Acesso a utensílios domésticos e equipamentos eletroeletrônicos

Além da estrutura física da casa, verificou-se também a existência de alguns elementos que, sem dúvida alguma, proporcionam aos assentados o mínimo de conforto. São eles: fogão a gás, geladeira, televisão, antena parabólica, máquina de lavar, ferro elétrico de engomar, liquidificador, DVD, som, computador e telefone.

Analisando os dados levantados na pesquisa constata-se que o PA Celso Furtado é aquele onde é mais significativo o número de famílias assentadas que já possuía os mais requisitados e necessários eletrodomésticos: fogão a gás, geladeira e ferro de engomar (Tabela 17), por conseguinte nele o impacto da criação do PA no acesso a utensílios domésticos e equipamentos eletrônicos foi menor do que nos demais assentamentos. Vale a pena lembrar

que as famílias desse PA são oriundas, dominantemente da zona urbana das cidades onde moravam e já tinham acesso à energia elétrica. Mesmo assim, ainda se verifica uma ampliação do número de famílias que só tiveram acesso a antena parabólica, liquidificador, som, computador, máquina de lavar e ferro de engomar (Tabela 17).

No PA Socorro também é importante o número de famílias que já tinha acesso a fogão a gás, geladeira e ferro de engomar (Tabela 17). Por conseguinte, neste PA não houve um impacto muito significante da criação do assentamento sobre o uso desses equipamentos domésticos e eletroeletrônicos. Por outro lado, verifica-se um crescimento importante do número de famílias que passaram a ter acesso a máquinas de lavar, DVD, televisão, antena parabólica, liquidificador, som e até computador (Tabela 17). Nos outros PAs, o impacto da criação dos assentamentos foi muito importante. Por exemplo, no PA União nenhuma família tinha máquina de lavar, antena parabólica, liquidificador DVD e computador, e pouquíssimas possuíam um som. Todos esses utensílios domésticos e eletrônicos só foram adquiridos depois que eles se transformaram em assentados (Tabela 17). No PA Esperança a melhoria também foi significativa após a criação do PA. Embora tenha se observado crescimento do número de famílias com acesso aos utensílios domésticos e equipamentos eletrônicos, é nele talvez, que itens como máquina de lavar e computador ainda não foram adquiridos pelas famílias entrevistadas e só a metade já adquiriu antena parabólica (Tabela 17).

Tabela 17 – Acesso a utensílios domésticos e equipamentos elétroeletrônicos

Utensílios domésticos e equipamentos eletrônicos

PA União PA Socorro PA Esperança

PA Celso Furtado

PA Emanoel Joaquim Possui Possuía Possui Possuía Possui Possuía Possui Possuía Possui Possuía

% % % % % % % % % % Fogão a gás 100,0 52,9 100,0 92,9 91,7 66,7 100,0 100,0 88,9 44,4 Geladeira 100,0 0,0 100,0 71,4 100,0 33,3 100,0 100,0 88,9 11,1 Máquina de lavar 11,8 0,0 21,4 7,1 25,0 8,3 37,5 25,0 0,0 0,0 Ferro de engomar 70,6 29,4 87,5 78,6 58,3 33,3 75,0 62,5 66,7 22,2 DVD 88,2 0,0 100,0 14,3 91,7 8,3 100,0 100,0 88,9 0,0 Televisão 100,0 41,2 100,0 14,3 100,0 41,7 100,0 100,0 100,0 55,6 Antena parabólica 100,0 0,0 92,9 50,0 100,0 25,0 100,0 75,0 55,6 22,2 Liquidificador 94,1 0,0 100,0 50,0 91,7 58,3 100,0 87,5 88,9 33,3 Som 82,4 5,9 78,6 42,9 58,3 16,7 100,0 62,5 88,9 22,2 Computador 5,2 0,0 21,4 0,0 0,0 0,0 12,5 0,0 0,0 0,0

No que diz respeito à comunicação, observou-se que todas as famílias entrevistadas possuem pelo menos um aparelho celular. Este é o tipo de aparelho através do qual a maioria das famílias se comunica, e de modo muito particular, pelo qual a maioria dos jovens tem acesso à internet. O PA Socorro dispõe de orelhões, telefones fixos e celulares, sendo que os dois primeiros já foram de grande utilidade não só para o assentamento, mas para outras comunidades vizinhas. Atualmente, dado os avanços da tecnologia neste setor, os mesmos já estão quase que totalmente em desuso.

