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A luta pela terra que deu origem ao PA Emanoel Joaquim

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CAPÍTULO 2. DE SERTÃO DE BRUXAXÁ A BREJO DE AREIA: formação territorial,

2.2. Processo de produção do espaço agrário do município de Areia-PB

2.2.2. A luta de ocupação de terra no município de Areia

2.2.2.1. A luta pela terra que deu origem ao PA Emanoel Joaquim

Durante a fase áurea do Proálcool e de expansão da pecuária, como foi anteriormente demonstrado, verificou-se uma expulsão maciça das famílias camponesas no Brejo. No Engenho Vaca Brava os antigos moradores foram expulsos e, em sua maioria, foram morar nas pontas de rua, principalmente do município de Alagoa Nova.

Em 1995, uma das moradoras das pontas de rua, conhecida por Dona Quinca, que já era acostumada a acompanhar o movimento das comissões de luta pela terra, juntamente com um grupo de 52 pessoas, ajudou a organizar um estudo da população excluída de seu município. O levantamento foi feito através de um pequeno questionário, constando apenas três perguntas que buscavam respostas para os principais problemas que a população estava enfrentando, o que já tinha sido feito para tentar resolvê-los, e o motivo pelo qual ainda não tinha sido resolvido.

Desse levantamento, resultaram três propostas para a melhoria das condições de vida da população local: aquisição de terra para trabalhar, geração de empregos e aquisição de cestas básicas. Com esses resultados em mãos, o grupo organizado por Dona Quinca convocou as autoridades do município de Alagoa Nova: o prefeito, que na época, era Ivaldo Moraes, o padre, o pastor, o juiz, e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, bem como os

representantes de todas as associações comunitárias para uma reunião, onde seriam apresentados os resultados da enquete e as propostas da população para que pudessem, juntamente, decidir o que poderia ser feito.

Na reunião, chegaram à conclusão de que não seria possível ofertar emprego para toda a população, dado que a cidade não tinha indústrias, além do que o povo só sabia trabalhar na agricultura. A aquisição das cestas básicas não seria possível, uma vez que na época, Alagoa Nova não se enquadrava no projeto de distribuição de cestas básicas, entre outros, pelo fato da sua taxa de mortalidade infantil ser inferior a 30/1000. A proposta mais viável foi à relacionada com a aquisição de terras, a qual recebeu todo o apoio do Sindicato, na pessoa do presidente Emanoel (Seu Nequinho).

A partir de então, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova toma a frente da luta. Num primeiro levantamento organizado para levar até o INCRA, das mais de 300 famílias que estavam em estado crítico, apenas 98 constavam no documento que fora encaminhado ao superintendente da referida instituição, que por sua vez, autorizou que o grupo procurasse no Estado da Paraíba um “pedaço de terra” que fosse improdutivo.

A princípio, as terras almejadas foram às referentes ao engenho da comunidade de Vaca Brava, que apresentava uma grande quantidade de terras improdutivas. Contudo, diante do anúncio de uma possível vistoria, segundo narram os trabalhadores, o dono das terras juntou todo o gado da região, ferrou-os com as suas iniciais, e colocou-os para pastar nas mesmas. Na vistoria, o INCRA concluiu que aquelas terras não poderiam ser ocupadas, pois eram consideradas produtivas.

Foi a partir daí, que em outubro de 1998, o prefeito Ivaldo Moraes anunciou que na região de Vaca Brava havia uma terra pertencente ao Banco do Brasil, adquirida para pagamento de dívidas, que poderia ser desapropriada. Esta seria leiloada em 20 dias, com um valor mínimo de 153 mil reais. Diante disso, o Sindicato organizou uma documentação, juntamente com um abaixo assinado dos agricultores, e encaminhou para o INCRA solicitando que esta área fosse desapropriada para efeito de reforma agrária. O INCRA, porém não respondeu a demanda do Sindicato. Diante disso, o Sindicato realizou toda uma motivação, convidou o povo, e organizou uma lista com o nome de 60 trabalhadores para ocuparem a terra. No dia seis de abril de 1999, na hora marcada para a ocupação só apareceram 14 trabalhadores. Os demais ficaram com medo de alguma repressão e não compareceram. A ocupação ocorreu assim mesmo.

Segundo seu Ramo, o vice presidente da Associação do Assentamento Emanoel Joaquim, passaram-se quatro dias, e como a polícia não apareceu, outras pessoas começaram

a entrar e se juntar aos acampados. Das 14 pessoas que ocuparam a terra somaram-se mais 26, totalizando 40 pessoas, ou seja, 40 famílias.

