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BASES EPISTEMOLOGICAS PARA A ANÁLISE DA PESQUISA EDUCACIONAL

1. Conceitos Básicos das Análises Epistemológicas

1.4. Abordagens Epistemológicas da Pesquisa em Educação

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia em todas as áreas do saber teve também na educação uma importante incursão, entretanto, em forma parcial na medida de em que a aplicação das concepções de ciência foi reduzida à sua dimensão operacional e instrumental. Segundo Sánchez Gamboa (2007, p 45), “a redução tecnicista invadiu a prática da pesquisa educativa em educação”. Como consequência de tal invasão, surgiram várias perguntas que o

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mesmo autor faz, dentre elas: quais os resultados de tal invasão e de tal reducionismo? Existe possibilidade de superar essa invasão?

Como resultado das denúncias do reducionismo e tecnicismo em educação, surgiram os estudos que auxiliaram na compreensão de outras dimensões da pesquisa que eram desestimadas ou ignoradas, dimensões relacionadas com os métodos e as teorias que implicitamente compõem o esforço científico para conhecer a problemática da educação. Dessa forma, os estudos epistemológicos ganham espaço na tentativa de revelar ou resgatar os nexos entre as dimensões, técnicas, metodológicas e teóricas da pesquisa educacional.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia trouxe como resultado a necessidade de reafirmar a pesquisa na universidade, o que acontece no espaço dos cursos de pós-graduação na América Latina. Tais cursos têm como requisito indispensável o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, também se tornam exigência para ascender na escala salarial ou profissional. Nesse contexto, é importante esclarecer que nem todas as IES tinham recurso humano qualificado, tanto para ministrar um curso ou trabalhar com uma disciplina, menos ainda para orientar tais pesquisas.

A quantidade começou a primar sobre a qualidade, e no caso colombiano em particular, a carência de orientadores para dirigir os trabalhos de pesquisa se torno num grave problema. Muitos estudantes ficaram frustrados, após terminarem as disciplinas, perante a dificuldade de conseguirem orientadores para desenvolver seus projetos. Nesse quadro de carência, os cursos de pós-graduação também perderam, porque tiveram a evasão de estudantes que causou desequilíbrio financeiro das Universidades.

A produção que se pretende analisar, durante um período de vinte e cinco anos (1980- 2005), quando definitivamente o país começa a desenvolver na pós-graduação, requer verificar os elementos qualitativos que caracterizam essa produção. O estudo das abordagens, a validez científica de seus resultados, a aplicabilidade de suas conclusões, seus critérios de cientificidade, seus fundamentos.

Estudos anteriores, feitos no mesmo período, identificaram problemas, como:

“Formalismo acadêmico”, que alterou as motivações dos pesquisadores, pois seu interesse maior não é produzir novos conhecimentos e sim cumprir os requisitos para a obtenção de titulo e de progressões nas carreiras profissionais; [...] o “ritualismo

40 metodológico”, os “modismos teóricos”, o “reducionismo tecnicista” e o “ecletismo pragmático”. Todos estes “ismos” são, possivelmente, resultantes da prática superficial de uma pretendida produção científica e/ou da falta da compreensão dos fundamentos epistemológicos e das implicações filosóficas das diversas formas de elaboração dos conhecimentos e dos diversos paradigmas científicos. A forte influência dos manuais de pesquisa que “ensinam” técnicas faz aparecer a pesquisa científica como o domínio de receitas para a coleta, organização, tratamento e apresentação dos dados, sem informar sobre as especificidades do trabalho cientifico, sobre as diversas tendências de pesquisa, sobre os fundamentos epistemológicos e filosóficos da prática científica (SANCHEZ GAMBOA, 2007, p. 48).

A partir da década dos anos 1990 se intensificou a discussão sobre paradigmas científicos e modelos de pesquisa. Essa discussão que acontece no contexto internacional se expande por América Latina. Segundo Latapí (1994, p 46), em maior ou menor grau as ciências sociais nos países latinos têm guardado uma relação de dependência com os países centrais, principalmente com os Estados Unidos, França e Reino Unido. Para a pesquisa sócio-educativa isso tem significado a importação (através dos alunos de pós-graduação que estudam nesses países, da presença a reuniões acadêmicas o de projetos conjuntos de pesquisa ou subsídio técnico) dos paradigmas teóricos fundamentais vigentes nesses países.

