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Perfil quantitativo dos estudantes de Pedagogia da UFC

5 PERFIS QUANTI E QUALI DA PESQUISA

5.1 Perfil quantitativo dos estudantes de Pedagogia da UFC

O perfil dos estudantes de Pedagogia da UFC foi delineado a partir dos dados coletados por meio dos questionários aplicados aos estudantes que entraram no período de vigência do sistema de cotas, de 2013 a 2015. Tomando o gênero como eixo principal de articulação, organizamos os dados em três categorias, a saber: perfil pessoal e socioeconômico; perfil de escolaridade; perfil acadêmico.

5.1.1 Perfil pessoal e socioeconômico

Os dados utilizados para compor este perfil foram os dados pessoais gerais, sociais e econômicos. Os estudantes do curso de Pedagogia diurno e noturno da UFC têm idade média entre 20 e 30 anos (24,71 sexo F e 29,02 sexo M), grande parte dos alunos não trabalha, a maioria dos discentes são do sexo feminino (72,35%), são heterossexuais (88,9%) e se autodeclaram pardos (64,2%). A quase totalidade não apresenta nenhum tipo de deficiência física, moram na zona urbana (94,7%), mais especificamente na capital cearense (80,2%), residem com de uma a três pessoas em moradia própria, e a maioria tem renda familiar de 1 a 3 salários mínimos e renda pessoal de até um salário mínimo.

Analisando essas informações articuladas ao gênero, temos que 70% dos estudantes são do sexo feminino, quantitativo que corresponde ao percentual nacional (Boletim IDADOS, 2016), e 27,65% são do sexo masculino, o que representa um número considerável em relação ao baixo quantitativo apresentado ao longo da história do curso de Pedagogia da UFC.

Se por um lado, há um elevado percentual de estudantes heterossexuais (88,9 %), há um percentual de estudantes homossexuais (6,3%) e bissexuais (4,2%) que não pode ficar obscurecido nesta pesquisa, considerando que durante as aplicações dos questionários este item foi o que mais gerou reação por parte dos discentes. Observamos dúvidas neste item muitas vezes acompanhadas de risos entre os respondentes, e o caso de um estudante que

escreveu a opção “sem rótulo” no questionário. Essa opção foi considerada na tabulação dos dados correspondendo a 0,5% do total de respondentes.

Do percentual total, entre homossexuais, bissexuais e sem rótulo, temos 11,1% dos estudantes, que, ao cruzarmos a variável sexo com orientação sexual, nos revelou um quantitativo maior para estudantes do sexo masculino. Isso configura uma sensível expressão da diferença no curso de Pedagogia, que na configuração atual produz efeitos no curso, como por exemplo, a reinvindicação de estágios para os estudantes do sexo masculino, posto que os estágios oferecidos pelas empresas e pelas escolas particulares divulgados através de cartazes afixados nas paredes da FACED determinam a contratação exclusiva de alunas, além da reivindicação para que haja disciplinas que tratem de gênero, dentre outras demandas desses alunos.

No que diz respeito à autodeclaração da cor/etnia, somando o número de pardos e pretos, constatamos que o percentual de negros no curso de Pedagogia é bastante elevado (75,8%). Isso pode estar relacionado a o nível de renda, considerando que o curso possui baixo prestígio social e que grande parte da população brasileira, conforme Henriques (2002), é negra e pobre. Por outro lado, a utilização da autodeclaração, ao possibilitar que os estudantes assumissem seu pertencimento étnico-racial, nos leva a inferir que as políticas de ação afirmativa produziram esse efeito positivo de autoidentificação, de reconhecimento do pertencimento étnico-racial.

Entre as mulheres e os homens predomina a categoria parda com mais de 60% para ambos. Entre os homens, não encontramos representação indígena. Além disso, o percentual de brancos entre os homens é de 6 pontos percentual a mais que entre o percentual das mulheres. Isso sinaliza uma mudança no perfil do curso, pois o percentual de mulheres brancas é sempre maior que o percentual de homens brancos na Pedagogia. São as mulheres brancas que têm mais acesso à escolarização, conforme os dados do perfil nacional de escolarização da população brasileira.

A população universitária é, como vimos, majoritariamente de Fortaleza, consequentemente são da zona urbana, mas há também estudantes da região metropolitana, do interior do estado e de outros estados, totalizando 26,3% dos alunos. Provavelmente este baixo percentual seja decorrente da expansão da Educação Superior promovida pelos últimos governos populares no Brasil. Como podemos ver no estado do Ceará, nos últimos 10 anos foram criadas 2 novas universidades: a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e a Universidade Federal do Cariri (UFCA), além disso, houve a

criação de novos campi da UFC (Quixadá e Crateús) e, também, houve um aumento do número de instituições privadas de ensino superior no interior do estado.

No que se refere ao aspecto econômico, os futuros pedagogos moram em residências próprias antes de ingressar e durante a universidade, mas é importante observar que houve um aumento dos estudantes do sexo masculino que moram de aluguel de 9,8% para 22,4%, o que pode sinalizar tanto a busca pela independência dos estudantes dividindo aluguel com colegas universitários, bem como a formação de um novo arranjo familiar, através de casamento ou união estável.

