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2 ATRAVÉS DAS LENTES DO ESTÚDIO FOTO KLOS: A

2.3 OS TEMPOS DO ESTÚDIO FOTO KLOS

2.3.3 Acervo do estúdio Foto Klos

No acervo do estúdio há diversos modelos de câmeras, equipamentos de estúdio e laboratório, acessórios, a partir dos quais é possível observar o desenvolvimento e as mudanças tecnológicas no ramo fotográfico em Panambi, partindo do incipiente, do rudimentar, à sofisticada tecnologia digital. Dentre os quais, destacam-se:

Câmaras que utilizavam lâminas de vidro emulsionadas como negativos, de grande formato a permitir cópias de contato direto, com a utilização de luz natural; câmeras que usam negativos planos, com base em acetato de celulose, de grande e médio formato; câmeras que usam filmes em bobina; tanques de revelação de filmes; bacias de revelação de cópias; e, ampliadores que fazem a ampliação de cópias de negativos de filme.173

Com um acervo significativo constituído de diversos artefatos tanto do estúdio quanto do laboratório, o Foto Klos possibilita estudar a trajetória fotográfica local e suas relações com a região e outros centros fornecedores de materiais fotográficos, assim como os processos técnicos utilizados para a produção imagética. Há câmeras fotográficas de diversos modelos e períodos, livros de registros, manuais e revistas, blocos de recibos e uma gama de negativos, especialmente em vidro emulsionado e também em acetato, filmes flexíveis de 120 mm e 35 mm até os negativos digitais, demonstrando que a trajetória do estúdio foi marcada pela transição da fotografia preto e branco para a colorida (década de 1970) e da fotografia analógica para a digital (década de 1990).

Na coleção imagética do estúdio Foto Klos consultada, há diversos tipos de imagens: negativos de diversos tamanhos e formatos, poses, retratos individuais, de famílias, de escolares, associações, clubes, eventos, empresas, paisagens,

momentos trágicos (poucas), casamentos, ritos religiosos (batismo, confirmação, primeira comunhão, crisma...), além da predominância de imagens produzidas dentro do estúdio: casamentos, crianças, famílias e retratos individuais.

O equipamento, uma câmera Carl Armster e a lente Triplonar F 2,7, que Adam Wilhem Klos trouxe da Alemanha, estão conservados e fazem parte do acervo particular da família Klos. A máquina permitia fazer duas fotos por chapa de vidro, de estúdio ou externa, escolher a posição retrato ou paisagem e regular a inclinação do foco (utilizado para fotos em perspectiva de torres). As lentes utilizadas por Adam Klos eram Triplonar F 2,7 (acompanhava a máquina) e a Voigtländer & Sohn. Os diafragmas utilizados eram 8, 5,6, 4 e 2,8 de abertura para as lentes.

Os artefatos descritos que constituem o acervo são visualizados nas fotografias das figuras 14 a 17, as quais foram apresentadas por Ottmar Klos, apesar das dificuldades para se locomover pela debilidade de sua saúde, estava orgulhoso demonstrando o funcionamento da câmera adquirida pelo pai Adam Klos no início do século XX antes de emigrar para o Brasil.

Figura 14 - Câmera Carl Armster

Figura 15 - Ottmar e Câmera Carl Armster

Fonte: Acervo Foto Klos

Figura 16 - Diafragmas

Fonte: Acervo Foto Klos

Figura 17 - Câmera Carl Armster com suporte para negativo

Figura 18 - Suporte para negativo em vidro da Câmera Carl Armster

Fonte: Acervo Foto Klos

A maior parte das câmeras fotográficas que constitui o acervo do estúdio Foto Klos, é das marcas importadas Köln, Ernemann Doppel, Agfa e da marca nacional Universal.

Figura 19 – Câmeras fotográficas

Fonte: Acervo Foto Klos

Além dos diversos modelos de câmeras fotográficas e dos milhares de negativos em vidro ou flexíveis, destacam-se ainda os livros de registros (Fig. 20 e 21) cuidadosamente utilizados e guardados.

Figura 20 – Livro de Registro de 1913 a 1919

Fonte: Acervo Foto Klos

Figura 21 – Páginas 106 e 107 do Livro de Registros n. 1 (1913-1919).

Fonte: Acervo Foto Klos

Tais livros compreendem o período de 1913 a 1981, com um intervalo de dez anos (1920 a 1930) em que não foram encontrados registros. Este coincide com o período em que o fotógrafo Adam Klos esteve viajando e trabalhando como

fotógrafo itinerante, exibindo filmes em salões comunitários nas Colônias Velhas como uma forma de contornar a falta de trabalho na colônia Neu-Württemberg.

Os livros de registros nas primeiras décadas eram manuscritos em língua alemã. Nas décadas de 1940 e 1950 há um misto nas anotações, parte das frases em língua portuguesa e parte em língua alemã, em alguns momentos as palavras se intercalam entre os idiomas. A partir da década de 1960, os registros foram feitos em língua portuguesa, com algumas exceções. Nota-se que os registros foram feitos por diferentes pessoas em períodos diferentes, o que resultou na forma como foram realizados.

Por meio dos livros de registros (Fig. 21) é possível analisar vários dados, pois estão listados os nomes dos clientes, tipos de foto solicitada, data do evento, número de registro e valor a ser pago. É possível ainda observar a classe social dos fotografados, custos, quantidade e tipos de fotografia. Ao analisar alguns registros, observa-se que a maior parte dos clientes do estúdio solicitava seis ou 12 cópias, geralmente distribuídas entre familiares e amigos próximos e distantes. Em razão de os estúdios estarem instalados numa colônia, era hábito social enviar fotografias a familiares e amigos das Colônias Velhas ou da Alemanha.

O caderno de registros funcionava como uma agenda, onde constavam todos os compromissos fotográficos do estúdio. Também foram utilizados por outros estúdios, como Beck de Ijuí e Kaefer de Marechal Cândido Rondon. Constituía-se numa forma de manter organizados os eventos fotográficos, assim como os registros de encomendas e pagamentos. Estavam listados também os tipos de fotografias, corpo inteiro, retrato, paisagem, meio corpo, enfim, tudo o que se referia ao trabalho do fotógrafo, e da equipe que trabalhava com ele. Assim, tornava-se menos complicado, pois quando o cliente ia buscar a encomenda, era necessário ter referenciais e orientações para localizar a fotografia.

Nesta parte do trabalho, considero relevante mencionar o quanto foi importante manusear o acervo, ter contato com os artefatos, sua constituição e sentir como foi elaborado para, então, poder delinear essas linhas iniciais da cultura fotográfica em Panambi - RS.