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CAPÍTULO 3 – OS CAMINHOS DA PESQUISA

3.6 Instrumentos e procedimentos de pesquisa

Buscar entender um determinado fenômeno social impôs a necessidade de se conhecer os atores que estavam envolvidos nesse fato e acima de tudo o que eles pensam, sentem e em que acreditam. Em função dessa necessidade, as percepções obtidas pelos instrumentos da pesquisa possibilitaram o aprofundamento da análise da realidade em estudo.

3.6.1 Entrevista semi-estruturada

Um instrumento que permitiu a obtenção dessas informações foi a entrevista, que segundo Kipnis (2005), apresenta taxa de retorno de 70,0 a 80,0%, além de oferecer algumas vantagens como a facilidade da expressão oral em detrimento da escrita. Sabe-se que a dificuldade de responder por escrito (questionários) é muito grande, ficando restrito a um pequeno grupo de pessoas que dominam com facilidade a língua escrita. Já na entrevista, essa barreira é vencida, partindo do princípio de que a maioria das pessoas é capaz e apresenta disposição para participar de um estudo no qual sua ação é exclusivamente falar, principalmente, quando se sentem valorizadas e respeitadas pela atuação do entrevistador. A motivação para falar é muito maior do que para escrever.

Outra vantagem da entrevista, em relação ao questionário, é a possibilidade de correção por parte dos informantes à medida que depõem; o que no questionário é quase impossível. A possibilidade de esclarecimentos de dúvidas ou dificuldades na interpretação da pergunta permite que a obtenção das informações ocorra com maior índice de sucesso.

Outro benefício da entrevista é a possibilidade de captar informações que se revelam não por palavras, mas por outras reações do entrevistado, que permitem conhecer ainda mais as questões subjetivas do problema. À medida que o entrevistado responde a determinadas questões, podem surgir uma complexidade de sentimentos e emoções que serão exteriorizados de alguma forma. Um entrevistador que esteja atento a tais reações será capaz de captá-las e registrá-las. São dados tão importantes quanto as palavras.

Um entrevistador bem integrado com seu entrevistado, que lhe proporcione um ambiente confiável e condições de diálogo, certamente, terá mais facilidade para registrar as informações e captar as reações de seu entrevistado diante das questões mais sensíveis.

O caráter do presente trabalho exigiu a compreensão de fatos que perspassam do universo concreto ao universo subjetivo do indivíduo e que, portanto, demandou um procedimento cuidadoso que permitiu a obtenção dessas informações que no caso, foram alcançadas mediante entrevista semi-estruturada, permitindo ao entrevistador a exploração da percepção das atitudes e das motivações de cada sujeito. A flexibilidade da entrevista semi-estruturada permitiu o “[...] levantamento de aspectos afetivos e valorativos das respostas dos entrevistados e a determinar o significado pessoal de suas atitudes.” (SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1987, p. 40)

A ausência de uma ordem rígida das questões permitiu maior liberdade para que o entrevistado discorresse a respeito do assunto com base no conhecimento que ele detém vindo a ser o foco de interesse do entrevistador. Essa liberdade de percurso da entrevista semi-estruturada, que se desenvolveu a partir de um esquema básico, ofereceu ao entrevistador a possibilidade de adaptações que se fizeram necessárias durante a execução da entrevista, possibilitando a obtenção das informações. Quanto ao entrevistado, a flexibilidade da entrevista deu-lhe oportunidade de expressar-se espontaneamente sobre assuntos específicos e pessoais, inclusive de expor suas emoções sobre os temas abordados.

3.6.2 Questionário

O questionário é um instrumento amplamente utilizado na pesquisa. Segundo Kipnis (2005), algumas vantagens do uso do questionário encontram-se na preparação prévia das questões, na obtenção das respostas escritas dos sujeitos. Outra grande vantagem é que ele garante o anonimato de quem responde, permitindo ao respondente, maior liberdade de

expressão, além de não pressioná-lo a uma resposta imediata oferecendo maior tempo para pensar sobre as indagações feitas. A desvantagem apresentada pelo autor encontra-se na baixa taxa de retorno.

