CAPÍTULO 3 | A autonomia e a flexibilidade curricular das escolas
2. Planificar a EMRC de acordo com as Aprendizagens Essenciais (AE)
2.2 Abordagens contextualizadas dos Critérios de Avaliação de EMRC
O Decreto-Lei n.º 55/2018 prevê que as AE constituam a orientação curricular de base, “para
efeitos de planificação, realização e avaliação do ensino e da aprendizagem”186, sendo a
avaliação sustentada por uma dimensão formativa e parte integrante do ensino e da
aprendizagem, baseando-se num processo contínuo de intervenção pedagógica, para a qual se
devem utilizar “procedimentos, técnicas e instrumentos diversificados e adequados às
finalidades, ao objeto em avaliação, aos destinatários e ao tipo de informação a recolher”. Não
é com surpresa pois, que se verifique uma contextualização na elaboração dos documentos
curriculares da disciplina de EMRC, e que esta possa estar relacionada com variantes como o
grau de inserção da EMRC na vida da escola, a permanência mais ou menos duradoura do seu
docente, a motivação dos alunos, ou a vivência religiosa da comunidade local em questão.
Tomam-se como exemplos nesta reflexão os Critérios Específicos de Avaliação de EMRC para
o 7º ano do Agrupamento de Escolas (A. E.) de Mondim de Basto, concelho de Mondim de
Basto, distrito de Vila Real, do A.E Monte da Lua, concelho de Sintra, distrito de Lisboa e do
A.E. de Azeitão, concelho e distrito de Setúbal, que constam respetivamente como Anexos 2,
3 e 4.
É interessante verificar as diferenças e semelhanças na conceção da avaliação das
aprendizagens no novo cenário do Perfil dos Alunos, em que deixam de existir Metas a alcançar,
para se definirem Aprendizagens Essenciais a adquirir por todos. Neste sentido, a elaboração
dos critérios de avaliação evidencia a ponte que cada docente faz entre o que é a proposta da
185 Direção Geral da Educação. “Aprendizagens Essenciais, Ensino Secundário, Educação Moral e Religiosa.” Direção-Geral da Educação. s.d. (acedido em 23 de fevereiro de 2019).
disciplina na escola, com a sua perceção e adaptação ao que é a realidade concreta da
comunidade escolar e são as necessidades dos seus alunos.
A principal diferença inicia-se, desde logo, com a organização da própria tabela informativa.
Enquanto que os A. E. de Mondim de Basto e Monte da Lua elaboram uma única tabela para
os três ciclos do ensino básico e secundário, o A. E. de Azeitão fá-lo por ano de escolaridade.
Por outro lado, o A. E. Monte da Lua refere na primeira coluna as competências de eleição do
seu Projeto Educativo (Literacias, Competências Estruturais e Competências Pessoais) e os A.
E. de Mondim de Basto e de Azeitão optam por dar destaque aos domínios da EMRC, também
designados por “dimensões”.
Mondim de Basto Monte da Lua Azeitão
Dimensões Competências Curriculares Domínios
Conhecimentos Social Pessoal
Conhecimento religioso Reflexão Cristã (cultura e visão
cristã da vida) Vivência ética e moral
Religião e experiência religiosa Cultura e visão cristã da vida
Ética e Moral
Tabela 22 - Comparação das dimensões/domínios em três escolas
Relativamente à ponderação para cada domínio/dimensão ou competência esta também não é
uniforme. O peso atribuído evidencia a relevância dada pelo docente a cada área de ensino da
EMRC na aprendizagem e formação dos alunos. Recorde-se que, pelo Programa de 2014, foi
concedido um maior peso ao domínio da Cultura Cristã e Visão Cristã da Vida, de natureza
essencialmente intelectual. Hoje, não se considerando à partida Metas e Objetivos
Programáticos, o professor tem a autonomia de equilibrar o peso de cada domínio, consoante
Domínios Mondim de Basto Monte da Lua Azeitão Conhecimentos Conhecimento religioso Religião e experiência religiosa 50% 30% 30% Social Reflexão Cristã
Cultura e visão cristã da vida
20%
30%
35%
Pessoal
Vivência ética e moral Ética e Moral
30%
40%
35%
Tabela 23 - Comparação das ponderações de avaliação em três escolas
Monte da Lua e Azeitão têm ponderações muito próximas, com uma variação de 5%, centrando-
se um pouco mais no desenvolvimento social e moral dos alunos, enquanto que Mondim de
Basto opta por uma divisão 50%-50%, esclarecendo em nota de rodapé que “dada a
especificidade desta disciplina no que concerne à aquisição, reflexão, fundamentação e vivência
concreta de atitudes e valores morais católicos, a percentagem atribuída na avaliação será de
50% para a dimensão dos Conhecimentos e 50% para a dimensão Pessoal e Social.” O A.E. de
Mondim de Basto é um exemplo pertinente e bem elucidativo de uma estruturação avaliativa
muito discriminada e rigorosa, sendo a única grelha com atribuição de 28% a “Fichas de
avaliação ou trabalhos equivalentes”, enquanto que o Monte da Lua é o único a propor “testes”
como instrumento de avaliação.
A avaliação formativa assume assim, de acordo com o Perfil dos Alunos e as AE uma
importância significativa, sendo a principal modalidade de avaliação.
No que diz respeito à relação dos vários domínios com as AE do Perfil dos Alunos assiste-se a
uma certa arbitrariedade no seu posicionamento na grelha, nem sempre se conseguindo uma
eficaz correlação com as aprendizagens avaliadas, caso do A. E. Monte da Lua, que as apresenta
transversalmente às competências curriculares, não havendo uma articulação clara com a
numa grelha à parte, articulando-as com os respetivos parâmetros de avaliação, tornando a sua
análise mais clara e objetiva. O A. E. de Azeitão apresenta numa coluna final as dez Áreas de
competência, preferindo dar destaque, logo a seguir à coluna da ponderação, às Competências Transversais que são extraídas dos documentos das Aprendizagens Essenciais e se referem
como sendo específicos da disciplina de EMRC. Em relação a estas competências, o A. E.
Monte da Lua não faz menção a nenhuma delas, salientando e adaptando antes, para cada
domínio/competência curricular, um conjunto de algumas Finalidades da disciplina e das
anteriores Metas Curriculares. Esta “recuperação” da orientação por Metas é reveladora do que
muitos docentes acabarão por fazer enquanto o Programa de EMRC de 2014 não se atualizar.
Em suma, lidar com uma nova visão para a educação e novos conceitos de competência num
contexto de autonomia e flexibilidade curricular, desafia, individualiza, contextualiza e
responsabiliza muito mais a participação e prática letiva dos professores. Em relação aos
docentes de EMRC reposiciona-os muito além de agentes da pastoral educativa, com
idoneidade atestada pela respetiva entidade eclesial, mas também como “agentes principais do
desenvolvimento do currículo, com um papel fundamental na sua avaliação, na reflexão sobre
as opções a tomar, na sua exequibilidade e adequação aos contextos de cada comunidade
escolar”187 e com um papel decisivo no processo educativo dos alunos.