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Capítulo 1 Educação para a diversidade linguística e cultural

1.2. Abordagens plurais das línguas e das culturas

A preocupação de educar os alunos para a diversidade levou à necessidade de se pensar em “práticas educativas orientadas para o contacto com a diversidade” (Dias et al., 2010, p. 66), conjugando diferentes saberes e competências. Era inadiável a existência de uma área transversal, onde o cruzamento e a interação de aprendizagens tivessem um lugar de destaque no espaço escolar. Assim, emergiram as abordagens plurais.

Abordagens plurais são, segundo Candelier et al. (2007), “approches didactiques qui mettent en œuvre des activités d’enseignement-apprentissage qui impliquent à la fois plusieurs (= plus d’une) variétés linguistiques et culturelles’’ (p. 7). Trata-se de uma “conceção mais holística” do ensino, atendendo ao “desenvolvimento do repertório linguístico-comunicativo” dos alunos de uma “forma mais dinâmica e evolutiva”, estando todas as línguas “em pé de igualdade” (Lourenço, 2013, p. 149). Estas abordagens valorizam e respeitam as raízes culturais e linguísticas dos alunos, procuram proporcionar novos conhecimentos e despertar não só os alunos mas também os professores para a diversidade existente. Procura-se privilegiar os materiais e suportes didáticos recorrendo a estratégias que fomentem atitudes positivas face à diferença com o objetivo de estabelecer relações diversificadas (cf. Lourenço, 2013).

Posto isto, salienta-se a importância de incluir abordagens plurais no currículo do 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB), de forma a favorecer uma educação para a cidadania e a promover o sucesso escolar.

Assim, as abordagens plurais no ensino/aprendizagem de línguas ajudam os alunos a compreender a importância da

“comunicação intercultural e plurilingue no contexto da construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável, onde se persegue uma compreensão de si próprio, do Outro, das suas línguas e culturas, e do Mundo, dos ecossistemas, dos recursos naturais e das suas inter-relações, numa perspectiva integrada e também plural da construção de conhecimento” (Andrade, Lourenço & Sá, 2010, p. 71).

Acompanhando e comentando a citação anterior afirma-se que as abordagens plurais preparam os alunos para viver em sociedades multilingues e multiculturais, respeitando o Outro e desenvolvendo, assim, uma sociedade marcada pela solidariedade e pela equidade.

Em 2007, no documento Cadre de référence pour les aproches Plurielles (CARAP) Candelier, Camilleri-Grima, Castellotti, Pietro, Lörinez, Meissner, Schröder-Sura, Noguerol (2007) identificam quatro abordagens plurais: a didática integrada, a abordagem intercultural, a intercompreensão e a sensibilização à diversidade linguística e cultural (cf. Figura 1).

Como se pode ver no esquema, as quatro abordagens podem ser trabalhadas simultaneamente e de forma complementar, com vista a atingir o objetivo comum – educar os alunos para as línguas e as culturas (cf. Coste, 2011; De Pietro 2008 in Lourenço, 2013).

A primeira abordagem - didática integrada – tem como objetivo que os aprendentes, utilizando a sua língua materna ou as línguas que já dominam, consigam estabelecer relações com outras línguas ensinadas na escola. Ao aprender uma segunda

Figura 1 – Abordagens plurais Sensibilização à diversidade diversidade linguística e cultural Didática integrada Inter- compreensão Abordagem intercultural

Abordagens

plurais

língua, os alunos utilizam os conhecimentos que têm sobre a sua língua materna e, ao apropriarem-se das duas primeiras línguas que aprenderam, conseguem desenvolver competências para a aprendizagem de uma terceira língua (cf. Candelier et al., 2007; Lourenço, 2013)

A segunda abordagem - abordagem intercultural – pretende despertar os alunos para os aspetos culturais que são inerentes a cada língua. Esta abordagem pretende levar os alunos a (i) compreender melhor certas culturas, (ii) aceitar as especificidades de cada uma, (iii) desenvolver capacidades para comunicar com pessoas pertencentes a outras culturas e (iv) favorecer atitudes de aceitação face à diversidade existente. Através desta metodologia, os aprendentes têm mais oportunidades para explorar, de forma consciente, as características de culturas diferentes, desenvolvendo uma visão mais crítica da comunicação (cf. Dias et al., 2010; Lourenço, 2013).