Com base nas informações supracitadas, não resta a menor dúvida que houve um grande progresso nas condições habitacionais das famílias assentadas, após a criação dos assentamentos rurais do município de Areia. Conforme os dados resumidamente apresentados na tabela 16, entre 77,0% e 100% das famílias entrevistadas consideram que suas condições de habitação melhoraram depois de assentados. Entre 14,0% e 22% das famílias consideram que não houve para elas nenhuma mudança nas suas condições de habitação, e apenas 12,5% consideram que tais condições pioraram.

Tabela 18 - Condições de moradia das famílias assentadas

Assentamento

Condições de Moradia

Melhor Pior Igual Total

PA União 100% 0% 0% 100% PA Socorro 85,7% 0% 14,3% 100% PA Esperança 83,3% 0% 16,7% 100% PA Celso Furtado 87,5% 12,5% 0% 100% PA Emanoel Joaquim 77,8% 0% 22,2% 100% Total 88,3% 1,7% 10% 100%

Fonte: Pesquisa de Campo (2013).

Outro aspecto observado sobre a questão de moradia, refere-se ao fato de que nos PAs pesquisados, o acesso à terra permitiu o acesso à habitação aos filhos que se casaram, ou a outros membros e/ou agregados das famílias assentadas.

De acordo com as lideranças de cada assentamento, verifica-se atualmente um total de 17 famílias agregadas no PA União, 16 famílias agregadas no PA Socorro, aproximadamente 11 famílias no PA Esperança, 07 famílias no PA Emanoel Joaquim, e apenas uma família no PA Celso Furtado, perfazendo um total de 52 famílias agregadas nos cinco assentamentos onde vivem em casas construídas no lote da família (Figura 29).

Figura 29 - Moradia de famílias agregadas ao lado da moradia do titular do lote e chefe da família. PA União (2013).

Arquivo: Rejane Ferreira (2013).

Durante a pesquisa de campo, também foi possível observar que nos PAs União e Esperança, inexistem graves problemas referentes aos lotes, bem como em relação às moradias, que por ventura, venham a precisar de intervenções do INCRA. No entanto, fazendo este levantamento nos outros três PAs, observou-se que no PA Celso Furtado existe uma casa vazia, a qual já está reservada para uma família, que passará primeiramente por uma experiência temporária de convivência, sendo posteriormente avaliada pelos atuais assentados, que darão o aval de permanência ou não da mesma no assentamento, conforme o regulamento interno que os mesmos procuram seguir.

No PA Emanoel Joaquim, a situação de alguns lotes apresenta alguns problemas. Das 29 famílias titulares, 16 moram e trabalham nos lotes, encontrando-se devidamente regulares perante o INCRA. Duas outras, embora morem e trabalhem em 2 lotes, ainda não possuem seus nomes na lista dos assentados, uma vez que os lotes pertenciam a outras famílias que saíram do PA e foram repassados para estas novas famílias com a aprovação da Assembléia de produtores na Associação do PA, conforme o regulamento interno, ao qual procuram serem fiéis.

Detectamos ainda que seis famílias desse PA residem na cidade, sendo que: a) duas delas permanecem trabalhando nos lotes; b) uma, não trabalha pessoalmente no lote, remunera trabalhadores para cuidarem da casa e produzirem em uma parte da terra, arrendando a outra para alguns assentados; c) duas não trabalham nos lotes, dado a problemas da falta de segurança, uma vez que uma delas já foi assaltada violentamente e a outra saiu do PA devido à desavenças com outros assentados. Esta família já passou, inclusive, por uma tentativa de homicídio; d) por fim, outra família não trabalha no lote, dado alguns problemas

de saúde, além de ainda não possuir o nome na relação dos beneficiários do INCRA, uma vez que o lote foi repassado de uma filha para a mãe. Destaca-se ainda neste PA, que dois lotes estão atualmente sob a responsabilidade de uma única família, sendo que um é ocupado regularmente e outro foi obtido através do ato de compra e venda entre assentados. Além disso, mais três lotes já foram repassados várias vezes, de forma totalmente irregular, ou seja, através da troca ou do ato de compra e venda dos assentados com outras pessoas. Um deles chegou a ser trocado duas vezes, sendo a primeira por uma moto e a segunda por uma caixa de som. Outro foi trocado por um carro. E o outro, por sua vez, foi vendido por um valor superior, porém próximo de R$ 1.000,00. Estes três últimos lotes citados pertencem atualmente a um delegado de polícia, hoje atuante no Município de Lagoa Seca- PB.