No início, foram construídas barracas de lona com o apoio do STR de Alagoa Nova, na pessoa do presidente Nequinho, bem como da Igreja Católica de Areia e Alagoa Nova, nas pessoas dos seus líderes, o padre José Florem e o padre Anchieta, respectivamente, que forneceram as lonas, muitas cestas básicas, além das celebrações da Santa Missa que eram realizadas no acampamento. Segundo seu Ramo, “a oração deixa a gente mais forte. As vezes a gente tá já fraquejando, aí se levanta de novo”(Depoimento de Seu Ramo).

A prefeitura de Alagoa Nova também contribuiu enormemente, através da distribuição de cestas básicas, da abertura de estradas, e do fornecimento de transporte para viagens até o INCRA.

Apesar de a terra ocupada localizar-se no Município de Areia, nem o Sindicato nem a prefeitura desse município apoiaram a luta. O Sindicato, apesar de reconhecer a importância para o município, pelo aumento populacional, da produção, da renda, além da fixação do homem no campo, alegou que as pessoas que se fixariam na terra, eram originárias de outro município e dessa forma se eximiu de dar qualquer apoio.

No primeiro ano de acampamento, os acampados plantaram feijão, milho, mandioca, coentro, cebola, quiabo, jerimum, guandu, entre outros, e mandaram os resultados quantificados da primeira safra para o INCRA, como forma de mostrar o quanto a terra já estava produzindo. Finalmente, em 21 de dezembro do ano 2000, o INCRA desapropriou 166,98 hectares do Engenho Vaca Brava e em 12 de fevereiro do mesmo ano, criou o Projeto de assentamento onde foram assentadas 29 famílias, sendo a Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Emanoel Joaquim fundada em 2001.

O INCRA queria que toda a propriedade fosse coletiva, mas prevendo futuras divergências entre os assentados, negociaram e fizeram a divisão dos lotes, ficando no máximo três hectares para cada família assentada. Segundo seu Ramo: “no individual você planta o que quer, e na hora que quer. No coletivo não pode fazer nada sem que seja de acordo do grupo”.

O nome Emanoel Joaquim foi escolhido coletivamente pelos assentados, justificando- se por três motivos: a) dotados de uma forte fé, sempre acreditaram que Deus estava com eles em todo o processo de luta e conquista da terra, por isso o nome Emanoel, que significa Deus conosco; em homenagem ao senhor Emanoel, popularmente conhecido por seu Nequinho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova, por nunca ter negado ajuda, bem como pela grande liderança assumida no processo de luta; já o Joaquim, foi

escolhido em homenagem a Tiradentes, o mártir da independência do Brasil, líder da Inconfidência Mineira, cujo nome completo era Joaquim José da Silva Xavier, que foi enforcado em praça pública por assumir a responsabilidade por todo o movimento em busca da independência do país.

O assentamento Emanoel Joaquim está localizado na reserva legal Mata do Pau-Ferro, na comunidade rural de Vaca Brava, no Brejo de Areia, distando aproximadamente 8 km da sede do município de Areia e 8 km da sede do município de Remígio, cidade vizinha com a qual os assentados mantêm mais contato diariamente. Limita-se ao norte com uma propriedade do Governo do Estado e com as propriedades dos senhores Sinfrônio Cabral, Antônio Canário e Dr. Pedro; ao sul com a propriedade de seu Aurélio Leal Freire, o engenho Vaca Brava; ao leste com as propriedades dos senhores Dr. Pedro, Saulo Gondim e Aurélio Leal Freire; e ao oeste, com as propriedades de Dr. Pedro, Américo Perazzo Neto e Milton Gonçalves (Figura 10).

Figura 10: Planta cadastral e limites territoriais do Assentamento Emanoel Joaquim. Fonte: INCRA (2013).

A conquista da terra representou para os assentados do PA Emanoel Joaquim, a oportunidade de mudança de vida. Segundo eles, ninguém possuía terra para trabalhar, e

tampouco tinham consciência sobre a preservação do meio ambiente, além do acesso aos mais diversos tipos de crédito que lhes são disponibilizados. Todavia, deparam-se na atualidade com o desafio de fazerem perpetuar na nova geração, este estilo de vida que tanto valorizam, e que só foi possível depois da criação do assentamento.

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