A elaboração das questões exige cuidado do pesquisador. Algumas características que as questões devem apresentar, segundo Matos (1990), são: (a) clareza na linguagem, o vocabulário deve estar de acordo com as habilidades e conhecimentos dos participantes; (b) conteúdos e situações específicas, objetividade na intenção do pesquisador, refletida na estruturação da pergunta; (c) singularidade do propósito do pesquisador, a garantia de que cada questão abranja apenas uma informação; (d) ausência de suposições, de maneira que nada esteja subentendido para o participante e, finalmente, (e) ausência de sugestões, de maneira que nada na formulação da questão sugira ao participante que respostas são esperadas ou desejadas.

As possibilidades de respostas, também, precisam ser bem trabalhadas. Em princípio existem somente dois tipos de respostas: aquela em que o respondente fica totalmente livre para responder e aquela em que o pesquisador sugere algumas respostas ou todas as respostas potenciais. Desses dois tipos de respostas, é possível o desmembramento em quatro tipos de questões: (a) questão totalmente livre; (b) questão livre com limites; (c) questão estruturada com livre opção e por último, (d) questão totalmente estruturada.

Nesta pesquisa, optou-se pelas questões estruturadas com livre opção. O pesquisador sugeriu determinadas respostas, dentre as quais o participante pôde selecionar aquelas que se aplicavam a ele, mas ofereceu, também, uma opção livre, que lhe permitiu acrescentar respostas ou comentários adicionais que não estavam listados. Ao final de cada questão foi acrescentada uma alternativa não estruturada, que se apresentava da seguinte forma: “Outro (s). Indique qual/ quais.” Esse tipo de questão tem como objetivo não restringir demasiadamente as respostas dos participantes permitindo a eles, registrar outras percepções que não estavam contempladas nas alternativas anteriores. Esse tipo de questão permitiu aos alunos fazerem registros mais detalhados sobre sua trajetória na EAFI- MG. Muitos desses depoimentos tornaram-se foco de análises e foram transcritos ao longo do Capítulo 4.

3.6.3 Análise Documental

Outro instrumento de pesquisa foi a análise documental, utilizada com o objetivo de se fazer levantamento de dados importantes na elucidação das questões abordadas. De acordo com Lüdke e André (1986), esses documentos podem ser, entre outros, leis, regulamentos, normas, pareceres, estatísticas e arquivos escolares.

As vantagens desse procedimento se apresentaram pelo fato de que os documentos constituem uma fonte estável e rica e puderam ser consultados várias vezes e de acordo com o tempo do pesquisador, além de gerar acesso imediato à informação. Enfim, os documentos foram fontes de informações e desprezá-los teria sido um prejuízo para a pesquisa.

Os documentos analisados foram arquivos escolares como: registro de matrículas, transferências, relatórios e atas produzidas pela Secretaria de Registros Escolares e Departamento de Administração e Planejamento, bem como fichas individuais de alunos produzidas pela SOE. Na pesquisa ainda foram utilizados documentos oficiais publicados pelo governo federal que apresentaram levantamento de dados a respeito dos censos da Educação Profissional com as taxas de evasão do período estudado.

Selecionados os documentos, os dados foram tratados de maneira a levantar informações que contribuíram para uma melhor compreensão do fenômeno estudado. Os documentos analisados nesta pesquisa foram divididos em dois grupos:

Documentos nacionais:

• Censo da Educação Profissional de nível Médio dos anos de 2004 a 2007 • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96

• Decreto nº. 2. 208/97 • Decreto nº. 5.154/ 04

Documentos produzidos no âmbito da EAFI-MG:

• Plano de Desenvolvimento Institucional • Plano Político Pedagógico

• Relatórios produzidos pela Secretaria de Registros Escolares (SRE), Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando (CGAE), e Departamento de Administração e Planejamento (DAP)

• Atas das reuniões de Conselhos de Classe

• Fichas de acompanhamento individual do educando

O estabelecimento dos objetivos associado à identificação da instituição, do tipo de pesquisa, dos sujeitos e instrumentos utilizados permitiu que o trabalho avançasse para o universo dos sujeitos, para o campo da pesquisa. Tal ação oportunizou a percepção, o registro e a análise de dados que estão apresentados no Capítulo 4.

CAPÍTULO 4 – EVASÃO: FATORES DETERMINANTES NA