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Capítulo 5: Procedimentos metodológicos

5.1 Abordagens em pesquisas orientadas por projetos

No que tange o campo de estudo metodológico dentro da área de processo de projeto de Arquitetura e Urbanismo, Fokkema (2002) explica que o programa de necessidade (escopo do projeto ou objeto de estudo) é derivado de um contexto técnico, econômico, e deve levar em conta as considerações, políticas, culturais, espaciais e

96 Breen (2002) pontua que a abordagem ao fato estudado na pesquisa descritiva ocorre por meio da

explicação detalhada do mesmo, através do estudo/análise dos documentos de origem e assuntos subjacentes.

97 Uma pesquisa que utiliza abordagem exploratória, geralmente trabalha com perguntas que usem os termos:

ecológicas, razão pela qual o arquiteto deve possuir uma sensibilidade multifacetada para trabalhar estes quesitos, além de criatividade e curiosidade de explorar novas formas.

Para o autor, não existe um único método científico capaz de trabalhar com todos estes temas, sendo este um dos motivos que acarretou a organização de comitês específicos para discutir sobre a temática. Nestes comitês haviam aqueles que defendiam a ideia de que o método clássico empírico-científico, atrelado à teoria dos sistemas (discutidos no capítulo 2), seria o suficiente para um arquiteto que possuísse pensamento científico. De outro lado, alguns teóricos advogavam que existiam diversos métodos distintos, e que todos poderiam ser definidos como científicos (cada qual aplicado às tarefas e desafios locais). A síntese desta discussão foi a definição de oito eixos metodológicos98 diferentes

(figura 82), que se referem às metodologias acadêmicas de pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, conforme descrição de Fokkema (2002):

Figura 82: Eixos de pesquisa em projeto após comitê da TU-Delft

Fonte: Autor, 2019

Fokkema (2002) afirmou que: as pesquisas em Naming and describing realizam descrições e nomeações de componentes e conceitos do projeto; os estudos da Typological research trabalham com a variação de contextos para encontrar ‘tipos’ que podem ser generalizados; o Design study varia um objeto (documentando as decisões projetuais) para adequá-lo a um contexto; o Study by design permeia a busca metodológica do objeto e do contexto, na

98 As formas metodológicas de estudo apresentadas por Fokkema (2002) foram definidas após dois comitês

qual a trajetória e o resultado devem ir, necessariamente, além de processos já conhecidos; e o Design research, por sua vez, relaciona-se com a documentação, análise e generalização das decisões do processo de projeto (FOKKEMA, 2002).

De acordo com Breen (2002), neste eixo de trabalho é possível aprimorar a percepção de possíveis soluções de um problema projetivo, visto que se estuda, empiricamente, os meios de concepção de um projeto, juntamente com as mudanças que ali ocorrem.

Como os processos aqui relatados são pesquisas contemporâneas em metodologias de projeto, é preciso ressaltar que a definição destes eixos de estudo, pelos comitês, é recente. Deste modo, os teóricos discordam em alguns aspectos caracterizadores, como por exemplo a necessidade condicionante da existência da hipótese durante a pesquisa. Isto posto, a presente investigação não busca adentrar nestas discussões, mas aponta a existência das mesmas.

Portanto, baseado nas caracterizações teóricas onde ocorrem concordâncias entre os autores, definiu-se para o presente trabalho, o uso do Design research99 como método

de pesquisa orientada por projeto. Esta escolha ocorreu em virtude dos resultados das investigações (capítulo 6), que apresentam a documentação, análise e generalização das decisões dos processos de projeto e de fabricação estudados. Meyer (2002), ao discorrer sobre a análise metódica presente neste tipo de pesquisa, afirmou que através dela é possível confirmar se o projeto conseguiu alcançar seu objetivo dentro do contexto dado.

