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4 IMAGENS NEGOCIADAS: RETRATOS DE FAMÍLIA

4.3 A FAMÍLIA VAI AO ESTÚDIO

Se o casamento estava entre os momentos solenes que deveria ser registrado com fotografias, os noivos se dirigiam até o estúdio para esse ritual. Mais tarde retornavam para o registro fotográfico dos filhos e da família constituída. Para Miriam Moreira Leite (2001),

a fotografia é utilizada para reforçar a integração do grupo familial, reafirmando o sentimento que tem de si e de sua unidade, tanto tirar as fotografias, como conservá-las ou contemplá-las emprestam a fotografia de família o teor de ritual de culto doméstico, em que a família pode ser estudada como sujeito e como objeto.285

A população da colônia Neu-Württemberg não era formada apenas de imigrantes ou migrantes camponeses. De acordo com Rosane Neumann (2009), “predominaram os imigrantes urbanos com alguma formação ou experiência em trabalhos técnicos, também necessários na colônia, impulsionados pelo desejo de propriedade”,286 a maioria deles vai exercer outros ofícios paralelo ao trabalho

agrícola.287

Nesse contexto, o ritual fotográfico fazia parte da rotina das famílias nas décadas de 1930 e 1940 em Panambi, pois, desde as primeiras décadas da

284 SANTOS, 1997, p. 115. 285

LEITE, 2001, p. 87.

286 NEUMANN, 2009, p. 439.

287 Devido à complexidade da formação da colônia, para obter dados quantitativos e detalhes da

colonização, eram adotados elementos representativos que idealizam esse “ser” moderno. Isso é confirmado por Rosane Neumann (2009), ao se referir ao empenho do diretor da colônia Hermann Faulhaber, que, através da parceria do setor público e privado, instala “linha de telefone e telégrafo (inaugurado em 1°/4/1911, ligando Cruz Alta a Neu-Württemberg), agência de correio (1913), energia elétrica (1914), estação de trem Belizário (1912), além do melhoramento das estradas e ruas”.288 Esse

contexto favorece os profissionais de ofício e o desenvolvimento de estabelecimentos empenhados em atender a demanda voltada para a agricultura.

Em 1930 a União Colonial e Associação Apícola de Neu-Württemberg organizaram a primeira Ausstellung ou Exposição de Agricultura, Apicultura e Indústria, realizada de 29 de março a 1º de abril no salão União, com o objetivo de exibir os produtos e o seu potencial produtivo. O convite, “publicado em língua alemã na imprensa, reforçava as fronteiras étnicas da colônia e do evento, bem como reafirmava a preocupação com o desenvolvimento cultural da colônia”.289 Assim a

participação exclusiva de produtores de Neu-Württemberg oferecia a oportunidade para a região serrana conhecer os apicultores e o desenvolvimento da agricultura e da indústria.290

O guia, bilíngue alemão/português, trazia a programação e os nomes dos expositores, com a especialidade de cada um. A exposição era diversificada de produtos alimentícios, trabalhos de tecelagem, couro, vime e fotografias, “a exposição, simbolicamente, reunia então em um mesmo espaço o colono/agricultura e o urbano/indústria, e os frutos de seu trabalho”.291

A exposição estava organizada em três grupos. Especifica-se aqui apenas o grupo 3, que, de acordo com Rosane Neumann (2009), resumia o ideal e a imagem que se tinha da colônia:

“Trabalho é movimento. Movimento é energia. Energia é vida”, era composto por 64 expositores. Cruzando a lista desses expositores com a relação dos imigrantes alemães encontrados na colônia, é possível saber que pelo menos 21 desses expositores eram

288 NEUMANN, 2009, p.534-535. 289 Ibid., p. 535-536. 290 Ibid., p. 537. 291 Ibid., p. 537.

imigrantes alemães, ou seja, 32,8%. Os demais, descendentes de alemães, mas nenhum luso-brasileiro.292

Observa-se, através dessa exposição, que a colônia contava com excedente produtivo, que permitia adquirir produtos mais elaborados. Na colônia havia diversos proprietários de fábricas e profissionais de ofício que não participaram da exposição porque predominaram aqueles que eram ligados à União Colonial.293

No final da década de 1920, vários projetos e requerimentos foram encaminhados para o Conselho Municipal por proprietários de pequenas fábricas, solicitando isenções de impostos para realizarem investimentos. Eles tinham como argumentos centrais:

Modernização da fábrica, substituindo a produção manual e artesanal pela produção mecanizada. O argumento de que as máquinas adquiridas eram produzidas na colônia Neu-Württemberg é mais um indicativo de que havia profissionais qualificados e especializados na colônia, investindo na fabricação de bens de produção. Indiretamente, esses requerimentos afirmavam a auto-suficiência do núcleo colonial, pois não precisava mais importar toda maquinaria da Alemanha ou da capital do estado.294

Os requerimentos foram aprovados, e a década de 1930 se tornou um marco em termos de investimentos para o surgimento e a modernização das fábricas que se constituíram em grandes indústrias para o mercado nacional e para a exportação no decorrer do século XX. Deve-se considerar que isso foi possível também devido à construção de uma usina hidroelétrica com força geradora de 150 HP, inaugurada em setembro de 1926 pelo imigrante Carlos Knorr. Havia energia elétrica na colônia desde 1914, porém com capacidade e potência menores. Entre outros fatores que possibilitaram esse processo de modernização, destaca-se o papel da Viação Férrea no escoamento da produção de Neu-

292

Ibid., p. 537.

293

A União Colonial era uma cooperativa “cujo registro dos estatutos data do mês de janeiro de 1926, sob a denominação de Cooperativa Agrícola da União Colonial de Neu-Württemberg. No registro, consta como sua sede a Colônia de Neu-Wüerttemberg, Município de Cruz Alta, Estado do Rio Grande do Sul. Art. 2º. A sociedade tem por fim melhorar a pecuária, experimentar melhoramentos nas sementeiras e ensaiar adubos; para isso manterá no local de sua sede, uma ‘Colônia Modelo’ Art. 3º. A duração da sociedade foi marcada para trinta anos, podendo ser prolongada pela resolução de uma Assembléia geral, regularmente constituída.” Para mais informações sobre o sistema cooperativo, ver RIBEIRO, Carmem Adriane. A prática de educação em organizações cooperativas: o caso Cotripal. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-

Graduação em Educação, Unijuí, Ijuí - RS, 2005.