Segundo os entrevistados, de todos estes casos, o do delegado representa atualmente, o maior de todos os problemas do assentamento, uma vez que uma possível solução envolveria muitas questões jurídicas. Além da irregularidade no ato da compra e/ou troca dos lotes, o mesmo ainda colocou em dois lotes, moradores que não possuem boa conduta. São eles os responsáveis pelas arruaças que ocorrem no assentamento, e por este motivo, estão tirando a paz das famílias residentes. Segundo uma assentada,

Se o INCRA bater aqui no caso do delegado, ele perde tudo, e quem vendeu vai responder a processo porque não pode. Daí, eles nunca mais vão poder se assentar, nem aqui e nem em outro... O pessoal que o delegado traz é da pesada. Eles trazem prostituta. Até criança se prostitui. É um monte de gente. Todos que tão lá dizem que mora. Eles são tudo errado. São da pesada... roubam tudo, junto com o filho de um assentado (Depoimento de uma assentada do PA Emanoel Joaquim).

Diante do exposto, a Associação do PA Emanoel Joaquim se posiciona notificando todos estes fatos em forma de atas, às quais são encaminhadas para o INCRA para que o mesmo tome as devidas providências, uma vez que devem respeitar a hierarquia existente. Porém, de acordo com os entrevistados, o INCRA não cumpre o seu papel no que diz respeito aos problemas dos assentamentos. Atualmente, para não ficar tão passiva, a associação tenta resolver os problemas mais superficiais, como os de desordem, junto ao promotor e/ou polícia, muitas das vezes até com receio de que possam ser ameaçados, como já aconteceu com algumas lideranças passadas. Por este motivo, o INCRA está totalmente sem crédito neste PA.

A situação de descrédito em relação ao INCRA, também se verifica fortemente no PA Socorro, que, por sua vez, apresenta uma série de problemas no que diz respeito não aos lotes, mas as casas da antiga sede da usina Santa Maria, que se encontram, desde a época da

desapropriação das terras, sob a responsabilidade da Associação do assentamento. As terras desapropriadas após a falência da usina formaram apenas 45 lotes neste PA. Logo, foi preciso fazer uma reunião na qual seria decidido quem seriam os beneficiários de tais lotes. Segundo os entrevistados, quem quis terra ficou com a terra, e quem quis casa, uma vez que já morava nela, ficou com a casa, sendo que esta a partir da criação do PA passaria, da mesma forma que os lotes, a ser responsabilidade do assentamento. Como os moradores que receberam as casas não haviam recebido indenização, começaram a se achar no direito de fazer o que quisessem com as mesmas, criando um clima complicado na relação com a Associação do PA. Ao todo, nessa condição, situam-se 162 casas/famílias. Alguns depoimentos servem para esclarecer, do ponto de vista dos entrevistados, os problemas que afligem o Assentamento Socorro.

Aqui no assentamento, por ser de uma usina falida, ninguém quer perder, porque não receberam indenização. Então, mesmo sendo do assentamento, o pessoal vende quando quer sair, porque senão perde tudo. A Associação nem se mete, porque também não pode mais com o povo (depoimento do filho de um assentado do PA Socorro).

O problema daqui não são os assentados, são os não assentados. Era para o INCRA ter desapropriado as terras do lote e separado das vilas, mas assim fica bagunçado. Quando o INCRA partiu as terras, tinha outras família que já tava dentro do meu lote, mas não sairo nunca (Depoimento de um assentado do PA Socorro).

Segundo os entrevistados, o pessoal da Associação já recorreu várias vezes ao INCRA para retirar a responsabilidade das casas da área comunitária do assentamento, repassando-as para a Prefeitura Municipal de Areia por meio de doação ou até mesmo por meio da venda. No entanto, nenhuma providência ainda foi tomada, ficando a Associação deste PA numa situação de passividade diante deste problema do maior Assentamento de Areia e dos problemas que a partir destes vão surgindo diariamente.