Referindo a terceira abordagem – intercompreensão – esta apresenta-se como um conceito mais complexo, devido a ser objeto de um campo de investigação muito vasto. No entanto, pode definir-se como a capacidade de fazer associações entre línguas e aceder a novos dados verbais, com o objetivo de conseguir comunicar e compreender outros dados verbais até aí desconhecidos. Utilizando competências (conhecimentos, capacidades e atitudes) já adquiridas, é possível estabelecer pontos comuns com outras línguas. Desta forma, consegue-se associar um significado a formas linguísticas desconhecidas através das capacidades linguístico-comunicativas já desenvolvidas. Por outras palavras, trata-se de um processo, de uma estratégia que se relaciona com a capacidade de utilizar uma língua próxima, que nós não aprendemos mas que conseguimos compreender, de forma a desenvolver o nosso repertório (cf. Andrade & Sá, 2003; Neves, 2013).

À semelhança da didática integrada, a sensibilização à diversidade linguística e cultural tem em consideração os conhecimentos que os alunos já têm da sua língua materna, ou de outras línguas que já tenham aprendido ou contactado, para promover um contacto com a diversidade linguística na sua generalidade, estimulando a curiosidade por outras línguas para além daquelas que aprendem na escola, ou seja, que a escola não tem por missão ensinar. O objetivo principal não é o ensino de determinadas línguas, tratando- se antes de despoletar a recetividade em relação às mesmas. Desenvolvida a partir de atividades de ensino e aprendizagem que envolvem mais do que uma língua e/ou cultura, esta abordagem faz com que os aprendentes observem, descubram e compreendam o valor

das diferentes línguas para as comunidades que as falam, assim como o valor das diferentes culturas (cf. Dias et al., 2010; Andrade, Lourenço & Sá, 2010; Lourenço, 2013).

Recorrendo ao ponto desejável de ação apresentado no subcapítulo anterior, ou seja, à inclusão de uma abordagem à DLC no currículo escolar para que seja mais flexível e adaptado, torna-se pertinente referir que as abordagens plurais devem constituir “uma área transversal a todo o currículo do ensino básico, devendo ser geridas de forma flexível e articulada com as outras áreas, não dissociando saberes das variadas disciplinas pois estas estabelecem relações entre si” (Dias et al., 2010, p. 69). Assim, deseja-se que a diversidade de línguas e de culturas chegue aos alunos de forma interdisciplinar e, para isso, é preciso reconsiderar os objetivos, reformular os conteúdos, sugerir novas práticas pedagógicas e estimular os alunos para que tenham interesse em abordar, direta ou indiretamente, a DLC. E é nesta ótica de interdisciplinaridade e de transdisciplinaridade que se deve basear a verdadeira concretização das abordagens plurais, estas não podem surgir de forma isolada mas sim de acordo com uma gestão curricular integrada (cf. Dias et al., 2010).

Como já foi aludido, recorrer às abordagens plurais pode ser uma alternativa e um caminho a seguir dada a necessidade de diversificar, articular e integrar o contacto com outras culturas ou a aprendizagem de outras línguas, dado que estas abordagens envolvem estratégias que promovem atitudes positivas face à pluralidade linguística e cultural, preparando os alunos para estabelecerem relações positivas dentro da sua própria cultura, assim como com outras culturas (cf. Gomes, 2006). Candelier et al. (2007) reforçam esta ideia mencionando que sem abordagens plurais torna-se reduzida

“la capacité de l’école à doter les apprenants des compétences linguistiques et culturelles diversifiées (et de la faculté à les étendre) dont chacun a besoin pour vivre, travailler, participer à la vie culturelle et démocratique dans un monde où la rencontre avec la diversité des langues et des cultures fait de plus en plus partie du quotidien, pour un nombre de plus en plus élevé d’individus (p. 10).

Assim, acredita-se que as abordagens plurais, ao serem postas em prática, poderão ser capazes de oferecer condições para uma educação que prepare os alunos para a sua vida pessoal e profissional que será, certamente, confrontada com a existência da DLC.

O presente trabalho e, por conseguinte, o projeto de intervenção-investigação apresentado mais à frente não teve como objetivo que os alunos aprendessem quaisquer

línguas, mas sim que tivessem curiosidade e respeito pelo conhecimento de outras línguas e culturas. Aliado a isto, também se pretendia que os alunos utilizassem os conhecimentos da sua língua materna, denominada neste relatório de Romani-caló1, para compreender e aceitar a DLC. Ora, isto vai ao encontro do que se pretende com a abordagem plural sensibilização à diversidade linguística e cultural, que se aborda mais especificamente no próximo subcapítulo.

1.3. Sensibilização à diversidade linguística e cultural nos primeiros anos de