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Capítulo 1 Educação para a diversidade linguística e cultural

1.3. Sensibilização à diversidade linguística e cultural nos primeiros anos de

Como já foi referido anteriormente, a escola deve constituir um espaço para a preparação e para a compreensão do Outro, pois é vista como um lugar onde a multiplicidade de línguas e culturas é bastante visível. As modificações culturais e sociais que, de forma crescente, se vão verificando no meio escolar levam a que haja a necessidade de desenvolver a curiosidade pela riqueza que advém do mundo do Outro e de aprender a respeitar a cultura e a língua do Outro (cf. Andrade, Lourenço & Sá, 2010; Dias

et al., 2010).

Neste alinhamento, a escola assume um papel crucial na SDLC cumprindo a sua “função de preparar os alunos para serem futuros cidadãos do mundo, conscientes e responsáveis” (Marques & Martins, 2010, p. 82), em particular, no 1.º CEB.

Martins (2008), com base em Candelier (1998), afirma que dentro desta educação que sensibiliza para a DLC existem determinadas finalidades que possibilitam

“A) o desenvolvimento de representações e de atitudes positivas: 1) de abertura à diversidade linguística e cultural; 2) de motivação para a aprendizagem de línguas; B) o desenvolvimento de capacidades de ordem metalinguística/metacomunicativa e cognitiva, facilitadoras do acesso ao domínio de línguas, incluindo a língua materna; C) o desenvolvimento de uma cultura linguística (saberes relativos às línguas), que constituem um conjunto de referências facilitadoras da compreensão de um mundo plurilingue e multicultural” (Candelier, 1998; 2003 citado por Martins, 2008, p. 171).

Resumindo, a SDLC ajuda ao desenvolvimento de competências sociais, cognitivas e afetivas, sendo que contribui para a aquisição de conhecimentos e valores, para o alargamento de capacidades e para a promoção de atitudes positivas.

Ao apostar nesta sensibilização pretende-se motivar os alunos para lidarem com diferentes línguas e culturas, em processos de relação, comparação e interação com o Outro. Assim, estes deverão ser capazes de se tornar falantes interculturais, competentes em “várias dimensões do saber (saber ser, saber aprender, saber fazer, saber), para desenvolver uma consciência cultural crítica que possibilite a descoberta e interacção com as diversas línguas e culturas” (Marques, 2010 citado por Dias et al., 2010, p. 68).

Silva (2010) também refere que, ao promover e ao sensibilizar para a DLC, “procura-se desenvolver a flexibilidade mental (…) promover a autoconfiança e a vontade de participar, bem como criar o desejo de conhecer e viver com o Outro (…)“ (p. 3). Acredita-se, então, que a SDLC é uma forma de “acordar” os alunos para o crescimento da mobilidade humana e para a comunicação global iminente.

Mas, em que é que consiste uma SDLC e que vantagens tem para os alunos? Tavares, Valente & Roldão (1996) esclarecem que “uma sensibilização passa pela criação de uma atitude positiva em relação à língua e a cultura, pelo despertar da curiosidade, pelo incentivar da vontade de falar ou de ouvir essa língua” (p. 52). Ao falar em sensibilização à DLC pretende-se (i) criar o desejo de aprender outras línguas, (ii) consciencializar o aluno sobre a importância da DLC, (iii) proporcionar momentos de aprendizagem através de outras línguas, (iv) ativar a curiosidade, o espírito de abertura e o interesse em relação a outras línguas e culturas, (v) desenvolver diversas competências e (vi) favorecer atitudes de aceitação, respeito e tolerância (cf. Conselho Europa, 2001; Gomes, 2006; Martins, 2008). Aliás, através da sensibilização

“On peut acquérir des connaissances sur diverses cultures de plusieurs façons, notamment par une prise de conscience culturelle critique qui est la capacité d'évaluer de manière critique et à partir de critères explicites les perspectives, les pratiques et les produits aussi bien de sa propre culture et de son propre pays que de ceux des autres” (Starkey, 2002, p. 27).

E possuindo uma consciência cultural crítica, os alunos vão perceber que é importante refletir sobre as suas práticas e visões que têm do mundo, questionando as suas

próprias ações e as dos outros. É importante destacar que a SDLC tem de ser vista como um todo, sem distinções entre a importância da língua ou da cultura, pois ambas estão profundamente ligadas e são dependentes uma da outra. Outras “línguas permitem ver outras culturas: através do conhecimento do outro, ficamos a conhecermo-nos melhor” (Tavares, Valente & Roldão, 1996, p.19). A língua é parte da cultura de uma dada população e é o meio de comunicação mais importante. Esta comunicação deve alargar-se a outras culturas, permitindo que os alunos se descentralizem da sua língua de origem. Assim, reconhece-se que o domínio de línguas é um instrumento transversal pois o seu conhecimento cria cidadãos mais cultos, participativos, emancipados e solidários uns com os outros (cf. Strecht-Ribeiro, 1998; Sá & Andrade, 2009; Gomes, 2006).

