximas do universo dos sujeitos considerados como o conjunto da população.

Bittencourt (2007, p.4, grifo do autor) esclarece que as estatísticas podem ser de ordem descritiva ou inferencial:

A estatística descritiva é aquela que costumamos encontrar com maior frequência em jornais, revistas, relatórios etc. Essa parte da estatística utiliza números para descrever fatos. Seu foco é a representação gráfica e o resumo e organização de um conjunto de dados, com a finalidade de simplificar informações. Nessa categoria se enquadram as médias salariais, taxas de inflação, índice de desemprego etc.

A estatística inferencial consiste na obtenção de resultados que possam ser projetados para toda população a partir de uma amostra da mesma. Ela fundamenta- se na teoria da amostragem e no cálculo de Probabilidades. Essa é a área mais importante da Estatística.

Um importante instrumento de coleta de dados tanto quanti como quali é o questionário. Segundo Malhotra (apud CHAER; DINIZ; RIBEIRO, 2011), no caso de pesquisas quanti, o questionário visa apreender quantitativamente os dados da amostra, considerando-os passíveis de generalização para a população desejada. Depois da aplicação, os dados são tabulados em uma planilha do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) para serem feitas as correlações entre as variáveis.

Nesta pesquisa todos os questionários foram tabulados nesse programa estatístico. Com o SPSS é possível fazer cálculos percentuais, cálculos das medidas de tendência central – MTC (média, mediana e moda), cálculos das medidas de variabilidade – MV (amplitude, variância e desvio-padrão), cálculos probabilísticos (fenômenos aleatórios), gráficos (pizza, barras, linhas etc.), tabelas, verificar hipóteses (hipótese nula – H0; hipótese alternativa – H1 ou Ha), realizar os testes que verificam o grau de significância dos dados como os testes T de Studart (para uma média ou a comparação entre duas médias) e Qui quadrado (para variáveis em tabelas cruzadas), dentre outros, necessários para a análise dos dados coletados (BITTENCOURT, 2007).

Importa salientar que a estatística não é portadora da verdade absoluta. Para Besson (1995, p.26, grifo nosso) as estatísticas “não são nem verdadeiras, nem falsas, mas

relativas [...]”. O problema está na exatidão, ou melhor, na inexatidão. Não há como ter cifras

totalmente exatas. Mas devemos entender a inexatidão como algo próprio das estatísticas e que isso não as invalidam, pois elas servem a interesses de pesquisa que dizem respeito, de modo geral, à média dos dados.

Com o aporte da estatística, juntamente com o grupo de pesquisadores do LUDICE, integrantes da pesquisa Ação Afirmativa, fizemos a aplicação e a tabulação de questionários com o intuito de traçar o perfil dos estudantes que ingressaram na universidade desde a vigência do sistema de cotas na UFC, ou seja, desde o ano de 2013. Para a pesquisa

guarda-chuva, foram selecionados três cursos dentre os cursos da área de Ciências Humanas: Psicologia, Letras e Pedagogia. Para este trabalho, o interesse voltou-se exclusivamente para a amostra dos estudantes de Pedagogia, por tratar-se do curso cujos dados qualitativos seriam produzidos.

Assim considerando, as questões referentes ao questionário41 traziam peguntas com variáveis quantitativas e qualitativas, ou seja, tratavam de informações gerais do estudante (sexo, orientação sexual, turno em que estuda, se possui algum tipo de deficiência etc.), aspectos socioeconômicos, acadêmicos e culturais. A aplicação dos questionários foi feita nas turmas de Pedagogia, com o consentimento do professor em cada turma. Os estudantes levaram em média de 10 a 20 minutos para responder e entregar o questionário.

Como veremos mais adiante, com o levantamento destes dados pudemos traçar um perfil aproximado dos estudantes que entraram na UFC a partir da vigência do sistema de cotas. A seguir trataremos da abordagem qualitativa.