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4 GESTÃO DO CONHECIMENTO E CURRÍCULO

4.1 ABORDANDO A HIERARQUIA DO CONHECIMENTO

Antes de adentrar nos conceitos de GC, cabe enumerar a hierarquia do conhecimento, e na literatura relacionada encontra-se que ela se estabelece em uma tríade – dado, informação e conhecimento – porém, ainda há muita divergência acerca da diferenciação e estabelecimento de tênues linhas com relação a esses.

Abordar conceitualmente a tríade não consiste em tarefa simples nem para especialistas, conforme pequena história exposta por Setzer:

Durante os estudos para conceituar esses termos, saiu o número 81 de 10/8/98 da excelente revista eletrônica Netfuture, sobre tecnologia e responsabilidade humana; nele, seu editor Stephen Talbott descreve que, em duas conferências dadas para bibliotecários, com grandes audiências, ao perguntar o que entendiam por "informação", ninguém arriscou qualquer resposta. (SETZER, 2001, online)

Para fins de conceituação, encontra-se em Setzer a seguinte distinção: “Defino dado como uma sequência de símbolos quantificados ou quantificáveis. Portanto, um texto é um dado”. (2001, online). Com isso, fotos, figuras, sons gravados e animações constituem-se em dados, pois podem ser quantificados, e ainda que incompreensível para o leitor, qualquer texto constitui um dado ou uma sequência de dados (SETZER, 2001). Talvez essa seja a principal característica de um dado, o fato de ser incompreensível para alguns: “Um dado é necessariamente uma entidade matemática” (SETZER, 2001, online), e possuem a possibilidade de serem descritos em sua totalidade por meio de representações formais e estruturais, portanto, são passíveis de serem armazenados e processados em um computador. (SETZER, 2001).

Continuando nesse entendimento de dados como entidades matemáticas verifica-se que “dados podem ser pensados como a extensão dos fatos ou das medidas quantitativas disponíveis para e a cerca de uma organização” (PETRIDES; NODINE, 2003, p. 13).

Em Davenport e Prusak encontra-se algo muito parecido “um conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos”. (2003, online). Geralmente são armazenados em algum tipo de sistema tecnológico e “descrevem apenas parte daquilo que aconteceu, não fornecem julgamento nem interpretação e nem qualquer base sustentável para tomada de decisão”. (2003, online).

Por fim, os dados se constituem em “matéria-prima essencial para a criação da informação” (DAVENPORT; PRUSAK, 2003, online). Baseado no que foi exposto acerca do tema percebe-se que informação é a interface que um dado requer para ser interpretado. O objetivo do dado é, portanto, ser convertido em informação.

Continuando a discussão acerca da hierarquia, entra-se na questão sobre informação, que pode-se entender como a interface que a máquina provê para os dados, em que “sem interface não há interatividade”. (SANTAELLA, 2013, p. 56). E não havendo interatividade, os dados não se converterão em informação. Sem essa interface os dados não podem ser analisados, afinal “dados não tem significado inerente” (DAVENPORT; PRUSAK, 2003, online) e “nada dizem sobre a própria importância ou irrelevância” (DAVENPORT; PRUSAK, 2003,

informação como interface dos dados se faz necessária para interpretar o sistema binário (de dados) que o computador processa.

Em consonância a isso, informação “não passa de uma palavra coringa cuja confortável generalidade oculta que se trata, na verdade, de processos sígnicos, de linguagem,” (SANTAELLA, 2013, p. 248), e, dando continuidade verifica-se que “é um conhecimento inscrito (gravado) sob a forma escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual” (LE CODIAC, 1996, p. 5), e a inscrição é realizada devido a um sistema de signos (a linguagem), “signo este que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado” (1996, p. 5) e tem como objetivo a “apreensão de sentidos ou seres em sua significação, ou seja, continua sendo o conhecimento, e o meio é a transmissão do suporte, da estrutura” (1996, p. 5).