De facto, “o processo de aquisição e aprendizagem de línguas estrangeiras acaba por ser mais um dos elementos de um processo de socialização mais vasto” (Strecht-Ribeiro, 1998, p. 53), apesar do primeiro processo apresentado não ser o objetivo principal da abordagem em causa. No entanto, se esta abordagem conseguir provocar mudanças no comportamento nos alunos, face à aceitação das línguas e das culturas é muito provável que surja a vontade de aprender outras línguas por parte dos mesmos.

Como já foi atrás dito, a SDLC e as outras abordagens procuram privilegiar os materiais e suportes didáticos recorrendo a estratégias que fomentem atitudes positivas face à diferença. Especificando um pouco mais, estas estratégias podem passar por: (i) proporcionar aos alunos o contacto com diferentes enunciados em diferentes línguas, o que poderá sensibilizá-los para o conhecimento das respetivas culturas; (ii) promover a realização de pesquisas sobre a DLC e/ou (iii) propiciar a partilha entre os alunos sobre os seus conhecimentos sobre outras línguas e culturas (cf. Martins, 2008). A utilização destes materiais pedagógico-didáticos e destas estratégias contribuem para a valorização de outras línguas e culturas e para uma curiosidade pelo Outro e pela sua língua, propiciando relações positivas dentro da sua própria cultura, assim como com outras culturas (cf. Gomes, 2006). Reforçando esta ideia Lourenço & Andrade (2011) referem que “esta abordagem didáctica, que parte de actividades assentes na descoberta de línguas e culturas, da sua história, das suas semelhanças e particularidades”, desenvolve “resultados positivos no que se refere à promoção de atitudes de respeito e de abertura a outros povos” (p. 335). É uma abordagem que tem como objetivo criar oportunidades de interação com diferentes línguas e culturas.

Fernandes (2014) diz mesmo que não se pretende ensinar a língua do menino ucraniano ou chinês que está na sala, mas sim sensibilizar os alunos, desde cedo, para a realidade linguística e cultural presente nas escolas, a partir do contacto com a diferença. Ainda a mesma autora afirma que esta sensibilização “passa pela formação de atitudes e valores, de representações, de apropriação de conteúdos, de perspetivas e métodos e, sobretudo, de curiosidade e abertura ao Outro” (p. 51). Ao sensibilizar os alunos estes perceberão que o Outro também poderá ser um forte potenciador de diversas aprendizagens.

Acredita-se, então que a “sensibilização para a diversidade linguística e cultural promove, desde cedo, nos alunos, o desenvolvimento de competências de reflexão, de questionamento e de interpretação dos problemas sociais, económicos e ambientais, na e através da linguagem” (Sá & Andrade, 2009, p. 4). Ainda nesta linha de apresentação sobre quais as vantagens e as contribuições desta abordagem é de salientar que: (i) contribui para valorizar a diversidade linguística e cultural do mundo; (ii) desenvolve o espírito crítico e aberto em relação aos outros povos, línguas e culturas; (iii) promove uma melhor integração dos alunos de outras culturas; (iv) desperta a curiosidade dos alunos pelas línguas; (v) contribui para a consciencialização e a reflexão sobre a importância da DLC (cf. Sá & Andrade, 2009; Andrade, Martins & Leite, 2002).

Não pode cair em esquecimento que o presente estudo se enquadra no 1.º CEB, onde a premência de um currículo que aborde as línguas e as culturas já foi supramencionada. Desta forma, o currículo volta a ser alvo de destaque, na medida em que se torna relevante clarificar que a SDLC se apresenta como uma área transversal, podendo ser abordada nas diferentes áreas curriculares disciplinares e não disciplinares e nas atividades de enriquecimento curricular. Na verdade, esta abordagem deve ter especial enfoque nas atividades de enriquecimento curricular, principalmente na área do inglês (cf. Dias et al., 2010).

É fundamental educar para a diversidade mediante novas abordagens e novas práticas curriculares que motivem os alunos para a DLC, preparando-os para a experiência da alteridade em sociedades multilingues e multiculturais (cf. Lourenço & Andrade, 2011).

Em conclusão, acredita-se que a abordagem plural, sensibilização à diversidade linguística e cultural, pode alargar horizontes e construir novas possibilidades para o exercício de uma cidadania inter e multicultural (cf. Marques & Martins, 2010).