5.1.1

Design Research

Breen (2002) aponta que a pesquisa orientada por processos de projeto envolve a concepção e a percepção da metodologia projetiva além do próprio resultado (produto),

99 Ressalta-se que embora Fokkema (2002) utilize a expressão projetos existentes como condicionante da

pesquisa em Design Research (o que seria para ele uma pesquisa de algo já projetado), De Jong e Van der Voordt (2002) não apresentam esta condicionante. O presente trabalho segue a linha de raciocínio de De Jong e Van Der Voordt (2002).

sendo utilizadas nestas investigações técnicas comprovadas ligadas aos ciclos de pesquisas empíricas reconhecidas.

Nas pesquisas que trabalham com Design Research existem, mesmo que implicitamente, comparações entre projetos, comparações estas que podem ocorrer ainda que o estudo se restrinja à uma variável/projeto (n = 1), o que caracterizaria um estudo casuístico como definiram De Jong e Van Duin (2002). Nestes casos, as comparações ocorrem com o contexto da formação e experiência profissional do próprio arquiteto investigador. Em outras palavras, existirá, em casos como este, uma comparação mesmo que implícita com outras referências arquitetônicas já conhecidas pelo pesquisador.

A análise, nestas pesquisas, começa no momento em que é feita a descrição do contexto100, projeto, objeto, ou escopo/programa de necessidades, e havendo alguma

referência de outro projeto existente, é preciso documenta-la já nesta fase, conforme Breen (2002).

O processo de projeto é documentado, conscientemente, em benefício do estudo, através do qual esboços projetivos e modelos de desenvolvimento, opções intermediárias e resultados, podem ser usados para ilustrar e motivar o produto final e colocá-lo em uma perspectiva mais ampla. [...] Tais abordagens podem ser valiosas, porque oferecem insights acerca do domínio da tomada de decisões de projeto e, muitas vezes, desempenham um papel significativo no ensino de projeto (BREEN, 2002, p. 140).

Para que o processo projetivo possa ser estudado sob um viés metodológico são utilizados fluxogramas dos procedimentos que englobam a concepção do projeto, contexto no qual Breen (2002) apresentou os símbolos utilizados em esquemas de pesquisas orientadas por processos de projeto101 (figura 83).

100 De Jong e Van Duin (2002) apontam que a o local, a planta de situação e o programa de necessidades fazem

parte do contexto.

101 Os símbolos utilizados fazem parte de metodologia de análise de processo de projeto de pesquisadores

que publicam em língua inglesa, para manter relação com a literatura, optou-se por representá-los com as mesmas letras. Foram traduzidos os significados de todos os símbolos procurando respeitar ao máximo o

Figura 83: Símbolos utilizados em fluxogramas de pesquisa de processo de projeto

Fonte: Adaptado de Breen, 2002

Os pontos suspensivos presentes no símbolo utilizado para projeto de pesquisa (R ...) fazem referência a um dos oito modos que orientam as pesquisa de processo de projeto, onde cada número romano equivale à um tipo: Individual process based research (I), Thematic process based research (II), Design workshop based research (III), Designerly workshop based research (IV), Individual result based research (V), Comparative result based research (VI), Design data comparison based research (VII) e Designerly interpretation based research (VIII)102. Ressalta-se que as investigações da presente pesquisa se

enquadram no primeiro caso (I), um exemplo de fluxograma que ilustra tal processo foi apresentado por Breen (2002), conforme figura 84:

sentido original do termo/expressão. Por fim, apenas os símbolos referentes aos inícios de processos de projeto (com e sem apoio de pesquisa) foram ligeiramente alterados, mantendo o mesmo sentido e relação com a referência original estrangeira.

Figura 84: Exemplo de pesquisa de processo de projeto do tipo I

Fonte: Adaptado de Breen, 2002

As pesquisas orientadas por projetos têm em seu âmago a possibilidade de desenvolvimento de protótipos, de modo que tais pesquisas se voltam, dessa forma, tanto ao estudo do processo quanto ao desenvolvimento do produto. Estas pesquisas possuem uma sequência de projeto – teste – (re)projeto, podendo existir vários ciclos até que se atinja uma solução ótima (DE JONG; VAN DER VOORDT, 2002). Os resultados das investigações exploradas no capítulo 6 também utilizam o desenvolvimento de protótipos durante seus respectivos processos.