A moradia em aluguel pode ser relacionada ao fato de que os estudantes do sexo masculino iniciam a vida laboral remunerada mais cedo, apesar das mulheres brasileiras também se inserirem prematuramente no âmbito do trabalho doméstico, dedicando-se ao cuidado da casa e de crianças sem receber remuneração. Pudemos verificar nos dados que o quantitativo de homens que não trabalham é menor que o das mulheres, e são eles que estão inseridos numa maior distribuição de renda, chegando à faixa salarial de 6 a 9 salários mínimos. Apenas no segmento que corresponde ao trabalho na área de serviços (CLT) é que as mulheres apresentam um percentual maior que o dos homens, porém, estes têm boa representatividade em cargos obtidos através de concursos públicos, ou seja, o funcionalismo público municipal, estadual e federal (19,6%), o que confirma a situação de desigualdade de gênero no país, dado que os homens possuem uma condição financeira melhor que a das mulheres brasileiras.

5.1.2 Perfil de escolaridade

Neste perfil, consideramos tanto a escolaridade dos sujeitos como a de seus pais ou responsáveis. No caso dos estudantes, trataremos dos dados relativos ao tipo de estabelecimento de ensino em que eles frequentaram e o acesso aos anos iniciais da educação (educação infantil). Já em relação aos familiares, trataremos do nível de escolaridade.

Os alunos do curso de Pedagogia frequentaram a educação infantil, sendo que a maioria deles não frequentou creche e boa parte frequentou a pré-escola. As mulheres em quase todos os níveis de ensino estudaram através da rede privada de educação. Os homens, por outro lado, estudaram a educação infantil em instituições privadas, e os ensinos fundamental e médio, em sua maioria, cursaram em escolas públicas. Isso condiz com a situação socioeconômica familiar das estudantes, pois apesar de ser predominante na faixa de

renda de 1 a 3 SM, tem representatividade nas demais faixas, inclusive na mais alta que corresponde a mais de 15 SM.

Com relação ao nível de escolaridade dos pais ou responsáveis, o nível comum a todos é o ensino médio completo, tanto para os pais quanto para as mães dos estudantes e das estudantes. Porém, percebemos que os pais e as mães das alunas distribuem-se melhor nos diferentes níveis de ensino, diferentemente dos pais e das mães dos alunos. Isso justifica a faixa salarial mais significativa por parte das estudantes, pois supomos que o nível salarial, em geral, está proporcionalmente relacionado ao nível de escolarização. É importante ressaltar que o nível de escolaridade nacional das mães dos estudantes de ambos os sexos concentra-se no ensino fundamental, conforme o Boletim IDADOS (2016).

5.1.3 Perfil acadêmico e cultural

Utilizamos aqui os dados do desempenho dos alunos e os dados relativos ao curso para traçar este perfil. Os estudantes de Pedagogia de ambos os sexos apresentam uma média semelhante na prova do ENEM (M-636,6593 e F-636,4969), ambos tiveram bom desempenho nas notas dos semestres anteriores à aplicação dos dados da pesquisa, 83,7% nunca teve uma reprovação na universidade e a média das notas concentra-se na faixa de 8,1 a 9,0.

É importante observar que o curso de Pedagogia, apesar do baixo prestígio social, é um curso que tem boa aceitabilidade por parte dos discentes, pois um quantitativo considerável, 60,53% dos estudantes, escolheu a Pedagogia como primeira opção. Isso se aproxima do quadro nacional, já que durante uma década o curso de Pedagogia figurou como o primeiro da escolha feminina.

No curso de Pedagogia o percentual de alunos que não possui bolsa (64,8%) é maior que aqueles que possuem (35,1%), porém, consideramos razoável esse percentual de bolsistas dado que houve uma política de aumento de bolsa durante a gestão dos governos populares. Em termos de gênero, ambos têm representatividade dentre os variados tipos de bolsas, no entanto, ao que parece, as bolsas de maior prestígio acadêmico (Pibic, Pibid) são preferenciais do sexo feminino. Por outro lado, as bolsas se distribuem melhor entre os homens e o destaque para eles fica por conta das bolsas de extensão e monitoria.

No que concerne à condição de ingresso, o fato de a maioria do alunado ter entrado através da ampla concorrência (58,2%), seguida das cotas sociais para alunos de escola pública (22,8%) e das cotas raciais (18,4%), nos possibilita visualizar o percentual da distribuição das cotas adotado pela universidade que, dentro da parcela de 50% de vagas para

alunos de escola pública, subdivide-se em duas partes iguais, ou seja, 50% para renda de até 1 SM per capita e 50% qualquer renda, destina-se 67% às cotas raciais dentro de cada um dos dois grupos subdivididos. Para um curso de baixo prestígio social, como é o caso do curso de Pedagogia, estes percentuais podem suprir, em parte, a representação racial. Isto porque, embora haja um número elevado de pardos, há uma subrepresentação de pretos, segmento racial mais acometido pelo racismo e pela desigualdade socioeconômica brasileira.

Correlacionando a condição de ingresso ao gênero, temos que os homens são maioria na concorrência ampla (M-62% e F-56,8%) e nas cotas raciais (M-24% e F-22%), já as mulheres se destacam nas cotas sociais (F-21,2% e M-14%). Apesar disso, podemos perceber que o sexo feminino se distribui melhor entre os três segmentos.

No aspecto que diz respeito ao acesso a bens culturais, a frequência dos discentes se destaca no uso da internet em primeiro lugar, seguido de assistir filmes em casa e participar de atividades religiosas. Dentre as opções menos acessíveis, encontram-se ir ao teatro em primeiro lugar, seguido de assistir espetáculos musicais e ir à exposições de artes plásticas. Isso nos possibilita inferir que os estudantes, dada sua baixa condição financeira, têm maior acesso aos bens culturais de baixo custo.