Com relação à discussão sobre os métodos de pesquisa, estes são comumente tratados nos manuais de forma predominantemente instrumental, parecendo mais uma fórmula para ser aplicada, deixando de lado a preocupação pelas questões metodológicas, teóricas e epistemológicas que deveriam ser o norte de toda pesquisa. Sánchez Gamboa nos alerta sobre a importância dessas questões na formação do pesquisador, insubstituíveis para a elaboração de uma pesquisa de qualidade.

A formação do pesquisador não pode restringir se ao domínio de algumas técnicas de coleta, registro e tratamento de dados. As técnicas não são suficientes, nem constituem em si mesmas uma instância autônoma do conhecimento cientifico. Estás têm valor como parte dos métodos. O método ou caminho do conhecimento é mais amplo e complexo. Por sua vez, um método é uma teoria de ciência em ação que implica critérios de cientificidade, concepções de objeto e de sujeito, maneiras de estabelecer essa relação cognitiva e que necessariamente remetem a teorias de conhecimento e a concepções filosóficas do real. Essas diversas concepções dão suporte às diversas abordagens utilizadas nas construções científicas e na produção de conhecimentos (SANCHEZ GAMBOA, 1998, p 62).

Para elaborar uma pesquisa científica o investigador deverá ter um amplo conhecimento das técnicas, das relações com os métodos e as estratégias. A articulação lógica deles com as

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teorias e os pressupostos filosóficos e as abordagens epistemológicas são a chave para uma pesquisa de qualidade.

As abordagens epistemológicas se referem às formas de construir um processo de conhecimento. A conotação de epistemológica se deriva do termo epistemologia, que significa literalmente teoria da ciência. Outras denominações tais como metaciência ou filosofia da

ciência que indicam a reflexão sobre conhecimento cientifico abrangem qualquer investigação

que se preocupe da estrutura, dos métodos, dos significados, dos objetivos ou dos valores das ciências.

Estudos epistemológicos procuram na filosofia seus princípios e na ciência seu objeto e têm como função não só elucidar os problemas gerais das relações entre filosofia e as ciência, mas também, suas aproximações e a construção de novas perspectivas tanto para a ciência como para a filosofia.

As análises epistemológicas da produção científica na área de educação deverão se localizar como análise conceitual sobre essa produção, e nesse sentido é considerada como anáçise de segunda ordem que argui os fundamentos da ciência, os processos de produção do conhecimento e os parâmetros de confiabilidade e veracidade (justificativa) da pesquisa científica (as questões de primeira ordem ou factuais são próprias de cada ciência específica). A tarefa de segunda ordem procura revisar a compreensão subentendida do que está em volta da pesquisa factual ou de primeira ordem.

O termo epistemologia da pesquisa educacional refere-se à produção da pesquisa científica na área de educação como objeto do conhecimento, analisada com o auxílio das categorias filosóficas.

Analisar de forma articulada os aspectos técnico-instrumentais para relacioná-los com os níveis metodológicos, técnicos e epistemológicos, e estes por sua vez, com os pressupostos gnosiológicos e ontológicos relativos à visão de realidade implícita na pesquisa, são características próprias das abordagens epistemológicas.

Outra característica importante das análises é contribuir com a recuperação das ideologias e suas implicações presentes nos diversos paradigmas científicos, a partir dos pressupostos ontológicos. Para Habermas (1983), “constituem o campo complexo dos interesses humanos que comandam os vários tipos de conhecimento”. A relação entre “conhecimento e interesse” poderá

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ser revelada na medida em que se analisem as articulações entre a prática científica e seus pressupostos filosóficos.

De forma diferente, mas como o mesmo objetivo, a epistemologia genética, de Piaget, “cuida da formação e dos significados do conhecimento” o seja, dos meios por meio dos quais a mente passa de um nível de conhecimento inferior a um superior, a semelhança da psicologia genética que de forma particular cuida do pensamento infantil e dos seus “estágios”, (ABBAGNANO, 2007, p.952).

As reflexões anteriores apontam para a pertinência e a possibilidade da compreensão da articulação entre a filosofia e a ciência. E as análises epistemológicas buscam entender a obra científica como um todo com unidade e sentido que envolve conteúdos lógicos e históricos.

Os conteúdos lógicos determinam a articulação das categorias que formam uma unidade de pensamento, com uma relativa estrutura interna formalizada, mediada pelos processos de produção e de gênese, razão pela qual o lógico não pode estar separado do histórico.