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CAPÍTULO 3 – OS CAMINHOS DA PESQUISA

3.1 Abordagem e tipo da pesquisa

A definição de qual seria o melhor método para a compreensão de fenômenos na área educacional tem sido razão de muitas discussões, porém, de acordo com Lüdke e André (1986. p. 3), “[...] poucos os fenômenos nessa área podem ser submetidos a esse tipo de abordagem analítica, pois em educação as coisas acontecem de maneira tão inextricável que fica difícil isolar as varáveis envolvidas [...]”. Cabe ao pesquisador a compreensão de que se trata de um campo complexo no qual inúmeros fatores se interligam e interagem formando uma teia onde cada fio relaciona-se a inúmeros outros.

Estudar e entender um fenômeno educacional exige a compreensão de que o contexto social e a realidade histórica, que sofrem alterações constantes, interferem diretamente neste fenômeno e que, portanto, não podem escapar aos olhos do pesquisador. Portanto, justifica-se o estudo, nesta pesquisa, das mudanças ocorridas com o estabelecimento da sociedade do conhecimento, a fim de se compreender o fenômeno que se pretende estudar: a evasão escolar.

O papel do pesquisador é decisivo nesse processo, uma vez que sua visão de mundo, fruto do acúmulo de conhecimentos adquiridos sobre o assunto, serviu de base para a busca de respostas às questões levantadas. A neutralidade científica, tão apregoada na pesquisa quantitativa, cai por terra, dando lugar à valorização dos princípios e pressuposições do pesquisador. São exatamente seus questionamentos que serão úteis para o estabelecimento de um novo conhecimento sobre o fenômeno. Sem esquecer, é claro, que tal conhecimento manifesta-se fluido e dinâmico, em razão das constantes mudanças que ocorrem especialmente no terreno da educação.

Com efeito, adotar o método de pesquisa qualitativa não significa, de maneira alguma, abandono do rigor exigido em um trabalho científico. Cabe ao pesquisador manter- se atento à precisão e veracidade dos fatos, aplicando sua inteligência e extremo cuidado para que o resultado de seu trabalho seja marcado pela confiabilidade e legitimidade.

Diante do exposto, e de acordo com o objeto desta pesquisa, as questões orientadoras, os objetivos e procedimentos metodológicos da pesquisa, o estudo foi desenvolvido na perspectiva de uma investigação qualitativa em educação.

A justificativa da escolha pela pesquisa qualitativa revela-se por meio de suas características e que, segundo Bogdan e Biklen (1982), são cinco, conforme explicitado a seguir.

• O ambiente natural constitui-se a fonte direta que fornece os dados necessários à pesquisa e o investigador é seu instrumento principal – o problema é estudado no ambiente onde ele se manifesta, a fim de que o pesquisador perceba as circunstâncias específicas nas quais o objeto de interesse está inserido.

• A investigação qualitativa é descritiva – os dados da pesquisa se apresentam por meio de palavras ou imagens que são coletadas das entrevistas, notas de campo, documentos pessoais e outros. A palavra escrita é responsável tanto por registrar os dados como também divulgar os resultados. Ao pesquisador qualitativo cabe registrar percepções que podem ser captadas pelas palavras e pelo contexto, de maneira que nada deve passar despercebido aos seus olhos, pois cada detalhe poderá constituir-se em pista que contribua para o esclarecimento do objeto estudado. O material coletado, nesse tipo de pesquisa, apresenta-se carregado de descrições e detalhamento, pois todo fato deve ser tratado com atenção uma vez que pode contribuir para a compreensão do problema.

• O interesse pelo processo é maior do que pelos resultados da pesquisa – o foco está em como os fatos se dão, o modo como eles ocorrem, sendo assim, a ênfase está no processo.

• O significado apresenta-se de importância vital – ao pesquisador qualitativo cabe perceber qual o significado que os sujeitos envolvidos dão às questões levantadas. O pesquisador esforça-se em registrar as percepções a partir do ponto de vista do informador. As diferentes visões de cada um contribuem para a ampliação da compreensão do fenômeno.

• O processo de análise de dados tende a ser indutivo – a condução da pesquisa não se firma em hipóteses pré-estabelecidas, ao contrário disso, a pesquisa, de início, apóia-se em questões de interesse mais amplos que ao final tornam-se mais específicas. Dessa forma, as abstrações se firmam a partir da inspeção dos dados.