Setzer (2001, online) contribui de forma relevante para diferenciação de dado e informação “o que é armazenado na máquina não é informação, mas sua representação na forma de dados” e segue em consonância as contribuições de Santaella (2013) e Le Codiac (1996). Assim sendo “não é possível processar informação diretamente em um computador” (SETZER, 2001), é necessária a interface já elencada acima.

Davenport e Prusak (2003, online) contribuem para o tema ao afirmarem que “a informação tem por finalidade mudar o modo como o destinatário vê algo, exercer algum impacto sobre seu julgamento e comportamento” ela se estrutura como linguagem quando o sujeito faz o uso dos dados, ou seja, o receptor decide se aquilo que recebeu como dado, se constitui em informação, se o informa ou dá forma a algo para si.

E diferente dos dados, a informação possui significado, se constitui em “material direto, matéria-prima que compõe o conhecimento. Nesse sentido, a cadeia produtiva do conhecimento passa, necessariamente, pela produção da informação” (XAVIER; DA COSTA, 2010, p. 80). O objetivo da informação é produzir conhecimento, e nisso constitui sua essência, ela “sempre almeja ser mais aquilo que é essencialmente” (2010, p. 81), é um conhecimento em potência, e o mesmo cabe para o dado, que é uma informação em potencial. A informação tem significado, está organizada para alguma finalidade: “disponibilizar informação é promover a geração de conhecimento” (XAVIER; DA COSTA, 2010, p. 80)

Quando o tema passa a ser conhecimento o debate se potencializa, é aí que a consiste maior parte das diferenças conceituais e definições, sua conceituação mais aceita é de que o conhecimento trata da relação que se estabelece entre sujeito e objeto, em que o objeto forma uma imagem mental no sujeito pensante, num processo infinito, de uma relação recíproca, em que “a função do sujeito é apreender o objeto; a função do objeto é ser apreensível e ser aprendido pelo sujeito” (HESSEN, 1999, p. 20), em Davenport e Prusak (2003) observa-se

Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. (2003, online)

Há também de se entender que conhecimento e informação são simultaneamente causa e efeito em si mesmos, portanto, só há informação se há conhecimento, e só há conhecimento se tiver havido informação, “é causa só quando o outro é efeito e se é efeito apenas quando o outro for causa, gera assim expansão benéfica a ambos” (XAVIER; DA COSTA, 2010, p. 80).

Em Setzer (2001, online) “o conhecimento não pode ser descrito; o que se descreve é a informação”, ou seja, está no âmbito puramente subjetivo do homem ou do animal. Se analisados forem os conceitos dos estudiosos percebe- se que coadunam até certo ponto quando tange à relação conhecimento e sujeitos, mas quando o assunto passa a ser organizações é notório que Setzer não corrobora com Davenport e Prusak em sua totalidade, afinal, o conhecimento não pode estar em documentos, mas sim a informação, “a informação é prática ou teórica, o conhecimento é sempre prático” (SETZER, 2001, online).

Em Morin (2000) encontra-se uma definição ainda mais relacionada à subjetividade que a de Setzer e que se coaduna em um mesmo entendimento, em que o conhecimento “não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções

cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos” (MORIN, 2000, p. 20), somando as contribuições de Setzer e Morin chega-se a um entendimento sobre conhecimento que é o que se trabalha na presente dissertação, em que ele se constitui como propriedade apenas dos seres humanos, já que ele “é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento” (MORIN, 2000, p. 20).

A discussão acerca da definição de linhas tênues desses elementos da hierarquia deve perdurar por muito tempo, e essa tarefa cabe aos especialistas. Mas nesse trabalho importa considerar que dados são entidades matemáticas que são lidas por um computador, e informação consiste na interface que essas entidades requerem para serem interpretadas, ela também tem como missão ser convertida em conhecimento por meio do uso que se faz dela. E que conhecer é uma propriedade do ser humano.

No próximo tópico aborda-se a discussão acerca do currículo, que é um conceito intimamente ligado à aprendizagem, e a essa constante busca de conversão de informação em conhecimento.