Apresentadas as características da pesquisa qualitativa é possível perceber que esse é o método que melhor contribui para a obtenção das respostas que o presente estudo pretendeu alcançar, por meio de seus objetivos: geral e específicos.

Esta pesquisa objetivou estudar um caso que se apresentou delimitado, com suas formas peculiares e características distintas por se tratar de uma realidade específica no

universo intrincado de uma escola agrotécnica. Tratou-se, portanto de um estudo de caso, “[...] estudar algo singular, que tenha valor em si mesmo [...]” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 17). Algumas características do estudo de caso segundo os mencionados autores:

a) busca de descobertas a respeito do fenômeno estudado – embora o pesquisador possua pressupostos teóricos, mantém-se aberto ao surgimento de novos aspectos que poderão surgir no transcorrer do trabalho;

b) o contexto deve ser interpretado – a compreensão do problema é buscada pela relação estabelecida entre as ações, percepções, interações das pessoas e o contexto onde se manifesta o problema;

c) a realidade é apresentada como um todo – a interação dos componentes onde o problema se manifesta deve ser apresentada de forma completa, sem se desprezar as múltiplas dimensões presentes;

d) uso de várias fontes de informação – os dados coletados são adquiridos por meio de diferentes informantes, em momentos e situações diferentes; o que permitirá ao pesquisador o cruzamento de informações que podem abrir um amplo leque de hipóteses;

e) representação de pontos de vista diferentes e até mesmo conflitantes – o estudo de caso permite ao pesquisador apresentar variados pontos de vista ainda que apresentem conflitos entre si; além de poder também ele – o pesquisador – registrar sua visão, oferecendo ao leitor uma gama de informações para que o mesmo chegue a suas próprias conclusões;

f) uso de linguagem mais acessível – os dados podem ser apresentados por meio de formas variadas e os relatos escritos aparecem com estilo informal que se aproximam ao máximo à realidade do leitor.

A compreensão de os fenômenos educacionais apresenta complexidade devido à interdependência dos fatores que os envolvem, justifica a escolha do método qualitativo de abordagem nessa pesquisa que trata de um estudo de caso.

O fenômeno estudado manifestou-se em um complexo ambiente onde transitam os sujeitos que participaram da pesquisa. Por se tratar de diferentes percepções obtidas por pessoas envolvidas na gestão da escola, professores e alunos concluintes e evadidos, as informações mostraram-se diversas e, por vezes, conflitantes. Foi exatamente nas divergências de visões que se obteve a ampliação da compreensão do fenômeno estudado.

3.2 Objetivos da pesquisa

3.2.1 Objetivo geral

Analisar os fatores que explicam a evasão nos cursos de Agropecuária e Informática na modalidade técnico concomitante ao ensino médio da Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes - MG no período de 2002 a 2006.

Concorreram para o alcance deste objetivo geral, os seguintes objetivos específicos:

3.2.2 Objetivos específicos

a) Analisar as percepções de gestores, professores e alunos dessa escola sobre a evasão nos cursos e período investigados.

b) Estabelecer relação entre os diferentes fatores que vêm contribuindo para a evasão dos alunos nos cursos de Agropecuária e Informática da EAFI-MG no período 2002-2006. c) Examinar as estratégias de enfrentamento adotadas pela EAFI-MG, visando à busca de

solução para a evasão nos referidos cursos.

d) Analisar índices e implicações da evasão no ensino técnico de nível médio, considerando as relações do jovem com o mundo do trabalho.

3.3 Caracterização da instituição

A origem da Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes - MG – “Visconde de Mauá” data de 28 de fevereiro de 1918, pelo Decreto nº. 12.893, nove anos após a criação da primeira Escola Agrícola no Brasil, ainda como Patronato Agrícola, vinculada ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.

Passou a ser chamada Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes – MG “Visconde de Mauá”, no ano de 1978, contando com 203 alunos matriculados. Desde então, desenvolveu seu trabalho com base no sistema Escola-Fazenda17, apoiada pela implantação da Cooperativa-Escola como elo entre a Escola e o mercado consumidor; o que permitiu a integração de três mecanismos fundamentais: Sala de Aula, Unidades Educativas de Produção (UEP) e Cooperativa-Escola.

Nesse período, estabeleceram-se os sistemas de Monitoria e Estágio Supervisionado como sistemas complementares. Essas ações perduraram por toda a década de 1980 o que

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